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Brasil é um país latino-americano populoso, extenso, eco­ nomicamente relevante e extremamente desigual. As mais acentuadas desigualdades de renda são encontradas nos estados da região Nordeste resultando em indicadores socioeconômicos bastante desfavoráveis nos níveis de renda, educação e saúde (FURTADO, 1999). Segundo o Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD; Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (1996), a Região Nordeste do Brasil tem a mais elevada proporção de pobres do País, com taxas superiores a 40% em quase todos os estados.

Medici e Agune (1994) também avaliaram que no Nordeste so­ mente dois estados apresentaram melhorias no posicionamento do IOSP no período de 1983 a 1990: Paraíba e Ceará. Esse último apresentou um aumento na taxa de crescimento de 80,1% – ficando atrás apenas dos es­ tados do Maranhão (406,8%) e Piauí (132,9%). Os estados em piores con­ dições foram, em geral, os que apresentaram as mais altas taxas de cresci­ mento. Ao se observar a evolução da renda per capita, verifica­se uma melhoria do Ceará de 19.º para 18.º ao lado da permanência da Paraíba (21.º). Os autores ainda alertam para o fato de que no Ceará, em que pese à melhoria obtida, seus indicadores de oferta de infraestrutura social ainda

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são mais precários que seus indicadores econômicos. Os estados da Bahia e de Pernambuco tiveram um desenvolvimento econômico superior ao seu desenvolvimento social, reforçando as características pouco redistribu­ tivas do progresso econômico em regiões mais pobres, como o Nordeste. Isto porque o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento da oferta de infraestrutura social podem ter ritmos diferentes, a depender da vontade política e dos recursos investidos pelos governos.

A maioria das políticas públicas praticadas no Nordeste bra­ sileiro no século passado foi formulada no âmbito do combate às secas. A evolução dessas políticas foi objeto de várias propostas de periodi­ zação elaboradas nas décadas de 1980 e 1990 (CAMPOS, 2014). Vale salientar que depois da grande seca de 1877, outras grandes secas se seguiram no Nordeste brasileiro: 1900, 1915, 1919, 1932, 1958, 1979-83, 1987, 1990, 1992-93, 1997-98, 2002-03, 2010-1015, para citar as principais (DE NYS; ENGLE; MAGALHÃES, 2016).

O Nordeste apresentou os maiores aumentos da esperança de vida ao nascer durante o período de 1975 a 2000. A ampliação dos ser­ viços de saneamento básico em áreas até então excluídas, os programas de saúde materno-infantil – sobretudo os voltados para o pré-natal, parto e puerpério –, a ampliação da oferta de serviços médico­hospita­ lares, as campanhas de vacinação, os programas de aleitamento ma­ terno e reidratação oral, em muito colaboraram para a continuidade da redução dos níveis de mortalidade infantil e infanto-juvenil, principal­ mente a partir dos anos 1980 (SIMÕES; OLIVEIRA, 1997). Apesar da melhora destes índices nas duas últimas décadas, o Nordeste ainda amarga a permanência entre os piores valores de IDH (Índice de Desenvolvimento do Humano) do país.

O Estado do Ceará sempre foi periférico na dinâmica econômica e política do Brasil. Com seus solos pouco férteis, poucas chuvas, au­ sência de grandes ciclos econômicos, além do persistente domínio por parte de uma forte aristocracia local, que sempre atuou a reboque da condução política e econômica do nível central de Governo. Tal pro­ cesso de centralização político-administrativa passou por transforma­ ções ao longo do tempo, com a mudança dos grupos políticos, mas car­ regou em si as marcas e os elementos de uma sociedade conservadora,

tradicional, voltada aos interesses das oligarquias e grupos específicos, as quais estavam tanto na arena de poder quanto também, mais tarde, serviram aos interesses econômicos de desenvolvimento do capitalismo (BARRETO et al., 2014).

As elites cearenses acumularam riqueza geralmente oriunda da agropecuária, do comércio e do exercício de atividades liberais ou de funções na máquina pública. A concentração de renda do Estado era extremamente forte e, historicamente, o poder local foi constituído por alianças e acordos entre grupos oligárquicos, minimizando a ascensão de grupos políticos comprometidos com a promoção do bem­estar e equidade social (FARIAS, 2015). Em relação às políticas de saúde, para Andrade e Barreto (2007), na década de 1980, o discurso que foi produ­ zido pelo Movimento da Reforma Sanitária ganhou repercussões no campo das políticas públicas, possibilitando arranjos institucionais que desembocaram na unificação dos serviços públicos de saúde, por meio do SLJDS (Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde) e na incor­ poração do Programa Agentes de Saúde como política estadual.

No início da década 80, houve predominância do eixo discursivo e, a partir de 1987, fortalecimento do eixo político. Na década de 1990, houve a extensão de cobertura por meio do PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde) e PSF (Programa de Saúde da Família), confi­ gurando uma ampliação das ações estatais, que refletiram em melhoria dos indicadores de saúde da criança. Destaca-se também o fortaleci­ mento dos Conselhos de Saúde e as iniciativas no campo da educação para profissionais de saúde, tendo como fato principal a criação da Escola de Saúde Pública do Ceará. Neste momento, compreende-se que a via institucional foi, no Ceará, uma experiência válida na medida em que gerou transformação nos saberes e nas práticas de saúde, tais como: a extensão da cobertura dos serviços de atenção primária e secundária de saúde e a participação popular. A implantação do SUS no Estado contrastou com o cenário de pobreza, as adversidades climáticas e geo­ gráficas, além de um governo historicamente centralizador e autoritário (BARRETO et al., 2014).

Em um trabalho elaborado pela área social da FUNDAP/IESP (Fundação do Desenvolvimento Administrativo/ Instituto de Economia

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do Setor Público), para o projeto Balanço e Perspectivas do Federalismo Fiscal no Brasil, Medici e Agune (1994) mostram como evoluíram al­ guns dos principais indicadores de oferta de serviços públicos na área social, no Brasil, ao longo dos anos 80. Para os autores, a política social implementada na segunda metade dos anos 80 no Brasil, permitiu ate­ nuar as disparidades na oferta de serviços púbicos sociais ao nível re­ gional, ao mesmo tempo em que melhorou o quadro social, especial­ mente no que se refere aos componentes do IOSP (Índice de Oferta de Serviços Públicos) – alfabetização, oferta de serviços de saúde, sanea­ mento (água, esgoto e lixo) e fornecimento de energia elétrica. Houve uma melhoria da infraestrutura social em proporção maior do que a do desenvolvimento econômico.

Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (CEARÁ, 2012), o Ceará tem se destacado na adoção de políticas públicas inovadoras para a saúde. As primeiras ações foram realizadas no final da década de 1980 com o processo de municipalização da saúde, no Estado que possibilitou o fortalecimento dos Sistemas Locais de Saúde e a in­ versão do Modelo de Atenção vigente para assistência focada na Atenção Primária à Saúde.

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