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Análise Crítica do Discurso e o discurso da mídia

1. Identidade social e Análise crítica do discurso

1.4. Categorização de identidades por estereótipos

1.5.1. Análise Crítica do Discurso

1.5.1.1. Análise Crítica do Discurso e o discurso da mídia

Alguns trabalhos que têm a Análise Crítica do Discurso, especificamente a análise sócio-cognitiva do discurso, como guia teórico são direcionados para a análise dos discursos da mídia (VAN DIJK, 2005, 2008; FALCONE, 2005, 2008). Eles se dedicam a analisar a produção, os usos e as funções dos discursos midiáticos, como também, a refletir sobre a influência dos meios de comunicação nas sociedades contemporâneas 23.

Isso acontece devido à mídia ser considerada como um meio que tem uma enorme capacidade de atingir um grande número de pessoas e ter ampla influência, força e poder na formação de opinião dos indivíduos. Em outras palavras, estudos vêm

23 Já que o nosso trabalho se dedica à análise de discursos da imprensa, ele se constitui em mais um exemplo de estudo realizado sobre o discurso midiático.

direcionando o olhar para a mídia, pois ela vem sendo considerada como imprescindível na sociedade, pois tem a finalidade de informar, esclarecer e difundir informações que chegam até nós, quase que unicamente, por meio dela. Ela assume o papel de disseminadora de culturas e está intimamente ligada ao dia a dia da sociedade contemporânea.

A mídia com seu grande poder de persuasão, seja em programas de entretenimento, programas informativos, telejornais, notícias, propagandas, etc., influencia as decisões das pessoas e suas vidas em aspectos sociais, comportamentais, profissionais, etc. A publicidade tenta nos convencer qual o produto que deve ser consumido, quais são as marcas que são melhores; as novelas vão nos revelar o que está na moda; e as notícias vão mostrar quais são os fatos que estão em evidência no momento, dando relevância a alguns aspectos em detrimentos de outros, e, dessa forma, tentando influenciar seus leitores a assumirem posições que estejam em consenso com o que dizem, como se as informações que elas divulgam fossem a verdade única dos fatos.

Embora a mídia apele para a neutralidade, o discurso midiático apresenta e reforça os interesses, predominantemente, dos grupos dominantes. Dessa maneira, os discursos dos grupos dominados são induzidos a conteúdos que mascaram o exercício de dominação, manipulação de poder pelos dominantes (BATISTEL, 2010).

O que acontece é que nem sempre nós, envolvidos pela comunicação midiática, estamos conscientes da influência que ela realiza em nossas mentes e comportamentos. Por isso que os trabalhos dedicados pela Análise Crítica do Discurso à mídia são de grande pertinência, pois eles se preocupam em analisar os discursos nela veiculados e revelar que a mídia se constitui em um lugar que privilegia alguns discursos para serem divulgados e que eles não são neutros e imparciais. Eles revelam as distintas posições de valores que os indivíduos possuem na esfera social e refletem, por isso, os vários preconceitos existentes em nossa sociedade.

Assegura Van Dijk (2005) que precisamos dedicar uma atenção especial às estruturas e estratégias que esses discursos veiculados na mídia utilizam e aos modos como eles se relacionam com as instituições que divulgam as informações e com a audiência que as recebe. O autor tem a preocupação em mostrar como os discursos da mídia podem influenciar a interpretação dos leitores sobre determinados fatos e quais são os seus efeitos persuasivos para os indivíduos. Para isso, dedica-se a estudar e analisar notícias, considerando que:

se quisermos examinar o que exactamente se passa se assumirmos que os media24 ‘manipulam’ os seus leitores ou telespectadores,

precisamos de saber sob que condições precisas, incluindo características estruturais dos relatos noticiosos, pode isso acontecer (VAN DIJK, 2005, p.74).

O objetivo do estudioso, com isso, é o de analisar criticamente os discursos e explicar os mecanismos de processamento cognitivo do discurso na mente dos indivíduos. Esse processamento, mostra o autor, terá uma enorme influência nas interpretações e compreensões que os leitores terão das informações que são divulgadas na mídia, como também, nas imagens sociais ou identidades que os indivíduos representados nos discursos vão ter para a sociedade.

Por isso que, cada vez mais, independente de já existirem tantas discussões acerca da mídia é relevante que novos trabalhos, com base nesta perspectiva sociocognitiva de Análise Crítica do Discurso, sejam desenvolvidos sobre ela. Dessa maneira se enfatizará que os indivíduos não devem ser passivos a todos os discursos que a mídia divulga, pois se compreenderá que ela sempre tem vários outros objetivos, além do de simplesmente divulgar informações. O controle discursivo da mídia será visto, desta maneira, como “decisivo na construção de ideologias, na formação da opinião pública, gerando modelos estereotipados dos grupos que não têm seus discursos legitimados reverberando na mídia” (FALCONE, 2005, p.26).

2. ACESSO DISCURSIVO À IMPRENSA

Levando em consideração as abordagens que nos indicam que as identidades sociais não são nem estão prontas e fixas, mas sim, são constituídas por meio de processos discursos, consideramos que seja de grande importância para o nosso trabalho o estudo do acesso discursivo, pois acreditamos que o acesso de discursos à imprensa se constitui em um dos mecanismos importantes que proporciona a atribuição identidade aos atores/grupos sociais25.

O acesso discursivo é considerado como uma noção relevante nos estudos sobre discurso e poder, pois ele é tido como um elemento importante na reprodução discursiva do poder e da dominância nas sociedades. Desse modo, inicialmente neste capítulo, levantamos algumas considerações sobre o conceito de poder.

Em seguida, tomando por base os pressupostos teóricos de Van Dijk (1997a, 2008) e Falcone (2005), antes de nos delimitarmos às considerações sobre o que vem ser acesso discursivo à imprensa – especificamente à notícia, já que é o objeto de nossa investigação – iniciamos as discussões sobre a noção de acesso discursivo de maneira mais ampla. Pensamos em proceder deste modo, para deixar evidente que o acesso discursivo não se delimita à imprensa, pois ele pode abranger tanto o modo como as pessoas tomam iniciativa nos diversos eventos comunicativos, como também, o modo com que controlam as propriedades do discurso (VAN DIJK, 2008).

Mais adiante, centramos nossa fundamentação teórica sobre o acesso discursivo à imprensa de alguns grupos tidos como excluídos socialmente. Resolvemos nos dedicar a essa abordagem, pois os atores sociais selecionados para serem foco de nossa pesquisa, já que nos dedicamos ao estudo de suas atribuições identitárias, são os grevistas26.

Por fim, nesse capítulo, destacamos que o acesso discursivo se constitui como uma ação ideológica, uma vez que a escolha de discursos para serem divulgados na imprensa não é neutra, sempre vai estar influenciada por ideologias que regem as

25 Nossas análises nos capítulos 3 e 4 vão nos ajudar a explicarmos em mais detalhes essa relação existente entre acesso discursivo e construção de identidades sociais.

26 O motivo central para consideramos esse grupo como sendo excluído socialmente deve-se ao fato de um dos mecanismos de exclusão na sociedade ser proporcionado pelo acesso discursivo que se dá aos grupos/atores sociais nos eventos comunicativos. Como o acesso à imprensa de alguns trabalhadores quase não acontece, exceto quando estão envolvidos em situações de greve e quando essas situações envolvem conflitos, consideramos o grupo grevista como sendo excluído socialmente.

atitudes dos grupos, das instituições, que dão acesso a tais discursos. Com isso, levantamos algumas considerações sobre o que vem a ser ideologia com base em uma perspectiva sociocognitivista que se diferencia das tendências tradicionais baseadas na linha marxista que se dá ao assunto (VAN DIJK, 2005).

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