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ANÁLISE DA EDIFICAÇÃO INDUSTRIAL | ESPAÇO DE MEMÓRIA

OLIVAIS EXPO

1.4 ANÁLISE DA EDIFICAÇÃO INDUSTRIAL | ESPAÇO DE MEMÓRIA

(em memória ao edificado em análise, que se encontra em fase de destruição, por parte das decisões do homem moderno)

“O espírito da conservação associa a preferência pelo passado e pelo presente,

numa mesma recusa de um futuro incontrolado, de uma fuga para a frente

e de uma modernização exagerada“

Michel Lacroix

Ilustração 40| Pormenor da fachada em ferro do pavilhão principal da Fábrica da Tabaqueira, Lisboa S.O.S

As memórias destes espaços são importantes registos vividos, que partem das lembranças do passado e que eternizam lugares de extrema riqueza e imponência.

Na actividade industrial estão presentes na memória das edificações e nos aspectos da vida quotidiana, política, cultural, de toda uma sociedade e a sua consequente evolução ao longo dos tempos. Os seus vestígios e memórias são fontes de um enorme espólio informativo, na implementação de estudos, para melhor contextualização da história de um determinado lugar. Presenciamos em seguida alguns registos fotográficos das memórias da edificação em análise.

Ilustração 41| Fachada do Pavilhão Industrial Fábrica da Tabaqueira, Imagem superior cedida peloFotógrafo Gastão de Brito e Silva, Ruinarte, restantes imagens tiradas no local|

Ilustração 42| Complexo Fábrica Industrial da Tabaqueira, algumas destas imagens cedidas pelo Fotógrafo Gastão de Brito e Silva, Ruinarte, restantes imagens tiradas no local

Ilustração 43| Imagens dos interiores da Fábrica Industrial da Tabaqueira, imagens cedidas pelo Fotógrafo Gastão de Brito e Silva, Ruinarte

Ilustração 44| Imagens de pequenos registos de memórias da arquitectura dos interiores na Fábrica Industrial Tabaqueira, imagens cedidas pelo Fotógrafo Gastão de Brito e Silva, Ruinarte

Ilustração 45|Pormenores dos interiores do Pavilhão Industrial Fábrica Tabaqueira, imagens cedidas pelo Fotógrafo Gastão de Brito e Silva - Ruinarte

De acordo com a pesquisa direcionada sobre registos relacionados com a classificação da edificação em análise e descritas relativa às edificações industriais em Portugal, citamos algumas caracterizações realizadas pelos autores. José Amado Mendes,43 numa das suas análises ao património industrial cita, “Independentemente da solução adoptada, as novas lógicas de intervenção, em consequência do aproveitamento de antigas estruturas ligadas à actividade económica, constituem testemunhos importantes do papel decisivo desempenhado por determinadas actividades, nas respectivas zonas ou localidades.”

O IGESPAR, classifica e descreve os edifícios Industriais da seguinte forma “são os testemunhos mais próximos das comunidades, impondo-se pela utilização de algumas linguagens próprias, difundidas através de diversas soluções construtivas, caso do telhado em shed ou da utilização de diversos materiais de construção, tal como o ferro, o tijolo vermelho e mais tarde o betão.” De acordo com o historiador José Amado Mendes finaliza “Finalmente, no que respeita ao valor de uso, há que ter em vista as necessidades da comunidade e, simultaneamente, procurar que ela adira e colabore nos projectos de preservação e requalificação a desenvolver. O património, visto a esta luz, constitui um capital que é preciso incorporar nas necessidades da vida moderna (…) Assim, as instalações de uma antiga fábrica podem transformar-se em estabelecimento de ensino, museu, galeria de arte ou recinto gimnodesportivo, como podem, igualmente dar origem a um teatro, a uma biblioteca ou

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MENDES, José Amado - Doutorado em História Moderna e Contemporânea, pela Universidade de Coimbra, e mestre em Ciências da Educação, pela Universidade de Austin (EUA), Tem-se dedicado à investigação de diversas temáticas, com destaque para as seguintes: história económica e social, industrialização, história empresarial, ética e cultura de empresa, liderança e cultura organizacional, museologia e património cultural, sobre as quais publicou várias obras. Autor de vários estudos da Arquitectura Industrial. Exemplos como “Uma Nova Perspectiva sobre o Património Cultural: Preservação e Requalificação de Instalações Industriais” e O Património Industrial na Museologia Contemporânea: o caso Português

arquivo, para não falar num estabelecimento comercial, um café ou um restaurante. Em muitos casos, devido às suas dimensões, poderão ser adaptadas a diversas funções.”

Ilustração 46| Imagem entrada principal do Pavilhão Industrial Fábrica Tabaqueira, até ao pátio interior, imagens próprias tiradas no local

ANÁLISE DA EDIFICAÇÃO INDUSTRIAL

Maria Helena Barreiros em artigo publicado em 1992 no Diário de Notícias, referencia este troço da fachada da Tabaqueira. Cita “Lembra singularmente as fachadas das Igrejas da Contra-Reforma: O remate triangular, os seis colunelos coríntios adossados, dois dos quais de cada lado do portal, os outros a fazer a marcação dos cunhais. Aletas-volutas em ferro fundido aplicadas nos triângulos rebaixados do frontão”.

António Santos, destaca também no seu estudo, a importância deste pavilhão, que incluímos as citações

“Concebida com uma nave, amplo espaço polivalente de 450m², o edifício congregava a atenção no seu alçado principal, constituído por um imponente corpo central, que interiormente, atingia os 8,5 metros de pé direito, e, exteriormente, se abria num grande portal encimado por uma bandeira em volta perfeita, guarnecida de um belo motivo ornamental em ferro fundido, inscrito na empena, na qual se enquadravam também desenhos no mesmo material, em forma de arabescos.”44

“Esguias colunas, de ordem coríntica, suportavam a empena, estando todo o conjunto assente em chapa de ferro, que se prolongava, lateralmente, em corpos menores, nos quais se rasgavam dois vãos envidraçados, de cada lado. A estrutura afirmava-se em prumos de ferro

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laminado, sendo a ventilação facilitada pelas persianas de madeira do corpo central, enquanto que a iluminação ganhava maior intensidade através de painéis de vidro que cobriam a totalidade dos alçados laterais, assim como pelo lanternim da cobertura. Projectado pelos engenheiros da empresa, este pavilhão impunha-se pela sua reconhecida massa volumétrica, sem se tornar tão pesado quanto faria supor a utilização da chapa metálica, dada a generosa abertura do vão central (com 4 metros de altura) e o equilibrado desenho de pormenores.” 45

“Reproduzindo um modelo morfológico que seria glosado e desenvolvido, exaustivamente, pela arquitectura industrial, numa ambivalência funcional que proporcionava uma leitura de duplo sentido, das suas virtualidades como local de produção/exposição, o edifício da “Empresa Industrial” foi bem conseguido em termos estéticos, assumindo-se como verdadeiro “manifesto” da firma e da potencial aplicação do ferro à arquitectura.”

“A Fábrica de Braço de Prata. Esta magnífica fachada da "arquitectura do ferro", é um dos melhores exemplos que há em Portugal, além da história que representa este edifício - é igualmente uma joia de arquitectura e um espaço sem igual em Lisboa.”, citando de novo António Santos.

De acordo com os testemunhos aqui referenciados, estamos portanto perante uma avaliação patrimonial de enorme riqueza. O edifício Tabaqueira é actualmente um objecto da arquitectura do ferro fundido, de raro valor e único em Portugal.

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ORIENTAÇÃO ESPACIAL EDIFICAÇÃO INDUSTRIAL

Ilustração 47| Imagem aérea Fábrica. Fonte Google Maps

 O Rectângulo dentro do rectângulo. Planta centralizada que permitiu a existência de um pátio interior

Ilustração 48| Imagem fachada do pavilhão virado para o pátio Ilustração 49| Fachada principal do frontal do pavilhão

 Duas fachadas em placas de chapa e ferro fundido, uma virada para a via pública e outra virada para o pátio interior.

 A entrada da fábrica possuía três planos distintos. O primeiro plano assinalava a entrada propriamente dita, com o seu portão de ferro encimado por uma bandeira de vidro. Acima da bandeira, um friso fazia a separação entre a mesma e um arco de volta perfeita que formava uma espécie de óculo envidraçado, protegido por um gradeamento de ferro bastante trabalhado. Por fim, um frontão encimava esta estrutura, revelando o carácter clássico da entrada. Esta criava uma galeria central, pela qual se acedia ao pátio interior.

 À esquerda e à direita do plano da entrada, existiam dois planos idênticos, formando duas naves laterais, correspondentes aos compartimentos interiores do edifício. Estes eram complementados com um envidraçado em toda a sua extensão. Estas naves laterais comunicavam com a nave central através da galeria de acesso ao pátio interior.

 Em frente ao rio, um plano geral da dimensão do edifício: Trata-se de um edifício de dois pisos, com a particularidade de, nos lados poente, norte e nascente, o plano do segundo piso, estar recuado na frente para a rua, relativamente ao primeiro.

 Os vãos são regulares, definidos pelos paramentos metálicos.

 As janelas apresentam uma malha reticulada, com caixilhos de madeira.  A cobertura é feita em fibrocimento.

 Edifício ritmado nas naves laterais, com lógicas construtivas muito igualadas entre naves.

Ilustração 50| Plano à direita da entrada principal da Fábrica Industrial da Tabaqueira Ilustração 50| Plano esquerdo da entrada principal da Fábrica Industrial da Tabaqueira

LOCALIZAÇÃO

Antiga Fábrica Braço de Prata – Tabaqueira - em Marvila

Edificio constituído por 2 pisos