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5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.3 Análise cruzada dos estudos de caso

De posse dos dados e das análises de cada estudo de caso individualmente, é interessante avaliar comparativamente o desempenho das duas obras no processo de inspeção com VANT, destacando as barreiras, os fatores positivos e as oportunidades de melhorias, quando possível.

A partir dos resultados da análise do Potencial de Visualização nos canteiros estudados, foi possível destacar barreiras e fatores positivos encontrados para o processo de inspeção com VANT. A análise por tipo de captura permitiu comparar a eficiência do tipo de captura e quais os fatores influenciaram para o seu desempenho. E por fim, a análise de conformidade apresentou uma observação aprofundada dos

itens de segurança, segundo os critérios estabelecidos pelas normas de segurança NR-18 e NR-35, tornando possível a sugestão de melhorias no sistema de segurança da obra.

a) Análise do Potencial de Visualização

A Tabela 3 apresenta um comparativo dos dados para a análise do Potencial de Visualização.

Tabela 3: Comparativo do Potencial de Visualização

Estudo de Casos % itens visualizados % N1 – inspeção incompleta % N2- limitação da tecnologia % N3- imagem sem detalhamento Obra A 87 8 0 5 Obra B 60 21 16 3 Fonte: A autora

Segundo os resultados apresentados nos estudos A e B, percebe-se que dos 45 itens que compõem o checklist de segurança por tipo de captura – versão completa, sendo analisados um total de 34 itens para obra A, e 36 itens para a obra B. Contudo, a obra A obteve um melhor desempenho quanto aos itens visualizados (29 itens), e a obra B (21 itens).

Os resultados encontrados estão associados a um conjunto de fatores, sendo alguns deles, já levantados por Kim e Irizarry (2015) e validados neste estudo, tais como, características dos projetos: projeto situado em centro urbano ou área de baixa densidade populacional; tamanho do projeto (canteiros amplos e horizontais ou canteiros restritos); complexidade das missões realizadas (ou seja, a presença de impedimentos físicos, tais como postes, árvores, fiações elétricas, telas de proteção e proximidade de outras edificações e a dificuldade de coletar itens específicos em locais de difícil acesso), além das características dos projetos destacam-se, o impacto das condições meteorológicas no momento do voo (fortes ventos, chuva), e as características do processo e da equipe de inspeção (experiência com o uso da tecnologia, habilidade do usuário para controle do VANT, adequação dos recursos para uso do VANT como um sistema de monitoramento da segurança, procedimentos de inspeção eficientes e conhecimento prévio dos itens de segurança). Conforme ressaltado por Kim e Irizarry (2015), tais fatores podem influenciar de forma positiva ou negativa o processo de monitoramento do canteiro com VANT.

Dessa forma, a não visualização dos itens de segurança classificada como inspeção incompleta (N1) representou 8% dos itens para a obra A e 21% para a obra B, tal fato é justificado devido às características físicas do canteiro e fatores físicos, no qual a obra A possui um canteiro amplo que propicia o uso de VANT, devido à facilidade de pouso e decolagem em diversas regiões do canteiro, alcançando todos os pontos a serem inspecionados, e a obra B, por não possuir espaço para voo, eram utilizados as propriedades adjacentes mediante autorização dos proprietários, o que dificultava a visualização de todas as fachadas através de um único ponto. Os fatores físicos contribuíram com este resultado, visto a dificuldade em inspecionar determinados itens com segurança. Além disso, ambos os estudos foram influenciados pela falta de experiência do piloto e observador, pela ineficácia da aplicação do procedimento ainda em desenvolvimento e pela falha do conhecimento técnico referente a alguns itens de segurança menos usuais.

Quanto à limitação imposta pela tecnologia, enquanto na obra A não foi possível detectar sua influência nos resultados, para a obra B, a limitação de altitude de voo estabelecida pela ANAC em 60 metros impediu a inspeção de itens na cobertura e nos últimos pavimentos tipo da fachada. Além disso, o forte vento foi outra limitação da tecnologia, pois não era possível operar a aeronave com segurança.

Os danos ocasionados pela falha proveniente da coleta de imagens sem detalhamento (N3) foram amenos para ambos os estudos. Este resultado está associado especialmente à necessidade de treinamento do uso da tecnologia com maior eficácia e as barreiras físicas que possivelmente impediu a aproximação do VANT para uma coleta mais detalhada.

De fato, o procedimento de inspeção com VANT na obra A foi beneficiado devido às condições favoráveis para voo no canteiro. Tais condições aumentam o desempenho do VANT para inspeção de segurança, além de facilitar a adoção da tecnologia. Entretanto, procedimentos sistemáticos são necessários para garantir a eficácia da inspeção. Para os canteiros restritos, devem-se buscar meios que promovam um melhor desempenho da inspeção de segurança e adoção da tecnologia de forma sistemática.

b) Análise de Conformidade

Dentre as não conformidades identificadas durante as inspeções na obra A destacam-se: as irregularidades na plataforma de segurança primária, quanto a

fechamento de toda a periferia e acumulo de detritos, além da identificação de trabalhadores não utilizando os equipamentos de proteções individuais. Para a obra B, destacam-se: a falta de limpeza e organização do canteiro, no qual foi perceptível o acúmulo de resíduos e a obstrução dos acessos de pedestres e equipamentos, observaram-se também irregularidades nas plataformas primária e secundária relativo ao acúmulo de materiais e equipamentos não previstos, além das falhas nas proteções coletivas e ausência de isolamento nas áreas de carga e descarga.

A Tabela 4 apresenta o comparativo dos percentuais de não conformidades para as inspeções realizadas, em ambos os estudos.

Tabela 4: Comparativo do % de não conformidades

Todos os Tipos de Captura

1ªInspeção 2ªInspeção 3ªInspeção 4ªInspeção Obra A Obra B Obra A Obra B Obra A Obra B Obra A Obra B 17% 45% 14% 50% 12% 52% 19% 68% Fonte: A autora

De posse dos resultados, verifica-se que o grau de não conformidade dos itens de segurança avaliados na obra B é expressivamente superior aos da obra A. De modo que tornam preocupantes as condições de segurança na qual os trabalhadores são submetidos. Além das diferenças quanto às características físicas e construtivas, as obras diferem significativamente quanto ao sistema de gestão da segurança adotados.

Embora nenhum das obras possua procedimentos de rotina de inspeção estruturado e padronizado, a obra A possui uma cultura de rotina de atividades de inspeção e monitoramento, melhor delineados quanto às atribuições das responsabilidades da equipe de segurança, possibilitando um monitoramento mais eficiente quando comparado à obra B, que possui apenas uma técnica de segurança para gerenciar e realizar todas as atividades que compete à gestão da segurança. Entretanto, ressalva-se que ambas as obras estudadas necessitam melhorar quanto ao sistema de gestão da segurança, não apenas para atender as legislações, mas para proporcionar aos trabalhadores um melhor ambiente de trabalho, além da necessidade em desenvolver procedimentos de inspeção da segurança.

Ademais, destaca-se que na obra B, apesar de serem analisados uma menor quantidade de itens de segurança, o impacto provocado pelas não conformidades identificadas durante o feedback com os envolvidos no projeto teve uma maior repercussão do que na obra A.