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3. Resultados e Discussão

3.3. Comparação entre as campanhas de 1996 e 2004

3.3.4. Ecofácies

Assim como a microfauna de cada ambiente, as ecofácies também sofreram alterações significativas, principalmente devido à mudança do regime de salinidade e da hidrodinâmica. Em relação à composição, apenas a ecofácies MA manteve suas espécies dominantes, e a ecofácies AQE passou a ser QEA de 1996 para 2004, devido à reorganização das espécies dominantes. Entre 1996 e 2004, a ecofácies CM expandiu-se sobre a ecofácies MA, e as melhores condições para o desenvolvimento das tecamebas beneficiou também Difflugia spp., que causou a mudança do nome CM, em 1996, para CDM, em 2004. No caso da ecofácies AATMA, o declínio da salinidade em 2004 beneficiou principalmente Ammotium spp. e

Ammobaculites exiguus, que passaram a ser as espécies mais importantes naquele domínio. Em relação às variáveis utilizadas no agrupamento das amostras e definição das ecofácies, as tendências preservaram-se entre as campanhas, embora algumas variáveis tenham se alterado significativamente para cada ecofácies (Tabela 3.54). As variáveis com alteração mais significativa foram a diversidade e a eqüitatividade (D e E).

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Tabela 3.54. Médias e desvios padrão das variáveis utilizadas no agrupamento e definição das ecofácies. Os

valores foram comparados a um nível de significância α = 5%.

CM CDM MA AATMA AA AQE QEA

Salinidade 1,4 ± 1,0 1,8 ± 0,9 3,6 ± 3,3 3,2 ± 1,8 23,6 ± 5,2 18,8 ± 6,0 30,2 ± 7,9 27,8 ± 6,2

sem diferençaa sem diferençab sem diferençaa sem diferençaa

Teor de Lama 69,3 ± 34,6 73,7 ± 25,7 75,3 ± 23,6 71,7 ± 20,0 73,6 ± 14,6 66,9 ± 21,1 60,3 ± 32,7 49,4 ± 30,5

sem diferençab sem diferençab sem diferençaa sem diferençaa

D 0,53 ± 0,12 0,61 ± 0,08 0,27 ± 0,16 0,44 ± 0,17 0,56 ± 0,09 0,67 ± 0,06 0,51 ± 0,15 0,66 ± 0,11

sem diferençaa diferentesa diferentesa diferentesa

E 0,68 ± 0,13 0,74 ± 0,07 0,35 ± 0,19 0,57 ± 0,18 0,70 ± 0,11 0,81 ± 0,04 0,64 ± 0,19 0,79 ± 0,11

sem diferençaa diferentesa diferentesa diferentesa

Tecamebas 0,92 ± 0,06 0,63 ± 0,16 0,03 ± 0,04 0,01 ± 0,02 0,01 ± 0,02 0,02 ± 0,04 0,01 ± 0,04 0,01 ± 0,02

diferentesa sem diferençab sem diferençab sem diferençab

a comparação pelo teste t; b comparação pelo teste de Mann-Whitney.

A salinidade não variou significativamente entre as duas coletas, embora se possa perceber médias um pouco inferiores para as ecofácies AATMA/AA e AQE/QEA (Tabela 3.54 e Figura 3.60). No caso das primeiras, a migração para sudoeste da Boca do Poço deve ter influenciado a leve queda de salinidade, que causou grandes modificações no aspecto de dominância das espécies. Já para as segundas, as amostras do setor nordeste da laguna contribuíram para uma menor média de salinidade. Ao se observar, isoladamente, os dados registrados na campanha de 2004 do setor sudoeste da laguna, constata-se que os valores enquadram-se, na maioria, na faixa euhalina.

Nas ecofácies oligohalinas, a variação da média da salinidade foi mínima, não sendo possível concluir nenhuma modificação nesse aspecto entre as campanhas.

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Figura 3.60. Médias e desvios padrão dos valores de salinidade em cada ecofácies

para as campanhas de 1996 e 2004. As diferentes cores de fundo do gráfico representam as faixas de salinidade, da inferior para a superior: oligohalina,

mesohalina, polihalina e euhalina.

Assim como a salinidade, o teor de lama, não apresentou variação significativa entre as campanhas e manteve a tendência de declinar-se das ecofácies oligohalinas para as ecofácies lagunares (Tabela 3.54 e Figura 3.61), reflexo das condições hidrodinâmicas no interior estuarino. A calmaria ambiental e a disponibilidade de material argilo-síltico em associação com os fluxos das marés combinam-se para o acúmulo de lama no manguezal.

Figura 3.61. Médias e desvios padrão do teor de lama (%) em cada ecofácies para as

campanhas de 1996 e 2004. As diferentes cores de fundo do gráfico representam as faixas de proporção lama/areia, da inferior para a superior: areia, areia levemente

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Em relação à diversidade e à eqüitatividade, as tendências se preservaram, mas as médias foram todas um pouco maiores na campanha de 2004 (Figuras 3.62 e 3.63). Este aumento indica que as condições que determinaram a organização das comunidades amostradas em 2004 permitiram uma partição de recursos mais equilibrada, o que redundou em uma distribuição de abundâncias mais homogênea e menores níveis de dominância. A Tabela 3.50 mostra que apesar da presença mais marcante das tecamebas em 2004 e de uma maior homogeneidade na distribuição das abundâncias, as ecofácies CM e CDM não apresentaram diferença significativa entre si; por outro lado, a diferença entre as campanhas para as demais ecofácies foram significativas.

Figura 3.62. Médias e desvios padrão do índice de diversidade de McIntosh em

cada ecofácies para as campanhas de 1996 e 2004.

Figura 3.63. Médias e desvios padrão do índice de eqüitatividade de McIntosh

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Se as tecamebas fossem desconsideradas no cálculo da diversidade e eqüitatividade, o Canal do Parapuca e o Riacho do Cabaço passariam a ser os ambientes com menores valores, dada a alta dominância de Miliammina fusca, criando uma tendência de aumento da diversidade e da eqüitatividade no sentido Parapuca → canal lagunar.

A proporção de tecamebas foi uma variável importante para refinar a compartimentação dos ambientes oligohalinos, sendo que seus maiores valores só foram registrados nas ecofácies CM e CDM (Figura 3.64). Entretanto, a diferença entre as médias foi significativa de uma campanha para outra, indicando uma redução na proporção das tecamebas em 2004 (Tabela 3.54). A princípio, esse dado pode parecer contraditório à discussão apresentada no item 3.3.3, comparando, isoladamente, o Canal do Parapuca e Riacho do Cabaço entre as duas campanhas. Entretanto, há de se considerar que na campanha de 1996 apenas 4 amostras compuseram essa ecofácies, todas com dominância muito alta de tecamebas e baixo desvio, enquanto que para a campanha de 2004 dezesseis amostras compuseram a ecofácies CDM. A ocupação de uma área maior também implicou em maior variabilidade do ambiente e dos dados, além da coexistência com um número um pouco maior de foraminíferos, o que determinou uma proporção média de tecamebas um pouco menor. É notório que na campanha de 2004 os referidos ambientes se tornaram mais favoráveis às tecamebas.

Figura 3.64. Médias e desvios padrão da proporção de tecamebas em cada

ecofácies para as campanhas de 1996 e 2004.

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