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A análise feita é uma parte fundamental do trabalho de pesquisa, por isso requer diversos cuidados por parte do pesquisador, é preciso deixar de lado os “achismos” e basear-se nas informações reais que os dados coletados trazem. Para nossa pesquisa, escolhemos a análise interpretativa dos documentos que norteiam os trabalhos das SAALP, cientes de que, ao analisar documentos, precisamos “ouvir” o que eles têm a nos dizer a respeito do tema que abordamos.

A etapa da análise consiste em encontrar um sentido para os dados coletados e em demonstrar como eles respondem ao problema de pesquisa que o pesquisador formulou progressivamente. Por isso, a análise ocupa um lugar de primeiro plano em toda pesquisa, mas, principalmente, na pesquisa qualitativa. Pode-se mesmo dizer que a renovação que a pesquisa qualitativa conheceu no decorrer dos últimos anos se deve aos progressos realizados na análise dos dados, a qual constituía o ponto fraco do procedimento qualitativo. (DESLAURIERS; KÉRISIT, 2014, p. 140)

Ela requer um cuidado e uma reflexão minuciosa do conteúdo que deve ser interpretado de acordo com o referencial teórico abordado. Deslauriers e Kérisit (2014) chamam a atenção para a importância da interpretação do conteúdo abordado nas análises, para eles “a revisão bibliográfica leva o pesquisador a escolher uma fundamentação teórica” (2014, p.141). O aporte teórico é imprescindível para uma análise de qualidade.

A leitura de obras teóricas fornece os conceitos e as metáforas graças aos quais pode-se interpretar um dado opaco. O uso de metáforas retiradas dos textos científicos, da literatura, ou do meio social, é, sem dúvida, um dos procedimentos mais “secretos” e mais fecundos que podem auxiliar o pesquisador a realizar a contento uma análise, bem como a construir seu objeto de pesquisa. A imagem, a comparação implícita, a analogia, determinam esse momento de intuição que faz com que o objeto mude repentinamente de lugar, ou apareça sob um outro enfoque. (DESLAURIERS; KÉRISIT, 2014, p. 141)

Dessa forma, em uma análise interpretativa dos dados coletados o retorno ao referencial teórico que embasa a pesquisa, valida as conclusões do pesquisador. Sobre os procedimentos metodológicos adotados na análise, Lüdke e André (2015, p.47) afirmam que “a primeira decisão nesse processo é a caracterização do tipo de documento que será usado ou selecionado”, pois “a escolha dos documentos não é aleatória. Há geralmente alguns propósitos, ideias ou hipóteses guiando a sua seleção” (LÜDKE; ANDRÉ, 2015, p. 47). Em nossa pesquisa, utilizamos os documentos que se referem às Salas de Apoio à Aprendizagem de Língua Portuguesa produzidos entre os anos de 2004 a 2017, sendo todos documentos oficiais.

Outra escolha que fizemos foi a de selecionar segmentos dos documentos que consideramos serem os que respondiam às nossas perguntas de pesquisa. Dessa forma, comparamos as resoluções e instruções procurando verificar as principais alterações e que efeitos essas poderiam produzir no trabalho realizado nas SA entre os anos de 2004 e 2017. Em relação à ficha de encaminhamento, nos detivemos no eixo “Apropriação do Sistema da Escrita”, visto que se relacionava com nosso objetivo principal de verificar a concepção de alfabetização dentro dos documentos. O quadro a seguir demonstra os critérios de análise que utilizamos para os documentos.

Quadro 2 - Documentos referentes ao funcionamento das Salas de Apoio à Aprendizagem de

Língua Portuguesa vigentes no ano de 2017 e critérios de análise

DOCUMENTO CRITÉRIO A SER ANALISADO

Resolução n° 1690/2011 GS/Seed: Institui a partir de 2011, em caráter

Direcionamentos para superação de dificuldades de aprendizagem

permanente, o Programa de Atividades Complementares Curriculares em Contraturno na Educação Básica na Rede Estadual de Ensino.

Instrução n° 05/2017 Sued/Seed: Autorização de Salas de Apoio à Aprendizagem para as(os) estudantes matriculadas(os) nos 6º e 7º anos do Ensino Fundamental, das instituições de ensino da rede pública estadual.

Direcionamentos para superação de dificuldades de aprendizagem

Concepção de alfabetização

Ficha de Encaminhamento: a ser preenchida pelo professor regente das turmas, encaminha os alunos diagnosticados com dificuldades para a sala de apoio.

Direcionamentos para superação de dificuldades de aprendizagem

Concepção de alfabetização

Fonte: Elaborado pela autora.

Para análise dos documentos que vigoravam no ano de 2017 no portal “Dia a Dia Educação”, fizemos incialmente a leitura dos documentos. Posteriormente, nos detivemos nos segmentos que procuravam responder as nossas questões sobre os direcionamentos para superação de dificuldades e concepção de alfabetização presente nos documentos. Em alguns momentos, precisamos recorrer a documentos citados nas instruções e resoluções a fim de nos aprofundarmos na compreensão do que determinadas expressões queriam dizer. Assim, ao analisarmos a concepção de alfabetização dentro da instrução n° 05/2017 Sued/Seed, por exemplo, precisamos consultar também o parecer n° 1.201/11 CEE/PR.

Para que pudéssemos obter resposta para nossos questionamentos utilizamos como referencial teórico os autores que tratavam do letramento (KLEIMAN, 2007; SOARES, 2015) e do SEA (MORAIS, 2012; SOARES, 2016) e também as pesquisas levantadas em nossa revisão bibliográfica (MATSUZAWA, 2006; DUARTE, 2011; ANGELO, 2015).

Na sequência, analisamos as respostas que pudemos ouvir através da consulta aos documentos: resolução n° 1690/2011 GS/Seed, instrução n°

05/2017 e ficha de encaminhamento em relação aos direcionamentos para superação de dificuldades dos alunos que frequentam as SAALP e concepção de alfabetização.

CAPÍTULO V

ANÁLISE DOS DADOS: O QUE OUVIMOS

A análise que a seguir apresentamos procura responder às duas primeiras perguntas de pesquisa:

1) Que concepção de alfabetização está expressa nos documentos relativos à SAA no ano de 2017?

2) Quais os direcionamentos apontados pelos documentos das SAA para superação das dificuldades dos alunos em língua materna? Os documentos são apresentados separadamente e nomeiam cada um dos subcapítulos.