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Análise da estrutura da aula dos professores

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3.2. ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS COM A OBSERVAÇÃO DAS AULAS

3.2.1. Análise da estrutura da aula dos professores

Como dito antes, a primeira aula de ambos os professores foi escolhida dentre as demais para serem analisadas. Isso se justifica pelo conceito abordado nela e pela maior interação entre os indivíduos participantes do processo educativo. Inicialmente buscamos identificar os elementos estruturantes da atividade e as estratégias didáticas utilizadas pelos professores. Com base no que foi obtido com o roteiro de observação (NININ, 2009) foi possível identificar os elementos estruturantes da atividade (aula): motivo, objeto, objetivos, ações e produto. Estes estão presentes no Quadro 15.

Quadro 15: Elementos estruturantes da atividade (1ª aula) ELEMENTOS ESTRUTURANTES DA

ATIVIDADE

P1 P2

1. Motivo/Interesse (Como o professor

motiva os alunos para a realização da atividade? Quais os motivos da atividade?).

Utiliza exemplos para motivar os alunos, buscando mostrar que o conceito está presente no cotidiano. Menciona o ENEM para motivar os alunos aos estudos.

Usa dois exemplos de reação química para que os alunos escrevam a equação química. Em outra situação chama os alunos ao quadro.

2. Objeto/Conteúdo objetal (O objeto da

atividade é apresentado aos alunos? Quais são?).

Reações Reversíveis; Equilíbrio químico; Diferentes expressões para a constante de equilíbrio (K); Lei de velocidade das reações.

Reações reversíveis; Equilíbrio químico (homogêneo e heterogêneo); Constante de Equilíbrio (incluindo cálculos); Lei de velocidade das reações.

3. Objetivos (Os objetivos são apresentados

aos alunos? Quais são eles?).

Em nenhum momento os objetivos da aula são colocados. Ensinar o conteúdo aos alunos aparece como objetivo na fala de P1.

Em nenhum momento os objetivos da aula são colocados aos alunos.

4. Ações/Operações (Que ações são

realizadas pelos alunos?).

Os alunos atuaram como ouvintes e com participação esporádica. Em algumas discussões iniciadas pelo professor.

Participação como ouvintes e com discussão esporádica. Resolução de questões no quadro (para alguns alunos).

5. Produtos/Resultados esperados (Os

resultados previstos pelo professor são alcançados? Quais foram eles?).

Considerando que o objetivo do P1 era ensinar o conteúdo, pode-se dizer que o resultado esperado foi alcançado. Não se pode dizer o mesmo sobre a aprendizagem dos alunos.

Considerando que aparentemente o objetivo do P2 era ensinar o conteúdo, pode-se dizer que o resultado esperado foi alcançado. Não se pode dizer o mesmo sobre a aprendizagem dos alunos.

Fonte: elaborada pela autora.

De acordo com o quadro 15, a estrutura da aula (atividade) desenvolvida pelos professores apresentaram elementos em comum. Com relação ao primeiro elemento, pode-se perceber que P1 utiliza exemplos do cotidiano como elemento de motivação para os alunos, confirmando o que ele descreveu na entrevista. Além de utilizar a prova do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) para motivá-los. Diferentemente, P2 se utiliza da linguagem simbólica, equacionando as reações químicas, e busca motivá-los por meio da participação durante a aula.

É importante lembrar que a atividade está necessariamente relacionada ao conceito de motivo, sem este ela não se realiza satisfatoriamente (LEONTIEV, 1978). O motivo da atividade está atrelado à satisfação de uma ou várias necessidades. Estas estimulam a atividade e a orientam, visto que o sujeito tem consciência delas (NÚÑEZ, 2009). Considerando a resposta dada por P1, que busca motivar os alunos a participar da aula a partir do desafio da prova do ENEM, nesse caso, a necessidade identificada é a de que eles apresentem um bom desempenho nesse tipo de prova. Portanto, deverão participar mais ativamente da respectiva aula. Logo, esse seria o motivo para participar da atividade desenvolvida pelo professor. Do mesmo modo que essa necessidade pode ser para alguns alunos uma premissa, ela se adequa a uma necessidade condicionada pela sociedade

atualmente. Possivelmente, os alunos podem identificar isso como o real motivo para participarem mais ativamente da aula.

Para o processo de ensino-aprendizagem, no qual o professor é o sujeito responsável por elaborar ou identificar o tipo de abordagem a ser desenvolvido numa aula, fazer com que os alunos compreendam os motivos da atividade (a própria aula) ou realizem determinada atividade específica (nesse caso, a tarefa de aprendizagem) é imprescindível, pois existe a possibilidade de a atividade não ser realizada ou ainda que esta aconteça sem que os motivos sejam reconhecidos pelos alunos. Isso não é tarefa fácil, já que muitas vezes os alunos não identificam as necessidades colocadas pelo professor como suas, portanto, não se sentem motivados a participar.

Dessa forma, o professor deve buscar alternativas para sanar tal situação. Uma possibilidade seria utilizar uma abordagem contextualizada para o ensino dos conceitos científicos, tendo o cuidado de não realizar uma simples exemplificação dos aspectos cotidianos dos alunos, para que os alunos não tenham uma ideia superficial da aplicação desses, mas possam entender as relações que existem entre o conhecimento e o seu cotidiano. Com isso, os motivos para o engajamento dos alunos nas atividades de estudo na escola, extrapolaria a perspectiva das avaliações institucionais e estariam também conectados com uma formação para a vida.

Com relação a P2, ao exemplificar as situações de equilíbrio químico com as equações químicas, este solicita que os alunos o acompanhem na explicação do conceito e, em outros momentos da aula, solicita que os mesmos resolvam as questões no quadro. Esta é maneira como ele busca motivar os alunos para a atividade didática. Pressupõe-se que o professor considera que o próprio conteúdo seria o motivo maior para a participação dos alunos nas aulas.

O segundo elemento da estrutura analisado é o objeto ou conteúdo objetal. Este se constitui na matéria-prima para que o sujeito da atividade possa obter um produto determinado (NÚÑEZ, 2009). Uma característica da atividade é seu caráter objetal, não podendo existir atividade sem objeto. Este é o que distingue uma atividade de outra. No contexto escolar, refere-se aos conteúdos que serão trabalhados com os alunos. Neste caso, para a primeira aula foram abordados diversos conteúdos associados ao conceito de equilíbrio químico, como por exemplo, a lei de velocidade das reações, que apareceu nas aulas dos dois professores. Diferentemente do que foi apresentado no plano de ensino de P1, no qual foram propostos somente dois conteúdos (a constante de equilíbrio e o deslocamento de equilíbrio),

durante essa aula foram abordados outros como, as reações reversíveis e as diferentes expressões para a constante. Para P2, os conteúdos são praticamente os mesmos.

Com relação ao terceiro elemento podemos dizer que os objetivos dentro da estrutura da atividade apresentam uma relação com os motivos. “O objetivo é a representação imaginária dos resultados possíveis a serem alcançados com a realização de uma ação concreta” (NÚÑEZ, 2009, p. 81). Estabelecer os objetivos para o processo educativo seja os de ensino ou de aprendizagem, aparece já no planejamento do professor como parte principal do seu trabalho.

Com respeito aos objetivos que o professor P1 descreveu no seu planejamento de aula (Quadro 11, página 74) - mostrar que existem reações reversíveis, justificar o que seria o equilíbrio e discutir a constante de equilíbrio, entre outros - estes se caracterizam como os objetivos de ensino. Os objetivos de aprendizagem só aparecem no plano de ensino de P1 (2º elemento analisado do Quadro 12, página 76). O que foi observado é que em nenhum momento, das aulas dos dois professores foram explicitados aos alunos os objetivos da aula, especificamente os objetivos de aprendizagem. Em algumas situações ao longo da aula, na fala de P1 foi apresentado o seu objetivo de ensinar o conteúdo. Contudo, podemos afirmar que para os dois professores esse foi um objetivo em comum, correspondendo aos objetivos apresentados durante a entrevista.

O quarto elemento analisado na estrutura da aula foram as ações. Estas se correlacionam com os objetivos da atividade (NÚÑEZ, 2009). São, portanto, importantes para o desenvolvimento da atividade. É importante salientar que a necessidade tem relação estreita com a motivação, que move o sujeito para a realização das ações. Nesse caso, no momento das aulas, poucas ações foram realizadas pelos alunos. Na aula de P1 foi observado que os alunos atuaram mais como ouvintes diante do que era exposto pelo professor. Em alguns momentos, ao longo da aula, ocorreram breves momentos de discussão a respeito do tema. Como por exemplo, no episódio 1.3 (página 99) nos turnos de fala de 5 a 13. Neste episódio o professor está usando gráficos para explicar o conceito de equilíbrio químico e há uma participação dos alunos no diálogo. A iniciação dos diálogos ocorridos era realizada pelo professor, geralmente nos momentos em que este fazia os questionamentos sobre o conteúdo aos alunos. Dessa forma, não foram identificadas ações realizadas pelos alunos durante a aula de P1.

Na aula de P2 foi observado que os alunos participaram como ouvintes e algumas discussões esporádicas aconteceram ao longo da aula. Como por exemplo, no episódio 2.1 (página 103) nos turnos de fala de 19 a 28, no qual o professor estava definindo o conceito de

equilíbrio químico. O professor realizou, em determinado momento da aula, a resolução de questões de uma ficha preparada anteriormente por ele. Nessa situação, P2 convidou os alunos a responderem as questões no quadro, porém, apenas dois alunos se disponibilizaram em executar essa ação no quadro. Somente alguns alunos realizaram essa ação para a aprendizagem em seus cadernos. Sendo assim, as ações desenvolvidas pelos alunos (por alguns) dizem respeito a este momento da aula, resolução de questões propostas por P2.

O quinto elemento analisado foi o produto da atividade. Este é basicamente o resultado obtido a partir das transformações ocorridas com o objeto por meio das ações (NÚÑEZ, 2009). Considerando os objetivos pretendidos pelos professores, pode-se dizer que o produto ao final da atividade foi alcançado, ensinar o conteúdo. Não podemos afirmar isso com relação à aprendizagem dos alunos, pois não foram explicitados objetivos de aprendizagem ao longo da observação das aulas dos dois professores. Posteriormente, esse aspecto será discutido a partir das respostas dos alunos ao questionário.

Como podemos observar os elementos estruturantes analisados na aula dos dois professores foi bem similar. Considerando a particularidade do conceito abordado, não foram desenvolvidas situações de aprendizagem significativas que favorecessem a aprendizagem dos alunos, em nenhuma das duas aulas. Nenhuma atividade experimental ou de simulação da situação de equilíbrio foi realizada para motivar os alunos quanto à aprendizagem desse conceito tão importante para a compreensão de diferentes fenômenos que acontecem no nosso cotidiano.

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