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Análise da Danish Road Traffic Act – Sistema jurídico dinamarquês

1. Análise de alguns ordenamentos jurídicos estrangeiros

1.2. Análise da Danish Road Traffic Act – Sistema jurídico dinamarquês

A Dinamarca tem sido pioneira e exemplo para outros países na implementação de medidas que diminuam o número de automóveis em circulação210 e, consequentemente, a

sinistralidade, promovendo desse modo a proteção dos utilizadores vulneráveis211.

209 Neilson W, Proposal for Strict Liability in Scottish Road Traffic Cases, 2010, disponível para consulta em:

http://www.spokes.org.uk/wp-content/uploads/2010/02/1302-Bill-revised-version-Strict-Liability-15-02-13.pdf, (consultado em 29/11/2017).

210 “16 million Dutch people make more cycle journeys between them than 300 million Americans, 65 million British

and 20 million Australians all added together, and they do so with greater safety than cyclists in any of those countries.” David Hembrow, A Million Journeys Per Hour by Bike, disponível para consulta em: http://www.aviewfromthecyclepath.com/2011/02/million-journeys-per-hour-by-bike.html?m=1, (consultado em 29/11/2017).

211 “Dutch citizens make more trips via bicycle each day than the United States, Great Britain and Australia combined”.

ColleenMAKER, «Strict Liability in Cycling Laws to Ready the Roads for Environmentally Friendly Commuting», Cit., p.

A Danish Road Traffic Act, legislação dedicada às regras de trânsito na Dinamarca, recebeu em 1985 a introdução da Strict Liability. Na introdução desta lei, pode ler-se: "Any person in charge of a power driven vehicle shall be liable for any damage caused by such vehicle by a traffic accident or by an explosion or a fire arising from fuel‐feeding installations in the vehicle”212.

Até 1986 existia uma presunção de culpa do motorista, o qual tinha de provar que o acidente não se havia dado por negligência sua. Com a introdução da Strict Liability, o proprietário ou condutor de um veículo motorizado é (quase) sempre responsável pelos danos que causar a um utilizador vulnerável213. De acordo com a legislação dinamarquesa, o condutor de um veículo a

motor pode assumir a responsabilidade em diferentes situações. Vejamos214:

i) O condutor do veículo é sempre responsável pelos danos provocados pelo veículo, quer seja pela circulação do mesmo, por explosão do veículo ou fogo proveniente do sistema de combustível do veículo215.

ii) O detentor do veículo está obrigado a compensar o lesado pelos danos não patrimoniais, porém, o dever de compensar poderá ser reduzido ou eliminado se a pessoa lesada ou falecida tiver contribuído deliberadamente para os danos. iii) Do mesmo modo, a compensação também poderá ser reduzida ou, em casos

excecionais, eliminada se o lesado ou falecido adotou uma conduta cuja negligência grosseira teve contribuição direta para os danos.

212 DFIM - Danish Motor Insurers' Bureau, Strict Liability and Compensation, The Danish Model, 2011, disponível para

consulta em:

https://rf.gov.pl/files/3106__5145____Nowoczesne_rozwiazania_w_zakresie_kompensacji_szkod_komunikacyjny ch_____Warszawa__21_marca_2011_r_.pdf, (consultado em 01/12/2017).

213 BernhardGOMARD, «Compensation for Automobile Accidents in the Nordic Countries», cit., p. 87.

214 Se se tratar de uma colisão entre veículos a motor, deverão ser apuradas as circunstâncias em que o mesmo se

verificou de modo a haver responsabilização pelos danos. Nestes casos, a compensação pelos danos materiais será na proporção da culpa, enquanto que os danos físicos são sempre compensados a ambos os condutores dos veículos intervenientes, ou seja, nenhum interveniente fica ilibado de compensar o outro.

215 Capítulo 16, §101, Notice of the Road to Traffic Act, disponível para consulta em:

iv) A compensação pelos danos patrimoniais segue o mesmo raciocínio, podendo ser reduzida ou eliminada se o lesado contribuiu deliberadamente para a verificação dos danos, ou, agiu com negligência grosseira, contribuindo para os mesmos216.

v) Nos sinistros em que o velocípede se despista sozinho e sem causas externas, não haverá lugar a compensação por danos.

Note-se que o ónus da prova da responsabilidade do lesado, recai sobre a seguradora que representa o proprietário do veículo217, sendo esta diretamente responsável perante o lesado. A

Danish Road Traffic Act impõe a obrigação de existência de um seguro nos veículos a motor e define o modo como este seguro garantirá as compensações nos sinistros218.

As seguradoras responsabilizam-se pela indemnização. Uma vez que a resolução das situações é uniforme e as compensações estão já previamente definidas nesta lei, as reclamações das indemnizações tornam-se mais céleres. O exercício do direito de regresso apenas terá viabilidade se o lesado tiver agido com negligência grosseira. Ou seja, a seguradora tem de pagar de imediato os danos e, só depois, pode exigir em tribunal o reembolso do que pagou, caso consiga provar o dolo ou a negligência grosseira do lesado.

A Strict Liability implica que, num acidente, o utilizador mais forte e com maior poder de destruição seja responsável pelos danos causados em utilizadores vulneráveis219. Esta lei faz uma

distinção natural entre o utilizador mais vulnerável e menos vulnerável. Protege os utilizadores

216 Capítulo 16, §101, PCS2 e PCS3, Notice of the Road to Traffic Act, disponível para consulta em:

https://www.retsinformation.dk/forms/R0710.aspx?id=185819, (consultado em 20/11/2017).

217 Capítulo 16, §104, Notice of the Road to Traffic Act, disponível para consulta em:

https://www.retsinformation.dk/forms/R0710.aspx?id=185819, (consultado em 20/11/2017).

218 BernhardGOMARD, «Compensation for Automobile Accidents in the Nordic Countries», Cit., p. 82.

219 “Accidents involving pedestrians most frequently happen at junctions in urban areas. Older people and children are

usually the most vulnerable – the former because they become more in rm with age, and the latter because they have not yet developed a full understanding of the dangers of traffic”. Danish Road Safety Commission, Every accident is

one too many - a shared responsibility,
 The Danish Road Safety Commission National Action Plan 2013-2020, 2013,

p. 71, disponível para consulta em:

https://ec.europa.eu/transport/road_safety/sites/roadsafety/files/pdf/20151210_2_dk_nat_rsap_2013-2020_- _in_english.pdf.

vulneráveis, aqueles que irão sofrer mais danos físicos em caso de colisão220, e obriga a que os

condutores de veículos a motor estejam mais atentos e sejam mais responsáveis no momento em que estão a conduzir221.

Estudos realizados entre 2010 e 2011, na Dinamarca, revelaram que em 13% dos acidentes mortais que ocorreram naquele período de tempo, pelo menos um era ciclista. Nos acidentes que implicaram danos físicos, durante o mesmo período, em 23% dos casos, pelo menos um ciclista esteve envolvido. Ainda entre 2010 e 2011, verificou-se que 12% das mortes, 21% dos feridos muito graves e 16% dos feridos ligeiros decorrentes de acidentes, eram ciclistas222. Note-se

ainda que muitos dos acidentes com velocípedes nunca chegam a ser reportados, desconhecendo- se assim os números reais de ocorrências.