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ANÁLISE CRÍTICA DO PROJETO DE REMOÇÃO DA BRAQUIÁRIA

O projeto de remoção da braquiária da lagoa do Sombrio aborda questões importantes no manejo com a lagoa e vamos analisar esses pontos à luz da engenharia ambiental.

O primeiro ponto que chama a atenção é a pretensão do projeto em retirar toda a população de braquiárias da parte da lagoa pertencente ao município de Sombrio. O projeto conclui que “há necessidade de remoção desta espécie da Lagoa, para que os impactos neste ecossistema possam ser minimizados e o mesmo encontre o seu equilíbrio natural” (SOMBRIO, 2014). Chama a atenção, primeiramente, porque conforme alguns estudos o principal fator de assoreamento da lagoa não é efetivamente a braquiária. A braquiária é efeito do assoreamento. O fator principal é a sedimentação acelerada pela ação do principal afluente, o Rio da Laje. A

dissertação de mestrado de Grasiele Raupp (2008) nos dá informações plausíveis a respeito da ação do afluente na sua foz.

Em segundo lugar chama a atenção o fato de que a população de braquiária não está localizada somente na parte pertencente ao município de Sombrio. Segundo o projeto: 0 50 100 150 200 250 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

DBO x distância da margem / profundidade da Lagoa

“...no que compreende a área pertencente ao município de Sombrio, a Lagoa pede socorro, pois além do processo natural de eutrofização em lagoas, a mesma vem sofrendo intensamente com uma espécie de gramínea exótica e invasora, a Brachiária radicans, espécie esta já adaptada ao ambiente aquático, pois tem facilidade em se desenvolver em ambientes úmidos e com presença de matéria orgânica. Desta forma, a Lagoa do Sombrio e seus afluentes são um berço para a proliferação desta espécie. ” (SOMBRIO, 2014)

Em toda a margem da lagoa existe a presença desse vegetal. A simples retirada nos limites do município de Sombrio não resolveria o problema. Causaria apenas uma sensação passageira de resolução.

O terceiro ponto que nos chama a atenção é o fato de que nas margens próximas à foz do rio, a principal população vegetal não é a braquiária e sim o aguapé (Eichhornia crassipes) e a salvinia (salvinia molesta). Essa vegetação é abundante nessa área porque se alimenta de materiais orgânicos que chegam através dos rios afluentes. Essas espécies formam uma lâmina vegetal que impede a passagem do sol. Isso afeta diretamente a vida das espécies marinhas incidindo diretamente na oxigenação da água.

No que tange ao primeiro ponto é necessário salientar que o principal fator de desassoreamento da Lagoa do Sombrio é, sem dúvida, é a retirada dos bancos de areia formados às raízes das braquiárias. A simples retirada da vegetação não impede que ela volte a habitar esse sistema lagunar novamente. Somente a retirada dos bancos de areia possibilita um reequilíbrio ambiental em médio prazo. Para o total equilíbrio é preciso uma atividade de limpeza permanente.

Sobre a retirada de braquiária nos limites do município, o projeto não acena com a possibilidade de retirar a braquiária além dos limites. A braquiária é um tipo de vegetação que se caracteriza pela fácil adaptação a ambientes úmidos e alagadiços. Além desses fatores, suas folhas seguram pequenos sedimentos levados pelas correntes de ventos características dessa região. Esses sedimentos, ao tocar as folhas das braquiárias, precipitam e se depositam sob essa vegetação. Se a retirada dessa cultura não for feita na plenitude, o esforço terá sido em vão. São necessárias ações que acabem efetivamente com essa cultura.

Tendo em vista a grande população das espécies de aguapé e salvinia é necessário, por fim, a retirada também dessas vegetações na foz do Rio da Laje.

Essas espécies causam sérios danos à oxigenação da água e às espécies de plantas aquáticas e a ictiofauna local.

Uma justificativa do projeto para a sua execução é o fato da sensível diminuição da lâmina d’água nos últimos tempos. A preocupação é válida à medida que um simples registro fotográfico nos permite perceber a grande defasagem ocorrida nos últimos anos (ver Imagem 28 e 29).

Imagem 33: Margens da Lagoa do Sombrio, próximas à antiga BR 101 (1964).

Fonte: http://aguape-apa.blogspot.com.br/2013/12/triste-comparacao-de-um- ecossistema.html. Acesso em maio de 2015.

Imagem 34: Margens da Lagoa do Sombrio, distante da rodovia BR 101 (2013).

Fonte: http://aguape-apa.blogspot.com.br/2013/12/triste-comparacao-de-um- ecossistema.html. Acesso em maio de 2015.

6 CONCLUSÃO

Diante dos estudos analisados, das imagens analisadas e visitas feita ao local de estudo obtivemos maior clareza da problemática do assunto em torno do assoreamento da Lagoa do Sombrio.

A Lagoa, que já foi o maior corpo hídrico de água doce do estado de Santa Catarina, hoje vem perdendo espaço para a Braquiaria (brachiaria radicans), bem como outras espécies aquáticas e material sedimentar depositado em seu leito formando bancas de areia, as quais já é possível caminhar sobre eles.

Um dos maiores problemas, frente a todos os outros é a constatação de que o Rio da Lage, principal afluente da Lagoa do Sombrio, carrega muito material particulado e dejetos de esgoto urbano para a Lagoa, facilitando dessa forma a propagação de vegetação aquática diminuindo a demanda de oxigênio e facilitando a propagação de espécies aquáticas invasoras como é o caso da Braquiaria.

Outro ponto a ser considerado é a possibilidade de elevar o nível da lâmina d’água da Lagoa, conforme discutido, estudado, e analisado pela Empresa Junior de Engenharia Ambiental da Unisul, o qual resultaria em retornar ao mais próximo do original o nível da Lagoa.

Quando analisados os resultados das análises das amostras de água da Lagoa, onde foram gerados dados da DBO e DQO, pode-se observar a relação de que quanto maior a profundidade menor é o valor da DQO, o mesmo acontece para a DBO. Da mesma forma ocorre em relação a distância da margem da Lagoa, quanto mais distante da margem menores são os valores de DBO e DQO. Desta forma é possível constatar que quanto mais perto da foz do Rio da Lage mais insatisfatório são os resultados, devido a grande carga de sedimentos e esgotos, fazendo com que haja o aumento da massa vegetativa por plantas aquáticas.

No comparativo de imagens de satélite e fotografias atuais e antigas, pode-se constatar o tamanho da problemática no que se refere ao assoreamento da Lagoa do Sombrio, é visível e gritante o avanço do assoreamento bem com da ação antrópica como uso agropecuário as margens da Lagoa, extração de areias e urbanização no local de cheia da Lagoa.

Nas imagens analisadas tem-se maior clareza do avanço da vegetação aquática e consequentemente do assoreamento, e a área de maior concentração dessa degradação ocorre dentro dos limites dos municípios de Sombrio e Balneário Gaivotas, no lado norte da Lagoa, justamente onde é a foz do Rio da Lage e onde encontra-se o canal que desagua a Lagoa do Caverá na Lagoa do Sombrio, canal este que é divisa entre os dois municípios a pouco citados.

Como já foi citado no decorrer deste trabalho, existe tramitando na Prefeitura Municipal de Sombrio, um projeto para a remoção da Braquiaria na Lagoa do Sombrio, dentro dos limites do Município, porém, é de se fazer algumas considerações sobre este projeto: Segundo os dados do projeto é uma área de aproximadamente 120 há e com uma vegetação enraizada de aproximadamente 30 cm, o que daria entorno de 360000 m³ de material a ser retirado, mas como a Braquiária já enraizou e consolidou uma banca de areia esse número é no mínimo três vezes maior. O projeto de remoção da Braquiaria por si só não resolve o problema da Lagoa, irá apenas passar uma falsa sensação de resolvido, mas é uma medida importante a ser tomada junta a tantas outras aqui citadas para que seja dada uma sobre vida à Lagoa do Sombrio.

A falta de um plano de gerenciamento costeiro da Lagoa permanente bem como um plano diretor nos municípios do entorno da Lagoa tem facilitado para estes abusos antrópicos.

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ANEXOS

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