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PENAL MILITAR.

O aparente conflito de atribuição entre a Polícia Judiciária Militar Estadual e a Polícia

Civil, quando da investigação do crime doloso contra a vida de civil, foi resolvido por meio do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.494-DF, impetrada pela Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (ADEPOL), com pedido liminar de afastamento do § 2º do art. 82 do Código de Processo Penal Militar, vejamos:

Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo de paz:

§ 2° Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum. (BRASIL, Decreto-Lei nº 1.002, 1969)

O argumento utilizado pela ADEPOL foi que o §2º do art. 82 do CPPM, é inconstitucional por confrontar o disposto no §1º, inciso IV e §4º do art. 144 da Constituição Federal:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. (BRASIL, Constituição Federal, 1988)

O §4º do art. 144 é taxativo, as infrações penais militares estão fora do alcance investigativo da Polícia Civil, e é esta a determinação constitucional. Então fica a pergunta, como surgiu o aparente conflito de atribuição entre os policiais civis e militares estaduais quando da investigação do crime doloso contra a vida de civil quando praticado por policial militar?

A Lei 9.299 de 7 de agosto de 1996, foi editada com o fim exclusivo de realizar modificações no Código Penal Militar e no Código de Processo Penal Militar. No que diz respeito ao CPM, buscou-se alterar o art. 9º, principalmente por meio do acréscimo do parágrafo único, com a seguinte redação:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum. (BRASIL, Decreto- Lei nº 1.001, 1969)

A clareza do dispositivo legal não permitia dúvida, a Justiça comum é a competente para julgar os crimes dolosos contra a vida, quando cometidos por militar contra civil. No entanto, tal dispositivo legal foi reeditado com a promulgação da Lei nº 13.491 de 13 de outubro de 2017, que trouxe relevantes alterações para o art. 9º do CPM.

A nova redação do inciso II do art. 9º do CPM, ampliou consideravelmente a competência da Justiça Militar, a partir de então, todos os crimes e contravenções penais existentes no ordenamento jurídico pátrio, se forem praticados em alguma das hipóteses do inciso II, são crimes militares, e por isso sujeitos à jurisdição militar:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; (BRASIL, Decreto-Lei nº 1.001, 1969) (grifo nosso)

Desta forma, a despeito de o tipo penal existir de maneira diversa na legislação penal comum, tornar-se-á crime militar por força do Código Penal Militar, o que atrai de forma imediata a competência da Justiça Militar para processamento e julgamento. Resta a legislação penal comum, a aplicação subsidiária, quando não se tratar de nenhuma das hipóteses do art. 9º do CPM.

Fato é que, a ampliação da competência da Justiça Militar foi ampliada, convém esclarecer que existem inúmeros tipos penais no Código Penal Comum e nas leis extravagantes, que não têm previsão no Código Penal Militar, e que passam a integrar o rol de crimes militares, quando praticados nas circunstâncias dispostas no inciso II, do art. 9º, do Código Penal Militar.

Da mesma forma, o texto do parágrafo único foi revogado, passando a vigorar o § 1º, houve um aprimoramento técnico-jurídico na redação do artigo, mas não houve modificação material do texto, mantendo-se a competência do Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civil.

Ao § 2º do art. 9º do CPM, restou ser a última das novidades incorporadas pela Lei nº 13.481/17. Criou-se uma exceção para os militares das Forças Armadas, que em hipóteses específicas, ainda que cometa crime doloso contra a vida de civil, será julgado pela Justiça Militar, vejamos:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por

militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto:

I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;

II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)

III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:

a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;

b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;

c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal

Militar; e

d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (BRASIL, Decreto-Lei nº

1.001, 1969)

A despeito de a Lei nº Lei nº 13.481/17, realizar importantes modificações no art. 9º do CPM, a Lei nº 9.299/96 não foi revogada, por isso mantêm-se em vigor o disposto no § 2º do art. 82 do Código de Processo Penal Militar, justamente o dispositivo impugnado na ADI nº 1.494-DF, impetrada pela ADEPOL.

O que não se pode admitir, é que a modificação da Justiça competente para julgamento, se confunda com a modificação da natureza da infração, por assim dizer, ainda que o crime doloso contra a vida de civil, cometido por militar, seja da competência da Justiça comum, o tipo penal permanece com a qualidade de infração penal militar. Se de outra forma fosse, estaríamos desprezando o bem jurídico tutelado pelo tipo penal, neste caso ainda mais grave, dada a especificidade da disciplina Penal Militar que, como vimos no capítulo 3 deste trabalho, tutela bens jurídicos complexos.

O objetivo da Lei 9.299/96 foi alcançado, qual seja a mudança da competência de julgamento do crime doloso contra a vida de civil, isto quando tal fato for praticado por militar, e tal alteração foi ainda mantida pela Lei nº 13.481/17. Se o objetivo fosse, retirar a atribuição da Polícia Judiciária Militar para apurar fatos desta natureza, por certo o legislador

o teria feito, houve mais de uma oportunidade, mas própria Lei nº 9.299/96 que modificou a competência para julgar tais crimes, também incluiu o § 2º do art. 82 do CPPM, e reconheceu taxativamente, o Inquérito Policial Militar como o instrumento de apuração adequado, vejamos:

Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo de paz:

§ 2° Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum. (BRASIL, Decreto-Lei nº 1.002, 1969)

Quando o fato jurídico encontra a perfeita correspondência no Código Penal Militar, principalmente no diploma legal previsto no art. 9º do CPM, trata-se então de uma infração militar. Faço minha as palavras do baiano Ruy Babosa: “Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação.”

Não é o local competente para o julgamento do delito, o responsável por dizer a natureza do crime, muito pelo contrário, a natureza do delito, é que, na maioria das vezes, dita a competência para julgamento. Supondo que o uma guarnição policial militar esteja de serviço, realizando o patrulhamento em determina região, quando se evolve em uma ocorrência, e o resultado é o óbito de um civil. No momento da apresentação da ocorrência à autoridade policial competente, já é possível dizer se o fato realmente é crime? No momento da apresentação da ocorrência, já é possível dizer se o policial militar agiu em legítima defesa? No momento da apresentação do fato, já é possível dizer se houve dolo? Existe a possibilidade de o fato ser uma lesão corporal seguida de morte? Existe a possibilidade de o fato ser culposo? Tais perguntas precisam ser respondidas, daí a necessidade de o fato ser rigorosamente apurado por meio do Inquérito Policial Militar, só ao final da apuração, existirão elementos de convicção suficientes para responder tais questões, com o mínimo de subsídio probatório.

O art. 9º do Código Penal Militar é de difícil compreensão, para quem é leigo na disciplina, e não era de se esperar que fosse diferente, afinal, trata-se de matéria específica que precisa de dedicação e afinidade para intelecção. A ADEPOL, na condição de representante de classe que é, tentou na verdade, induzir o STF ao entendimento de que o crime doloso contra a vida de civil, quando praticado por militar, não é mais crime militar, mesmo com o art. 9º do CPM dizendo o contrário. Continuaremos com o exemplo anterior, uma guarnição policial militar de serviço, enfrenta resistência armada, e como resultado ocorre o óbito de um civil, este é o cenário da maioria dos "Autos de Resistência" lavrados no

nosso país. A investigação deste fato é de atribuição da Polícia Judiciária Militar Estadual ou da Polícia Civil? A resposta para tal questão está taxativamente expressa no art. 9º do CPM:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (grifo nosso)

Art. 205. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos. (BRASIL, Decreto-Lei nº 1.001, 1969)

Não a dúvida de que o fato típico é militar, isto porque, tratar o fato típico como crime é mera leviandade, afinal o crime para existir precisar de que fato seja típico, seja também antijurídico e culpável, no mínimo, sob pena de violarmos os princípios da presunção de inocência e do devido processo penal, o que não se pode aceitar. Não é o momento de nos debruçarmos na teoria tripartite do crime, trata-se aqui, do reconhecimento dos direitos fundamentais do policial militar, que não são maiores e nem menores que o de nenhum outro ser humano. Não se pode imaginar, que ainda antes da apresentação do fato à autoridade policial, já se tenha tipificado o fato como homicídio, que já se tenha certeza de que o fato é realmente crime, e que já se tenha reconhecido o elemento subjetivo como dolo, é a completa inversão de valores, e pior, manifesto desrespeito à Lei Penal Militar.

O julgamento da ADI 1.494-DF, que manteve a constitucionalidade do § 2º do art. 82 do CPPM, foi decisivo para a manutenção da atribuição da Polícia Judiciária Militar para investigar, até mesmo o crime doloso contra a vida de civil, quando cometido por militar. Passaremos agora a analisar os argumentos dos Ministros do STF, quando do julgamento da ação, isto no ano de 2001, ou seja, antes da importante Emenda Constitucional nº 45, que aconteceu no ano de 2004, e promoveu a "reforma" do Poder Judiciário, assunto já tratado neste trabalho. Começando pelo relator, o Ministro Celso de Mello que, em seu voto lembrou das razões da edição da Lei 9.299/99, nos seguintes termos:

Impõe-se reconhecer, desde logo, que a edição da Lei n. 9.299, de 07/8/96 - que altera disposições constantes do Código Penal Militar (art. 90) e do Código de

Processo Penal Militar (art. 82) - foi motivada por fatos extremamente perturbadores revelados no curso de investigação legislativa, realizada por Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar a eliminação física de crianças no Brasil. (STF - ADI: 1494 DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 17/08/2001, data de Publicação: DJ 23/08/2001 P - 00003)

Por certo, que o início da década de noventa foi marcado por casos emblemáticos envolvendo policiais militares, a saber: o “caso Carandiru” no ano de 1992, o “caso da candelária” no ano de 1993; o caso “Vigário Geral” também no ano de 1993, o “El Dourado dos Carajás” no início de 1996; dentre outros que, após atenção da imprensa nacional e internacional, influenciaram de forma decisiva na aprovação da Lei nº 9.299/96.

A despeito dos fatos expostos não serem aceitáveis, entendemos que a edição da Lei nº 9.299/96 é fruto de um momento de desequilíbrio da atividade legiferante, que na verdade, se viu pressionada pela sociedade a tomar alguma atitude, o fulcro foi frear tais escândalos na segurança pública, e portanto, legislou-se para uma exceção, uma medida política, que em tais circunstâncias de pressão popular, repercute na forma de mutação no âmbito jurídico, um verdadeiro improviso legal.

Foram casos emblemáticos e de grande repercussão social sim, mas sem aqui entrar no mérito dos fatos acima mencionados, com certeza não correspondem à maioria das ocorrências policiais do Brasil, são a mínima porcentagem do trabalho das Polícias Militares, instituições imperfeitas, como qualquer outro órgão do Estado.

O Ministro Celso de Mello, que votou pela inconstitucionalidade do § 2º do art. 82 do Código de Processo Penal Militar, argumenta o seguinte:

Torna-se evidente, pois, Sr. Presidente, que tanto a Lei n. 9.299/96 (não obstante as críticas procedentes que lhe vêm sendo feitas) quanto as diversas iniciativas representadas por projetos de lei submetidos à consideração do Congresso Nacional pelo próprio Presidente da República e pelo ilustre Deputado Federal Hélio Bicudo nada mais exprimem senão o inequívoco desejo de dispensar aos policiais militares, quando eventualmente sujeitos a medidas de persecução penal por delitos supostamente cometidos no desempenho das funções de policiamento ostensivo, o mesmo tratamento penal e jurídico-processual aplicável aos agentes e autoridades da Polícia Civil.(STF - ADI: 1494 DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 17/08/2001, data de Publicação: DJ 23/08/2001 P - 00003)

Com a devida vênia, não entendemos assim, pois, em outras palavras, o Ministro entende que o desejo da Lei 9.299/99 seria o de dispensar aos policiais militares o mesmo tratamento penal e jurídico-processual aplicável aos agentes da Polícia Civil. Na nossa visão, uma dedução lógica sem cabimento, pois, ao tempo que a Lei 9.299/96 modifica o art. 9º do CPM, mudando apenas o foro de julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civil, quando praticados por militares, nada fala da fase pré-processual, que será lembrada quando do acréscimo do § 2º do art. 82 do CPPM, que reconhece o Inquérito Policial Militar como instrumento correto para apuração dos fatos. A constitucionalidade da lei nada tem a ver com

paridade entre as instituições, que são tratadas, de forma distinta pela própria Constituição, afinal, não são iguais.

Nesta senda, ao arrepio do que expressamente estipula o diploma legal, segue o Voto do ministro relator da ADI 1.494-DF:

[...] um sistema organizado de proteção social contra a violência arbitrária da Polícia Militar (lamentavelmente em processo de contínua expansão) e de imediata reação estatal - sempre respeitados os princípios que regem a garantia do due process of law - que permita seja imposta justa punição, por juízes e Tribunais comuns e independentes, aos integrantes dessa corporação que se vejam acusados da prática de ilícitos penais no exercício das funções ordinárias de policiamento ostensivo estamental não podem justificar que se dispense a qualquer organismo policial tratamento diferenciado que assegure a seus agentes o inaceitável privilégio da investigação reservada e da jurisdição doméstica. (STF - ADI: 1494 DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 17/08/2001, data de Publicação: DJ 23/08/2001 P - 00003) (grifo nosso)

Havia razão para duvidar da imparcialidade das Justiças Militares Estaduais de todos os estados da federação? Os juízos militares estaduais, mutatis mutantis, são compostos também por Juízes de Direito, subordinados ao mesmo Tribunal de Justiça de seu estado, como qualquer outro juiz da esfera estadual. Apenas existem Tribunais de Justiça Militar Estadual em três estados da federação (SP, MG e RS), ainda assim, os Juízes de Direito dos Tribunais de Justiça Militares Estaduais são civis, bacharéis em Direto, submetidos a concurso público nos mesmos moldes que qualquer outro magistrado, fazem jus às mesmas garantias constitucionais, então fica a pergunta: dada a imperativa especificidade da matéria militar, qual a razão para retirar a competência da Justiça Militar Estadual para apurar os crimes dolosos contra a vida de civil?

Se o tribunal do júri é um instituto específico para o crime doloso contra a vida, há de se observar que a ação policial que tenha como resultado morte, é, ainda mais específica, arraigada de peculiaridades institucionais que precisam ser analisadas por quem é mais afinco à matéria, afinal, quem aciona o gatilho em cada ocorrência é o próprio Estado Democrático de Direito, que o faz por meio do agente que atua em seu nome, ou aqui pensamos que o servidor militar atua em nome próprio?

Parece-nos que o tratamento dispensado às Justiças Militares Estaduais, não condiz com a realidade, pois o voto do senhor ministro transborda desconfiança, à primeira vista, sem justa causa, como se a Justiça Militar Estadual fosse um departamento da Polícia Militar ou pior, fosse um manto para assegurar impunidade e injustiça, o que não é verdade.

Bem por isso, Sr. Presidente, é preciso advertir esses setores marginais que atuam criminosamente na periferia das corporações policiais que ninguém, absolutamente ninguém - inclusive a Polícia Militar - está acima das leis. (STF - ADI: 1494 DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 17/08/2001, data de Publicação: DJ 23/08/2001 P - 00003)

Por esta lógica, se considerarmos que a especificidade da matéria é um "privilégio", estaria em cheque a Justiça Eleitoral, a Justiça do Trabalho e da mesma forma, a Justiça Federal. Lembramos que não existe foro privilegiado para policiais militares.

De fato, parecem faltar argumentos jurídicos, ao tempo que sobram críticas à instituição da Polícia Militar, como se militares fossem apenas os policiais militares, ou só existisse uma nefasta Polícia Militar para todo o Brasil.

Vejamos mais um trecho do voto do Ministro relator:

Esse diploma legislativo, ao introduzir modificações no art. 9° do CPM, estabeleceu regra de importância fundamental que descaracteriza, como delito militar, o crime doloso contra a vida de vítima civil, praticado por militar ou policial militar. (STF - ADI: 1494 DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 17/08/2001, data de Publicação: DJ 23/08/2001 P - 00003)

Já vimos neste capítulo, que a alteração legislativa do art. 9º do CPM, realizada por meio da Lei nº 9.299/96, acrescentou o parágrafo único no dispositivo legal:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por

militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. (BRASIL, Decreto- Lei nº 1.001, 1969)

A alteração da competência para julgamento de uma infração não pode descaracterizar a qualidade de "militar" do delito, e nem este foi o objetivo do legislador, pois se assim o quisesse, teria feito, bastaria dizer: "não se considera crime militar:", o que não aconteceu. Vejamos o que entendeu o então Ministro Nelson Jobim, quando subscreveu a exposição de motivos da Lei nº 9.299/96, que é citada no voto do próprio relator Celso de Mello:

8. O teor do parágrafo único acrescido ao art. 9° do Código penal Militar causa espécie ao leitor. Por essa norma, compete à Justiça Comum o processo e julgamento de crimes dolosos contra a vida de civil praticados por militar, delito

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