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O mercado de florestas no Brasil e sua sustentabilidade

CAPÍTULO IV – ANÁLISE DA MONOCULTURA DE SILVICULTURA

4.3 O mercado de florestas no Brasil e sua sustentabilidade

O mercado de florestas no Brasil é altamente atrativo do ponto de vista econômico e gera um capital significativo para o PIB nacional. Chama-se a atenção para a concentração

94 desse mercado em zonas cuja a economia pode ter uma escala maior devido a infraestrutura de transporte e consumo desse produto.

As empresas têm três opções básicas para organizar o abastecimento de matérias- primas: produção própria (verticalizada); produção mediante contrato com terceiros (integração) ou aquisição no mercado. (SCHEJTMAN,1998)

Com relação ao uso da madeira destacam-se a existência de quatro formas distintas, que caracterizam os seguintes tipos de indústria (ABRAF,2011):

“• Indústria primária: realiza apenas um processamento sobre a matériaprima (madeira), transformandoa em madeira laminada, serrada e imunizada, além de carvão vegetal e cavaco.

• Indústria secundária: utiliza produtos obtidos do desdobramento da matériaprima (processo primário) para obter o produto final (processo secundário), destinado ao consumidor final ou outras indústrias do setor terciário.

• Indústria terciária: gera inúmeros produtos de maior valor agregado, altamente especializados, para atender às diversas necessidades do consumidor final.

• Indústria integrada (verticalizada): possui dois ou mais níveis de agregação industrial (primária, secundária e/ou terciária) na fabricação de seu produto final, como as indústrias de celulose e papel integradas, que compreendem uma fase primária de produção de cavaco, a fase secundária de produção da celulose, e a fase terciária de produção do papel. Já as indústrias de painéis de madeira industrializada possuem a etapa primária de produção de cavaco, e a secundária de transformação em painéis de MDP, MDF, HDF, OSB, etc.”

As dimensões continentais do Brasil favoreceram o desenvolvimento do parque industrial de base florestal ao longo de todo o seu território. Entretanto, as empresas tendem a se concentrar em regiões onde aspectos regionais e logísticos favorecem a geração de economias

95 de escala. As regiões onde ocorrem as concentrações de empresas ligadas ao setor de base florestal (clusters), cuja principal fonte de matéria‑prima é o Eucalyptus (ABRAF, 2011).

Vistos os números e o comportamento geral do mercado de silvicultura em alguns de seus principais setores, irá se realizar, nesse momento, a interpretação dessas informações anteriormente ventiladas.

Em primeiro momento, deve-se ter claro que os números mostram uma parcela da realidade da qual se quer tratar e devem ser analisados, com cautela e reflexão, e não como expressão absoluta da verdade.

Aliás, são indicadores de fenômenos e não a transcrição em si desses. Portanto, importante se frisar que fazem parte de uma pequena parcela da realidade. Nesse sentido, como ressaltado anteriormente nesse trabalho, se faz necessário uma reflexão mais sistêmica dos fenômenos e a compreensão de que há vários elementos interligados.

Os números apresentados são basicamente de cunho econômico e chamam a atenção para o desenvolvimento do mercado da monocultura de silvicultura no Brasil. Dessa maneira devemos entender que o “desenvolvimento” retratado por esses indicadores estão inseridos na concepção capitalista de desenvolvimento, ou seja, a obtenção de lucros.

Entretanto, desenvolvimento não é uma palavra de acepção única e comporta diversas interpretações pelos diferentes agentes que atuam na questão da expansão da produção de eucalipto. Ou seja, existem concepções e práticas muito ambíguas sobre a ideia de desenvolvimento.

Cabe ressaltar qual é a verdadeira acepção para o desenvolvimento em questão? Desenvolver-se significa apenas o caráter econômico de geração de riqueza?

O desenvolvimento sustentável tem como uma das premissas fundamentais o reconhecimento da insustentabilidade ou inadequação econômica, social e ambiental do padrão de desenvolvimento das sociedades contemporâneas. (SCHMITT, 1995)

96 Para (BINKOWISK & FILIPP, 2009) existe um cenário complexo, onde se visualiza diferentes forças atuando, porém, ao pensarmos especificamente sobre a questão da expansão da produção de eucalipto, percebemos que uma das principais disputas refere-se à tentativa de impor diferentes concepções e práticas sobre a ideia de desenvolvimento.

Por meio da criação de políticas públicas para incentivar os cultivos da silvicultura, o Estado tem como centro de seu discurso desenvolvimento econômico, traduzidos em geração de empregos, arrecadação de impostos, melhoria de infra-estrutura regional e local (BINKOWISK & FILIPP, 2009).

Mas é diante desse ponto exclusivo de análise que a comunidade quase sempre é deixada para último plano. Na verdade, ao analisar a ótica do desenvolvimento o Estado vislumbra na iniciativa privada a possibilidade de implantação de uma estrutura que não teve ou não tem condições de apresentar a população, quer muitas vezes pelos recursos necessários para o projeto, quer outras, como em muitas vezes, no caso brasileiro, por falta de vontade política ou incompetência gerencial.

Destaca-se que na situação descrita anteriormente o Estado não é o detentor de uma política pública de longo prazo, mas sim de um plano de governo, que atende a interesses momentâneos de determinados estamentos políticos e que, infelizmente, são colocados acima dos verdadeiros interesses coletivos.

Na realidade essa situação é constantemente reiterada, ou seja, se institucionaliza desequilíbrios ambientais, em nome de uma política “desenvolvimentista” que trará benefícios para o ciclo econômico local.

No caso, as atividades florestais só seriam consideradas sustentáveis, se realmente assegurassem as garantias difusas sociais, ambientais, econômicas e culturais do desenvolvimento, o que é a transcrição da noção de sustentabilidade dos sistemas, ou do desenvolvimento sustentável do planeta.

97 Acontece que em muitos casos, o que tais medidas estatais refletem é a pura fórmula do sistema que autoriza institucionalmente a concentração fundiária em uma monocultura voltada para os anseios do capital.

Repete-se algo que historicamente já se conhece. O Brasil passou por grandes ciclos econômicos como o da cana-de-açúcar, baseados no sistema de plantation, em que existia uma concentração fundiária e de renda, nas mãos dos senhores de engenho, monocultura agrícola, mão-de-obra escrava e uma economia baseada na exportação.

Evidente que o Brasil superou a escravidão negra, mas que essa deixou sequelas até os dias atuais em todos os setores de nossa sociedade, e que tecnicamente esta não existe mais, entretanto, devido ao atendimento aos anseios do capital, muitos trabalhadores desse tipo de culturas são explorados e considerados em situação análogas a de escravo.

A concentração fundiária no país ainda é uma triste realidade e que o pilar sustentador desta são monoculturas agrícolas como a do eucalipto que visam a atender exclusivamente os anseios do mercado, em detrimento das condições sociais da grande parcela da população brasileira dessa forma do ponto de vista prático pouco se alterou.

Dessa maneira as comunidades locais devem ser livres para optarem, da melhor forma possível e articulada, por seus processos de desenvolvimento autônomos. Portanto, o Estado deve levar em consideração os valores culturais, sociais e ambientais dessa comunidade em questão.

Cada localidade, comunidade, municipalidade, sub-região, região poderá e deverá optar por um processo de desenvolvimento que respeite seus valores e recursos específicos e melhor participação do processo mundial de desenvolvimento (BINKOWISK & FILIPP, 2009).

Para que as decisões do Estado possam ser efetivadas e, portanto, realizar seu objetivo maior de manutenção do sistema, é necessário que ele se proteja sob a capa da neutralidade, de mediador dos interesses conflitantes, com uma posição “acima” das classes (NETO, 1995).

98 Por fim, o Estado deve ser mediador dos conflitos existentes entre os diversos setores sociais, mas nunca incentivador de medidas que visem a acumulação do capital nas mãos de poucos, bem como a exclusão social.