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A análise de ciclo de vida (ACV) é uma metodologia sistemática que analisa os impactos ambientais associados a um produto, processo, serviço ou atividade humana ao longo do seu ciclo de vida. Quando se destina a um produto, a ACV é feita de uma forma holística, considerando todas as etapas do ciclo de vida desde o início, isto é, desde a extração das matérias-primas, até ao final da sua vida, altura em que o produto se torna resíduo, passando por todas as fases intermédias, seja de produção, distribuição e utilização. Os impactos ambientais são avaliados ao longo de todo o ciclo de vida do produto, incluindo os processos

upstream e downstream associados à sua produção como também à sua eliminação (p.ex.

reciclagem ou deposição final). Os impactos ambientais referem-se a todas as extrações relevantes do ambiente, bem como às emissões para o mesmo.

Esta ferramenta foi internacionalmente padronizada pela International Organization for

Standardization (ISO) aquando da publicação das normas 14040/44, que define a ACV como

uma compilação dos fluxos de entradas e saídas e avaliação dos impactos ambientais associados a um produto ao longo do seu ciclo de vida (ISO 14040, 2008).

2.3.1 Aplicações da ACV

São diversas as aplicações associadas à análise de ciclo de vida. Esta permite o projeto, estudo e melhoria de produtos ou processos (Mata, 2015), sendo útil na identificação de oportunidades de melhoria do desempenho ambiental dos produtos em vários pontos do seu ciclo de vida (ISO 14040, 2008), traduzindo-se tanto na prevenção ou minimização de resíduos associados como na melhoria e como termo de comparação, podendo ser utilizado no marketing do produto (Mata, 2015).

É uma ferramenta que auxilia as organizações na tomada de decisões e é útil na informação aos decisores da indústria, em organizações governamentais e não-governamentais, podendo ser utilizada como um fator de pressão na cadeia de valor, exigindo que os stakeholders e fornecedores cumpram os requisitos legais e ambientais nos seus produtos e processos, bem como no planeamento estratégico, definição de prioridades e projeto ou reformulação de produtos ou processos (Mata, 2015; ISO 14040, 2008). Assim, a ACV prepara os produtos para posterior certificação e/ou atribuição de rótulo ecológico, além de que permite a avaliação de sustentabilidade de produtos.

As limitações da ACV estão relacionadas com a insuficiente transparência dos resultados, o que pode dificultar a utilização de estudos existentes como fonte de informação e comparação. A ACV não aborda os aspetos económicos ou sociais de um produto durante o seu ciclo de vida. Apesar de ser uma das várias técnicas de gestão ambiental, seja para avaliação de risco, de desempenho ambiental, auditoria ambiental e de impacto ambiental, pode não ser a mais

indicada a utilizar em todas as situações (ISO 14040, 2008). A ACV ainda tem diversos aspetos a serem melhorados, nomeadamente na avaliação de impactos ambientais, como cálculo dos efeitos e comparação entre impactos. Além disso, os estudos de ACV são demorados e a sua grande maioria termina na fase de inventário, não só por necessitarem de muita informação e dados, como também se por se tornarem dispendiosos. Para a implementação de um estudo deste tipo por parte de uma empresa, esta deve ter noção que nem sempre os resultados são satisfatórios, levando a que seja necessário implementar medidas e melhorias (Mata, 2015).

2.3.2 Etapas da metodologia de ACV

As normas ISO 14040/44 descrevem os princípios e estrutura para a elaboração de um estudo de ACV, que é estruturado em quatro fases.

Figura 6. Fases da análise de ciclo de vida (ISO 14040, 2008).

A primeira etapa consiste na definição do produto ou serviço que se pretende avaliar, incluindo a seleção de uma unidade funcional, que está intimamente relacionada à finalidade do produto e que deve ser traduzida em unidades que permitam a comparação com outros produtos semelhantes (CNI, 2014). A seleção da unidade funcional bem como amplitude, profundidade e nível de detalhe do estudo contribuem para a definição da fronteira do sistema, determinando também os processos unitários a incluir no sistema, entradas e saídas (Mata, 2015).

O inventário de gases de efeito de estufa (GEE) é o passo mais importante para o arranque de cálculo das emissões que contribuem para a pegada de carbono e é uma ferramenta indispensável para compreender o perfil das emissões de GEE bem como o volume dessas. O inventário permite o mapeamento das fontes de emissão de GEE de uma atividade, processo, organização, produto, ou outros, e possibilita a quantificação, controlo e registo dessas. Esta etapa refere-se à recolha de dados e estabelecimento dos procedimentos de cálculo, quantificando todas as interações entre o meio ambiente e o sistema do ciclo de vida, abrangendo extrações e emissões de GEE, e uma listagem de todos os inputs e outputs de energia e materiais (CNI, 2014). O inventário de emissões e sumidouros de carbono permite avaliar riscos e oportunidades de melhoria, melhorar relacionamento com stakeholders, promover reconhecimento de mercado e vantagem competitiva, diferenciar produtos,

possibilita a participação no mercado de carbono e o desenvolvimento de estratégias para políticas de redução de GEE (WayCarbon, 2016).

A etapa de avaliação dos impactos geralmente categoriza os diferentes efeitos e impactos associados ao ciclo de vida, que no seguimento do inventário de GEE se traduz na pegada de carbono. Além da correlação de dados de inventário por categorias de impacto (classificação), a avaliação dos impactos pode ainda incluir a modelagem dos dados de inventário dentro das categorias de impacto (caracterização) e possível agregação dos resultados em casos específicos e apenas quando significativos (ponderação) (ABNT, 2001). Esta etapa tem como objetivo fornecer informação adicional que auxilie na avaliação dos resultados do inventário de ciclo de vida, de modo a possibilitar a melhor compreensão da sua significância ambiental (ISO 14040, 2008). O resultado final desta fase é o perfil ambiental do produto em estudo (CNI, 2014).

A interpretação é a etapa na qual os resultados são reunidos e discutidos como base para conclusões, recomendações e tomada de decisões de acordo com a definição do objetivo e do âmbito. Os resultados são reportados da forma mais informativa possível e a necessidade de melhorias e oportunidades de redução do impacto do produto ou serviço no ambiente são sistematicamente avaliadas. Uma vez implementadas as etapas descritas, segue-se a aplicação direta da ACV, que dependendo do objetivo e razões do estudo, pode ser p.ex. o desenvolvimento e melhoria de produtos, planeamento estratégico, estabelecimento de políticas públicas, marketing, entre outras.

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