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3. Resultados e Discussão

3.1. Campanha de 1996

3.1.5. Análise biométrica de Miliammina fusca

No intuito de explorar as relações entre as variáveis abióticas e elementos da microfauna, além de aprofundar a compreensão das ecofácies, analisou-se dados biométricos das tecas de Miliammina fusca. Partindo-se da premissa de que sob condições mais favoráveis o indivíduo apresenta maior desenvolvimento, avaliou-se a hipótese de que nos locais com condições mais favoráveis ao desenvolvimento de Miliammina fusca esta espécie deve apresentar suas maiores tecas. Esta espécie foi escolhida porque é a mais constante e abundante no gradiente entre o Canal do Carapitanga, o Riacho do Cabaço e o Canal do

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Parapuca. A medida foi feita considerando-se a maior distância entre abertura e a região aboral. A Tabela 3.18 apresenta os dados de biometria e as Figuras 3.14 e 3.15 apresentam, respectivamente, a localização das amostras em que houve medição das tecas de Miliammina

fusca, e as médias do tamanho.

Figura 3.14. Localização das amostras em que houve medição do tamanho das tecas de Miliammina fusca para a

campanha de 1996.

Tabela 3.18. Dados biométricos de Miliammina fusca ao longo do Canal do

Carapitanga, Riacho do Cabaço e Canal do Parapuca da campanha de 1996. A unidade de medida é µm.

Amostra Média ± Desvio Padrão Máximo Mínimo

2 193 ± 62 364 122 3 203 ± 64 409 101 4 237 ± 85 517 119 5 180 ± 42 265 116 6 258 ± 77 601 105 7 275 ± 61 583 159 8 191 ± 25 237 124 9 234 ± 57 388 101 10 204 ± 48 325 96 11 227 ± 62 402 110 12 206 ± 44 332 146 13 201 ± 63 374 112 14 200 ± 57 383 100 16 192 ± 51 330 123 18 228 ± 59 482 100 19 204 ± 42 329 118 20 206 ± 53 368 91 22 275 ± 70 519 133 24 259 ± 38 406 155 25 231 ± 48 376 150 26 239 ± 49 439 139

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Média Desvio Padrão Mín-Máx

Figura 3.15. Distribuição do tamanho médio de Miliammina fusca ao longo do Canal do Carapitanga, Riacho do

Cabaço e Canal do Parapuca, na campanha de 1996. As setas apontam tendências discutidas no texto.

Analisando-se em macro-escala, nota-se que a salinidade parece interferir no tamanho das tecas de Miliammina fusca, pois Santa-Cruz (2004) encontrou tecas maiores no interior do manguezal do Rio Iriri (Bertioga, SP) sob condições de salinidade mais elevadas. Além disso, naquela área parece que a dominância de Miliammina fusca tem relação direta com o acréscimo do seu tamanho.

Os dados da tabela e da figura anteriores revelam algumas tendências: há claro aumento das tecas da amostra 2 para a amostra 7, com exceção da ruptura na amostra 5 (seta verde na Figura 3.15). Neste caso, a queda da salinidade não apresenta relação direta com o tamanho de Miliammina fusca (r2 = 0,0123), mas deve exercer influência negativa sobre o desenvolvimento de outras espécies, aliviando a competição inter-específica e beneficiando

Miliammina fusca ao abrir “espaço” para que amplie seu nicho realizado. Dentre essas

amostras, todas foram coletadas na margem do canal junto ao início do bosque, com exceção da amostra 5, coletada dentro de um banco de lama com Crenea defronte ao bosque de mangue. Miliammina fusca é mais abundante em condições estressantes, sobretudo em níveis topográficos mais elevados (SCOTT e MEDIOLI, 1980a; SANTA-CRUZ, 2004; BARBOSA et al., 2005; WOODROFE et al.; 2005; FUNO et al., 2006). Portanto, a amostra 5 está num nível topográfico inferior ao das amostras 2 a 7, sendo que Polysaccammina ipohalina e

Ammotium spp. (típicas de níveis topográficos inferiores a Miliammina fusca) reforçam essa hipótese ao apresentar abundância relativa mais equilibrada com Miliammina fusca. A

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amostra 8, que apresenta uma queda significativa e tamanho comparável à amostra 5, também foi coletada em um banco de Crenea. Santa-Cruz (2004) observou tamanhos maiores de

Miliammina fusca em níveis topográficos mais elevados no manguezal do Rio Iriri; é

necessário investigar em trabalhos futuros a evolução dos tamanhos das tecas de Miliammina

fusca ao longo de perfis topográficos.

Da amostra 9 em diante, a coleta sempre foi realizada no início do bosque (margem do canal), no mesmo nível das amostras 2 a 7. Percebe-se uma leve tendência de queda conforme se avança até à amostra 16 (primeira seta vermelha na Figura 3.15). Como todas as amostras deste trecho estão praticamente no mesmo nível topográfico, a baixa salinidade provocada pelo maior aporte de águas fluviais deve exercer o mesmo tipo de influência sobre as espécies que no caso anterior, já que sua correlação direta com Miliammina fusca é praticamente nula (r2=0,036). O aumento do tamanho de Miliammina fusca neste trecho apresenta correlação negativa significativa com a queda da diversidade dada por H’ (r2 = 0,5013, α = 5%), que é um reflexo do oportunismo de Miliammina fusca em situações onde há estresse importante para outras espécies.

A terceira tendência (segunda seta em vermelho na Figura 3.15) indica queda de tamanho da amostra 22 para a 27. Interessante notar que neste trecho o tamanho de

Miliammina fusca atinge os mesmos níveis que os registrados nas amostras 2 a 7. Neste caso,

Miliammina fusca pode ser beneficiada pelo aporte de águas oriundas do Rio São Francisco, trazidas tanto pela cunha salina (origem marinha) como pela água de montante do rio (origem fluvial). A salinidade, neste caso, deve ter influência direta sobre Miliammina fusca, visto que as águas quase doces estão praticamente estabelecendo o limite inferior da sua tolerância e a salinidade apresenta correlação positiva significativa com o tamanho das tecas (r2 = 0,8785, α = 5%). Reforça essa hipótese a correlação negativa significativa entre o tamanho das tecas e a proporção de tecamebas (r2= 0,7739, α = 5%), indicativa da grande influência das águas fluviais. Deste modo, Miliammina fusca encontra na amostra 22 maior aporte de alimento e condições de salinidade que não representam uma limitação. Ao avançar em direção à amostra 27, a salinidade se torna um tensor cada vez mais intenso, reduzindo a capacidade de aproveitamento dos recursos por Miliammina fusca.

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