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CAPÍTULO II O MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO

2.3 Análise crítica ao MDL no Brasil

Apesar da apresentação do texto ser algo simplicista o mecanismo de MDL possui algumas complexidades e fatores que devem ser analisados com maior atenção.

Primeiramente, sem dúvida, o MDL é um processo que visa a sustentabilidade ambiental e que compactua com os preceitos de desenvolvimento sustentável discutidos nas inúmeras conferências sobre meio ambiente, promovidas em âmbito internacional.

O aspecto análise mais crítico começa pelo critério de elegibilidade. Na tabela 5 observa-se que os projetos de MDL no Brasil se concentram na área de energia renovável seguida das áreas de aterro sanitário, redução de N2O, suinocultura e troca de combustíveis

fósseis.

É extremamente importante compreender a realidade dos números apresentados. Elegibilidade das partes significa dizer que os Estados Nacionais não podem impor a outro a implementação de um projeto de MDL, ou de certa atividade inerente ao mesmo, independentemente de seu grau de desenvolvimento econômico. Entretanto, o que se vê é que existem esforços no sentido de aceitarem projetos que contemplem determinados setores em detrimento de outros.

Assim, os projetos de MDL no âmbito do protocolo de Quioto contemplam grandes projetos estruturais, havendo, por conseguinte, uma concentração muito grande de renda e

49 capital nas mãos de grandes corporações envolvidas nos mesmos, em detrimento da pulverização de outras de ações que poderiam ser eleitas no âmbito do MDL e que praticariam efetivamente os preceitos contidos no critério de sustentabilidade que passa pelo desenvolvimento ambiental local, o desenvolvimento das condições de trabalho e a geração líquida de empregos, a distribuição de renda, dentre outros.

Evidentemente que países como a China, que possuem uma matriz energética baseada em carvão mineral, obtém maior vantagem na confecção de projetos de MDL, principalmente na substituição dessa matriz, algo que não acontece no Brasil, por predomínio de hidroeletricidade na matriz energética. Entretanto, o que se vê é que, muitas vezes, o governo brasileiro, principalmente na última década, vem apresentando um retrocesso ambiental no que tange a matriz energética diminuindo a hidroeletricidade em detrimento do aumento das termelétricas a base de carvão mineral.

Ou seja, enquanto se tem esforços no mundo, como o caso chinês, que concentra suas energias na mudança da matriz energética, principalmente para energia renováveis como a solar e eólica, no Brasil, o que se observa é um retrocesso na utilização das matrizes energéticas.

Exemplo emblemático é a “substituição” de coque de carvão por eucalipto na

fabricação de ferro gusa no Brasil. Muitas corporações vendem esta alternativa como sustentável, uma vez que reduziria a exploração do carvão fóssil e seria renovável. Entretanto, o que se verifica de fato, é a manutenção da obsolescência do parque industrial siderúrgico que é altamente impactante nos recursos naturais.

Os projetos de energia renovável foram os mais expressivos no mundo em 2011, gerando 45% de todos os créditos comercializados. O setor eólico aparece como o grande dominante, respondendo por 30% do total do mercado, conforme demonstra o relatório State of the Voluntary Carbon Markets 2012. O relatório também registra o aumento da participação de projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), alcançando 9%.

50 É necessário se frisar que há, nos últimos anos, um aumento expressivo da participação de projetos por reflorestamento. Tal dado se mostra preocupante, uma vez que tais projetos dificilmente contribuem de forma efetiva, para o desenvolvimento sustentável local e para a adicionalidade.

Cabe ressaltar que um projeto é considerado "adicional" quando traz benefícios que não ocorreriam se o mesmo não existisse. Ou seja, no caso de reflorestamentos já ocorridos, o projeto não apresenta a adicionalidade, pois o reflorestamento já existia na ausência do projeto.

Outra crítica a ser realizada sobre o MDL passa pela estrutura procedimental do próprio mecanismo. É inevitável não ressaltar a burocracia do mecanismo de obtenção de RCEs. Mas além do problema burocrático procedimental a estrutura para obtenção da aprovação do MDL também demonstra falhas técnicas.

Como se sabe a competência para julgamento do MDL, no Brasil, pertence ao MCT que corresponde à autoridade designada. A crítica que se faz, concentra-se não na análise do procedimento em si, mas no descaso do cumprimento de alguns requisitos das partes envolvidas.

Na realidade um projeto de MDL para receber a aprovação deve contemplar os requisitos de elegibilidade, sustentabilidade e ciclo do projeto. Pois bem, a crítica em questão, está no fato da entidade designada ser órgão político que detém comissão técnica indicada para exercer cargos de confiança, e que não contempla a discussão entre as diferentes partes envolvidas no processo.

Dessa maneira, em muitas ocasiões, por se tratar de um órgão político, existem apreciações aceleradas sobre alguns projetos, encurtando o diálogo das partes envolvidas e atendendo a anseios de grupos corporativos específicos em detrimento de outros setores envolvidos.

51 Outra indagação que se faz ao MDL é que este não contempla os agentes que são responsáveis pela manutenção durante décadas, quiçá séculos, dos recursos naturais como as comunidades indígenas, ribeirinhas e outros povos que sempre preservaram em sua forma de viver a manutenção desses recursos em detrimento do sistema corporativo que padece de crises e cria a necessidade da instauração de uma nova commodity para se reinventar. Trata-se do mecanismo de apropriação típico do sistema capitalista que tenta se modificar para atender aos anseios do próprio capital.

Por fim, devido à realidade brasileira procedimental ser altamente burocratizada, há uma crítica muito constante e de fácil constatação, qual seja o encarecimento dos custos processuais ou transacionais.

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CAPÍTULO III – ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PROJETOS DE MDL EM ATERRO SANITÁRIO E EM SILVICULTURA.