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Visto que a identidade constitui-se culturalmente, como explicam Casetti e Chio (1999, p.293) [tradução nossa], os estudos culturais buscam examinar a televisão, seu conteúdo e suas diferentes formas de produção e recepção considerando “o contexto social e cultural que os circunda”. Este tipo de investigação, segundo os autores, encontra-se fundamentada em três ideias básicas. A primeira delas considera o texto televisivo, além de construção linguística, como um evento produzido no espaço e no tempo determinados, uma vez que se encontra um marco histórico, geográfico, cultural e social. Sob esta primeira ideia, tem-se a concepção de que o caráter produtivo do texto depende do contexto, das suas condições próprias de existência e possibilidades de ser recebido. Da mesma forma, “textos dão forma ao contexto na mesma medida em que dependem deste contexto” (CASETTI e CHIO, 1999, p.295) [tradução nossa].

Como segunda ideia básica, os autores argumentam que o texto não é simplesmente um dispositivo, que guarda um sentido para si e que é entregue ao destinatário. Ao contrário, o texto, neste caso o televisivo, “é lugar onde se confrontam tudo o que o emissor quer dizer, o que consegue expressar corretamente e o que o destinatário compreende da mensagem” (CASETTI e CHIO, 1999, p.295) [tradução nossa]. Daí surge a ideia de negociação de sentido, uma vez que as interpretações do texto televisivo são confrontadas com o que o indivíduo sabe, conhece e as posições que ocupa em determinado grupo social, da mesma forma que assinalam para a importância do contexto e sua relação com a construção de significados.

A terceira ideia básica das investigações que se valem dos estudos culturais demonstra que o texto constitui-se em um recurso com diversas finalidades e usos, como fornecer imagens da realidade ou facilitar esquemas que sirvam para explicar eventos do cotidiano. Sob este entendimento torna-se importante considerar as funções do texto, sua capacidade em tornar-se um recurso social, caracterizando-se como um “objeto capaz de saturar uma necessidade, alcançar uma meta, valer-se de um objetivo” (CASETTI e CHIO, 1999, p.297) [tradução nossa].

O estudo dos meios, especialmente a televisão, torna-se eixo condutor para as discussões acerca das representações midiáticas e das identidades, visto que se reconhece “a capacidade de por em marcha processos de identificação que reforçam o sentido de identidade do indivíduo, quer dizer, sua consciência de pertencer a uma determinada categoria social ou comunidade” (CASETTI e CHIO, 1999, p.320) [tradução nossa].

Conforme Rocha (2011, p.180),

[...] a leitura característica da televisão provavelmente é a negociada. Esta é uma concepção de base dos estudos culturais. Se nossa sociedade é vista como uma estrutura de diferentes grupos de interesses, e se a televisão apela a uma ampla audiência, esta deve ser vista como uma mistura daqueles grupos, cada um em uma relação diferente com a ideologia dominante. Os estudos culturais veem a experiência televisiva como um movimento dinâmico constante entre similaridade e diferença.

A autora ainda complementa a relevância do estudo da televisão com base nos estudos culturais no momento em que afirma que a “televisão como cultura é uma parte crucial da dinâmica social pela qual a sociedade se estrutura e se mantém num processo constante de produção e reprodução” (ROCHA, 2011, p.181).

A televisão constitui-se em um dos principais domínios da contemporaneidade e, além da dimensão tecnológica, também devemos analisar sua dimensão cultural. Williams (2011) atenta para os modos como são estudados a televisão. Não devemos observar apenas o que é transmitido, mas também os processos pelos quais os conteúdos se realizam em diferentes formatos do fluxo televisivo, de modo a realizar uma observação que compreenda as dinâmicas e processos que estão ali envolvidos no momento em que os programas se realizam para o telespectador.

Desta forma, o que os estudos culturais, a partir da análise cultural, se propõem a investigar é a problemática da produção de sentidos com base no texto televisivo, através da cultura que circula e que também é produzida.

Neste capítulo apresentamos o percurso e as opções teórico-metodológicas que conduziram esta pesquisa, sua caracterização e importância para a análise do objeto. É a síntese da trajetória desenvolvida desde a aproximação com o objeto e com os estudos culturais, etapas que se desenvolveram em paralelo desde o início do projeto.

No transcurso desta dissertação, seguimos alguns passos que foram determinantes para o resultado final alcançado, que detalhamos no capítulo 3, específico da análise que realizamos. Primeiramente, foi necessário realizar a pesquisa exploratória, que já apresentamos na Introdução, a fim de que, com o estado da arte (bem como a partir da pesquisa bibliográfica), pudéssemos compreender e definir os conceitos teóricos e metodológicos, objetivos e justificativas que delimitamos para a proposta de pesquisa. Também, no processo de caracterização do objeto, visitamos a emissora e realizamos uma entrevista, de caráter informal, com a coordenadora e apresentadora da RBS TV Santa Rosa, Lisiane Sackis, em novembro de 2013. Ainda como parte desse primeiro passo, realizamos a pesquisa documental utilizada para dar conta do contexto enunciativo, que visa conhecer e caracterizar cada um dos 69 municípios que compõem a região de abrangência da emissora.

Nesse processo de construção da pesquisa, adotamos como proposta metodológica de pesquisa a análise cultural, com base em Williams (2003), buscando as relações dos modos de vida da sociedade. Como operador analítico, utilizamos do circuito da cultura elaborado por Du Gay et al. (1999), caracterizado pela relação entre as instâncias da produção, consumo, regulação, representação e identidade.

Como segunda etapa da pesquisa, temos as definições que nos conduziram à análise descritiva do objeto. Com base no circuito, propomos uma análise cultural para o telejornalismo regional, aliando as categorias de análise do circuito e os “casamentos” com outras técnicas de análise em cada um dos eixos: a análise de conteúdo e a análise textual no eixo da produção e enquete para aferição do consumo. Neste momento temos a descrição e interpretação do processo de análise com base nas apropriações teórico-metodológicas realizadas para o desenvolvimento desta pesquisa nas instâncias da produção, consumo e regulação.

Como etapa seguinte, buscamos a análise interpretativa da pesquisa, com base na análise descritiva, que privilegia os eixos da representação, centrada no contexto enunciativo

elaborado a partir da pesquisa documental, e da identidade, que busca tratar da identidade cultural regional no texto jornalístico do telejornal.

Além disso, neste capítulo metodológico trazemos a caracterização do objeto de estudo, a partir da sua contextualização histórica, desde a inauguração e desenvolvimento da emissora na cidade, sua composição, a área de abrangência, programas que são produzidos e a escolha do Jornal do Almoço da RBS TV Santa Rosa como objeto empírico. São apresentados os telejornais que compõem o corpus de análise, o período e critérios de seleção do JA, bem como as definições em relação à avaliação do consumo.

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