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Como resultado desse trabalho sobre ONGs ambientalistas foi

realizada pesquisa, pela Internet, para complementação das informações, pois essas

organizações não responderam os questionários enviados por meio eletrônico, nem

mesmo quando foram feitos contatos por telefone, com exceção de uma única

organização, o que corresponde a 2,17% no universo de 46 ONGs. Vale ressaltar,

que esta organização respondeu todas as questões do questionário, inclusive as que

se referiam aos dados financeiros, porém solicitou que seu nome não fosse

divulgado. Foi constatado que algumas informações, como gestão da organização,

recursos financeiros e humanos não estão disponíveis na maioria dos sites das

organizações estudadas. As organizações que disponibilizavam relatórios de

atividades e financeiros apresentavam seus dados mais qualitativamente e

indicadores e impactos dos projetos desenvolvidos também não foram encontrados.

A Abong Nacional, localizada em São Paulo, e o seu escritório em

Brasília também foram procurados em junho de 2005, quando foi apresentado o

projeto de pesquisa e proposta uma parceria para levantamento dos dados de

interesse em comum. Como resposta, ela informou que já tinha realizado pesquisa

para a atualização dos dados em 2004, faltando apenas a sua publicação. Nesse

cenário, foi solicitado o acesso aos dados de interesse da pesquisa, porém o acesso

também não foi permitido, pois, segundo eles, ali estavam dados confidenciais.

Diante do exposto, a pesquisa foi realizada nos próprios sites das

organizações não-governamentais ambientalistas, da Abong, do Cnea e outros sites

da web que continham informações sobre as ONGs estudadas. A partir dos dados

Ao considerar o ano de fundação das ONGs, observou-se que ele tem o

reflexo direto do momento histórico e político em que o Brasil se encontrava, bem

como dos acontecimentos mundiais em torno do tema meio ambiente. Assim, em

relação ao ano de fundação, houve um crescimento dessas ONGs na década de

1980, que não reflete, necessariamente, a criação de grupos para atuação em meio

ambiente, mas a formalização desses grupos após o Regime Militar e o

amadurecimento do movimento ambientalista. A partir do final do Governo Militar, a

redemocratização do Estado Brasileiro, a promulgação da Constituição, em 1988, e

a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1992,

permitiram um maior espaço para a atuação das ONGs e para a ampliação da

participação de organizações da sociedade civil nas políticas públicas, o que explica

o aumento de fundação das ONGs ambientalistas nas décadas de 1980 e 1990

(Tabela 1).

Horochovski e Cardoso (2004, p.6), afirmam, quanto à década de 1980:

Durante o regime militar, organizações ligadas a religiões, por não serem visadas, serviam de guarda-chuva para líderes de movimentos sociais considerados subversivos (SCHERER-WARREN, 1996). Em outra frente, exilados políticos atuaram decisivamente, formando importantes contatos com atores dos países em que se encontravam (GRYNZPAN; PANDOLFI, 2003). Foi uma inovação da esquerda brasileira contra a cerrada vigilância a que estavam submetidas, sobretudo partidos e sindicatos (LANDIM, 1993b). As ONGs da década de 1970 eram, então, espaços mais ou menos informais, flexíveis, em que pequenas reuniões eram preferidas às mobilizações de massa. Até meados dos anos 80, elas não nasciam prontas e acabadas e emergiam como espaços de luta em torno de questões do cotidiano, contra o autoritarismo, a carestia e de novos movimentos sociais [...] (SCHERER-WARREN, 1996; 1999).

Quanto à década de 1990:

[...] a sigla ONG passa a fazer parte do cotidiano da sociedade brasileira com a realização, no Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, conhecida como Eco 92 (LANDIM, 1993b). É o período do ápice neoliberal e da pregação por descentralização de atividades e o repasse de atribuições (SALOMON, 1998). As ONGs pleiteiam então recursos públicos e privados para prestar serviços à medida que o Estado as quer como parceiras no suprimento de necessidades.

Ao entrevistar Henrique Brandão Cavalcanti6, presidente da Funatura e

ex-ministro do Meio Ambiente, ele considera que o acesso à educação ambiental, o

maior conhecimento das ciências biológicas, o agravamento da situação ecológica, a

maior cobertura da mídia e a consciência de que os governos sozinhos não são

capazes de administrar o problema ambiental são causas possíveis de um aumento

do número de ONGs ambientalistas naquelas mesmas décadas.

Para Paulo Gustavo7, diretor de Políticas Ambientais da CI-Brasil, as

ONGs sempre tiveram o papel de representar a sociedade. A partir da ECO-92

houve um grande aumento no número de ONGs ambientalistas, exatamente

prevendo que a questão ambiental passaria a ter importância e que seriam

necessários trabalhos nessa área. Ao longo do tempo, nota-se que há uma

diminuição no número de ONGs. A especialização e a maior qualificação propiciam

uma seleção natural fundamentada na competência. Diz Paulo Gustavo, ainda, que

existem nichos para todos os perfis de ONGs e que o perfil de denúncia tem um

limite de operação, pois trabalha com poucas pessoas e depende de assuntos de

emergência para a sua atuação. A partir dessa oportunidade são estabelecidas

ações em educação e conscientização ambiental. As organizações que se

capacitam melhor tecnicamente tendem a evoluir, transcendendo, inclusive, as áreas

de origem e passando desenvolver ações regionais, nacionais e até internacionais.

André Lima8, coordenador de Biodiversidade e Florestas do ISA, sugere

outros fatores, começando pela Constituição de 1988, momento em que

organizações e pessoas se uniram, formando organizações para trabalharem pela

6

Entrevista realizada em 30 de setembro de 2005. Ver ANEXO III – Currículos resumidos dos entrevistados.

7 Entrevista realizada em 3 de outubro de 2005. Ver ANEXO III – Currículos resumidos dos

entrevistados.

8

implementação da Constituição. Em 1992 houve um outro pico, provocado pela

ECO-92, que trouxe atenção para a temática, facilitando o acesso a recursos

financeiros e criando o ambiente favorável ao encontro de pessoas, de organizações

e de financiadores externos. Acrescenta que, no final da década de 1990, foi criada

uma segunda geração de organizações, constituídas por pessoas mais jovens, que

tiveram experiência com as organizações criadas na primeira geração, tendo como

prioridade trabalhos locais. Outro fator importante foi que, na segunda metade da

década de 1990, houve o fortalecimento do Ministério Público, que passou a ser

mais atuante na área ambiental.

Tabela 1 – Ano de fundação das ONGs ambientalistas

Em relação à localização das sedes das ONGs ambientalistas,

foi feito um comparativo da amostragem da dissertação (Tabela 2) com os registros

do Cnea (Tabela 3), tendo como resultado uma maior concentração de ONGs na

região Sudeste em ambas as pesquisas, o que permite inferir:

- nesta região estão as duas maiores capitais do Brasil - São Paulo e Rio de Janeiro,

com PIBs de, respectivamente, R$ 146.855.265.000 e 67.603.614.000 (IBGE, 2003), ocupando o 1° e 2° lugares dos PIBs dos municípios do Brasil, e com a população de 10.927.985 e 6.094.183, respectivamente (IBGE, 2005);

Ano de Fundação N.º de ONGs % 1960-69 1 2,17 1970-79 5 10,87 1980-89 20 43,48 1990-99 19 41,30 2000-05 1 2,17 Total 46 100,00

- há uma grande concentração de indústrias que demandam ações ambientalmente

adequadas e socialmente justas, estando aí a oportunidade para as ONGs

localizadas nesta região exercerem o papel de combatentes, denunciando os

impactos que as indústrias podem causar ao meio socioambiental, ou

desenvolverem projetos específicos e, até mesmo, de parceria com o objetivo de

minimizar os impactos da atuação dessas indústrias;

- a existência de grandes bolsões de pobreza no Sudeste, locais com carências

básicas e alto índice de violência urbana, ambiente também propício para a

atuação das ONGs;

- maior facilidade de acesso a recursos (financeiros e não financeiros) pelas ONGs,

seja em agências de cooperação, empresas privadas ou governos estaduais e

municipais;

- maior facilidade no acesso a estudos científicos de interesse das organizações

não-governamentais, pela produção acadêmica de instituições de pesquisa da

região;

- influência política e econômica, principalmente de São Paulo; e

- maior facilidade de deslocamento, pela sua própria localização geográfica que fica

próxima de todas as outras regiões.

Quanto à região Nordeste, esta também mostrou um alto índice de

sedes em ambas as pesquisas. Uma das causas prováveis é que essa região é de

grande desigualdade social e carências básicas acentuadas, que demandam a

presença de organizações não-governamentais e desenvolvimento de projetos que

minimizem os problemas socioambientais existentes. Outra razão pode ser a

localização do pólo industrial no Estado da Bahia, já que foi um dos 2 Estados do

Ceará. Geralmente, nos pólos industriais há uma demanda por projetos de

desenvolvimento sustentável para minimizar os impactos socioambientais causados

pela produção industrial ao meio ambiente e à população que se instala vizinha à

fábrica ou ao pólo.

A região Sul não obteve resultados tão expressivos como as regiões

Sudeste e Nordeste na amostragem desta pesquisa, apesar do Estado do Rio

Grande do Sul ter sido o berço do movimento ambientalista na década de 1970,

sendo o processo histórico relevante para o surgimento e organização das ONGs no

Brasil. Esse resultado sugere que, se o número de amostras fosse maior, seria

possível alcançar um resultado um pouco mais alto para a região em questão, pois

quando são analisados os dados do Cnea, cujo número de entidades ambientalistas

é bem maior (518 organizações), o Sul tem um resultado mais expressivo, porém

continua inferior aos das regiões Sudeste e Nordeste (Tabela 3).

Quanto ao Distrito Federal, apesar de ser o centro político do Brasil e

muitas sedes de agências de cooperação e o próprio Governo Federal estarem

instalados no DF, apenas 3 ONGs pesquisadas têm a sua sede no Distrito,

equivalendo a aproximadamente 7%. Esse dado não significa que as ONGs não

estejam presentes no DF, mas que algumas delas optaram por somente possuir

filiais em Brasília.

Já a região Norte, em ambas as pesquisas, continua com a menor

porcentagem de localização de ONGs ambientalistas. Infere-se que essa região,

apesar dos conflitos socioambientais evidentes, fica distante dos centros políticos e

econômicos do Brasil, o que causaria um possível isolamento às organizações.

Desse estudo, depreende-se que uma das possíveis estratégias utilizadas pelas

filiais na região Norte (Tabelas 2 e 4), pois, das 15 ONGs com atuação na região

Norte, 11 têm suas sedes em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito

Federal.

Henrique Brandão Cavalcanti considera que uma das possíveis causas

de haver um maior número de ONGs ambientalistas no Nordeste e Sudeste é a

maior percepção, pela sociedade, destas duas regiões, quanto à importância dos

fatores ambientais para a saúde humana e a preservação das espécies e

ecossistemas. Acrescenta que o Nordeste tem uma tradição histórica quanto à luta

por melhores condições de vida, de enfrentamento de condições climáticas

desfavoráveis, dando espaço a atuações de ONGs com desenvolvimento de projetos

socioambientais. Já no Sudeste, o fato de ter uma população em grandes bolsões

de pobreza e carências, contrastando com um maior desenvolvimento econômico,

pode ser um facilitador para a atuação de ONGs, inclusive em parceria com a

indústria aí localizada.

Eduardo de Souza Martins9, sócio-diretor da E-labore e ex-presidente

do Ibama, acrescenta que, provavelmente, no Nordeste deve predominar uma

quantidade muito grande de pequenas ONGs, que nascem muito em função dos

critérios de acesso a recursos, ou seja, como frutos das condicionantes de aplicação

de recursos do governo, das fundações, dos fundos, das cooperações internacionais

e das kings10 ONGs. O Sudeste se destaca, provavelmente, pelo processo histórico,

econômico e intelectual.

9 Entrevista realizada em 12 de setembro de 2005. Ver ANEXO III – Currículos resumidos dos

entrevistados.

10

Tabela 2 - Localização das sedes das ONGs ambientalistas por Região

Região Estado Total ONGs

por Estado % Total ONGs por Região % AC 1 2,17 Norte PA 1 2,17 2 4,35 DF 3 6,52 GO 2 4,35 Centro-Oeste MT 1 2,17 6 13,04 BA 4 8,70 CE 3 6,52 PB 1 2,17 PE 6 13,04 PI 1 2,17 RN 1 2,17 Nordeste SE 1 2,17 17 36,96 MG 1 2,17 RJ 8 17,39 Sudeste SP 8 17,39 17 36,96 PR 1 2,17 RS 2 4,35 Sul SC 1 2,17 4 8,70 Total 18 46 100,00 46 100,00

Tabela 3 - Localização das sedes das entidades ambientalistas do Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas (Cnea)

Região Total de ONGs por Região % Norte 35 6,76 Centro-Oeste 60 11,58 Nordeste 109 21,04 Sudeste 210 40,54 Sul 104 20,08 Total 518 100,00

Tabela 4 – Região de atuação das ONGs ambientalistas Região de atuação Número de vezes que apareceu % Norte 15 17,65 Centro-Oeste 11 12,94 Nordeste 29 34,12 Sudeste 19 22,35 Sul 11 12,94 Dado não encontrado 2 2,35 Total 87 100,00

(*) Respostas múltiplas = 1 ONG pode atuar em 1 ou mais regiões

Em discussão desses dados com Celso Schenkel11, coordenador de

Ciências e Meio Ambiente da Unesco no Brasil, foi constatado que ele considera que

a causa para a maior atuação de ONGs no Sudeste se deve à escala da economia e

à densidade populacional, ou seja, região mais desenvolvida e de maior população,

pois São Paulo e Rio de Janeiro são as duas maiores cidades do país.

Complementa que o Rio de Janeiro é um centro formador de opinião e São Paulo

tem grande mobilização em torno da Mata Atlântica, sendo favorecida pela

existência de organismos científicos e academia, que produzem muito

conhecimento. Acrescenta que, no Nordeste, também, há uma competência

instalada em Recife e Salvador, pois em Pernambuco o movimento ambientalista é

atuante e na Bahia se tem uma ação governamental forte, representada pelo Centro

de Recursos Ambientais (CRA), que, além de executor da política ambiental, é um

produtor de conhecimento.

11

Para Paulo Gustavo, a maior concentração das sedes e atuação de

ONGs no Sudeste e Nordeste deve-se ao fato de que é no bioma da Mata Atlântica

que há a maior concentração populacional brasileira (80% da população mora nesse

bioma) e, conseqüentemente, é ali onde estão os maiores problemas de impactos,

pois se encontra, praticamente, destruído.

Em relação ao âmbito de atuação das ONGs ambientalistas, ou seja,

se elas desenvolvem ações/ projetos em nível municipal, estadual, regional, nacional

ou internacional, infere-se que as que atuam apenas em municípios são,

provavelmente, pequenas ONGs fundadas para atender uma demanda específica

daquele local, daquela comunidade. Em contraposição estão as ONGs que atuam

em nível internacional e nacional, que precisam de uma maior estrutura,

profissionalização de seu quadro e desenvolvimento de projetos de grande porte,

geralmente ultrapassando os limites político-geográficos, mas atuando em biomas

específicos (Tabela 5).

Tabela 5 – Âmbito de atuação das ONGs ambientalistas

Quanto ao número de funcionários e voluntários, aproximadamente

89% das ONGs ambientalistas têm funcionários, enquanto 41% têm voluntários.

Entretanto, fazendo uma comparação da média de funcionários com a de

Âmbito de atuação N.º ONGs %

Municipal 5 10,87 Internacional 5 10,87 Regional 6 13,04 Nacional 12 26,09 Estadual 18 39,13 Total 46 100,00

voluntários, são encontrados 19 funcionários e 16 voluntários para cada ONG.

Observa-se que o número de voluntários é quase o mesmo de funcionários - isso

infere que o custo fixo para ONGs é de relevante consideração, pois o seu fluxo de

caixa depende de fatores externos na maior parte do tempo, ou seja, de instituições

financiadoras, o que gera uma grande flutuação na entrada de recursos financeiros.

Outro fator relevante é a própria concepção das ONGs, que trabalham com questões

que afligem a sociedade e esta se mostra presente como voluntária na

operacionalização de suas ações (Tabelas 6 e 7).

Cláudio Maretti12, coordenador da WWF, traz a informação que a

formação de ONGs especializadas, muitas vezes, se dá como opção de mercado de

trabalho e que, além de estarem condicionadas pela escolha pessoal, também o

estão pelos movimentos cultural e político. Já as ONGs baseadas em voluntariado,

muitas oriundas do movimento social, realizam um trabalho maior de mobilização e

costumam ser mais críticas e ativistas.

12

Tabela 6 – Número de funcionários nas ONGs ambientalistas N.º de ONGs % Número de funcionários Sem funcionário 1 2,17 0 De 1 a 10 funcionários 20 43,48 De 11 a 20 8 17,39 De 21 a 30 5 10,87 De 31 a 40 4 8,70 De 41 a 50 2 4,35 De 51 a 100 1 2,17 Mais de 100 1 2,17 787

Dado não encontrado 4 8,70 --

Total 46 100,00 787

Tabela 7 – Número de voluntários nas ONGs ambientalistas

N.º de ONGs % Número de voluntários Sem voluntário 20 43,48 0 de 1 a 10 15 32,61 de 11 a 20 2 4,35 de 21 a 30 1 2,17 de 31 a 40 0 0,00 de 41 a 50 0 0,00 de 51 a 100 0 0,00 Mais de 100 1 2,17 638

Dado não encontrado 7 15,22 --

Total 46 100,00 638

A participação em conselhos, redes e fóruns é freqüente entre as

ONGs ambientalistas, pois 40 ONGs (87%) responderam que participam e 6 ONGs

(13%) não responderam a questão - ressalta-se que nenhuma delas respondeu que

a representação pública são importantes e priorizados pelas organizações não-

governamentais ambientalistas. São nos conselhos municipais, estaduais e federais

que elas têm oportunidade de influenciar as políticas públicas. As redes e fóruns são

locais de debates e trocas de idéias, que fortalecem o entendimento e análise das

questões socioambientais e políticas, entre outras, além de se fortalecerem como

grupo com o trabalho em rede, pois pode ser comum o obstáculo a ser ultrapassado

por elas.

Cristina Montenegro13, diretora regional adjunta do Pnuma, considera

que há grande participação de ONGs nos diversos fóruns e conselhos com temas

ambientais, inclusive em fóruns internacionais, o que lhes possibilita exercerem

maior pressão nas ações a serem desenvolvidas. Ressalta que o Brasil tem uma

capacidade instalada para gestão ambiental, pois existem instituições

governamentais fortes, como o Ministério do Meio Ambiente, Ibama e secretarias

dos estados e municípios, legislação ambiental avançada e profissionais

capacitados.

Juliana Santilli14, promotora de justiça do Ministério Público, enfatiza

que um dos princípios da gestão ambiental é a participação da sociedade civil e esta

precisa estar devidamente organizada e capacitada para:

- elaborar e monitorar as políticas públicas, exercendo o controle social dessas

políticas;

- desenvolver projetos pilotos, para que muitos deles se tornem referências para o

poder público na definição de políticas públicas;

- a capacitação, conscientização e educação ambiental;

13 Entrevista realizada em 16 de outubro de 2005. Ver ANEXO III – Currículos resumidos dos

entrevistados.

14

- a articulação e mobilização junto ao Congresso Nacional para fazer avançar a

legislação ambiental;

- e a propositura de ações judiciais voltadas para a defesa do meio ambiente.

Reconhece a promotora que o trabalho das ONGs ambientalistas ainda

não é reconhecido pela sociedade, fruto de muitos anos de ditadura e

democratização recente, o que causa, muitas vezes, uma visão paternalista do

Estado, como se este fosse o único responsável pela gestão de bens públicos.

Tabela 8 – ONGs ambientalistas que participam de conselhos, redes e fóruns

ONGs %

Sim 40 86,96

Dado não encontrado 6 13,04

Total 46 100,00

Em relação ao orçamento das ONGs ambientalistas, há um maior

número delas com faixas orçamentárias entre R$100.000,00 e R$300.000,00, e

entre R$300.000,00 e R$600.000,00, o que corresponde a 9 ONGs em cada uma

dessas faixas - aproximadamente 20% para cada. Se as 4 faixas orçamentárias mais

representativas forem consideradas, são 29 ONGs, o que corresponde a 63%. Nas

faixas menos representativas (até 2 ONGs por faixa) encontram-se apenas 20%

Tabela 9 – Faixa orçamentária das ONGs ambientalistas

Ressalte-se que os dados orçamentários não são encontrados nos

sites das ONGs e que a maioria dos que foram utilizados aqui, excetuando-se o da

ONG que respondeu o questionário, são oriundos da Abong, referentes a 2001, e,

portanto, podem não refletir a realidade atual.

Pelos discursos das ONGs, estas se pautam, justamente, pela defesa

da transparência e da não continuidade dos processos obscuros, que podem ser

encontrados em outros tipos de organizações. As organizações não-

governamentais, apesar de serem privadas, trabalham com interesses públicos e se

os interesses são públicos, a sociedade deve ser informada, inclusive com a

possibilidade de avaliação dos resultados. Se não há transparência na prestação de

contas, nos resultados alcançados e como e a que custo foram alcançados, como

poderá ser medida a real contribuição para a sociedade?

As ONGs não têm que se comparar com empresas privadas com fins

lucrativos ou instituições governamentais, elas devem ser o que defendem – o ponto

de mudança do que se vê hoje. Considera-se que essa é uma mudança de

Faixa orçamentária (R$) ONGs %

até 50.000,00 2 4,35 > 50.000,00 a 100.000,00 2 4,35 >100.000,00 a 300.000,00 9 19,57 > 300.000,00 a 600.000,00 9 19,57 > 600.000,00 a 1.000.000,00 6 13,04 > 1.000.000,00 a 3.000.000,00 5 10,87 > 3.000.000,00 a 5.000.000,00 2 4,35 > 5.000.000,00 a 8.000.000,00 1 2,17 > 8.000.000,00 2 4,35

Não encontrada resposta 8 17,39

comportamento, de mentalidade, de cultura na condução de uma organização – é

uma questão de transparência. Por que só se divulga o que é obrigatório por lei?

Não é essa a mentalidade predominante? Será que o medo da concorrência é a

explicação? Por que as ONGs ambientalistas, em sua maioria, não apresentam

relatórios conclusivos de atividades e financeiros em seus sites? Já que a Internet é

uma forte ferramenta para uma divulgação universal, por que esses dados não são

disponibilizados para quem tem interesse e os procura diretamente? Será que não

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