1 INTRODUÇÃO
3.4 ANÁLISE DOS DADOS
Para análise dos dados deste trabalho, foi utilizada a técnica de análise de dados qualitativos por meio do processo de categorização e codificação defendido por Flores (1994).
Para Flores (1994), a análise de dados qualitativos é constituída por técnicas de análise de dados que utilizam categorias para organizar conceitualmente e apresentar a informação. O autor defende que o material agrupado por categorias permite ao analista buscar tendências e tentativas de conclusões. Estas últimas geralmente se baseiam “na presença ou ausência de ideias do discurso de um grupo, na comparação entre grupos, no estudo de homogeneidade-heterogeneidade interna do grupo e, por último, na busca de relações entre elementos para identificar tendências ou modelos” (FLORES, 1994, p.66).
O autor defende ainda que a organização em categorias encontra-se interessada pelo seu conteúdo, e não pela frequência dos códigos, ressaltando seu objetivo de ir além do que o mero exame de frequências.
O processo geral de análise do presente estudo possui as características de redução dos dados, em seguida a disposição desde dados, e por fim, a extração de conclusões obtidas da análise, que são expostos a seguir.
3.4.1. Redução de dados
A redução dos dados qualitativos ocorre mediante os processos denominados segmentação, categorização e codificação. A segmentação é a divisão dos discursos em unidades de significado, em que são considerados como unidades os fragmentos que expressam a mesma ideia. Já as operações de categorização e codificação consistem em identificar fragmentos de textos com temas ou tópicos que os descrevem ou interpretam e atribuir a cada fragmento um código específico. Ou seja, é o agrupamento conceitual das unidades em função das afinidades dos temas a que se referem (FLORES, 1994).
Para Flores, a análise de dados é considerada como uma tarefa de forte componente intuitivo-artístico, mas este exercício de intuição parece seguir determinada ordem. Em um primeiro momento, a análise se concentra sobre à micro-situação do grupo, tratando de saturar suas possibilidades significativas. Em um segundo momento, a análise se concentra sobe a macro-situação, interpretando teórica e sociologicamente o que foi encontrado no grupo como reflexo de um contexto social global em que emergem os discursos analisados (ORTI, 1989 apud FLORES, 1994).
Nesta pesquisa, todas as entrevistas foram lidas integralmente antes de iniciar a redução de dados. Houve a necessidade de audição dos discursos completos em repetidas ocasiões mesmo após a transcrição em textos para esclarecimento de dúvidas de significado tendo em vista que a maioria dos entrevistados possuía sotaques e expressões do idioma Português europeu.
Em cada uma das entrevistas, a segmentação, a categorização e a codificação foram feitas simultaneamente.
A segmentação das expressões por suas unidades de significado (sequência curtas de palavras) e a categorização seguiram três critérios temáticos: a partir do roteiro de entrevistas adotado; de forma indutiva a partir dos dados da entrevista, inicialmente dos cinco
entrevistados que tiveram a expatriação a longo prazo, motivada por estratégia de negócio, a seguir aplicado aos demais entrevistados; e também a partir do referencial teórico. Cada categoria foi identificada com um código de três letras.
A figura 9 mostra um exemplo dessa etapa:
Como isso afetou sua vida pessoal e profissional?
Perguntas do roteiro de entrevista
Respostas dos entrevistados expatriados por estratégia de negócio, em longa duração
Entrevistado: ...o que me custou mais, pra mim, é, francamente, agora muito francamente, foi a casa... Porque eu tinha uma casa, praticamente nova, tava há pouco tempo naquela casa ...
O que foi ruim?
Categorias
Mudança do local de residência
Entendimento de regras e costumes locais Que situações inusitadas
ocorreram neste processo? Você estranhou alguma coisa?
Entrevistado: ...A segurança, eu sentir aquela, da gente entrar, é, não ter a chave pra entrar.. é o porteiro que abre. A gente ficar ali, naquela gaiola, eu chamava de gaiola. ..Esse aí, é, foi um processo que custou-me no início, porque nós tamos habituados, eu tava habituada a sair de casa, deixar a janela aberta, o portão aberto, hum, pronto, à vontade.
MUD
ERC
Entrevistado: ...vocês, os brasileiros em geral...tem um marketing ali...e isso tudo vocês comunicam muito bem, vendem-se muito bem, mas isso também é muito importante na vida...e eu isso aprendi muito lá convosco...evidentemente que a gente tem que retirar lá umas coisas, né? Porque a gente sabe que algumas coisas são exageradas, mas a comunicação, eu acho que, acho que aprendi muito.
Quais acontecimentos sociais e profissionais marcantes ocorreram na mudança do país e na mudança de função? Mudança de Perspectiva de Significado MPS
Figura 9: Exemplo de procedimento de categorização de dados
Fonte: Elaborado pela autora
Os dados que não estavam diretamente conectados ao tema de pesquisa não foram considerados, baseando-se a focalização e redução dos dados naqueles que interessavam diretamente ao estudo.
Depois de concluída a primeira codificação dos dados, examinou-se o conteúdo classificado em cada categoria com o objetivo de não apenas fundir categorias afins ou de pouca representação, mas de subdividir categorias excessivamente amplas e do conteúdo relativamente heterogêneo, além de renomear categorias buscando termos que definissem melhor seu conteúdo.
Os mesmos procedimentos foram adotados para a análise de dados documentais e provenientes da observação.
Em seguida, foram analisadas as inter-relações entre as categorias, o questionamento acerca dos aspectos que aproximam ou distanciam umas das outras, com o
objetivo de agrupá-las de acordo com sua afinidade temática para criar metacategorias. O quadro 5 mostra a relação completa das categorias e metacategorias usadas nesta pesquisa.
Quadro 5: Relação dos códigos, descrição das categorias e metacategorias correspondentes
Código Descrição da categoria Metacategoria
TEX Tipo de expatriação
Características da expatriação DUR Classificação da duração do processo
PIE Período inicial previsto para a expatriação PFE Período final da expatriação
LOC Países envolvidos
CFE Condições formais de expatriação JEX Justificativas da expatriação
MOT Motivações pessoais para participar do processo EIA Experiência internacional anterior
Características do profissional FAM Participação da família
ANT Antiguidade do indivíduo na empresa no início da expatriação POS Posicionamento da empresa
FAN Função antes da expatriação FDU Função durante a expatriação FAP Função após a expatriação PRE Processo de retorno
MUD Mudança do local de residência
Dificuldades enfrentadas durante a
expatriação AFA Adaptação da família
ERC Entendimento de regras e costumes locais ADA Adaptação cultural
PRT Projeto de trabalho AIN Aprendizagem informal PRE Processo de retorno
Dificuldades enfrentadas durante o
processo de retorno SES Sentimentos e sensações
Mudanças no indivíduo MES Mudanças de esquemas de significado
MPS Mudanças de perspectivas de significado TEX Tipos de expatriação
Transferência de conhecimento JEX Justificativas da expatriação
FLX Fluxo de transferência do conhecimento TEX Tipos de expatriação
Compartilhamento de modelos mentais JEX Justificativas da expatriação
AIO Elo entre aprendizagem individual e aprendizagem organizacional AFR Aprendizagem fragmentada
ATR Aprendizagem baseada no trabalho
Fonte: Elaborado pela autora