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3.1.7 Análise da função (funções práticas)

3.1.7.1 Análise da tarefa

Segundo Sperandio (1988) a análise da tarefa serve para ajudar na análise das coletas de informações, que se fundamentam em técnicas específicas, para então se obter diagnósticos e tomar decisões de projeto. Para a realização desta análise foram feitas leituras de estudos ergonômicos voltados para o uso mochilas. De acordo com a fisioterapeuta especialista em coluna vertebral Rosana Vaz (2015), bolsas e mochilas com excesso de peso levam o corpo a se movimentar de forma compensatória levando à lesões e tensões musculares. Inclusive a adoção de posturas equivocadas durante o

65 uso de bolsas e mochilas pode levar a uma aceleração no processo de desgaste sofrido pelo sistema locomotor.

Assim, procura-se compreender o modo como cada indivíduo transporta e carrega a carga, sendo que este modo pode ser determinado pelo peso, tamanho, período de tempo, terreno e constituição física. Frequentemente o peso da carga é desproporcional ao peso do corpo, sendo que o limite de peso da carga adequado de transporte seria 10% à 12% do peso de seu usuário. (SACCO et al, 2003)

Figura 52 - Relação do uso correto e errado da mochila

Fonte: Coelho, 2015.

Figura 53 - Relação do uso correto e errado da mochila

66 Na relação acima, pode-se notar que certas considerações e ajustes são fundamentais no uso. Sacco et al (2003) realizou quatro estudos de caso em diferentes situações, os quais foram registrados de forma fotográfica para análise. No estudo 3, foram registradas as posturas de um indivíduo de 178 cm de altura e 68kg. As compilações foram feitas através fotos do plano frontal, superior e posterior. Ocorreram dois momentos de registros um sem o uso de uma mochila e outro com o uso de uma mochila de 8,16 kg (com dimensões de 41 cm de comprimento e 31 cm de largura, com peso equivalente a 12% do peso do usuário) apoiada unilateralmente no ombro esquerdo.

Sacco et al (2003) chegam a conclusão que a primeira alteração postural do usuário percebida foi uma “[...] significante depressão do ombro esquerdo e uma consequente elevação do ombro contralateral” (SACCO et al, 2003, p. 30). Os autores apontam que a sobrecarga da mochila como motivo da depressão do ombro esquerdo, leva ao alongamento abrupto dos músculos como elevador da escápula, fibras superiores do músculo trapézio e músculos rombóides e realização de um trabalho excêntrico durante a depressão e trabalho isométrico para estabilizar o ombro. Nota-se que com a sobrecarga e depressão do ombro uma escoliose torácica em C com convexidade para a direita promove o tensionamento dos músculos na tentativa de manter o alinhamento, bem como o deslocamento do centro de gravidade para o lado contralateral ao da mochila.

Saita et al (2015) analisa ergonomicamente o uso de três modelos distintos de mochilas: mochila picuá, mochila de uma alça, mochila de duas alças. Essa análise levou em consideração a quantidade de horas de uso que variam de 30 minutos a 120 minutos. Trabalhou-se com uma carga de 10% a 11% do peso de seu usuário. A seguir pode-se observar os modelos, resultados obtidos e áreas afetadas.

67 Figura 54 - Modelo de mochila Picuá

Fonte: Adaptado Saita et al, 2015, p. 09.

Figura 55 - Modelo de mochila de uma alça

68 Figura 56 – Modelo de mochila de duas alças

Fonte: Adaptado Saita et al, 2015, p. 11.

Procura-se compreender o modo como o usuário acessa os bolsos e aberturas da mochila quando precisa alcançar algum objeto

Figura 57 - Forma de uso para acesso aos bolsos e aberturas da mochila

69 Figura 58 - Forma de organização interna da mochila.

Fonte: Mochithings, 2017.

Quando o usuário se movimenta para acessar os bolsos e/ou aberturas, se percebe que primeiro o usuário desloca a alça apoiada no ombro esquerdo e rotaciona a mochila trazendo-a para a lateral direita do tronco. Assim utiliza o braço e a mão direita para apoiar e segurar a mochila na posição da imagem acima, e com a mão esquerda abre os zíperes e acessa os bolsos e/ou aberturas. Na figura 59 se pode observar que os modelos de mochilas da Koa seguem o que indica a literatura de que os objetos de maior peso devem ser armazenados próximos às costas do usuário para facilitar o transporte.

Figura 59 - Forma de organização interna das mochilas da Koa

70 Observa-se que nestes modelos tradicionais de mochilas da Koa o bolso externo frontal e lateral são posicionados horizontalmente, então quando o usuário for acessar os bolsos terá que fazer o deslocamento e rotação lateral da mochila, como analisado anteriormente. Percebe-se nesse modelo uma divisória interna para acomodar cargas maiores como notebooks, cadernos ou livros. Além disso, a usuária está transportando corretamente a mochila quando regula as alças próximas a lombar e as apoia bilateralmente nos ombros permitindo um equilíbrio postural.

A forma de uso do usuário interfere diretamente na experiência do uso, por isto que é importante levar em consideração a forma como o usuário irá utilizar o produto, como também pode-se perceber que todos os modelos analisados por Saita et al (2015) têm suas falhas e possíveis melhoramentos.

Com base nesses dados, conclui-se que no geral todos os modelos de mochilas possuem algum problema ou deficiência ergonômica, inclusive os maus hábitos dos usuários no momento de uso podem vir a ser um fator agravante para fadigas musculares quando associados a sobrecarga. Para esse caso uma alternativa de solução seria a conscientização dos usuários através de manuais de uso, ou divulgações da forma de uso em publicações no Facebook e/ou Instagram da empresa, ou adaptações do produto para evitar o mau uso. Propõe-se evitar utilizar alças de corda ou de largura similar ao modelo de picuá para prevenir dores, inclusive recorrer a materiais rijos ou elementos de suporte na composição estrutural de contato com a coluna vertebral.

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