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Economia do crime e o encarceramento feminino: uma análise para o Estado do Paraná

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ECONOMIA DO CRIME E O ENCARCERAMENTO FEMININO: UMA ANÁLISE PARA O ESTADO DO PARANÁ

Pery Francisco Assis Shikida1

Resumo: Este trabalho, a guisa da economia do crime, buscou entender o encarceramento feminino a

partir das razões motivadoras da prática econômica ilegal (que culminou com a prisão). Para tanto foram aplicados questionários e feitas entrevistas em 79 detentas da Penitenciária Feminina de Piraquara e Cadeia de Cascavel (PR). Como corolário, as mulheres, assim como os homens, ao migrarem para o crime avaliam os custos e benefícios decorrentes de suas atividades ilícitas. Este tipo de delinqüência é racional, favorecido pela indução de terceiros, pela inserção que as mulheres estão tendo nas drogas, devido à idéia de ganho fácil e diante de dificuldades econômicas. Mais emprego, melhor remuneração salarial e melhor formação educacional são fatores coibidores dessa migração.

Palavras-chaves: crime econômico; gênero feminino; Paraná.

ECONOMY OF CRIME AND FEMALE INCARCERATION: AN ANALYSIS

FOR THE PARANÁ STATE

Abstract: With the economy of crime approach, this paper aims to understand the female incarceration

from the reasons that motivated to practical economic illegal (that culminated with the prison). Questionnaires were applied and made interviews in 79 women prisoners from Female Prison of Piraquara and Cascavel Prison (PR). As result, the women, as well as the men, when migrate for the crime, thinks about the costs and benefits of its illicit activities. This kind of delinquency is rational, favored by the induction of others, by the insertion that the women are having in the drugs, due to the idea of easy gain

1

Economista (UFMG), Doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP. Professor Associado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Rua da Faculdade, 645. Jd. Santa Maria. CEP: 85.903-000. Toledo, PR. Pós-doutorando pela FGV-SP, bolsista PDS (CNPq). Professor Colaborador do Programa de Mestrado em Economia Regional da UEL. E-mail: peryshikida@hotmail.com

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and economic difficulties. More job, better remuneration wage and better educational formation are factors that may reduce this migration.

Keywords: economic crime; female genus; Paraná.

1. INTRODUÇÃO

Dentro do sistema jurídico, o encarceramento da pessoa – tendo como realidade o fato desta ter cometido um crime – é visto como uma forma de impedir que sejam causados mais danos aos outros, razão pela qual ocorre o afastamento temporário do(a) praticante do crime do convívio social. Trata-se, portanto, de uma medida extrema. Com efeito, encarcerar alguém é, na acepção da palavra, “prender em cárcere”, “separar do trato social” e/ou “enclausurar”.

Não obstante, de acordo com Foucault (1999), a partir do momento em que se decide encarcerar uma pessoa o objetivo maior deve ser o de reeducá-la, exatamente com o fito desta mesma pessoa não vir a cometer mais crimes.

Mas, o que vem a ser crime. O crime é uma violação culpável da lei penal, sendo também uma forma de violência. Para Brenner (2001, p. 32) “crime [...] é um ato de transgressão de uma lei vigente na sociedade. A sociedade decide, através de seus representantes, o que é um ato ilegal via legislação e pela prática do Sistema de Justiça Criminal”.

Do ponto de vista jurídico, o crime pode ser de diversos modos: contra a pessoa; contra o patrimônio; contra a propriedade imaterial; contra a organização do trabalho; contra o sentimento religioso; contra o respeito aos mortos; contra os costumes; contra a família; contra a honra; contra a incolumidade pública; contra a paz pública; contra a fé pública; e, contra a administração pública (PIERANGELLI, 1980).

De acordo com estudo de Capez (2003), o conceito de crime

abrange 3 aspectos em direito penal, quais sejam: o material; o formal;

e o analítico. O aspecto analítico prima pela estrutura do crime, de

maneira a ser justa a decisão quanto à infração penal, assim sendo o

crime é considerado um ilícito. O aspecto material é o fulcro do

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conceito definido como o ato humano que lesa ou coloca em risco os

bens jurídicos considerados fundamentais para a paz social e a

existência da humanidade. Quanto ao aspecto formal pode ser

considerado crime tudo o que se descreve por tal, sem levar em

consideração a essência ou recurso da dignidade humana (sic).

Embora o crime possa evidenciar uma ação típica, antijurídica e

culpável, que comina pena de reclusão, detenção ou multa, aplicada

isolada, alternativa ou cumulativamente (RODRIGUES, 2007), existem

outras formas de abordá-lo. No sentido econômico, o crime pode ser

classificado em dois grupos: o lucrativo ou econômico (furto, roubo ou

extorsão, usurpação, estelionato, receptação, etc.); e o não-lucrativo ou

não-econômico (estupro, tortura, injúria, etc.) (BECKER, 1968). A raiz

principal dessa divisão está no fato do primeiro grupo visar, em última

análise, a obtenção do dinheiro ou de coisa alheia (que tenha valor

pecuniário) por meios ilícitos; enquanto o segundo grupo não apresenta

esta relação aparente.

Mais recentemente, trabalhos como o de Engel (2003) e Borilli et

al. (2005) têm confirmado o fato de que o criminoso econômico avalia

os prós e contras derivados da sua condição de marginalidade. O

interessante dos dois estudos mencionados é que o primeiro analisa tão

somente a questão do gênero masculino (em que a decisão de atuar no

setor ilícito é uma decisão tomada racionalmente em face de uma série

de fatores), enquanto o segundo estudo tem como escopo principal o

mercado de trabalho feminino e a criminalidade. Neste último caso, a

discriminação da mulher no mercado de trabalho e o desordenado

crescimento demográfico - que tem provocado correntes migratórias e

o êxodo rural - estão associados com a prática de crime pela mulher.

Isto posto, buscando entender o encarceramento feminino na

perspectiva de gênero, o questionamento que emerge deste trabalho é

por que as mulheres decidem praticar crimes (aqui considerados apenas

os crimes lucrativos). Assim o foco deste trabalho converge para os

comportamentos coletivos que resultam da conjugação das decisões

individuais, enfatizando, neste caso, o gênero feminino. O insight deste

estudo, que recorre ao referencial teórico da economia do crime, está

na crucial pergunta: quais são as razões motivadoras da prática de uma

atividade econômica ilegal, do ponto de vista da mulher que efetuou

esta ação? Elucidar este aspecto é de extrema importância para poder

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entender porque as mulheres se sujeitam ao encarceramento (quando,

evidentemente, são detidas pelas autoridades). Neste sentido, o

encarceramento é visto como conseqüência, sendo premente entender,

antes de tudo, as suas reais causas.

Giannetti (2002) expõe que o desafio para quem se propõe a analisar alguma variável da vida humana é obter informações e dados empíricos confiáveis sobre a dimensão subjetiva da pessoa. Posto que não seja possível observar e medir de fora essas questões subjetivas, uma saída plausível é buscar dados primários, ou seja, perguntar à pessoa objeto da pesquisa. Assim sendo, neste trabalho optou-se por buscar informações, explicitadas e discutidas pela própria mulher que praticou o crime, visando entender quais as circunstâncias socioeconômicas da escolha ocupacional entre o setor legal e ilegal da economia, e por que as mulheres decidem praticar crimes considerados lucrativos. Analisar esses aspectos para uma amostra de detentas oriundas da Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP - Paraná) e de uma Cadeia da região Oeste do Paraná (do município de Cascavel, considerado “rota” do tráfico), a partir de dados primários obtidos via aplicação de questionário seguido de entrevista, poderá contribuir para elucidar questões que outros delineamentos metodológicos não permitem inferir. Reconhece-se, pois, a importância e a necessidade do estudo científico como ferramenta para a elaboração de políticas de prevenção e combate à criminalidade, com um aspecto inovador, as causas e imbricações da criminalidade lucrativa são oriundas da própria pessoa que praticou o delito.

Feita esta breve introdução, apresenta-se na próxima seção uma concisa revisão de literatura, apropriada para analisar o crime sob as circunstâncias socioeconômicas de sua prática. Na terceira seção são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados, enquanto na seção seguinte apresentam-se os principais resultados e discussões pertinentes à aplicação de questionários/entrevistas na PFP e na Cadeia de Cascavel. As considerações finais sumariam o presente trabalho.

2. REVISÃO DE LITERATURA

De acordo com a publicação Dados Consolidados, do

DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL – DEPEN (2008),

órgão do Ministério da Justiça, em 2005 a população prisional no

Brasil foi de 361.402 pessoas, em 2006 este número passou para

401.236 e em 2007 para 422.590, um crescimento de 17% entre os

anos limítrofes (2005 e 2007). A população masculina tem sido

majoritária nesses dados (do total da população do sistema

penitenciário, em 2007, 95% foi de homens e 5% de mulheres). Apenas

para ressaltar, para 2006 no item regime fechado havia 154.861

homens para 8.944 mulheres, no regime semi-aberto havia 39.575

homens para 2.156 mulheres; já em 2007 no item regime fechado havia

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148.589 homens para 8.613 mulheres, e no regime semi-aberto havia

55.503 homens para 3.185 mulheres.

Pelos dados expostos nota-se, claramente, que o total da

população carcerária vem aumentando, a exemplo dos crimes. Neste

aspecto, Borilli e Shikida (2006, p.124) informam que:

[...] no Brasil gastam-se cerca de R$ 37 bilhões por ano para proteger o cidadão contra os crimes, mesmo assim, a fama de insegurança no Brasil persiste, o que leva o país a perder muito dinheiro. Por exemplo, perde-se com a atrofia do setor turístico, seriamente afetado pelas questões da segurança, embora cerca de um milhão de pessoas trabalhem como vigilantes, quase a metade clandestina. Outrossim, em dias de parco crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o faturamento de empresas de segurança privada e vigilância eletrônica pode chegar a R$ 8 bilhões e a perspectiva é cada vez melhor, com taxas de crescimento de 10% ao ano.

A discussão e a constante preocupação com formas de definir,

prevenir e combater o crime não é um aspecto recente na história da

sociedade, haja vista que desde os primórdios da evolução humana

tanto o benfeitor como o criminoso tem sido objeto de análise.

Podem-se encontrar vestígios dessa preocupação e reflexão em Platão (“As Leis”) que viu o crime como uma doença cujas causas derivavam das paixões, da procura de “prazer” e da ignorância. Aristóteles, por seu turno, considerou que a causa do crime tinha origem na miséria (“Tratado da Política”) e que o criminoso era um “inimigo” da sociedade que deveria ser castigado (“Ética a Nicómaco”). São Tomás de Aquino, na seqüência de Aristóteles, também atribuíra a origem do crime à miséria. Mas, o primeiro autor a dar-se conta das causas sociais do crime foi Thomas Morus (1478-1535) na sua obra Utopia. Porém, apenas no século XVIII, com o movimento iluminista, nasceu uma forte reação à arbitrariedade com que se determinava a medida das penas e à desigualdade com que concretamente se aplicavam (ENGEL, 2003, p.7).

Oliveira e Vieira (2002, p.74), salientando as causas do crime,

seus fatores inatos, ambientais e psicológicos, ressaltam que:

O mestre italiano Cesare Lombroso sustenta que existem pessoas propensas ao crime, os denominados “seres atávicos”, com características perceptíveis, como mandíbula pesada, barba escassa, crânio anormal e cabelo abundante. Na

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concepção de Tomas Hobbes o homem não é naturalmente sociável. Para alguns a principal causa do crime é o fator social, a relação do indivíduo com o meio (educação, convívio, condições de vida).

O crescimento do número de crimes e a insatisfação com as

tradicionais explicações da participação das pessoas em atividades

ilícitas têm motivado os economistas a estudarem com mais profusão a

criminalidade (BALBINOTTO NETO, 2003). Isso, no entanto, também

não é recente. Para Araujo Jr. (2002), talvez tenha sido Fleisher (1963)

o primeiro estudioso a relacionar a importância de fatores econômicos

na determinação da variação das taxas de criminalidade. Porém foi

Becker (1968), com forte suporte em teoria econômica, que fez o

clássico trabalho que veio preencher a lacuna existente entre a

economia e o crime, apresentando “um modelo microeconômico no

qual os indivíduos decidem cometer ou não crimes, ou seja, fazem uma

escolha ocupacional entre o setor legal e o setor ilegal da economia”

(ARAUJO JR., 2002, p.3). A hipótese mor de Becker (1968) é que os

agentes criminosos são racionais, calculando o seu benefício e custo de

atuar ou não no setor ilícito da economia.

A economia do crime assume que uma pessoa age racionalmente

com base nos custos e benefícios inerentes às oportunidades legais e

ilegais. Grande parte dessa idéia advém do modelo de escolha

ocupacional de trabalho. Na realidade, essas teorias do comportamento

criminal baseiam-se na suposição de escolha racional proposta por

Beccaria e Bentham, e que teve em Becker (1968) o refinamento que

precisava (EIDE, 1999).

Balbinotto Neto (2003, p.1), no tocante à concepção de Becker

(1968), expõe que:

[...] os indivíduos se tornam assaltantes e criminosos por que os benefícios de tal atividade são compensadores, quando comparados, por exemplo, com outras atividades ilegais, quando são levados em conta os riscos, a probabilidade de apreensão, de condenação à severidade da pena imposta. Assim, para os economistas, os crimes são um grave problema para a sociedade porque, em certa medida, vale a pena cometê-los e que os mesmos implicam em significativos custos em termos sociais. O argumento básico da abordagem econômica do crime é que os infratores reagem aos incentivos, tanto positivos como negativos e que o número de infrações cometidas é influenciada pela alocação de recursos públicos e privados para fazer frente ao cumprimento da

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lei e de outros meios de preveni-los ou para dissuadir os indivíduos a cometê-los. Para os economistas, o comportamento criminoso não é visto como uma atitude simplesmente emotiva, irracional ou anti-social, mas sim como uma atividade eminentemente racional.

Assim, a hipótese de que os criminosos econômicos são, per se,

coitados excluídos pela família e/ou pela sociedade, caracterizados

como “doentes mentais” ou sem condições de competir pelas

alternativas legais do mercado de trabalho, não encontram sustentação

na teoria econômica do crime. Estas pessoas são, sim, racionais e

impetuosas, oportunistas diante de um ambiente propício e factível,

além de não possuírem nenhuma preocupação com o lado moral do

negócio ou com o bem estar social (BRENNER, 2009).

Este argumento da racionalidade do criminoso também está

evidente na relação de risco verificada na estrutura de mercado do

crime, porquanto numa atividade criminal está implícito o princípio

hedonístico do máximo ganho com o mínimo de esforço, isto para

variados graus de risco (FERNANDEZ, 1998). “Criminalistas

poderiam também descrever alguns criminosos como apreciadores do

risco, especialmente quando cometem assaltos com grandes

possibilidades de apreensão e punição” (PINDYCK e RUBINFELD,

1994, p.189).

Neste contexto, a análise econômica do crime baseia-se fortemente na relação delito-punição como determinante da taxa criminal, em que a eficácia policial e judicial relaciona-se com a possibilidade dos benefícios da atividade criminosa suplantarem seus custos e compensarem o risco estipulado (FERNANDEZ, 1998; BALBINOTTO NETO, 2003).

Por isso, o objetivo da sociedade é tornar nulo o retorno lucrativo médio do empresário criminoso e/ou aumentar o risco desta atividade – neste caso, “a ausência de crime pode ser definida como segurança” (JONES, 1977, p.163). Ou seja, a sociedade justa procura maximizar os custos da atividade infratora e/ou minimizar seus lucros. A

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conclusão de que o crime não deve compensar é a solução ótima a ser perseguida (BRENNER, 2001). Para tanto, essa sociedade deve estar atenta aos elementos coibidores do crime, como estruturação dos aparatos policiais, formação educacional, oferta de trabalho, urbanização planejada, distribuição de renda, etc. (FERNANDEZ, 1998).

Jones (1977) e Schaefer (2000), por intermédio de uma exposição gráfica, corroboram importantes pontos da teoria econômica do crime. De acordo com o gráfico 1, no eixo da abscissa observa-se o volume de crime e no eixo da ordenada observa-se o retorno líquido médio do crime. O crime, nesta exposição, é um bem negativo, haja vista a suposição da não existência de demanda para este tipo de produto. Ao revés, a sociedade pagará e/ou terá um determinado custo para que o crime não vigore. Desse modo, a curva de demanda negativa D evidencia o preço que a sociedade terá de pagar para coibir/eliminar o crime. A curva D não inicia em zero porque numa sociedade normal existe sempre algum nível de crime “tolerável” (uma sociedade com segurança total seria utópica; sempre existirão pessoas amantes ao risco no que diz respeito às atividades ilegais) (RODRIGUES, 2007).

GRÁFICO 1 – Oferta do crime e a curva de demanda negativa para o combate ao crime

_ + Retorno líquido médio do crime Volume de crime O S A C

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FONTE: Adaptado de JONES (1977) e SCHAEFER (2000)

Neste panorama, o nível de equilíbrio do crime indica um determinado volume de crime OA, para um determinado retorno líquido médio do crime OB. Supondo uma reformulação dos aparatos policiais, isto é, tornando-o mais eficaz, têm-se o deslocamento da curva de demanda para a esquerda (D1). Isto provoca uma diminuição

no volume de crime para OC, e uma redução do retorno líquido médio do crime para

OE. Uma situação oposta seria o caso de uma hipotética desestruturação dos aparatos

policiais, ou seja, a curva de demanda numa situação inicial D1 seria deslocada para a

B E

D1

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direita (D). Haveria, portanto, um crescimento do retorno líquido médio do crime de OE para OB, enquanto o volume de crime cresceria de OC para OA. A cursa S representa a oferta do crime (quando o retorno líquido médio do crime se eleva, o volume de crime aumenta).

Esta breve exposição gráfica confirma que a maior ou menor incidência das atividades ilícitas está diretamente relacionada aos benefícios líquidos provenientes desta atividade. Segundo Araujo Jr. e Fajnzylber (2000), os benefícios devem superar os rendimentos observados no setor legal da economia em um montante capaz de cobrir os “custos morais” associados à atividade ilícita, o que pode ser denominado de “custo de oportunidade”.

Assim como outra atividade econômica qualquer, os ganhos

na atividade empresarial do crime são incertos e dependem essencialmente

da probabilidade de sucesso de suas operações. E essa probabilidade está

diretamente relacionada ao desempenho do criminoso, por um lado, e por

outro, à eficácia policial e efetividade da justiça. Não existem dados que

estimem a probabilidade de detenção de uma pessoa no Brasil, mas

supõe-se supõe-ser ainda menor que verificada nos Estados Unidos, que é de apenas 5%.

Isto implicaria dizer que no Brasil a probabilidade de sucesso no setor do

crime pode ser maior do que 95% (FERNANDEZ, 1998; SHIKIDA, 2005).

Em termos de tráfico de drogas, diante do crescimento quantitativo e qualitativo desse negócio no mundo, a monta que esta economia específica movimenta é tão significativa e rentável que, como descreve Fernandez e Maldonado (1999), o tráfico de drogas passou a ser considerado um dos grandes negócios no ranking mundial.

Isto posto, vale revisitar alguns estudos a guisa dos pressupostos que a economia do crime - desenvolvida por Becker (1968) - prescreve.

Analisando a questão do narcotráfico a partir da experiência boliviana, Fernandez e Maldonado (1999) salientaram que as principais causas para as pessoas

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decidirem praticar o crime de tráfico de drogas estão tanto nas razões de origem individual como de cunho social. As causas de cunho social foram de natureza conjuntural/estrutural, ligadas a fatores como pobreza, desemprego e ignorância. As causas individuais, geralmente consideradas de natureza psíquica, foram: a cobiça; a ambição; o ganho fácil; a inveja, entre outras. Os resultados econométricos do trabalho destes autores mostraram que a evolução da produção ilegal de coca pode ser explicada pelo diferencial de ganho nessa atividade, em relação ao ganho do setor legal da economia.

Araujo Jr. e Fajnzylber (2000, p.630), analisando o crime e a economia nas microrregiões mineiras, constataram, entre outros aspectos, que os “maiores níveis educacionais implicam menores taxas de crime contra a pessoa e maiores taxas de crime contra a propriedade, e a desigualdade de renda encontra-se associada a maiores taxas de homicídios e homicídios tentados e menores taxas de roubos de veículos [...]”. Araujo Jr. (2002, p.1) ainda analisa as raízes econômicas da criminalidade violenta no Brasil, chegando a conclusão de que: “o ambiente econômico tem sua „parcela‟ de culpa na variação das taxas brutas de homicídio observada nos estados do Brasil (de 1981 a 1996).”

Ressaltando a questão da faixa etária, Andrade e Lisboa (2000, p. 64), constataram que “[...] para os homens mais jovens o aumento do salário real faz com que estes retornem para as atividades legais, reduzindo a sua participação em atividades ilegais. [...] Os mais velhos, por outro lado, apresentam menor mobilidade entre atividades legais e ilegais”.

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Fernandez e Pereira (2000, p.898), fazendo uso dos modelos de co-integração, procuraram ajustar curvas de oferta para as modalidades de crimes agregados, furto e roubo de veículos, na região policial da Grande São Paulo. Os resultados mostraram que “o aumento dos índices de desemprego e de concentração de renda, a redução do rendimento médio do trabalho e a deterioração das performances da polícia e da justiça explicam o crescimento da atividade criminosa nessa região”.

Schaefer (2000) analisou a economia do crime em Toledo (PR),

via entrevistas aos réus julgados e condenados por crimes lucrativos.

Esta pesquisa foi a primeira feita com esta proposição, qual seja, a de

buscar dados primários a partir daqueles que de fato cometeram os atos

ilícitos (neste caso, focou-se apenas o gênero masculino). Como

corolário, os principais motivos de migração para as atividades

criminosas foram: indução de amigos; necessidade de ajudar no

orçamento familiar; e princípio do “ganho fácil”. Contudo, este estudo

apresentou “limitação” diante da amostra obtida, ou seja, os réus aptos

a responderem a entrevista concentraram-se em crimes de pouca monta

econômica (não existiu caso para o crime organizado na sua esfera

mais complexa – por exemplo, grandes roubos a bancos e carros fortes,

seqüestros, etc. – devido ao fato desse tipo de réu necessitar ser

transferido para locais de maior segurança).

Avançando na limitação amostral exposta no estudo de

Schaefer (2000), Borilli (2001) também analisou alguns aspectos do crime

sob as circunstâncias econômicas da prática criminosa, via entrevista face a

face, dos criminosos acessíveis do universo compreendido por réus

julgados e condenados por crimes lucrativos da Penitenciária Industrial de

Guarapuava e Cadeia Pública de Foz do Iguaçu (PR) - focou-se novamente

apenas o gênero masculino. Como corolário, os criminosos migraram para

atividades ilegais na esperança de que os ganhos esperados superassem os

custos esperados. A maioria dos entrevistados estava trabalhando na época

da prática do crime. A associação da criminalidade com o baixo nível de

escolaridade foi confirmada.

Nesta mesma seqüência, Engel (2003) analisou a

criminalidade no Paraná por meio de um estudo de caso na Penitenciária

Industrial de Cascavel (PIC), a partir de dados obtidos com aplicação de

questionários a réus já julgados e condenados por crimes lucrativos. Como

resultado, confirmou-se a teoria da escolha racional do agente criminoso (o

foco foi também o gênero masculino), que avalia os custos e benefícios de

suas atividades.

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Essa mesma sistemática dos estudos feitos por Schaefer

(2000), Borilli (2001) e Engel (2003) foi replicada por Simon et al. (2005),

Shikida (2005) e Borilli e Shikida (2006) no Complexo Penitenciário de

Piraquara (PR), agora com uma amostra mais ampla, corroborando a

questão da racionalidade criminosa no tocante aos crimes lucrativos.

Neste caso, vale ressaltar a pesquisa de Simon et al. (2005,

107), que foi pioneira na busca de informações primárias exclusivamente

para o gênero feminino, na qual também confirmou “para a detenta

feminina a teoria da escolha racional do agente criminoso, que avalia os

custos e benefícios decorrentes de suas atividades ilícitas”.

Nota-se, pois, uma maior concentração desses estudos (que buscaram dados primários das pessoas que praticaram crimes) para o gênero masculino. Uma análise do gênero feminino, que permita inclusive avançar na limitação amostral de Simon et al. (2005), se faz premente. Explicações para o desvio feminino, mormente na criminalidade, também merecem considerações por parte dos estudiosos, seja com qual método científico for (SIMON e AHN-REDDING, 2005).

3 METODOLOGIA

Um elemento importante a ser destacado é o fato de este trabalho ser um estudo de caso (para o Paraná), pois analisa profunda e exaustivamente poucos objetos de pesquisa, pressupondo que se desenvolva a compreensão da generalidade (GIL, 2000). Sendo assim, as entrevistas e o questionário que foram aplicados tiveram por força maior explorar ao máximo a visão global do sistema micro e macro que abrange a criminalidade sob a ótica da mulher.

Outrossim, este trabalho trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa (GODOY, 1995) e explicativa, pois visa extrair as informações reais da dimensão em

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que o crime interfere no meio econômico e social. A utilização de questionários não se baseou na análise de medidas quantitativas, ao revés, procurou destacar sobremaneira o desenvolvimento das percepções dos elementos pesquisados, mais especificamente do

feeling da ré.

Vale salientar que a presente pesquisa trata-se de uma amostragem não probabilística, em que a detenta entrevistada é quem toma a decisão de responder, verdadeiramente ou não2, a questão a ela feita, pois, mesmo tendo a garantia de anonimato na entrevista, essas pessoas comumente acreditam no chavão de que “tudo o que disser poderá ser usado contra você”.

O método utilizado na pesquisa para a obtenção de informações das detentas, compreendidas na amostra, foi a aplicação de questionários via entrevista face a face. Segundo Gil (2000), este método proporciona maior flexibilidade ao agrupar os diversos tipos de problemas, possibilitando tirar dúvidas quanto às questões, a fim de obter maiores informações fornecidas pelas entrevistadas. Por conseguinte, o questionário não se tornou metódico, pois houve uma complementação de dados por parte de depoimentos pessoais, somente percebidos neste tipo de interação.

O questionário foi elaborado com base na fundamentação teórica da economia do crime, visto nesta revisão de literatura, e alicerçado nos estudos de Becker (1999), Schaefer (2000), Borilli (2001), Engel (2003), Simon et al. (2005) e Shikida (2005), que ressaltaram aspectos como: a natureza socioeconômica dos entrevistados; a abrangência

2 Várias perguntas do questionário constam do prontuário da detenta. Deste modo, foi feita a verificação

das respostas dadas com os dados desse prontuário. Havendo assimetria de informações, o questionário era descartado por não fidedignidade da respondente.

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em relação dos riscos e incertezas inerentes à atividade ilícita; os resultados da prática ilícita em relação aos benefícios líquidos e, de modo geral, os motivos que influenciaram essas pessoas à prática criminosa. A inovação do presente estudo é a inserção do questionamento “o encarceramento contribui para reeducar a detenta?”.

Contudo, para avaliar as possíveis ambigüidades no questionário foram realizados pré-testes com o intuito de minimizar os problemas na sua aplicação, e não provocar qualquer tipo de dúvida durante as entrevistas. Feitas as correções, a aplicação do questionário às presas da Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP) e da Cadeia de Cascavel (Paraná) foi realizada. Uma equipe (3 pesquisadores) previamente treinada efetuou esta aplicação. Entretanto, as datas da pesquisa foram (e serão) mantidas em sigilo, por “sugestão” institucional, para evitar qualquer transtorno para os estabelecimentos que colaboraram com esta pesquisa, visando também resguardar as respondentes.

Cumpre mencionar que a escolha de dois estabelecimentos carcerários para este tipo de trabalho teve o fito de diminuir o possível viés da tendenciosidade amostral que a pesquisa em um único local pode possibilitar (WONNACOTT e WONNACOTT, 1985). Neste sentido, buscou-se dois dos mais importantes estabelecimentos carcerários do gênero feminino do estado: a PFP, a única Penitenciária existente no Paraná para mulheres; e a Cadeia de Cascavel, município este muito visado pelo tráfico de drogas, armas, mercadorias, etc. (ENGEL, 2003).3

3

Cascavel é um município considerado de porte médio no Paraná, com cerca de 285.784 habitantes, para um PIB per capita de 10.476 reais, sendo sua economia fortemente baseada na agroindústria e serviços (INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL – IPARDES,

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É importante salientar que no ato da aplicação do questionário manteve-se preservada a identidade das entrevistadas. Com isso, cada mulher pesquisada teve como esclarecimento preliminar a condição de anonimato para livrá-las da possível insegurança perante a lei. Tal fator foi de grande valia para expor maiores informações sobre o conteúdo proposto. Mas, mesmo assim foram constatadas negativas no tocante à participação de algumas detentas, que se recusaram a colaborar com esta pesquisa ao saberem do teor da mesma. A análise tabular coletiva dos dados obtidos (ou seja, de forma agregada) foi outra estratégia de pesquisa, comum à área criminal (vide BECKER, 1999; BORILLI, 2001).

Por fim, cabe citar que para a aplicação dos questionários foi necessária autorização dos órgãos competentes, o que acabou envolvendo a Secretaria de Justiça do Estado e o Departamento Penitenciário do Estado do Paraná – DEPEN-PR, bem como a autoridade local responsável pela Cadeia de Cascavel. As figuras a seguir procuram mostrar cenas peculiares da pesquisa de campo (menção importante de encômios deve ser feita para o aparato de segurança destinado à cobertura da equipe desta pesquisa).

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Figura 1 – Entrevista de uma detenta no parlatório 1

Figura 2 – Entrevista de uma detenta no parlatório 2

4 RESULTADOS DA PESQUISA E DISCUSSÃO

4.1 Uma análise a partir dos dados coletados na Penitenciária Feminina de Piraquara e da Cadeia de Cascavel (Paraná)

Segundo a Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP), na época da pesquisa in

loco havia 313 detentas cumprindo pena na unidade. A PFP ocupa uma área de 3.200

m2, com 116 celas e capacidade para 344 internas, sendo que 95% da população carcerária está trabalhando em 15 canteiros de trabalho (artesanato; confecção de roupas; cartões de natal; dentre outras). A PFP possui creche para filhos(as) das internas, dispondo também de área de lazer.

A Cadeia de Cascavel ocupa uma área de 1.167 m2, tendo capacidade para 144 internos, mas atualmente possui 328 internos. Conta com 36 celas, sendo que atualmente 17 delas são utilizadas para abrigar 113 mulheres.

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Para o estudo em questão foram pesquisadas 79 detentas (67% da PFP e 33% da Cadeia de Cascavel, doravante analisadas no agregado), todas condenadas por crimes econômicos, sendo este número satisfatório para presente análise (a representatividade amostral foi de 35% do universo disponível para a pesquisa). Vale dizer que para esta seleção houve estudo preliminar das detentas via prontuários (em que se separou o crime econômico do não econômico), e por meio de uma avaliação da condição penal (ou seja, foram separados, dentre os crimes econômicos, aqueles de penas consideradas elevadas e/ou pela tipicidade de suas ações, procurando caracterizar nesta amostra perfis típicos que pudessem retratar a natureza criminal das assaltantes, seqüestradoras, traficantes, etc). O tempo gasto com cada pesquisada foi, em média, de 40 minutos.

Em termos gerais, as mulheres entrevistadas são em sua maioria brancas (73%), enquanto negras teve apenas 13% (outras respostas – mestiças, amarelos, etc. = 14%). Destas mulheres, 73,4% nasceram no Paraná, 6,3% no Rio Grande do Sul e em outros estados foram registrados 20,3%. Com estas informações, cumpre dizer que a amostra pesquisada nestes dois estabelecimentos pesquisados é composta, na sua maioria, por mulheres brancas e paranaenses, fato este normal diante da realidade das penitenciárias do estado (sobre isto ver: DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ – DEPEN-PR, 2008).

Com relação à faixa etária das mulheres entrevistadas, no período em que cometeram os crimes, verificou-se maior concentração entre jovens de 19 a 23 anos (33% da amostra), ainda figuram jovens de menos de 19 anos (18%), de 24 a 28 anos (20%), e acima de 28 anos (29%) (destas, de 29 a 33 anos = 5%; 34 a 38 anos = 12%; 39

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a 43 anos = 7%; 44 a 48 anos = 5%). Vale frisar que tais números, convergindo mormente para a juventude entre a faixa etária de até 23 anos (51%), seguem uma tendência nacional (BORILLI, 2001; DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ – DEPEN-PR, 2008).

Esta tendência delituosa destaca-se entre os jovens, homem ou mulher, devido a maior mobilidade entre o setor legal e ilegal da economia verificada para esta classe, sendo mais baixa quando se consideram faixas etárias mais elevadas (ANDRADE e LISBOA, 2000; BEATO et al., 2004). Segundo Grogger (1995) essa maior incidência dos(as) jovens no setor ilícito da economia se deve aos baixos índices salariais, pois isto reduz o custo de oportunidade de migração do setor lícito para o ilícito. Nas entrevistas foram notórias algumas menções de falta de experiência de vida (“bobeira”) apontadas pelas presas.

Os crimes também foram relacionados quanto aos níveis de escolaridade, verificando-se grande concentração no ensino fundamental, com 65% da amostra, 23% havia cursado o ensino médio, 6% eram analfabetas e apenas 6% tinham o ensino superior ou estavam cursando-o. Este aspecto é também ilustrado por Shikida et al. (2006), conquanto os baixos índices de escolaridade apresentados pelos(as) criminosos(as) demonstram como o menor custo de oportunidade a eles associados têm influenciado significativamente a tomada de decisão de a pessoa migrar para o setor ilícito. Isto confirma a relação direta da baixa escolaridade como elemento facilitador da migração para a atividade ilegal (BORILLI, 2001; ENGEL, 2003).

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para a totalidade daquelas que tinham completado o curso superior ou que estavam cursando-o, notam-se atividades criminosas mais complexas do ponto de vista organizativo. Quer dizer, se a baixa educação é um fator que pode favorecer a migração para a atividade ilegal, ao revés, quando ocorre a migração das mulheres ditas mais instruídas para o mundo do crime, esta se dá, com mais ênfase, para crimes de maior monta econômica e de complexidade operacional mais elevada (operações sofisticadas de tráfico de drogas, roubos a banco, etc.).

Quanto ao estado civil das mulheres entrevistadas, 37% da amostra disseram serem solteiras, 34% amasiadas, 14% separadas ou divorciadas, 13% casadas e 2% viúvas. Quanto ao elevado nível de solteiras, o seu fator preponderante está diretamente correlacionado à faixa etária jovial predominante (dos 18 aos 23 anos).

Em contraposição a esses dados, Araujo Jr. e Fajnzylber (2000) salientam que vínculos interpessoais sólidos (uma união matrimonial estável, por exemplo), ajudam a minimizar a inserção na prática criminal. Nesta pesquisa, particularmente, existiu uma especificidade muito relatada nas entrevistas, qual seja: houve casos de migração para o crime em função do “amor bandido”. Neste ponto, muitas mulheres entraram na atividade ilícita por influência, direta ou indireta, de parceiros, sejam estes amásios (em sua maioria) ou maridos (em sua minoria).

Sobre o exposto, consta em Adital (2005, p.01) que:

[...] o fato de meninas [...] se aproximarem de bandidos é um fenômeno antigo, [...] um dinheiro aparentemente fácil, que seduz também as „patricinhas‟. Em casa, nem

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sempre elas conseguem a grana na hora. Com os bandidos isso não acontece. Eles bancam mesmo. [...] Muitas vezes, essas jovens começam o romance sem saber com quem estão se envolvendo. Mas ao descobrir não hesitam em passar pela experiência. No início é tudo novidade, emoção, mas com tempo elas caem na real, só que para algumas é muito tarde.

É importante citar que a relação de amor entre o homem e a mulher não é objeto desta pesquisa. No entanto, pode-se asseverar que a opção de um dos parceiros que está amando outrem, seja mulher ou homem, migrar para a atividade criminosa é uma escolha racional per se; do contrário, todas as mulheres de bandidos que amarem seus parceiros seriam necessariamente bandidas em função de suas paixões.

Para Bertier et al. (2008, p.01):

Alguns criminosos são enxergados apenas como pessoas que fogem dos padrões normais da sociedade. Isso desperta admiração, principalmente nas mulheres. É muito comum bandidos receberem cartas de fãs em número surpreendente para alguém que está preso.

Ainda para melhor avaliar os vínculos familiares, pois o estado civil amiúde pode obnubilar alguns fatos, são apresentados na tabela 1 os dados referentes à composição da família das entrevistadas, em que se pode verificar que 18% das mulheres (2º maior percentual dessa amostra) morava sozinha, isto é, sem ninguém com quem dividir sua companhia.

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Tabela 1 – Composição da família das entrevistadas (no período em que foram cometidos os crimes)

Composição Quantidade % Composição Quantidade %

Amásio e Filhos 27 34 Mãe e irmãos 6 8

Sozinha 14 18 Irmãos 4 5

Esposo e Filhos 10 13 Pai e irmãos 3 4

Pai, mãe e irmãos 7 9 Pai e mãe 1 1

Filhos 6 8 Pai 1 1

Fonte: Dados da Pesquisa

Esses dados mostram, de forma variada, composições familiares diversas para as presas. Outrossim, para muitos casos foram verificados péssimos exemplos de vida no próprio seio familiar (da amostra pesquisada, 48% das mulheres afirmaram ter antecedente criminal na família, o que tende a favorecer a prática criminosa). Isto denota que ter ou não uma família não é decisivo para o enfoque desta pesquisa. Conforme observado nas entrevistas in loco, o importante, sim, é ter uma boa família (no sentido

lato, exemplar) para o convívio social. Vale citar que vínculos interpessoais sólidos

ajudam a minimizar a inserção na prática criminal (ARAUJO JR. e FAJNZYLBER, 2000).

Outro fator importante a ser mencionado se refere à existência de crença religiosa da pessoa. O fato mais curioso dessa amostra (que praticou atos ilícitos) é que

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das 79 mulheres entrevistadas 97% delas disseram acreditar em Deus, enquanto 3% não. Os dados mostram que 61% disseram serem católicas, 23% evangélicas, 8% não tinham religião, 5% espírita, 1% protestante, e 2% outras religiões. Contudo, dentre estas que disseram acreditar em Deus, um percentual menor (57%) eram de fato praticantes (com freqüência religiosa), no período em que cometeram os crimes, contra 43% não praticantes. Mesmo assim, isso não tolheu a migração para a criminalidade.

Sabe-se que a questão do êxodo rural é um dos assuntos cuja preocupação é a tônica de muitos estudiosos, pois afeta significativamente as áreas urbanas, devido ao inchaço das regiões periféricas da cidade (CHIAVENATO, 1996). Essa migração para o meio urbano de pessoas praticamente sem qualificação fortalece o emprego informal, o desemprego e a miséria desenfreada contribuindo, de certo modo, para a inserção no setor ilícito. Não se deve esquecer que as más condições de vida da periferia favorecem a criminalidade, tendo por crimes mais comuns o roubo, tráfico de drogas, assassinato, etc. (FERNANDEZ e MALDONADO, 1999; BORILLI, 2001).

No estudo em questão, a relação êxodo rural com criminalidade não teve predominância no total da amostra pesquisada, pois 75% das mulheres eram de origem urbana e somente 25% vieram do meio rural. Contudo, desses 25%, o fator “expulsão” do campo, com os elementos socioeconômicos ora citados, e que derivam dessa corrente migratória, contribuiu para a migração para o setor ilícito, embora não fosse esta uma condição determinante.

Atendo-se aos aspectos mais econômicos, na tabela 2 pode-se notar que as profissões das entrevistadas foram muito variadas, mas com predominância das mulheres com o ofício “do lar” (20,3%). Entrementes, pelo perfil das atividades executadas pelas mulheres da pesquisa, no período em que cometeram os crimes,

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observou-se em sua maioria um baixo retorno financeiro para as atividades exercidas, o que se relaciona com o também baixo nível de escolaridade. Corrobora-se, assim, um dos modelos de migração do crime, em que a baixa remuneração, associada à baixa qualificação estudantil, tem influenciado significativamente na tomada de decisão da pessoa migrar para o setor ilícito, na esperança de que os ganhos esperados superem os custos de migração (FERNANDEZ e MALDONADO, 1999). Apesar dessa observação, vale mencionar as categorias “empresária, enfermeira e algumas assistentes administrativas”, com remunerações bem maiores vis-à-vis as outras pesquisadas. Uma observação sui generis foi a de uma entrevistada reiterar, durante conversa, que fazer “contrabando” é sua legítima “profissão”.

Tabela 2 - Profissão das entrevistadas (no período em que foram cometidos os crimes)

Profissão Quantidade % Profissão Quantidade %

Do lar 16 20,3 Cabeleireira/Manicure 2 2,5

Desempregada 9 11,4 Catadora de Papel 2 2,5

Empregada Doméstica 9 11,4 Costureira 2 2,5

Vendedora 9 11,4 Garota de Programa 2 2,5

Assistente Administra. 6 7,6 “Contrabandista” 1 1,3

Empresária 5 6,3 Artesã 1 1,3

Serviços Gerais 4 5,1 Camareira 1 1,3

Auxiliar de Produção 3 3,8 Diarista 1 1,3

Não informou 3 3,8 Enfermeira 1 1,3

Babá 2 2,5 - - -

Fonte: Dados da pesquisa

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estruturais e conjunturais, tais como índices de desemprego, (GOMES, 2003), o índice apontado pela tabela 2 retrata que 11,4% das pesquisadas estavam desempregadas. Contudo, este item será mais bem avaliado adiante, com a análise do(s) motivo(s) que levou(levaram) as mulheres pesquisadas a praticar a(s) atividade(s) criminosa(s).

Outro dado adicional é a falta de interesse por parte de empregadores em registrar, com os devidos direitos trabalhistas, a pessoa que está lhe prestando serviços. A pesquisa permite visualizar que 71% não tinham carteira registrada, e a sua predominância gira em torno da categoria de empregadas domésticas e vendedoras (autônomas).

Verificando os tipos de crimes econômicos cometidos, nota-se que houve uma forte concentração na prática do tráfico de drogas - em que 67% das entrevistadas foram enquadradas nesse artigo. Os outros crimes destacados foram: roubo 15%; latrocínio 8%; furto 6%; e estelionato 4%. Um número expressivo deu-se na questão da reincidência criminal, com 51%, sendo que a maioria ocorreu no tráfico de drogas. A posse e uso da arma de fogo pelas mulheres ocorreram em 15,4% dos casos.

Esta grande concentração na prática ilícita do tráfico de drogas pode ser explicada pelo significativo retorno financeiro do mesmo, e como foi ressaltado pelas presas, o tráfico de drogas “proporciona elevadas remunerações”. Esses fatores econômicos reforçam três dos motivos colocados pelas entrevistadas em migrar para o setor ilegal (tabela 3), quais sejam: manter o sustento do vício (19%); devido ao ganho fácil (16%); e cobiça/ambição (8%).

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atividade(s) criminosa(s)

Motivo Quantidade %

Indução de outros (amigos, amásios, namorados, parentes, etc.) 20 25

Manter o sustento do vício 15 19

Ganho fácil 13 16

Ajudar no orçamento, pois o salário não dava para as despesas 11 14 Ajudar no orçamento familiar, pois estava desempregada 7 9

Cobiça e ambição 6 8

Dificuldade financeira (endividado, por exemplo) 4 5

Manter o “status” 2 3

Falta de estrutura e orientação familiar – despreparo para a vida/aventura 1 1

Fonte: Dados da Pesquisa

Como pode ser visto, a indução de outros (amigos, amásios, namorados, parentes, etc.) abrange 25% dos motivos que levaram as mulheres a praticar crimes. Tal percentual vem de encontro com uma das especificidades desta amostra: a migração para o crime em função do “amor bandido”. Neste contexto, deve ser destacado também que as jovens, mais novas e com pouca formação educacional, sofrem mais facilmente a indução de outros (amigos, amásios, namorados, parentes, etc.) para ingressar no mundo do crime, seja por “amor bandido” (paixão por criminosos), ou com o objetivo de se satisfazer com o consumo de droga (que também está atrelado à indução de companheiros). Sobre isto, Laub (2002) aponta que os adolescentes pensam mais no curto-prazo e são mais impulsivos, geralmente atuam em grupos, pois na frente dos companheiros é mais difícil assumir ter medo.

Um dado preocupante ainda nesta abordagem refere-se à manutenção do vício como elemento determinante da migração para o crime (19%). Esta questão da droga, também enquanto consumo (além do tráfico), aliado a fatores como a desagregação familiar, pouca base educacional, uso de bebida alcoólica e fumo (feito por mais da metade das entrevistadas) e falta da prática religiosa, contribuem, de fato, para o

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aumento das taxas de crime econômico.

Com efeito, se for considerado o somatório das causas individuais, geralmente consideradas de natureza psíquica (cobiça; a ambição; o ganho fácil; a inveja; manter o “status”, entre outras), ter-se-á um índice de 27%. E, para as correntes que associam o aumento da criminalidade a problemas estruturais e conjunturais (desemprego), se for considerado o somatório das causas como ajudar no orçamento e dificuldade financeira, ter-se-á o maior índice agregado de todos, perfazendo 28%. Isto atesta que os problemas econômicos enfrentados pelas mulheres têm sido um forte motivador para a migração das mulheres para a atividade ilícita. Remontando à Araujo Jr. (2002), o ambiente econômico tem sua „parcela‟ de culpa nesse cenário, e isto foi atestado com os resultados ora apresentados.

Não obstante, mesmo com este apontamento de dificuldades financeiras, um aspecto que deve ser desmistificado é o desemprego como condição sine qua non para o aumento do crime, observação esta não verificada na proporção em que é amiúde realçada pela sociedade. Como assinala Pastore (1996, p.01), “não há dúvida que a deterioração social contribui para o crime. [...] Mas, o crime não pode ser reduzido a esses fatores. [...] Os que assim fazem acabam tratando os criminosos como vítimas sociais”. Neste tocante, devem ser melhor discutidos os descontroles do orçamento doméstico e a baixa remuneração como problemas que, junto ao desemprego, contribuem para a migração das mulheres para atos ilícitos. Esta constatação é inédita frente aos resultados apresentados por Simon et al. (2006).

Em suma, esses motivos realçam o fato das expectativas da pessoa em ter retorno líquido superior ao esperado num segmento formal da economia, seja por razões individuais, consideradas de natureza psíquica, ou por problemas estruturais e conjunturais. Quer dizer, há forte sinalização de que a pessoa age racionalmente – com uma lógica própria – ao avaliar os riscos e benefícios em relação a sua atividade no setor ilícito da economia.

Os criminosos acreditam possuir direitos para invadir a propriedade dos outros, tocarem nos seus corpos, liquidarem suas vidas - do modo que lhes parecer mais prático - pouco ligando para as perdas, a dor e o sofrimento das verdadeiras vítimas. [...] Eles têm uma lógica própria; uma inteligência especial (PASTORE, 1996, p.01).

A técnica mais utilizada para a prática do crime foi o “trabalho em grupo”, pois 72% das entrevistadas assumiram que tiveram parceiro/a para o mesmo. Essa elevada concentração de parcerias fica explícita no caso do tráfico de drogas, por se tratar de uma atividade que necessita da utilização de mais contatos, abrangendo assim uma demanda em maior escala para a conclusão desta atividade. Por ser uma

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operação que visa vultosas remunerações, necessita também que as esferas de oferta e demanda do mercado sejam pré-definidas “meticulosamente”, a fim de facilitar a transação sem que haja qualquer deslize, de maneira a haver uma mínima, quiçá nenhuma, assimetria de informações entre os agentes (esta asserção deriva de vários depoimentos feitos durante as entrevistas).

Quanto aos fatores preponderantes que levaram ao insucesso da atividade criminal, foram destacados: com 44% os chamados “dedo-duro” (dentre eles estão também as denúncias anônimas feitas pela sociedade); 33% foi determinado como eficácia da ação policial; outros fatores - como “traição forçada” (delação mediante uso da “força”), falha do parceiro, falha própria, reação da vítima, inexperiência e alarme monitorado - completam os 23% restantes da amostra.

Conforme visto na revisão de literatura, a atividade ilegal torna-se atraente pelo fato de beneficiar a(o) criminosa(o) no curto-prazo com uma renda mais elevada do que a realizada no setor legal da economia. Destarte, o retorno econômico da atividade ilícita avaliado pelas detentas, numa escala de 0 a 9, foi considerado satisfatório, mesmo que os custos (risco de serem aprisionadas) fossem, neste aspecto, relativizados. O retorno econômico avaliado para o grau superior a 7 foi destacado por 60% das entrevistadas, 20% assinalaram este retorno como de grau inferior a 4, 11% enquadraram o retorno numa escala entre 5 e 6, e 9% apontaram um retorno numa escala de 0 a 3. O retorno, portanto, é alto.

Estes dados, quando comparados aos riscos da migração para a atividade criminosa, também avaliados numa escala de 0 a 9 (o risco avaliado para o grau superior a 7 foi destacado por 39% das entrevistadas, 43% assinalaram este risco como de grau inferior a 4, as 18% restantes enquadraram o risco numa escala entre 5 e 6), permitem novamente dizer que a pessoa costuma avaliar as oportunidades e os riscos através de uma escolha racional, assumindo esse delineamento para poder auferir ganhos elevados no curto-prazo. O risco, neste panorama, é baixo.

Das 79 entrevistadas, 43 (ou seja, 54,4% do total), no cotejo entre valores dados para a escala de riscos e de retorno econômico, acusaram individualmente valores maiores para o retorno vis-à-vis o risco. Isto é uma das provas evidentes de que o crime está - no sentido econômico - “compensando” (se o retorno líquido médio do crime está alto o volume de crime aumenta).

Em função desse apontamento (de que o crime pode estar compensando; o que é um fato sério!), procurou-se testar os resultados ora obtidos por meio de uma análise estatística mais rigorosa, sendo feitos Testes da Média para Pequenas Amostras (FREUND e SIMON, 2000), utilizando a equação que se segue:

n s x

t  0

, em

que: t = valor calculado;

x = média da amostra;

0 = média da população; s = desvio padrão da amostra; n = tamanho da amostra.

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O Teste t para duas amostras em par e para médias (foi comparada a questão do risco econômico e dos seus vários níveis – de 0 a 9 – vis-à-vis o retorno econômico e dos seus vários níveis – de 0 a 9; ambos apontados pela pesquisadas) mostrou que, na média, risco e retorno se igualam, para um nível de significância de 5%. Neste caso, segundo Schaefer (2000), se na média risco e retorno se igualam (a idéia de indiferença entre o recebimento de uma renda garantida e o recebimento de uma renda incerta, mas que apresente a mesma renda esperada), e sendo a base familiar-educacional-socioeconômica das detentas considerada frágil, a migração para o crime torna-se factível. E isto não deixa de ser um fator preocupante para a sociedade não delituosa.

Quanto ao sistema judiciário brasileiro, 25% das mulheres entrevistadas acreditam que este seja eficiente, entretanto 75% discordam disso. Diante desses dados verificam-se as necessidades estruturais de uma reforma tanto na Legislação Penal Brasileira como - por tabela (e também citado enfaticamente pelas detentas) - no aparato policial, pois há descrédito em relação a estas instituições. Adorno (2002) descreve que os crimes cresceram, e vem crescendo e se tornando cada vez mais violentos, contudo, há paralelo a isto o fato de que os crimes não são punidos; ou, quando o são, não o são com o rigor da lei. Outrossim,

[...] mais importante do que a severidade da pena é a sua visibilidade. A sociedade precisa mostrar aos criminosos potenciais que a vida após o crime é mais dura do que antes do crime. [...] E quando os criminosos potenciais percebem que polícia, justiça e presídios são insuficientes e ineficientes, isso passa a ser um verdadeiro convite ao crime (PASTORE, 1996, p.01).

Esta falta de credibilidade em relação ao sistema judiciário se reflete no fato de 70% das mulheres pesquisadas dizerem que o encarceramento não reeduca, sendo o sistema carcerário brasileiro mais uma “escola” para a prática de crimes do que uma instituição preocupada com a ressocialização do preso.

Como medidas para o combate à criminalidade, segundo opiniões das detentas, os itens que mais se destacaram foram: mais oportunidades de emprego (47%); melhores remunerações salariais (22%); incentivo à educação por parte do governo desde o ensino fundamental até o ensino superior ou técnico (18%); mudanças na legislação (4%); e outros itens (combate às drogas, controle de

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natalidade, etc.) foi igual a 9%. Através dessas sugestões, entende-se que com a implementação dessas políticas pode ocorrer o arrefecimento da prática de crimes, e este é um dado importante a ser considerado.

4.2 Uma análise comparativa com os dados da Penitenciária Estadual de Piraquara (amostra masculina) e os dados da PFP e da Cadeia de Cascavel (amostra

feminina)

Conforme dito na introdução desta pesquisa, trabalhos como os de Borilli (2001) e Engel (2003) analisaram com profundidade questões concernentes ao criminoso econômico, ressaltando a questão do gênero masculino. Nesta subseção será dada ênfase especial ao cotejo dos dados coletados por Shikida (2005)4, para uma amostra masculina da Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP), contrapondo-os com os dados analisados na subseção anterior, cujo foco foi o gênero feminino. A escolha por esta comparação deve-se ao fato do Complexo Penal de Piraquara, seja o feminino ou o masculino, bem como a Cadeia de Cascavel, terem especificidades de população muito semelhantes (além da proximidade do número amostral - 79 mulheres e 65 homens - as praticantes de delitos de monta econômica mais elevada e/ou de maior periculosidade do Paraná se concentram nesse tipo de ambiente penal).

A tabela 4, a seguir, procura sintetizar os principais aspectos analisados por esta pesquisa e por Shikida (2005). Conforme pode ser observado, a semelhança entre os dados dos pesquisados, sejam eles mulheres ou homens, é muito grande. Em ambos os casos, a maioria amostral pesquisada foi de jovens, boa parte morava com alguém da família, sendo destacado o fato das mulheres serem mais sozinhas vis-à-vis os homens. As atividades profissionais citadas sugerem baixos níveis salariais, o que está diretamente correlacionado com o baixo nível de escolaridade verificado entre as pessoas da amostra.

Tabela 4 – Uma análise comparativa a partir de dados da PEP (gênero masculino) e da PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Faixa etária principal – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Idade Quantidade %

19 a 23 anos 26 33

24 a 28 anos 16 20

Menos de 19 anos 14 18

Faixa etária principal – PEP (gênero masculino)

4 Este trabalho procurou discutir a teoria econômica do crime a partir de evidências empíricas extraídas de

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Idade Quantidade %

19 a 23 anos 28 43

Menos de 19 anos 11 17

24 a 28 anos 11 17

Composição da família que mais ocorreu – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Itens Quantidade %

Amásio e Filhos 27 34

Sozinha 14 18

Esposo e Filhos 10 13

Composição da família que mais ocorreu – PEP (gênero masculino)

Itens Quantidade %

Amásia e Filhos 23 35

Esposa e Filhos 13 20

Sozinho 8 12

Profissões que mais ocorreram – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Profissões Quantidade %

Do lar 16 20

Empregada Doméstica 9 11

Vendedora 9 11

Profissões que mais ocorreram – PEP (gênero masculino)

Profissões Quantidade %

Trabalhadores da construção civil 8 12

Motorista 6 9

Mecânico 5 8

Principais motivos que levaram ao crime – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Motivos Quantidade %

Indução de outros 20 25

Manter o sustento do vício 15 19

Ganho fácil 13 16

Principais motivos que levaram ao crime – PEP (gênero masculino)

Motivos Quantidade* %

Indução de outros 17 19

Manter o sustento do vício 15 17

Cobiça/ambição/ganância 14 15

Principais fatores para tolher a criminalidade – PFP e Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

Itens Quantidade % Emprego 37 47 Melhores salários 17 22 Educação 14 18

Principais fatores para tolher a criminalidade – PEP (gênero masculino)

Itens Quantidade* %

Emprego 36 32

Melhores salários 17 15

Educação 14 13

Fonte: Dados da pesquisa e Shikida (2005)

* houve, nestes itens, respostas com repetição.

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atividades ilícitas, praticamente não houve muita alteração entre mulheres e homens. A indução de outros (amigos, amásios, namorados, parentes, etc.) foi o destaque ímpar, em seguida aparecem os itens manter o sustento do vício e causas individuais, geralmente consideradas de natureza psíquica (como a idéia de ganho fácil, cobiça/ambição/ganância).

Quanto ao que poderia ser feito para diminuir os crimes de natureza econômica, foram citadas a importância dos investimentos em emprego (com melhores salários – daí a questão das dificuldades orçamentárias) e educação como forma de se combater, com eficácia, estes tipos de crimes.

Em suma, a conclusão derivada dos resultados desta pesquisa e da comparação com os dados de Shikida (2005), é a de que as pessoas se tornam criminosas, do ponto de vista do crime econômico, porque os benefícios de tal atividade são compensadores, quando cotejados, por exemplo, com outras atividades. Porém, isto só ocorre porque as travas morais (família-educação-religião) estão bem frágeis. E este tipo de comportamento criminoso não pode ser analisado sob o prisma de uma atitude irracional ou emocional, e sim como uma atividade pensada, ou por uma mulher ou homem.

5 CONCLUSÕES

Este trabalho buscou entender o encarceramento feminino na perspectiva de gênero, tendo como norte a análise das circunstâncias socioeconômicas da escolha ocupacional entre o setor legal e ilegal, a guisa do referencial teórico da economia do crime. Entender este ponto - para a presente proposta de trabalho - foi crucial para poder entender porque as mulheres se sujeitam ao encarceramento (as tentativas de fuga inclusive são raras por parte desse gênero, diferentemente dos homens). Destarte, o encarceramento é visto como conseqüência, sendo importante entender as reais causas da migração da atividade lícita para a ilícita.

Como principais resultados deste estudo, inicialmente deve ser frisada a forte concentração de jovens mulheres no mundo do crime e o baixo nível de escolaridade que refletem no perfil socioeconômico das entrevistadas, demonstrando correlação com as profissões exercidas pelas mesmas (amiúde de baixa remuneração salarial).

Foi constatado que vínculos interpessoais sólidos podem interferir na decisão tomada pelas detentas quanto à prática de crimes. Entretanto, houve,

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para muitos casos, péssimos exemplos de vida no próprio seio familiar. Logo, apenas ter ou não uma família não é decisivo para os bons costumes, o importante é ter uma boa família para o convívio social, mas, desde que esta atue efetivamente como bom exemplo. Outro fator diz respeito à solidão, um comportamento expressivo na vida de muitas mulheres.

A questão do êxodo rural ainda é um assunto preocupante, pois recrudesce o emprego informal e favorece a migração para o setor ilegal. Contudo, nesta pesquisa, o efeito de migração da trabalhadora rural para o meio urbano não teve efeitos significativos, sendo um motivador, mas não condição necessária e suficiente para a prática do crime.

Quanto ao tipo de crime e motivos da prática do mesmo, os dados confirmam a teoria de Becker (1968), em que a pessoa, neste caso a mulher, avalia os custos e benefícios de suas atividades ilícitas, havendo aí uma escolha racional. Tal proposição coincide com os resultados dos estudos do gênero masculino feitos por Schaefer (2000), Borilli (2001), Engel (2003) e Shikida (2005) e do gênero feminino feito por Simon et al. (2005). Portanto, ingressar na atividade ilícita torna-se uma decisão tomada racionalmente, com a percepção dos custos e benefícios que envolvem essa atividade, seja para o homem seja para a mulher.

Visto isso, o crime de maior ocorrência foi o tráfico de drogas, por se tratar de uma atividade de alto retorno financeiro. Não obstante, a migração para as atividades ilegais, no meio feminino, está sendo influenciada pela indução de outras pessoas, pela inserção que as mulheres estão tendo no mundo das drogas (sendo muitas viciadas), devido razões de natureza psíquica (como a idéia de ganho fácil, cobiça e ambição) e por problemas financeiros (que dificultam a sustentação econômica do lar).

Outro elemento importante a ser analisado trata-se da eficiência da polícia e da justiça, pois ambos foram indicados como pouco eficientes, necessitando de reformas em suas estruturas. Essa descrença se reflete no elevado índice de crimes, principalmente entre as jovens, de maneira que estas acreditam que ao cometerem atos delituosos dificilmente serão punidas.

Em função desses apontamentos foram colocadas como principais medidas para combater a criminalidade os seguintes itens: mais oferta de empregos; melhora na remuneração salarial; e mais investimentos em educação. Essas sugestões elevam o “custo de oportunidade” e também os “custos morais” da pessoa – neste caso do gênero feminino – de permanecer e/ou migrar para uma atividade ilegal.

Por fim, este estudo seguiu determinado rumo metodológico num contexto de muitos outros possíveis. Uma limitação técnica é que sua análise foi feita para um contingente possível, em dois estabelecimentos carcerários (no Paraná), sendo suas conclusões realçadas com a cautela que a estatística amostral prescreve. Como agenda de pesquisa, sugere-se que mais trabalhos possam evidenciar novas contextualizações acerca do encarceramento feminino em proposições que esta pesquisa não gerou conclusões.

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REFERÊNCIAS

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BECKER, G. S. Crime and punishment: an economic approach. Journal of Political

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Tabela  1  –  Composição  da  família  das  entrevistadas  (no  período  em  que  foram  cometidos os crimes)
Tabela 2 - Profissão das entrevistadas (no período em que foram cometidos os crimes)
Tabela 4 – Uma análise comparativa a partir de dados da PEP (gênero masculino) e da PFP e  Cadeia de Cascavel (gênero feminino)

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