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CAPÍTULO IV – ANÁLISE E TRATAMENTO DE DADOS

1. Análise de conteúdo das respostas

Segundo a opinião de Laurence Bardin (2009, p. 40), a análise de conteúdo é um “conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”, e que tem como intenção “a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente de receção)”, com recurso expresso a indicadores. Neste contributo, há a assinalar a envolvência de uma análise por categorias, que tem em conta a “frequência de presença (ou de ausência) de itens de sentido que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem” (Bardin, 2009, p. 38).

Esta metodologia de análise de conteúdos propõe-se a classificar e categorizar qualquer tipo de conteúdo, permitindo reduzir as suas características a elementos-chave comparáveis a uma série de outros elementos permitindo ao investigador uma leitura dos dados de forma mais direta e intuitiva (Janis, 1982, p. 53):

A análise de conteúdo fornece meios precisos para descrever o conteúdo de qualquer tipo de comunicação: jornais, programas de rádio, filmes, conversações quotidianas, associações livres, verbalizadas, etc. As operações da análise de conteúdo consistem em classificar os sinais que ocorrem em uma comunicação segundo um conjunto de categorias apropriadas.

Isto é, a categorização dos sinais recebidos ajuda o investigador a perceber quais são os dados mais relevantes a trabalhar e, com isso, consegue agilizar o seu trabalho. Como refere o autor citado, trata-se de encontrar e agrupar os dados em categorias apropriadas. Mas o que serão as categorias apropriadas?

À semelhança de Laurence Bardin, também Irving Janis (1982) propõe algumas regras que considera fundamentais para uma pesquisa que utilize a análise de conteúdo na criação de categorias. Estas mesmas regras são também válidas, segundo o autor, para a criação de categorias em termos mais gerais, para quaisquer estudos, ainda que não aplicadas à análise de conteúdo:

1.ª. As regras devem ser claras e objetivas. A definição de fronteiras claras permite um esclarecimento óbvio daquilo que o investigador quer apresentar como resultado.

2.ª. As categorias precisam ser mutuamente excludentes (exclusividade).

Um conteúdo apenas pode ser inserido numa e apenas numa categoria, sob pena de dificultar a leitura dos dados e a clareza da apresentação dos mesmos.

3.ª. As categorias não podem ser muito abrangentes.

Os dados categorizados devem ser distintos entre si não podendo ser confundidos e os conteúdos pertencentes a cada categoria devem ser próximos.

Para o caso de haver dados que simplesmente pareçam ser difíceis de categorizar numa das categorias anteriores, o investigador deve ter presente a possibilidade de encontrar uma categoria diferente de todas as outras.

Jorge Vala (1987) avança que a análise de conteúdo não é um método, mas sim uma técnica de tratamento de informação que permite ao investigador fazer inferências sobre a sua fonte, sobre o contexto em que essa informação foi produzida e, em muitos casos, sobre o destinatário da informação. Por isso para este autor trata-se de uma “desmontagem de um discurso e da produção de um novo discurso” (Vala, 1987, p. 104) que resulta de uma relação bidirecional entre as condições de produção de discurso e de análise.

Para Jorge Vala, o investigador deve, ao analisar qualquer documento ou fonte de informação, formular algumas questões que devem ter em conta o seguinte:

1. Qual a frequência de determinados fenómenos. 2. Quais as características de determinados fenómenos.

3. Qual a relação (ou ausência de relação) entre os fenómenos verificados.

Parece evidente que mesmo numa abordagem qualitativa é necessário atender a aspetos de ordem quantitativa para desenvolver um trabalho de investigação (ver anexo 92).

Assim, para analisar os resultados obtidos neste questionário achei importante fazê-lo de forma quantitativa e de forma qualitativa. A análise quantitativa é expressa no número de ocorrências de cada uma das categorias de resposta. Este misto de análise permite potenciar e aumentar a validade da qualidade das observações (Cresswell, 2008).

Seguindo o procedimento adotado por Glória Solé (2015), o passo seguinte é a apresentação das várias categorias surgidas da leitura das respostas obtidas ao questionário inicial – Q1.

Categorização das respostas ao Questionário inicial (Q1).

Pergunta 1: Os alunos apresentam um conceito ou definição de Património? Quadro 24 – Categoria das respostas Q1 -P1

Categorias Indicadores Ocor-

rências

Respostas

Não responde. Ausência de resposta 18 ---- Património

coletivo.

Apresentação de uma definição que se coaduna com a noção de Património de âmbito coletivo.

1 Tomás: “Eu acho que Património é um conjunto de instituições”.

Património individual.

Apresentação de uma definição que se relaciona com uma definição de Património de índole individual.

2 Miguel: “Eu acho que é fazer partilhas”; Lara: “Eu acho que o Património quer dizer uma espécie de terreno que é dessa pessoa”.

Análise quantitativa às respostas da questão 1.

Nesta altura, dos vinte e um alunos da turma, três alunos deram uma definição de Património representando 14% dos alunos desta turma. Os restantes dezoito responderam que não sabiam o que era o Património” expressando uma maioria expressiva de 86%.

Gráfico 1 – Categorias de definição de Património no Q1

86% 5%

9%

Categorias de Definição de Património

Sem resposta Património Coletivo Património individual

Análise Qualitativa

As respostas que apresentavam uma definição de “Património” foram as seguintes:

“Eu acho que é fazer partilhas”; “Eu acho que o Património quer dizer uma espécie de terreno que é dessa pessoa” e “Eu acho que Património é um conjunto de instituições”.

Destas respostas pude concluir que, das duas primeiras, os alunos tinham uma noção de Património como algo que se situa no âmbito da pertença pessoal, sendo que a primeira integra a

noção de herança, de algo que foi transmitido por outrem e que é necessário “fazer uma partilha”, confirmando a pertença a terceiros. Já a terceira resposta remete para a noção de caráter institucional do Património, algo relacionado com o serviço público e a resposta ao coletivo. Nesta altura a noção de Património, pelo menos naqueles dois alunos, está muito centrada na propriedade privada e no Património pessoal.

Questão 2: Que exemplos de Património me sabiam dar? Quadro 25 – Categoria das respostas Q1 -P2

Categorias Indicadores Ocor-

rências

Respostas

Não responde Ausência de resposta 17 ---- Património monumental O aluno conseguiu estabelecer

uma relação entre monumento e Património.

1 Tomás: “A igreja da Misericórdia”.

Desconhecimento de exemplos concretos de Património.

O aluno apresenta exemplos que não se adequam à definição de património monumental.

3 Miguel: “Eu acho que conheço a escola secundária”,

Lara: “É a escola principal” e Afonso: “A esquadra da polícia”.

Análise quantitativa

Também esta questão revela que os alunos apresentam algumas lacunas no que diz respeito à expressão Património. Apenas quatro apresentam exemplos de Património.

Análise Qualitativa

As respostas afirmativas a esta questão foram as seguintes:

“A igreja da Misericórdia”; “Eu acho que conheço a escola secundária”, “É a escola principal” e “A esquadra da polícia”.

Como se pode verificar, na altura da realização deste primeiro questionário, quatro alunos apresentaram exemplos de Património, mais um do que os que sabiam dar uma definição de Património, o que me faz supor que tendo uma ideia do que seja, não o conseguiu exprimir, por escrito. Por outro lado, para conseguir obter consistência na avaliação dos dados, questionei o que queriam dizer exatamente com o que tinham acabado de escrever e as respostas foram no sentido da atribuição de significado de serviços de administração pública ligados à segurança e à educação.

Questão 3: Que exemplos de Património de Aveiro, à volta da escola, me podiam dar? Quadro 26 – Categoria das respostas Q1 -P3

Categorias Indicadores Ocor-

rências

Respostas

Não responde. Ausência de resposta. 17 --- Conhecimento de

Património local.

O aluno conseguiu estabelecer uma relação entre monumento e Património.

3 Tomás: “Conheço a antiga sapataria Leitão”.

Miguel: “O Museu de Santa Joana”. Lara: “Sim, o edifício Testa e Amadores”. Desadequação ao

conceito de Património local.

O aluno apresenta um exemplo que não se relacionam com Património local.

1 Afonso: “Os Correios”.

Análise Quantitativa

No final deste primeiro questionário quatro dos vinte e um alunos da turma conseguiram dar exemplos de Património próximo (aproximadamente 25%).

Análise qualitativa

As respostas a esta questão foram as seguintes: “Conheço a antiga sapataria Leitão”; “O Museu de Santa Joana”; “Sim, o edifício Testa e Amadores”; “Os Correios”.

Como se pode perceber no que diz respeito ao Património próximo, há alunos que conseguem apresentar exemplos de Património edificado próximo da escola e que têm uma noção do que é um determinado tipo de Património e atribuem-lhe significado.

Por outro lado, houve um aluno que apresentou um exemplo de Património local que demonstra um certo equívoco com a noção local de prestação de serviços públicos.

Questão 4: Os alunos apresentam algum exemplo de Arte Nova?

Quadro 27 – Categorias das respostas Q1 -P4

Categorias Indicadores Ocor-

rências

Respostas

Sem resposta. Ausência de resposta. 19 --- Conhecimento da Arte

Nova.

O aluno relaciona a fonte patrimonial com o estilo Arte Nova.

2 Tomás: “A Antiga Sapataria Leitão”.

Miguel: “A Casa Testa e Amadores.”

Análise quantitativa

Dos alunos da turma apenas dois responderam dando exemplos sobre Arte Nova. Análise qualitativa

As respostas dadas foram assertivas revelando que estes dois alunos têm conhecimento do que é a Arte Nova, conseguem identificar exemplos e relacioná-los com uma noção de Património.