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As categorias foram identificadas durante a análise dos dados de nossa pesquisa, através da entrevista semi-estruturada e da observação. Que são elas:

1- Preconceito 2- Sentimentos 3- Suicídio 4- Família

5- Equipe de enfermagem

6-Inserção no mundo do trabalho

Preconceito

O preconceito é uma postura ou idéia pré-concebida, uma atitude de alienação a tudo aquilo que foge dos “padrões” de uma sociedade. Muitas pessoas acham que uma pessoa sem o membro superior ou inferior é considerada como deficiente ou aleijado. Esse preconceito que podemos ter em relação à outrem faz que não enxergue a capacidade que o outro pode oferecer ou acrescentar a um determinado local (OLIVEIRA, 2000). O conceito de deficiência é usado para definir a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica. Segue abaixo a fala que se refere a esta relação:

Após dois anos de cirurgia procurei um emprego, na hora da entrevista a moça olhou para minha mão e viu que eu não tinha dois dedos, ela falou na minha cara e disse: você não possui o perfil que a empresa procura. Eu perguntei como assim? Ela responde: A empresa não contrata pessoas com este tipo de problema. Na hora sai da sala e comecei a chorar me sentindo um aleijado sem mais esperanças.

Nesta fala fica clara a crueldade social quando utiliza-se dos funcionários na mesma relação que utilizam uma máquina. O conceito utilitarista, descartável, próprio da sociedade

capitalista fica evidenciado neste excerto. A dor do entrevistado ao se deparar com o olhar desqualificador da funcionária da empresa e o escancaramento de que a configuração física se atrela diretamente à competência, além de desconsiderar-se toda a sua história como trabalhador gera um sofrimento e uma crise de identidade, pois se sente aleijado e sem

esperanças. Na constituição de identidade o outro tem participação ativa em como vê, pensa e

sente em relação a si mesmo e ao mundo. Sendo assim, a conduta, os valores, os comportamentos e as orientações dos enfermeiros em relação aos pacientes podem ser definidoras de uma dada situação, seja esta favorável à recuperação ou não.

O termo deficiência é utilizado para denominar pessoas com incapacidades, essa palavra quando mencionada traz uma carga negativa depreciativa à elas, fazendo que os portadores de impossibilidade física criem uma negação de sua própria situação atual e fazendo com que a sociedade não respeite às diferenças (OLIVEIRA, 2000).

Observando-se que muitas pessoas têm preconceitos em relação à pessoa que possuem limitações físicas, a sociedade pensa que quando não tem algum membro do corpo deve ficar parado e que a pessoa com incapacidade física não serve para trabalhar em mais nenhum lugar, ou seja, deve ficar sedentária recebendo sua indenização ou até mesmo sua aposentadoria. Deve-se parar de rotular as pessoas achando que elas não são capazes de conseguir um emprego e por mais que o indivíduo possua uma incapacidade física, ele não gosta de ser classificado como tal.

O pior preconceito é aquele que tem contra si mesmos, isso faz com que se sinta inferior às outras pessoas, fazendo com que pense que não são indivíduos capazes de se relacionar com as outras pessoas. Fala do sujeito:

Sempre pensava que as pessoas não se aproximavam de mim porque eu tinha defeito [...] eu não queria ser apelidado de coitado, inválido essas coisas [...] alguém via me ajudar eu o olhava com cara de insatisfeito e de bravo.

Observa-se pela fala que o indivíduo começou a ter preconceito contra si mesmo após ter sido rejeitado na primeira entrevista de serviço e que depois disso é que começou a dar mais importância aos olhares das pessoas em relação a sua nova imagem corporal e como defesa passou a não se aproximar das pessoas com receio de receber algum comentário maldoso. O que se vê aqui é o preconceito e a crueldade da discriminação com o outro que

aparece de forma clara e cruel, descartando-o como se ele fosse algo que não se presta para mais nada. Sua dor e sofrimento se deram pela vivência desta relação no âmbito da sociedade.

Sentimentos

A palavra sentimento é a capacidade de o indivíduo perceber das pessoas com quem convive alguma coisa estranha, que a martiriza que machuca e que muitas vezes as tornas vulneráveis a uma dor que não se sabe a origem. Os sentimentos têm diversos conceitos, características e maneiras de se manifestar. Algumas vezes indica algo bom e prazeroso e em outros aparecem como coisa ruim, esta mudança pode apresentar para excitar a pessoa tanto para o bem como para o mal (ALVES, 2005). O medo e a tristeza são exemplos de sentimentos que estão presentes nas pessoas que passam pelo processo de amputação.

O dicionário Aurélio conceitua a palavra medo como um sentimento de grande inquietação ante a noção de perigo real ou imaginário, de uma ameaça. Enfrentamento o processo de amputação, essa é uma categoria que fez revelações interessantes, visto que muitos que vivenciam a amputação sentem esse sentimento, o que pode ser visto na seguinte fala:

Quando eu acidentei, meu maior medo era de nunca conseguir outro serviço, de tornar depende de meus pais pra sempre, depois que recebi um não esse medo multiplicou.

O entrevistado expressa sua fragilidade e seu temor em relação à dependência de seus pais e de não conseguir outro emprego que se confirma e se realiza com as recusas. Aqui tem explicita uma situação em que o sujeito fragilizado fica mais vulnerável às atribuições e classificações do meio em que está inserido o que aumenta o risco de viver uma confusão psicológica. Por isso, é fundamental que o enfermeiro, como um profissional que atua com pessoas em situações de fragilidade esteja ciente e sensível para acolhê-las de forma a contribuir na superação destas dificuldades que podem ser por um determinado período, sendo bem trabalhadas

O medo abre a porta para a entrada de pensamentos negativos, deforma a mente, rouba o gozo do espírito e destrói o corpo físico é um elemento desconhecido, o medo resiste a todo

o tratamento da ciência médica, não havendo droga ou terapia conhecida que possa tirar esse sentimento da pessoa (FRANÇA, 2006).

Outro sentimento bastante evidente é a tristeza, que é um sentimento de ausência da satisfação pessoal quando o indivíduo se depara com sua fragilidade, essa fragilidade torna o individuo a não aceitar sua nova condição, tornando-o desmotivado. Geralmente os indivíduos que sofrem de tristeza têm como característica básica de personalidade, impor a sua solidão pessoal para todas as pessoas que encontrarem no decorrer de suas vidas; como uma vingança contra seu sentimento.

Não saía de casa por vergonha dos olhares das pessoas e também porque não queria responder certas perguntas que me faziam.

Se alguém me pergunta-se como perdi meus dedos eu os respondia sem com agressividade, dizendo não te interessa.

Eu não comia e não queria falar com ninguém, principalmente com meus pais, porque eu não queria sair do Brasil e ir trabalhar no Japão foi quando coloquei a culpa do acidente neles.

Percebemos na fala do sujeito que após o processo de amputação as relações afetivas se comprometeram que fez o individuo a sentir tristeza e medo do que as pessoas achariam dele, como forma de sua própria defesa as perguntas pertinentes ao acidente eram sempre respondidas com agressão. Outro sentimento bastante evidente na fala foi o da culpa, que é o sofrimento obtido após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si mesmo. A base deste sentimento é a frustração causada pela distância entre o que não fomos e a daquilo que achamos que deveríamos ter sido.

Após ter passado o susto da amputação o indivíduo começa buscar os responsáveis pela tragédia e naquele momento atribui aos seus pais, pelo simples fatos de telo obrigado a se mudar de país.

Suicídio

O isolamento pessoal faz muitas vezes o indivíduo a começar a ter certos tipos de pensamentos, como por exemplo, que tudo o que acontece de ruim em sua vida o único

responsável é ele mesmo. Com isso começam a surgir pensamentos suicidas, ou seja, a morte intencional, que a pessoa tem o desejo de escapar da situação de sofrimento intenso, tendo como sua única alternativa tirar sua própria vida. Segue abaixo sua fala:

Perdi o interesse pela vida, cheguei até em sonhar várias vezes com minha própria morte, e quando eu acordava me sentia bem. Certa vezes tomei vários remédio para dormir, quando acordei estava no hospital.

De acordo com a fala do sujeito observa-se que após o acidente seu maior prazer era de morrer e não o simples fato de conseguir estar bem. Aquela condição não o estava deixando o satisfeito e maneira que ele utilizou para buscar este bem estar foi através da ingestão de doses altas de comprimidos para alcançar a morte e ao mesmo tempo sua satisfação.

Considera-se tentativa de suicídio qualquer ato não fatal de automutilação ou de auto- envenenamento. O suicídio é a conseqüência de uma perturbação psíquica. A tensão nervosa que envolve e culmina nos conflitos psíquicos de gravidade acentuada, transtorna a tal ponto que a morte torna-se único refúgio e a inevitável solução dos problemas. Inconscientemente, o suicida deposita a culpa de sua morte nos outros indivíduos que compõem seu ambiente social. Neste caso o suicídio funciona como um ''castigo'' é uma forma de revidar uma agressão do ambiente que o envolve (BOCK, 2005).

A sociedade em que vive diariamente ouvi-se notícias de pessoas que cometem ou que tentaram cometer suicídio. Esta dura realidade não esta distante dos pacientes que passam pelo processo de amputação, como entender que minutos atrás você estava com seu corpo perfeito e agora algo está incompleto, ou seja, sem uma parte de seu corpo.

O suicídio é, antes de mais, um indicador do estado moral da sociedade, que embora seja sublime e subjetivo, mostra-nos que forças de ação individuais e coletivas atuam em sociedade e em que grupos predominam. O meio social determina, portanto, as características, os valores e normas sociais, são comuns numa sociedade, ganham maior ou menor adesão em cada grupo social. Só assim se explica o maior ou menor interesse do indivíduo pela vida, que numa etapa mais aguda pode ser uma das causas ocasionais do suicídio. Conquanto todos os ideais, crenças, hábitos e tendências comuns que constituem o meio social são independentes entre si, no entanto, propendem para diferentes graus de coesão social e conseqüentemente para uma diferente tendência coletiva do suicídio (BORCK, 2005).

Família

A família é a base de toda a nossa formação e do nosso caráter, basta lembrar que se chega a uma família bebê e lá se aprende os valores humanos, pode se concluir a importância da atuação da família em na vida. A família é uma instituição bastante importante na vida de seus membros, pois dela decorre toda a formação moral, espiritual e intelectual.

Para Pedrinelli (2003), a família tem como função primordial a de proteção, tendo, sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas. Carstensen (1995) reforça ainda que, a família ajuda a manter a saúde física e mental do indivíduo, por constituir o maior recurso natural para lidar com situações causadoras de stress associadas à vida na comunidade.

Sobre esta categoria a pessoa faz uma revelação muito importante, dizendo que esta instituição foi que o ajudou a ver o mundo de uma maneira mais aberta tendo possibilidades de alcançar seus objetivos, o que pode ser visto nas falas:

Eu considero como fator que me ajudou a ver a vida de outra forma, minha família. Demorou muito para que isso acontecesse, foram muitas brigas com meu pai, principalmente minha mãe.

Eles me levaram num lugar que não lembro o nome, que só tinha pessoas amputadas e lá eu vi pessoas com mais necessidades físicas do que eu. Foi a partir daí que comecei a não mais ver a falta dos meus dedos como o fim de tudo.

Quando o paciente aceita sua nova condição física ou sua doença tudo se torna mais fácil o tratamento e até mesmo a forma da equipe de saúde cuidar de desse sujeito. A família é parte essencial no acolhimento e apoio psicológico. Depois dessa fase de revolta e vergonha de seu corpo, a pessoa passa a sentir mais confortável para falar sobre sua nova condição. Segue abaixo a fala:

Hoje eu trabalho [...] com mãos como forma de ganhar meu dinheiro, antes eu tinha vergonha delas hoje eu tenho orgulho na capacidade que elas têm.

Antes o sujeito não tinha o maior interesse de fazer nada e principalmente de sair de casa, agora começa a buscar fazer coisas que antes eles não fazia para assim cada dia se superar. Observa-se a transcrição:

Nunca fui bom em esportes, então comecei a praticar vôlei, basquete e ping-pong, isso me ajudou muito, a ter mais firmeza nos dedos.

Percebe-se que após o sujeito deixar de se preocupar com o olhar dos outros suas perspectivas em relação à vida aumentaram, querendo provar para si que ele é capaz de transformar tudo o que estiver em sua volta.

Praticar esporte é uma forma que os portadores de incapacidade física dispõem para redescobrir a vida de uma forma ampla e global. Além de prevenir as enfermidades secundárias à incapacidade ainda promove a integração social, levando o indivíduo a descobrir que é possível, apesar das limitações físicas a terem uma vida normal e saudável (PEDRINELLI, 2003).

Equipe de enfermagem

Uma equipe multidisciplinar é necessária para ajudar o paciente a aceitar sua nova condição física pra depois conseguir aceitar a ajuda das outras pessoas. Essa equipe vai fazer com que o sujeito aceite essa nova condição e a voltar fazer suas necessidades físicas.

Esta equipe multidisciplinar é composta por um grupo de especialistas, que pode interagir para o trabalho de reabilitação ou educação de pessoas com incapacidade física. Esta equipe é composta por profissionais psicólogos, terapêutas ocupacionais, assistentes sociais, enfermeiros e de médicos (fisioterapeuta, neurologista, ortopedista, psiquiatra e etc.). Estes profissionais procuram uma interseção de conhecimentos de suas especialidades para uma ação terapêutica, clínica e educativa unificada (TAVARES, 2003).

Segundo Brunner e Suddarth (2005) O profissional de enfermagem é responsável pela promoção, prevenção e na recuperação da saúde dos indivíduos. Segue-se abaixo a fala do sujeito de como foi o tratamento da equipe de enfermagem no ambiente hospitalar.

Assim, fui bem tratado por todos os enfermeiros que cuidaram de mim, mas havia uma enfermeira que trabalhava a noite que quando me via triste ou até mesmo chorando, vinha conversar comigo perguntando por que eu estava daquele jeito? Eu não falava nada, mas

pelo simples fato de ela ter parado pra me perguntar como eu estava, isso já me fazia me sentir melhor.

Durante seu período hospitalar, também são apontados alguns descuidos de certos profissionais em respeito ao processo de cuidar de pacientes, ou seja, não informando certos tipos de procedimentos que a equipe iria oferecer como benéfico do mesmo, isso fica evidenciado na seguinte fala:

Lembro que teve um dia que após minha cirurgia eu perguntei porque minha cabeça estava doendo, a enfermeira olhou e disse: Quando seu médico chegar você pergunta.

O cuidar em enfermagem necessita resgatar a essência do significado do cuidado, devendo esse, ser desenvolvido de forma multidimensional, singular, solidário e integral. A enfermagem precisa prestar seus cuidados de maneira humanizada com o objetivo de considerar o ser o humano a partir de uma visão global, buscando superar a fragmentação da assistência.

Como bem nos pontua Schilder (1980), “o que quer que ocorra no corpo tem significado e importância psicológica e específica”, ao mesmo passo que a forma de sentir e de se emocionar do sujeito vão afetar esse corpo. Logo, precisamos cuidar do sujeito que se encontra hospitalizado e não simplesmente do seu sintoma. A hospitalização implica perdas e impactos para o indivíduo, que se encontra afastado da família, dos amigos, das suas atividades cotidianas, além de se encontrar desprovido de autonomia em um ambiente ameaçador e estressante. Toda essa rotina interfere no estado clínico e deve ser considerada durante o tratamento.

Inserção no mundo do trabalho

Pessoas que são amputadas têm sua vida produtiva prejudicada, porque durante o período de reabilitação ela fica afastada do trabalho, e vivemos numa sociedade na qual que o indivíduo é valorizado pela sua produção e riqueza, isso faz com que o indivíduo tenha a imagem de inutilidade (CARDELLA, 2005).

Além disto, após este período, pode não estar apto a retornar com normalidade às atividades anteriores ao acidente, pois as simples presenças de seqüelas podem persistir mesmo com o tratamento, podem estar limitados em exercer tais atividades:

No momento que eu acordei e vi que estava sem meus dois dedos logo pensei agora eu sou um deficiente físico, e ninguém vai querer dar uma oportunidade sequer pra mim.

Realizei três cirurgias para conseguir estar como estou hoje, lógico que as sessões de fisioterapia me ajudaram muito. Minha única dificuldade é assinar meu nome, porque sou canhoto agora o resto faço com tranqüilidade.

As vítimas de amputação tem que se superar a cada dia, isto é o que as motiva a viver porque o que elas menos querem é serem chamadas de coitadas, observa-se na fala:

Foram vários não, mas esses não eu prometi que eles não conseguiram me abater de novo, insisti muito e consegui um emprego numa indústria de pré-moldado, onde trabalhei por três anos, minha maior conquista foi quando que no Japão houve uma crise e eles estavam dispensando muitas pessoas eu pensei que eu seria um deles por conta do meu problema, mas não, eu permaneci na empresa por ainda um ano.

O fato de não conseguir o primeiro emprego após o acidente o fez mais confiante em si mesmo tendo a sensibilidade em mostrar para o mundo a superação de si mesmo.

Voltei a enxergar a vida com outros olhos, vendo as coisas que eram impossíveis pra mim agora é possível.

Percebe-se após o sujeito deixar de se preocupar com o olhar dos outros suas perspectivas em relação à vida aumentaram, querendo provar para si que ele é capaz de transformar tudo o que estiver em sua volta desde que ele queira.

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