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Uma análise comparativa com os dados da Penitenciária Estadual de Piraquara (amostra masculina) e os dados da PFP e da Cadeia de Cascavel (amostra

feminina)

Conforme dito na introdução desta pesquisa, trabalhos como os de Borilli (2001) e Engel (2003) analisaram com profundidade questões concernentes ao criminoso econômico, ressaltando a questão do gênero masculino. Nesta subseção será dada ênfase especial ao cotejo dos dados coletados por Shikida (2005)4, para uma amostra masculina da Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP), contrapondo-os com os dados analisados na subseção anterior, cujo foco foi o gênero feminino. A escolha por esta comparação deve-se ao fato do Complexo Penal de Piraquara, seja o feminino ou o masculino, bem como a Cadeia de Cascavel, terem especificidades de população muito semelhantes (além da proximidade do número amostral - 79 mulheres e 65 homens - as praticantes de delitos de monta econômica mais elevada e/ou de maior periculosidade do Paraná se concentram nesse tipo de ambiente penal).

A tabela 4, a seguir, procura sintetizar os principais aspectos analisados por esta pesquisa e por Shikida (2005). Conforme pode ser observado, a semelhança entre os dados dos pesquisados, sejam eles mulheres ou homens, é muito grande. Em ambos os casos, a maioria amostral pesquisada foi de jovens, boa parte morava com alguém da família, sendo destacado o fato das mulheres serem mais sozinhas vis-à-vis os homens. As atividades profissionais citadas sugerem baixos níveis salariais, o que está diretamente correlacionado com o baixo nível de escolaridade verificado entre as pessoas da amostra.

Tabela 4 – Uma análise comparativa a partir de dados da PEP (gênero masculino) e da PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Faixa etária principal – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Idade Quantidade %

19 a 23 anos 26 33

24 a 28 anos 16 20

Menos de 19 anos 14 18

Faixa etária principal – PEP (gênero masculino)

4 Este trabalho procurou discutir a teoria econômica do crime a partir de evidências empíricas extraídas de

Idade Quantidade %

19 a 23 anos 28 43

Menos de 19 anos 11 17

24 a 28 anos 11 17

Composição da família que mais ocorreu – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Itens Quantidade %

Amásio e Filhos 27 34

Sozinha 14 18

Esposo e Filhos 10 13

Composição da família que mais ocorreu – PEP (gênero masculino)

Itens Quantidade %

Amásia e Filhos 23 35

Esposa e Filhos 13 20

Sozinho 8 12

Profissões que mais ocorreram – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Profissões Quantidade %

Do lar 16 20

Empregada Doméstica 9 11

Vendedora 9 11

Profissões que mais ocorreram – PEP (gênero masculino)

Profissões Quantidade %

Trabalhadores da construção civil 8 12

Motorista 6 9

Mecânico 5 8

Principais motivos que levaram ao crime – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Motivos Quantidade %

Indução de outros 20 25

Manter o sustento do vício 15 19

Ganho fácil 13 16

Principais motivos que levaram ao crime – PEP (gênero masculino)

Motivos Quantidade* %

Indução de outros 17 19

Manter o sustento do vício 15 17

Cobiça/ambição/ganância 14 15

Principais fatores para tolher a criminalidade – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Itens Quantidade % Emprego 37 47 Melhores salários 17 22 Educação 14 18

Principais fatores para tolher a criminalidade – PEP (gênero masculino)

Itens Quantidade* %

Emprego 36 32

Melhores salários 17 15

Educação 14 13

Fonte: Dados da pesquisa e Shikida (2005)

* houve, nestes itens, respostas com repetição.

atividades ilícitas, praticamente não houve muita alteração entre mulheres e homens. A indução de outros (amigos, amásios, namorados, parentes, etc.) foi o destaque ímpar, em seguida aparecem os itens manter o sustento do vício e causas individuais, geralmente consideradas de natureza psíquica (como a idéia de ganho fácil, cobiça/ambição/ganância).

Quanto ao que poderia ser feito para diminuir os crimes de natureza econômica, foram citadas a importância dos investimentos em emprego (com melhores salários – daí a questão das dificuldades orçamentárias) e educação como forma de se combater, com eficácia, estes tipos de crimes.

Em suma, a conclusão derivada dos resultados desta pesquisa e da comparação com os dados de Shikida (2005), é a de que as pessoas se tornam criminosas, do ponto de vista do crime econômico, porque os benefícios de tal atividade são compensadores, quando cotejados, por exemplo, com outras atividades. Porém, isto só ocorre porque as travas morais (família-educação-religião) estão bem frágeis. E este tipo de comportamento criminoso não pode ser analisado sob o prisma de uma atitude irracional ou emocional, e sim como uma atividade pensada, ou por uma mulher ou homem.

5 CONCLUSÕES

Este trabalho buscou entender o encarceramento feminino na perspectiva de gênero, tendo como norte a análise das circunstâncias socioeconômicas da escolha ocupacional entre o setor legal e ilegal, a guisa do referencial teórico da economia do crime. Entender este ponto - para a presente proposta de trabalho - foi crucial para poder entender porque as mulheres se sujeitam ao encarceramento (as tentativas de fuga inclusive são raras por parte desse gênero, diferentemente dos homens). Destarte, o encarceramento é visto como conseqüência, sendo importante entender as reais causas da migração da atividade lícita para a ilícita.

Como principais resultados deste estudo, inicialmente deve ser frisada a forte concentração de jovens mulheres no mundo do crime e o baixo nível de escolaridade que refletem no perfil socioeconômico das entrevistadas, demonstrando correlação com as profissões exercidas pelas mesmas (amiúde de baixa remuneração salarial).

Foi constatado que vínculos interpessoais sólidos podem interferir na decisão tomada pelas detentas quanto à prática de crimes. Entretanto, houve,

para muitos casos, péssimos exemplos de vida no próprio seio familiar. Logo, apenas ter ou não uma família não é decisivo para os bons costumes, o importante é ter uma boa família para o convívio social, mas, desde que esta atue efetivamente como bom exemplo. Outro fator diz respeito à solidão, um comportamento expressivo na vida de muitas mulheres.

A questão do êxodo rural ainda é um assunto preocupante, pois recrudesce o emprego informal e favorece a migração para o setor ilegal. Contudo, nesta pesquisa, o efeito de migração da trabalhadora rural para o meio urbano não teve efeitos significativos, sendo um motivador, mas não condição necessária e suficiente para a prática do crime.

Quanto ao tipo de crime e motivos da prática do mesmo, os dados confirmam a teoria de Becker (1968), em que a pessoa, neste caso a mulher, avalia os custos e benefícios de suas atividades ilícitas, havendo aí uma escolha racional. Tal proposição coincide com os resultados dos estudos do gênero masculino feitos por Schaefer (2000), Borilli (2001), Engel (2003) e Shikida (2005) e do gênero feminino feito por Simon et al. (2005). Portanto, ingressar na atividade ilícita torna-se uma decisão tomada racionalmente, com a percepção dos custos e benefícios que envolvem essa atividade, seja para o homem seja para a mulher.

Visto isso, o crime de maior ocorrência foi o tráfico de drogas, por se tratar de uma atividade de alto retorno financeiro. Não obstante, a migração para as atividades ilegais, no meio feminino, está sendo influenciada pela indução de outras pessoas, pela inserção que as mulheres estão tendo no mundo das drogas (sendo muitas viciadas), devido razões de natureza psíquica (como a idéia de ganho fácil, cobiça e ambição) e por problemas financeiros (que dificultam a sustentação econômica do lar).

Outro elemento importante a ser analisado trata-se da eficiência da polícia e da justiça, pois ambos foram indicados como pouco eficientes, necessitando de reformas em suas estruturas. Essa descrença se reflete no elevado índice de crimes, principalmente entre as jovens, de maneira que estas acreditam que ao cometerem atos delituosos dificilmente serão punidas.

Em função desses apontamentos foram colocadas como principais medidas para combater a criminalidade os seguintes itens: mais oferta de empregos; melhora na remuneração salarial; e mais investimentos em educação. Essas sugestões elevam o “custo de oportunidade” e também os “custos morais” da pessoa – neste caso do gênero feminino – de permanecer e/ou migrar para uma atividade ilegal.

Por fim, este estudo seguiu determinado rumo metodológico num contexto de muitos outros possíveis. Uma limitação técnica é que sua análise foi feita para um contingente possível, em dois estabelecimentos carcerários (no Paraná), sendo suas conclusões realçadas com a cautela que a estatística amostral prescreve. Como agenda de pesquisa, sugere-se que mais trabalhos possam evidenciar novas contextualizações acerca do encarceramento feminino em proposições que esta pesquisa não gerou conclusões.

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