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A pegada de carbono é parte integrante da pegada ecológica definida por Rees e Wackernagel (1996). Esta traduz-se como uma estimativa do impacto que o nosso estilo de vida tem sobre o planeta, permitindo avaliar se a nossa forma de viver está em concordância com a capacidade de regeneração da Terra, por via do ciclo de carbono, disponibilizar e renovar os seus recursos naturais, assim como absorver os resíduos e os poluentes gerados pela atividade antropológica ao longo dos anos.

A pegada de carbono é como um subconjunto da pegada ecológica, representando mais de metade desta, e surge como uma medida da quantidade total de emissões de GEE que são causados direta ou indiretamente por uma atividade, serviço ou produto durante o seu ciclo de vida. A pegada de carbono pode ser dividida em primária ou direta e em secundária ou indireta. A primeira é uma medida das emissões diretas de CO2, por exemplo resultantes da queima de

combustíveis fósseis, incluindo o consumo de energia doméstica e dos transportes, e é a fração da pegada de carbono que é possível a humanidade controlar e preferencialmente reduzir. A pegada secundária ou indireta mede as emissões associadas ao ciclo de vida dos produtos e

serviços que usamos e adquirimos, incluindo o seu fabrico, transporte, manutenção e disposição final.

A pegada de carbono é como uma versão simplificada da ACV, que em vez de considerar várias categorias de impacto ambiental, apenas se foca no aquecimento global. Assim, a pegada de carbono serve como um indicador de aquecimento global, traduzindo-se nas emissões e remoções de GEE associadas a um produto/sistema ao longo do seu ciclo de vida. A pegada de carbono deve ser considerada uma unidade de referência, pelo que tipicamente é expressa em unidades de massa de equivalentes de CO2 por unidade funcional, p.ex. ton ou kg CO2-eq/UF.

A pegada de carbono é normalizada em relação ao CO2 por ser o GEE predominantemente

emitido pela atividade antropológica e cujo potencial de impacto tem o valor de 1 de acordo com as tabelas do IPCC (2007). Outros GEE como metano (CH4), óxido nitroso (N2O),

hidrofluorcarbonetos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs), também são contabilizados, mas para serem normalizados na unidade padrão, é necessário multiplicar as emissões de cada um pelo seu fator/potencial de aquecimento global (PAG) que é uma medida relativa que permite a relação do gás em questão com o padrão (PAGco2=1) durante um tempo estabelecido de 100

anos. Os fatores de aquecimento global podem ser consultados no Anexo 1 (IPCC, 2007).

Tabela 1. Fatores de emissão de alguns GEE (adaptado de IPCC, 2007).

GEE PAG (horizonte de 100 anos)

CO2 1

CH4 25

N2O 298

A pegada de carbono pode ser calculada em termos de um produto ou atividade de um indivíduo, grupo ou organização, sendo que existem dois tipos, a organizacional e a de produto. A organizacional mede as emissões de GEE que resultam de todas as atividades ao longo da organização, incluindo a energia utilizada nos edifícios, processos industriais e veículos. A pegada de carbono de um produto mede as emissões ao longo do seu ciclo de vida (Carbon Trust, 2017).

2.4.1 Benefícios e limitações da aplicação da pegada de carbono

O cálculo da pegada de carbono aplicada a produtos ou serviços tem como principais benefícios:  Gestão de emissões e avaliação de medidas de mitigação;

 Reduzir a emissão de gases com efeito de estufa ao longo do ciclo de vida;

 Identificar oportunidades de melhoria da eficiência energética, que consequentemente deverá reduzir diretamente os custos e as emissões de GEE, bem como permitir a poupança de recursos;

 No âmbito do processo produtivo, identificar onde se localizam os maiores impactos ambientais;

 Incorporar o impacto das emissões nos processos de escolha de matérias-primas, fornecedores, design do produto, entre outros;

 Demostrar liderança no âmbito da responsabilidade ambiental;

 Satisfazer a procura dos clientes e consumidores acerca de informação da pegada de carbono de produtos ou serviços, e também para poder combinar a tendência do mercado para comprar produtos “verdes”.

No entanto, a pegada de carbono tem associadas algumas limitações e potenciais desvantagens como:

 O cálculo da pegada de carbono por si só, não responde à questão se existe um problema relacionado com as emissões de GEE ou problema de mudança climática. Para tal, seria necessário estabelecer um limite da quantidade de emissões de GEE admissível (Galli et al., 2011);

 Tendo em atenção apenas os GEE, a pegada de carbono apenas é um indicador referente à categoria de impacto de aquecimento global, não informando acerca de outros impactos da pressão humana como por exemplo depleção de recursos.

2.4.2 Normas para avaliação da pegada de carbono de um produto

Na prática, a pegada de carbono é sinónimo de inventário de GEE (Franchetti et al., 2013) e a maioria das metodologias para o seu cálculo são com base no GHG protocol, PAS 2050 ou normas internacionais como ISO/TS 14067, que têm em comum a abordagem de análise de ciclo de vida.

Atualmente, a especificação mais utilizada para o cálculo da pegada de carbono de um produto é a PAS 2050 (Publicly Available Specification), preparada e publicada pela British Standards

Institution (BSI) em 2008 (Franchetti et al., 2013). Esta assenta nas normas de ACV ISO 14040/44

e fornece orientação e requisitos específicos para a avaliação das emissões de GEE ao longo do ciclo de vida de produtos ou serviços. A PAS 2050 é a norma que é frequentemente utilizada para a aquisição de rótulo carbónico de alguns produtos.

Em 2011, o Greenhouse Gas Protocol Initiative publicou uma outra norma para a análise da pegada de carbono de produtos, a Product Life Cycle Accounting and Reporting Standard. Tendo como base as mesmas normas que a PAS e a própria PAS, esta fornece especificações adicionais e orientação para facilitar a quantificação consistente e relato público de um inventário de GEE do ciclo de vida de um produto. A grande diferença entre o protocolo de GEE e a PAS 2050, é que este protocolo, além de fornecer os requisitos para quantificação dos inventários de GEE de produtos, tal como a PAS, também inclui requisitos para divulgação e comunicação (The GHG Protocol, 2012). Existe ainda a norma ISO/TS 14067 (2013) - Carbon

footprint of products - Requirements and guidelines for quantification and communication,

desenvolvida desde 2007, que se foca na gestão ambiental, nomeadamente na contabilização e verificação de GEE (Gonçalves et al., 2011).

Em suma e comparando as três normas referidas, verifica-se que em termos de semelhanças todas assentam na análise de ciclo de vida (ACV) para o cálculo da pegada de carbono, que o resultado da pegada é expresso em massa de CO2-equivalente (CO2-eq) relativo a uma unidade

funcional de referência, que o cálculo das emissões de GEE deve considerar os métodos indicados pelo IPCC e que consideram fontes de incerteza nos resultados (IPCC, 2007). No entanto, estas normas diferem em relação ao âmbito da avaliação, isto é, processos que devem ser contemplados quanto às emissões de GEE, diferem ainda quanto à consideração e comunicação das emissões de CO2 provenientes de fontes biogénicas e remoções de carbono no

solo e ao tipo de alocação dos dados quando um processo resulta em mais do que um produto. 2.4.2.1 PAS 2050:2011

A norma PAS 2050 foi desenvolvida tendo como base as normas de ACV ISO 14040/44, e fornece requisitos específicos para a análise de emissões de GEE ao longo do ciclo de vida de um produto ou serviço (PAS 2050, 2008). O principal objetivo da PAS é proporcionar uma base comum para a quantificação de emissões de GEE que permite informar e implementar programas de redução de emissões de GEE (PAS 2050, 2008)

Uma vez que a PAS apenas se foca no impacto ambiental em termos de aquecimento global, os estudos segundo esta norma não servem como um indicador global dos impactos ambientais de um produto. Além disso, a norma também não especifica requisitos para a divulgação e comunicação dos resultados da quantificação das emissões pertencentes ao ciclo de vida de um produto ou serviço. Segundo a PAS, um estudo acerca da pegada de carbono deve ser baseado na melhor informação disponível aquando da sua elaboração, e ao mesmo tempo ser transparente acerca das suas limitações. Tanto as emissões para a atmosfera como as remoções da mesma devem ser contabilizadas na análise do total de GEE do produto a ser avaliado.

3 Materiais e Métodos

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