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A pesquisa utilizou a análise de conteúdo como técnica de análise de dados obtidos a partir da colheita das jurisprudências do Tribunal de Justiça do Maranhão.

Tal técnica de investigação é possibilitada pela “descrição objetiva, sistemática e quantitativa” do conteúdo presente nas comunicações, a exemplo das jurisprudências objeto de estudo, possuindo como finalidade a interpretação científica das mesmas (BERELSON, 1952, p. 13).

[...] a análise de conteúdo aparece como um conjunto de técnicas de análise das

comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. [...] A intenção da análise de conteúdo é a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não) (BARDIN, 1977, p. 38).

Por meio da análise de conteúdo permite-se ao pesquisador transitar entre o rigor da objetividade e a fecundidade da subjetividade (SILVA; FOSSÁ, 2013, p. 3), uma vez que o que se busca é a percepção de se o conteúdo das mensagens vê-se efetivamente contido nelas a ponto desta leitura poder ser generalizável (BARDIN, 1977, p. 29).

Para a análise dos dados com o uso da análise de conteúdo são necessárias três etapas. Na primeira, Pré-análise, faz-se uma pré-exploração do material a ser analisado, tendo por objetivo a organização deste material a ser pesquisado por meio da organização sistematizada dos documentos a serem submetidos à análise. (BARDIN, 1977, p. 95)

Inicialmente faz-se uma leitura flutuante de todo o material trabalhado, de modo a tomar conhecimento geral da integralidade dos documentos (CAMPOS, 2004, p. 613) – as jurisprudências do TJ/MA referentes às MPUs nos anos de 2012 a 2016 –, permitindo à pesquisadora deixar-se “invadir por impressões e orientações” (BARDIN, 1977, p. 96).

Após a efetuação dessas leituras preliminares, procedeu-se à demarcação do universo, ou seja, a escolha de quais documentos serão utilizados. Nesse sentido, constitui-se um corpus, considerado como “[...] o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos” (BARDIN, 1977, p. 96).

Ressalte-se que a constituição do corpus, a seleção de quais materiais serão utilizados na análise, segue, em especial, as seguintes regras: a) exaustividade, caracterizada pela necessidade em se levar em conta todos os elementos do corpus, seja pela dificuldade de acesso ao material ou mesmo da raridade deste, completando-se pela não-seletividade, utilizam-se todos os elementos encontrados, portanto; b) representatividade, a qual utiliza apenas uma amostra daquele material da leitura flutuante, devendo ser a amostragem representativa do universo, sendo seus resultados generalizáveis; c) homogeneidade, cujos documentos escolhidos representam critérios pré-determinados,; e d) pertinência, relacionado à adequação ao objetivo da análise ao objetivo do pesquisador. (BARDIN, 1977, p. 97-98)

Passada a constituição do corpus, inicia-se, ainda na primeira fase, a formulação das hipóteses e objetivos. Advindas de uma suposição que aguarda ser colocada à prova, as hipóteses podem ou não ser estabelecidas nesse momento, sendo muitas vezes o trabalho do

pesquisador orientado por hipóteses implícitas, às quais, frequentemente, nem ele se apercebe nessa fase. (BARDIN, 1977, p. 98-99)

Ato contínuo, passa-se à referenciação dos índices e à elaboração dos indicadores, Os índices são os instrumentos pelos quais a análise vai fazer falar, por exemplo a partir da repetição de determinado tema ou expressão, sendo escolhidos em função da hipótese.

Por exemplo, o índice pode ser a menção explícita de um tema numa mensagem. Se se parte do princípio de que este tema possui tanto mais importância para o locutor, quanto mais frequentemente é repetido (caso da análise sistemática quantitativa), o indicador correspondente será a frequência deste tema de maneira relativa ou absoluta, relativamente a outros (BARDIN, 1977, p. 100).

Antes de se iniciar a análise propriamente dita, o material reunido foi preparado. No presente estudo, transcreveram-se as jurisprudências componentes do corpus em uma tabela do Microsoft Excel, indicando-se o número do processo no TJ/MA, a data do ementário, o órgão julgador e o desembargador relator. Tornando maior a visibilidade do material e a facilidade em manuseá-lo, após essa organização, as ementas das jurisprudências foram todas impressas, recortadas e colocadas em um mural.

Na segunda fase da análise houve a exploração do material, consistindo na codificação dos dados, a qual corresponde a uma “[...] transformação – efectuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto [...]” (BARDIN, 1977, p. 103), por meio de recorte (escolha das unidades), agregação (escolha das regras de contagem) e enumeração (escolha das categorias), de modo a que se atinja representação do conteúdo presente naquele texto.

Nesta etapa fez-se a seleção das unidades de registro, que visam a categorização e a contagem frequencial dos dados, sendo, portanto, unidades de significação, podendo permitir recortes tanto a nível semântico, como por exemplo o tema, quanto a nível linguístico, como a palavra ou a frase.

Para a presente análise, utilizaram-se as unidades de registro temáticas referentes à prestação jurisdicional estadual nas demandas de violência doméstica, assim também da eficácia desta prestação e unidades de registro linguísticas por meio da palavra (CAMPOS, 2013, p. 613).

O tema pode ser compreendido como uma escolha própria do pesquisador, vislumbrada através dos objetivos de sua pesquisa e indícios levantados do seu contato com o material estudado e teorias embasadoras, classificada antes de tudo por uma seqüência de ordem psicológica, tendo comprimento variável e podendo abranger ou aludir a vários outros temas. O evidenciamento das unidades de análise

temáticas, que são recortes do texto, consegue-se segundo um processo dinâmico e indutivo de atenção ora concreta, a mensagem explícita, ora as significações não aparentes do contexto. (CAMPOS, 2013, p. 613)

Definidas as unidades de registro, passa-se, então, à categorização dos dados. Reconhecida como uma operação em que os elementos constitutivos de um conjunto, inicialmente por diferenciação e, posteriormente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), a categorização é o procedimento de agrupamento das unidades de registro segundo rubricas ou classes, a partir de duas etapas: o inventário (isolamento dos elementos) e a classificação (organizar as mensagens nas referidas classes) (BARDIN, 1977, p. 117-118).

Desta forma, podemos caracterizar as categorias como grandes enunciados que abarcam um número variável de temas, segundo seu grau de intimidade ou proximidade, e que possam através de sua análise, exprimirem significados e elaborações importantes que atendam aos objetivos de estudo e criem novos conhecimentos, proporcionando uma visão diferenciada sobre os temas propostos. As categorias utilizadas podem ser apriorísticas ou não apriorísticas (CAMPOS, 2013, p. 614).

Sendo apriorísticas as categorias que o pesquisador, por experiência prévia já definiu e as categorias não-apriorísticas surgem do contexto da apreciação do material analisado e de suas teorias embasadoras (CAMPOS, 2013, p. 614).

Na terceira etapa, há o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. As inferências unem os resultados obtidos pelas categorizações embasadas com os pressupostos teóricos de concepções de mundo, assim como pelas situações concretas dos produtores e receptores (CAMPOS, 2013, p. 613).

É nessa etapa que os dados brutos tornam-se falantes e válidos. Após o tratamento dos resultados, estabelecendo quadros de resultados, diagramas, figuras ou modelos põe-se em relevo as informações coletadas, possibilitando o uso das inferências. As inferências representam um instrumento de indução, partindo dos efeitos (mensagens analisadas) para que se possa chegar às causas. (BARDIN, 1977, p. 137)

[...] produzir inferência, em análise de conteúdo significa, não somente produzir suposições subliminares acerca de determinada mensagem, mas em embasá-las com pressupostos teóricos de diversas concepções de mundo e com as situações concretas de seus produtores ou receptores. Situação concreta que é visualizada segundo o contexto histórico e social de sua produção e recepção(CAMPO, 2013, p. 613).

Por fim, alcança-se a interpretação, que corresponde ao sentido latente na mensagem, o que querem dizer seus interlocutores em profundidade. Deve-se ter em mente

que, mesmo durante a interpretação, pode-se retornar atentamente aos marcos teóricos relacionados à investigação, uma vez que a interpretação é obtida pela relação entre os dados brutos e a fundamentação teórica. (CÂMARA, 2013, p. 189)

6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

Após a exposição das principais construções teóricas acerca da eficácia das Medidas Protetivas de Urgência, passa-se à apresentação e discussão dos dados colhidos tanto pela análise de conteúdo das jurisprudências do Tribunal de Justiça do Maranhão, quanto pelas análises qualitativas das falas dos participantes do grupo focal, das observações participantes e das entrevistas realizadas.