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3.5.1 Tratamento Estatístico

A tabulação e a análise estatística dos dados foram realizadas no software estatístico SPSS, versão 13.0. Primeiramente, foi aplicada a estatística descritiva (freqüência, percentual, média, desvio padrão), onde foram analisados os histogramas e valores de assimetria e curtose para verificar a normalidade de distribuição dos dados. Esta análise foi feita com todas as variáveis intervalares antes da execução dos testes inferenciais.

Com as variáveis do desempenho cognitivo resultantes da bateria cogstate, foram adotados procedimentos de normalização dos dados. Isto foi feito com base nas pesquisas de Collie et al. (2003; 2003a), Darby et al. (2002), Cargin et al. (2003), Cargin et al. (2006) que utilizaram a mesma bateria e verificaram a necessidade de normalização devido a distribuição dos dados apresentar uma curva assimétrica positiva. Neste estudo, foi verificada uma assimetria positiva para os tempos de resposta. Esta bateria fornece o resultado em milisegundos (ms), para os tempos de resposta nos 5 testes, sendo este resultado normalizado pelo próprio programa, que fornece o desempenho através do tempo em milisegundos e normalizado com transformação logarítmica de base 10. Para a normalização, utiliza-se uma transformada logarítmica, que é recomendada quando os dados apresentam variâncias extremas. Osborne (2002) recomenda o uso de transformadas logarítmicas de base 10 para as ciências sociais, principalmente porque elas ajudam a reduzir erros do tipo I e II, diminuindo as distâncias entre os dados e mantendo as posições destes.

Com os dados normalizados e as distribuições normais, foram realizadas as análises inferenciais. O intervalo de confiança adotado foi de 95%. Para a análise das correlações entre variáveis intervalares com distribuição normal, foi utilizada a correlação linear de Pearson. Para correlacionar variáveis ordinais ou aquelas que não apresentaram distribuição normal, como a depressão, utilizou-se a correlação de Spearmann. As correlações parciais foram utilizadas, considerando as variáveis da caracterização geral. Para verificar a relação entre variáveis nominais, utilizou-se o teste do qui-quadrado.

No caso de dados normalmente distribuídos, foi utilizado teste t para amostras independentes quando o objetivo foi comparar dois grupos, e ANOVA e Post-Hoc de Scheffé

para comparar 3 ou mais grupos. No caso de dados não paramétricos, foi utilizado o teste de Mann-Whitney para comparar dois grupos e Kruskal-Wallis para comparar 3 ou mais grupos.

Para analisar o desempenho cognitivo, foi necessária a aplicação de análise multivariada de variância (MANOVA), que é um teste que deve ser utilizado quando se tem mais de uma variável dependente. A MANOVA combina as variáveis dependentes em uma nova variável e então usa esta nova variável como única nas análises. Conseqüentemente, esta análise mostra se existe alguma diferença na combinação linear das variáveis de estudo em função da variável independente. Esta análise foi realizada de acordo com as recomendações de Dancey e Reidy (2004), observando primeiramente se as variáveis dependentes estavam normalmente distribuídas. O Box’s M Test é feito para verificar se houve ou não violação na homogeneidade das matrizes de variância-covariância, caso haja, os autores recomendam maior cautela na interpretação dos resultados. A fórmula utilizada para o cálculo do valor F foi o Wilk’s Lambda. Seguida desta análise, foi realizada a comparação de efeitos principais, com Post-Hoc de Bonferroni, para verificar especificamente em qual variável dependente foi verificada a principal diferença.

Para verificar possíveis efeitos interativos entre as variáveis: prática de atividade física, nível de atividade intelectual e histórico de atividade física, foi utilizado um design 5 (domínios cognitivos) X 3 (prática de atividade física) X 3 (nível de atividade intelectual). O outro design utilizado foi 5 (domínios cognitivos) X 3 (prática de atividade física) X 3 (histórico de atividade física).

Para as variáveis estresse e depressão, foi utilizada ANOVA fatorial com desenho para mais de uma variável independente (two-way ANOVA), com desenho 3 (prática de atividade física) X 3 (nível de atividade intelectual) e 3 (prática de atividade física) X 3 (histórico de atividade física), a fim de observar possíveis efeitos interativos entre estas variáveis.

Nas análises multivariadas o nível de significância adotado foi de p<0,008. Este nível foi adotado de acordo com as recomendações de Dancey e Reidy (2004) onde é sugerido dividir o valor de “p” pelo número de comparações a serem realizadas. Neste estudo, existem duas variáveis independentes com três níveis cada. Desta forma, dividiu-se 0,05 por 6, obtendo-se o valor de p<0,008. Este procedimento é recomendado devido ao fato de que o número de comparações realizadas aumenta a probabilidade de erros do tipo I.

3.5.2 Análise Qualitativa

As informações contidas no diário de campo, as anotações feitas durante as entrevistas e as respectivas gravações foram utilizadas na análise qualitativa. Depois de ouvidas as entrevistas, foram transcritos apenas os depoimentos que forneciam explicações espontâneas das participantes em relação às perguntas dos instrumentos.

Minayo (2004) aponta que existem diferentes formas de analisar o conteúdo de entrevistas qualitativas. Enquanto a análise de conteúdo de Bardin (1977) engloba técnicas de análise e categorização, a Hermenêutica Dialética se coloca como um “caminho do pensamento”, como uma via de encontro entre as ciências sociais e a filosofia, e não como uma tecnologia de interpretação de textos, não se constituindo de um conjunto de regras disciplinadoras do discurso.

Habermas (1987) citado por Minayo (2004, p.223) destaca que “a hermenêutica se apóia na reflexão histórica que concebe o intérprete e seu objeto como momentos do mesmo contexto”. Embora a hermenêutica dialética esteja baseada na comunicação ela se difere da lingüística, cujo objeto principal é a reconstrução do sistema abstrato de regras de uma linguagem natural. A estrutura do “significado” presente na linguagem é apenas um fator na totalidade do mundo real, que para Habermas se compõe de trabalho, poder e linguagem. “Portanto, a tradição cultural que se expressa na linguagem está marcada pelo caráter ideológico das relações de trabalho e de poder” (MINAYO, 2004, p.224).

O objetivo não foi fazer uma análise hermenêutica-dialética rigorosa do ponto de vista metodológico. No entanto, foi importante adotar um caminho teórico, uma orientação, para a interpretação dos depoimentos das idosas.

Desta forma, a análise qualitativa realizada nesta pesquisa buscou nas referências da dialética (MINAYO, 2004) a fundamentação teórica necessária ao estudo qualitativo, utilizando-se da hermenêutica dialética como um caminho teórico na análise e interpretação das falas das participantes.

A operacionalização desta análise se deu a partir de alguns passos sugeridos por Minayo (2004). Primeiro, o material foi revisado, sendo ouvido, transcrito e organizado. O segundo passo foi a classificação dos dados, onde após a leitura repetida dos textos foram constituídos vários “corpus” de comunicação, sendo formadas as unidades de análise. Após esta fase, as unidades foram enxugadas e classificadas por temas mais relevantes, sendo que os depoimentos foram unificados em torno de categorias centrais, que constituíram os eixos

temáticos. Por último, buscou-se trazer estes dados empíricos para o plano teórico, e vice- versa, procurando realizar uma análise em torno dos elementos históricos e sociais dos grupos envolvidos. Os eixos temáticos foram definidos a partir dos próprios depoimentos das participantes em conjunto com o verificado na literatura investigada.

A união da hermenêutica com a dialética leva a que o intérprete busque entender

o texto, a fala, o depoimento como resultado de um processo social (trabalho e dominação) e processo de conhecimento (expresso em linguagem) ambos frutos de múltiplas determinações mas com significado específico. Esse texto é a representação social de uma realidade que se mostra e se esconde na comunicação, onde o autor e o intérprete são parte de um mesmo contexto ético- político e onde o acordo subsiste ao mesmo tempo que as tensões e perturbações sociais” (MINAYO, 2004, p.227-228).