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Análise comparativa dos achados das redes da empresa I

6 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

6.2 ESTUDOS DE CASOS MÚLTIPLOS

6.2.1 O Caso da empresa I

6.2.1.6 Análise comparativa dos achados das redes da empresa I

Ao observar o comportamento da rede de confiança nas três coletas, os dados evidenciam que, da 1ª para a 2ª coleta, houve um crescimento da maioria dos indicadores. Exceção é feita ao indicador densidade, que

apresentou tendência inversa aos demais indicadores. Wasserman e Faust (2000) apontam esse comportamento como característico de RSI. O indicador densidade na 1ª coleta atinge 60%, apontando um alto aproveitamento da rede pelos seus atores. Também nas 2ª e 3ª coletas, o indicador densidade favorece o uso dos recursos da rede. Da 2ª para a 3ª coleta, os indicadores mantiveram os valores. Importante nesse caso, ressaltar a coesão entre o sócio (IS1) e os funcionários (IF1, IF2 e IF3), presente nas três coletas. Chu (2004) apud Qian, Xu e Li (2010), afirmam que o capital humano pode, em muitos casos, ser o gargalo para o crescimento das empresas e que para eliminar esse gargalo é necessário que os empreendedores estabeleçam e mantenham boas redes com seus funcionários.

Nos seis primeiros meses (1ª para 2ª coleta), a rede de confiança cresce, incluindo relações com atores externos à incubadora. Constata-se que, somente na última coleta, aparece a relação com o ator qualificado como parente, contrariando a normalidade estrutural das redes de confiança, que normalmente se apresentam com forte participação dos parentes. Krackhardt (1992) apud Greve e Salaff (2003) afirma que as pessoas usam a família e outros laços fortes para obter recursos e suporte e Bygrave e outros (2003) apontam que membros da família são os investidores informais mais frequentes em novos empreendimentos. Kuipers (1999) afirma que as relações nas redes de confiança são de laços fortes, visto que tratam de questões mais íntimas, o que exige maior proximidade entre os atores e que os laços de confiança são mais centrados na pessoa do que na posição formal que ela ocupa, as relações são mais intensas e duradouras se comparadas com as demais redes.

Analisando as redes de informação I (quem o respondente procura para resolver questões técnicas) nas três coletas, constata-se que os indicadores de rede crescem da 1ª para a 2ª coleta e decrescem da 2ª para a 3ª, exceção feita à densidade, conforme já explicado anteriormente. A medida entre 20 e 25% da densidade nas três coletas indica um bom uso do potencial de ligações da rede. Constata-se a ausência de relações coesas entres os atores (0 clique nas três coletas), o que não é recomendável de acordo com Chu(2004) apud Qian, Xu e Li (2010), que apontam como muito importante a formação das redes com os funcionários. A falta de coesão nessa rede pode, em parte, ser explicado

pela divisão de tarefas muito bem definida entre os funcionários e pela natureza das suas atividades que são desenvolvidas quase que totalmente fora da empresa. IF3 é um ator que atua de forma autônoma e aproximadamente 90% das suas atividades são desenvolvidas fora da empresa. O ator IF1 é um funcionário administrativo que tem por atividade a parte contábil e financeira da empresa, pouco interagindo com os demais colegas. IF2 é pessoa da produção, que desenvolve todas as suas atividades na empresa. É possível constatar nessa rede, que o sócio IS2 não é citado, o que pode ser explicado pela formação desse ator que não é técnica e pelo fato de ele possuir atividades não relacionadas à empresa.

As relações efetivas crescem da 1ª para a 2ª coleta, decrescem da 2ª para a 3ª, mas, mesmo assim, ao final do período de observação, são maiores que no início. Ao observar o número de atores da 3ª coleta, constata-se que é igual ao da 1ª, porém os valores associados às relações efetivas e a densidade são maiores. Filion e Lima (2010), em seus estudos sobre o empreendedor e suas equipes, afirmam que, no início dos empreendimentos, as relações são dominadas por fortes tensões e que há empreendedores que definem espaços mais restritos para seus colaboradores, o que com o tempo tende a diminuir. Isso pode, em parte, explicar a manutenção final do número de atores e o aumento da densidade e das relações efetivas.

A partir das redes de informação II (quem o respondente procura para resolver questões de gestão da empresa) nas três coletas, é evidente o crescimento dos indicadores estruturais: quantidade de atores, relações efetivas e relações possíveis. A densidade decresce à medida que cresce o tamanho da rede e a coesão se mantém. Também nessa rede a densidade apresenta bom potencial de uso das relações, com índices variando de 22 a 33%. Revela-se nessas redes a participação dos gestores da incubadora e comprova-se a pouca participação de atores externos na 1ª e 2ª coletas e um aumento gradual da participação dos mesmos na 3ª coleta. Esse fato pode ser explicado pelo próprio desenvolvimento da empresa que, à medida que cresce, necessita de mais conhecimentos relacionados a gestão. A adoção de práticas de cooperação cresce com o porte da empresa (CÔRTES; PINHO; FERNANDES, 2005). É comum, nos processos de incubação tecnológica, os empreendedores dominarem os aspectos técnicos do negócio e apresentarem

carência em práticas de gestão (FILION; DOLABELA, 2000; LIMA; URBANAVICIUS, 2009). O subgrupo formado por IS1, IF1 e IF3 manteve-se durante o período que envolveu as três coletas. Diferentemente da rede de confiança I (técnica), o ator IF2 não formou subgrupo com os demais atores da rede nas três coletas. A atuação como técnica de produção, a pouca idade (18 anos) e a natureza da rede (gestão) podem explicar o fato.

Ao analisar a rede de informação III (o respondente lista as entidades com as quais se relaciona) nas três coletas, constata-se um decréscimo nos indicadores nº de atores, tamanho e relações potenciais, demonstrando que, à medida que passa o tempo, a rede diminui. Os indicadores decrescem pouco da 1ª para a 2ª coleta e muito da 2ª para a 3ª. A densidade cresce a medida que decresce o tamanho da rede. Ela varia de 16 a 26%, o que representa um bom uso do potencial de conexões da rede. A coesão, como já comentado anteriormente, não tem significado nessa rede, visto que o questionário somente foi submetido aos integrantes das empresas incubadas e não às entidades citadas. Os motivos que originaram as relações com outras empresas figuram no Gráfico 12.

Gráfico 12 – Empresa – I – Motivos geradores das relações com outras empresas Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo

Os dados desse gráfico evidenciam o predomínio das relações com objetivo técnico, principalmente na 1ª e 2ª coleta. Esse fato pode ser explicado pelo início das atividades da empresa, que nessa fase demanda profundos conhecimentos técnicos para o desenvolvimento dos produtos ou serviços, o

que a obriga a buscar externamente relações com atores que possam suprir tais conhecimentos. Na 2ª coleta aumentam as relações por motivos de fomento, o que pode ser explicado pela necessidade de prestação de contas do PRIME à FINEP. Na 3ª coleta, diminuem as relações com objetivostécnicos e crescem as relações com objetivos de gestão. O aumento das relações com atores ligados a gestão deve-se ao fato de que, nesse momento, o produto ou serviço já alcançou um determinado nível de produção e agora as buscas de parcerias, fornecedores, clientes, são mais preponderantes. Preocupa a ausência de relações motivadas por fomento e marketing na 3ª coleta. As relações com objetivo de marketing (ícones na cor pink) diminuem com as coletas, o que é contrário ao comportamento normal de uma empresa em fase de desenvolvimento inicial. Para Filion e Dolabela (2000) e Lima e Urbanavicius (2009), é comum os empreendedores apresentarem carência em práticas de gestão e, de acordo com Iacono, Silva e Nagano (2011), as práticas cooperativas geram benefícios em várias áreas, entre elas o marketing. Logo, mais relações de marketing poderiam ter sido desenvolvidas durante o período das coletas.

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