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As gravuras rupestres presentes no concelho de Macedo de Cavaleiros apresentam um dispositivo iconográfico pouco variado, apresentando, no entanto, diversidade relativa- mente à implantação das estações rupestres. Todas as gravuras são ao ar livre, podendo ser distinguidos três grupos.

O primeiro grupo corresponde às rochas gravadas exclusivamente com covinhas, com ou sem sulcos que as ligam entre si. Este grupo está bem representado no concelho sendo a ele que pertencem a maioria das estações. Um segundo grupo distingue-se pelo

2 De acordo com V. Taborda, os documentos medievais relativos a Trás-os-Montes não contém, a respeito da oliveira, uma única palavra, pelo que esta cultura não remonta para além do século XVI (1932: 125).

3 Oliveira Marques fala de documentos medievais que mencionam enxadas e enxadões, bem como os cavões que eram usados para preparar a terra por proprietários pobres ou donos de casais e courelas exíguas (Oliveira et al., 1983: 231).

uso de motivos abstractos, muito generalizados, como cruciformes, ferraduras, círculos, covinhas, podomorfos, entre outros. O terceiro grupo está representado apenas por uma estação que se distingue das restantes pelo enquadramento cultural imediato e pela pró- pria estética dos motivos apresentados.

Grupo I: Fonte de Prado, Cabeço do Fidalgo, Olminhos, Marco Negro, Rasca e Fonte de Caravelas 2.

As covinhas, ou fossetes, são motivos abstractos de carácter universal. Consistem em pequenos buracos gravados, de forma circular ou elipsóide. Surgem em rochas com todo o tipo de morfologias e, também, em pedras ou lajes soltas. Em número muito variado, podem ir de uma única a mais de uma centena, como acontece na rocha com covinhas da Ribeira do Pracana (Monteiro e Gomes, 1974-77: 96). Este motivo tanto aparece disperso e sem qualquer tipo de ordem na superfície da rocha, como agrupado de forma regular, formando motivos geométricos ou linhas, por vezes ligadas por sulcos.

Na Península Ibérica este tipo de composições está bem documentado. Surgem tanto ao longo da fachada atlântica, por exemplo no grupo galaico (Peña Santos et al., 1996: 97), bem como na zona mediterrânica (Alonso Tejada, 2003: 283). Em Portugal a sua ocorrência é apontada como sendo cada vez mais frequente no Norte e interior do país (Santos et al., 2006:141). Note-se que também no Algarve Oriental encontramos este mo- tivo, por exemplo disposto aleatoriamente na estela-menir nº 2 de Lavajo I, em Alcoutim (Cardoso et al., 2002: 110).

No âmbito dos estudos levados a cabo na Beira Interior (Vila Velha de Rodão, Castelo Branco e Idanha-a-Nova) foram apresentados diversos conjuntos de rochas com co- vinhas, sendo possível a sua associação a espaços sagrados da pré-história local (Henriques et al., 1995: 191).

No sítio da Cachouça (Idanha-a-Nova), “sobre o talude encontram-se implantados alguns monólitos em bruto ou rudemente desbastados, a que se associam diversos aflora- mentos com “covinhas”, bem como outros elementos que, conjuntamente, lhe conferem uma assinalável carga simbólica e ritual” (Vilaça e Basílio, 2000: 40). Apesar de o sítio estar mais associado à ocupação do Bronze Final e I Idade do Ferro, apresenta também níveis de ocupação do Neolítico Final - Calcolítico Inicial. Santos coloca a hipótese de estas gravuras pertencerem a esta primeira fase de ocupação (2000: 415), apoiando-se para tal nas evidências da estação de Monte do Frade onde as rochas com fossetes se encontravam seladas por uma camada do Bronze Final (2000: 415).

Bueno Ramirez e Balbín Behrmann chamam a atenção para o facto de as covinhas serem um dos temas mais representados nos suportes megalíticos peninsulares, do mesmo modo que nas rochas ao ar livre (2000: 134). Ortóstatos decorados unicamente com covinhas surgem, por exemplo, no dólmen de Santiago de Alcántara em Cáceres (Bueno Ramirez e Balbín Behrmann, 2000: 163), entre outros. Lopez Plaza sugere uma asso- ciação entre monumentos megalíticos e rochas decoradas com estes motivos para a província espanhola de Salamanca, vizinha de Trás-os-Montes (2003: 379). Salvaguarda, no entanto, a grande amplitude cronológica que este motivo expressa, referindo-se à evi- dente relação entre “covinhas”, castros e berrões nesta região (Lopez Plaza, 2003: 384). Neste sentido, também o Abade de Baçal lembra a estreita ligação entre estes motivos e as demarcações de termos, vigentes nalguns casos até aos nossos dias (Alves, 1934). Quando não surgem de forma aparentemente anárquica, as fossetes podem ainda cor- responder a tabuleiros de jogos usados em períodos históricos (Peña Santos et al., 1996: 97).

A interpretação destes motivos ramifica-se pelos diferentes significados que lhe são dados através de associações gráficas, contextos e implantações na paisagem. Nas ro- chas ao ar livre alguns investigadores ligam-nas a práticas ligadas à água (Alonso Tejada, 2003: 285). Outros há que, de forma mais desenvolvida e confinados a uma região específica (Galiza Ocidental), admitem que as rochas gravadas maioritariamente com covinhas, poderiam delimitar áreas de recursos naturais ou assinalar zonas de passagem (Bradley et al. 1994 cit. in Henriques et al., 1995: 202). Para Bueno Ramirez e Balbin Behrmann, relativamente à arte megalítica, as covinhas estão associadas a uma simbo- logia solar (2000: 134). Outros estudos apontam ainda para a sua função delimitadora

terem sido sujeitas a publicação. De acordo com Sanches, e nas palavras da mesma, em relação às rochas exclusivamente com covinhas, “nada de importante se nos afigura referir, além de que a constatação de tais gravuras simples num tão vasto grupo de manifestações artísticas de todas as épocas, arreda, de momento, qualquer hipótese de inserção cultural ou cronológica” (1992: 85).

No concelho de Macedo, a distribuição deste tipo de gravura por diferentes superfícies rochosas, bem como na paisagem, não sugere, à partida, nenhuma regra.

A Fonte do Prado é um caso curioso. A ligação entre a água e este tipo de representação, apontada por diversos autores, poderá encontrar um apoio forte nesta estação onde se encontravam dois blocos de granito com covinhas a guarnecer o tecto de uma fonte ar- cada. Também na Fonte do Bacio (Baçal, Bragança) se encontra uma grande laje de xisto negro a cobrir um poço da povoação. O bloco ostenta várias covinhas de forma elíptica. Dentro das informações que nos dá do sítio, Abade de Baçal refere o aparecimento de três machados ou enxós em pedra polida, entretanto guardados no museu de Bragança. Outra ocorrência de que nos dá conta é o facto de no termo de Baçal não aparecerem rochas ardosianas, encontrando-se as mais próximas a uma distância de quatro qui- lómetros (Alves, 1934: 613). Também no caso de Vale Benfeito o granito não é uma rocha local, encontrando-se a região granítica mais próxima a cerca de 2 km no sentido Sudoeste, no lugar do Fojo. Por falta das rochas historiadas no local não pudemos no entanto confirmar se seria esta a proveniência dos blocos. Tanto a Fonte do Prado como a Fonte do Bacio nos levam a questionar se estes blocos fariam parte de algum monu- mento pré-histórico, entretanto destruído. Infelizmente, os dados de que dispomos são em número demasiado reduzido para avançar com conjecturas mais concretas. O Cabeço do Fidalgo seria, antes da construção da barragem, um ponto elevado na pai- sagem, rodeado por pequenas ribeiras, com boas condições defensivas naturais. O painel preenchido de covinhas é, no entanto, pouco proeminente na paisagem, acompanhando o declive da margem oeste do cabeço onde se implanta. Uma característica na morfo- logia da rocha que chama a atenção é o levantamento que ela exibe no sopé do painel, até aí liso. Essa será porventura uma especificidade que a torna identificável a alguma distância. As fossetes formam uma nuvem que se concentra, quase na totalidade na parte superior do painel.

Em Miranda do Douro encontramos um paralelo decorativo na rocha do Rebolhão (S. Martinho de Angueira). Esta fraga situa-se numa encosta do vale do rio Angueira e no declive Leste dum pequeno esporão onde se implanta um povoado fortificado - «Castro de pedras fincadas» (Sanches, 1992: 41). No topo do afloramento definem-se 7 conjuntos de covinhas próximos entre si (idem).

Sublinhe-se que a implantação de ambas as rochas é análoga e, à semelhança do Rebolhão, também a rocha Cabeço do Fidalgo poderá estar relacionada com o local ho- mónimo, que se localiza no cimo da eminência da actual ilha. Apesar de ainda estar mal caracterizado, as prospecções aí realizadas, tanto por elementos da Associação Terras Quentes como pelos arqueólogos da Extensão do IPA de Macedo de Cavaleiros, situam cronologicamente o sítio no período romano, colocando a hipótese do local também poder ter sido ocupado na Idade do Ferro.

Parece-nos mais provável que este tipo de gravuras, e dado o contexto arqueológico, se possa situar nalgum momento da Idade do Ferro, se não antes. A menos de um quiló- metro de distância, no sentido noroeste, encontra-se a Fraga da Pegada, também ela com gravuras e que poderá estar relacionada com este sítio. A fase de gravação mais antiga desta rocha, como será exposto mais à frente, situar-se-ia na Idade do Ferro, apre- sentando entre o seu dispositivo iconográfico fossestes de variados diâmetros e profun- didades. As covinhas do Cabeço do Fidalgo apresentam um desgaste muito maior que o visível na Fraga da Pegada, podendo este facto ser interpretado como uma evidência da sua maior antiguidade. Devemos, no entanto, atender ao facto de as águas da barragem se encontrarem actualmente tão próximas do painel que, em períodos de maior pluviosi- dade, estas galgam a rocha, desgastando-a rapidamente.

Apesar de apresentar o mesmo tipo de gravados, ou seja, covinhas com ou sem sulcos que as ligam entre si, a estação de Olminhos é composta por três rochas em forma de crista. A sua implantação topográfica, bem como a visibilidade que se tem delas, dife- renciam-na claramente da Ilha do Fidalgo. Também situado na margem direita do Azibo, dista da rocha anteriormente descrita cerca de 7 km no sentido Sul. Imediatamente à frente do local, na margem esquerda do Rio Azibo, vem desaguar a Ribeira de Salselas. A Este, numa elevação contígua à mesma margem localiza-se o povoado da Terronha, situado cronologicamente na Idade do Ferro. A morfologia do xisto que serve de suporte às gravuras assemelha-se mais à configuração da Fraga da Pegada ou da Fraga da Ferradura, apesar de apresentar apenas covinhas gravadas. As três pequenas cristas seguem-se na cumeada da elevação designada de Vale Covo.

Para além de obedecer a uma implantação diferente da do Cabeço do Fidalgo, devido à morfologia das rochas, também os motivos se distinguem, sobretudo na terceira rocha, por a maioria das fossetes se encontrarem ligadas por sulcos. Na estação de Valeira Ferradura (Tondela, Viseu), a composição estruturada em torno de covinhas e canais que unem algumas delas corresponde à fase de gravação mais antiga daquela rocha, podendo ser tal composição ser comparada com o grupo IX do Castro de Santa Tecla (Pontevedra, Galiza), sedimentado pelos níveis arqueológicos da estação (Costas, 1988 cit. in Santos et al., 2006: 141), sendo-lhe atribuída uma cronologia que a situa entre o III e o II milénio AC. Registe-se no entanto, que analogamente à anterior, esta rocha se encontra próxima de um povoado da Idade do Ferro o que, ligando o sítio ao contexto arqueológico imediato, coloca dúvidas quanto a recuar tanto a cronologia.

O Marco Negro e a Rasca situam-se no cimo da serra de Bornes na linha de cumeada desta. Tanto uma como a outra apresentam poucas covinhas gravadas e seguem o mesmo padrão de implantação. Quando analisado o mapa actual da divisão do terri- tório, observamos que as duas se situam em cima desta. Assim, o Marco Negro marca o sítio entre a freguesia de Olmos (situada a Leste) e de Vilar do Monte (Oeste). A Rasca situa-se na linha que separa a freguesia de Vale Benfeito, do concelho de Macedo de Cavaleiros, da de Soeima, do concelho de Alfândega da Fé. Do lado de Alfândega da Fé, a cerca de 150 metros para Este, situa-se a rocha designada de Tapada dos Espinheiros que também apresenta covinhas gravadas em número de três. Seguindo a cumeada da serra para Sudoeste surgem mais sítios de interesse como o Alto do Álvaro Maio (Bornes), Bornes (Sambade, Alfândega da Fé) e as Fragas da Moura (Sambade, Alfândega da Fé). São todos descritos como sendo pequenas mamoas de um período indeterminado da Pré-história Recente, tendo sido descobertos no ano de 2003 no âmbito de trabalhos de estudo de impacte ambiental. Não temos no entanto elementos suficientes que nos per- mitam ligar estes sítios de uma forma segura às covinhas descritas, sendo mais evidente, numa primeira análise, a implantação destas sobre linhas divisórias do território. É ainda de referir que tanto o Marco Negro como a Rasca se localizam a menos de 70 metros de distância de nascentes de linhas de água e Ribeiros. Uma ribeira, no caso da primeira e duas linhas de água no caso da segunda. Para além de um carácter delimi- tador, não podemos excluir uma função de regular o controle da água das nascentes. A Fonte de Caravelas 2 partilha com as Rasca e com o Marco Negro o facto de nela se encontrarem esculpidas apenas duas covinhas, neste caso ligadas por um sulco. A sua lo- calização na paisagem destaca-se das anteriores por se encontrar numa encosta voltada para um Ribeiro, na Meia-Encosta Nordestina. Cerca de 70 metros abaixo, na vertente, situa-se uma possível mamoa designada por Fonte de Caravelas 1, descoberta em 2006 na sequência de estudos de impacto ambiental. O mesmo estudo dá ainda conta de uma outra possível mamoa, designada de Labor, afastada da anterior cerca de 2,5 quilóme- tros no sentido Sudeste. De qualquer forma, estas possíveis mamoas carecem de uma confirmação mais profunda.

Grupo II: Fraga da Pegada, Fraga da Ferradura e Fornos de Mouros

Este grupo apresenta associações entre motivos típicos da arte esquemática ibérica e, do também designado Grupo II, definido por António Martinho Baptista nos anos 80 do século XX (Baptista, 1983-1984; 1986), carecendo este último entretanto de revisão (Figueiredo e Figueiredo, 2008). Assim, surgem representados os antropomorfos (cruci-

formes, em fi grego…), círculos, quadrados e rectângulos segmentados ou não no interior, ferraduras com ou sem covinha central, podomorfos humanos, entre outros motivos. A nível geográfico, estas gravuras conhecem uma grande expressão peninsular, sendo que em Portugal se distribuem por todo o Norte, estendendo-se para as Beiras.

Estudos efectuados em rochas com este tipo de temática foram levados a cabo em esta- ções como o Gião no Minho (Baptista, 1981), Tripe e Outeiro Machado em Trás-os- -Montes Ocidental (Baptista, 1983-1984). Mais recentemente, foram também conduzidas pesquisas no concelho de Tondela (Viseu), em rochas que abarcam este tipo de temática (Santos, 2003; Santos et al., 2006). Em Espanha, junto à fronteira com Bragança, torna- se expressivo o estudo levado a cabo em El Pedroso (Bradley, R. et al., 2005). Na área de Trás-os-Montes Oriental, o número de rochas que apresenta esta temática é elevado, con- trastando com o número de estudos efectuados. O maior número de rochas publicadas, neste âmbito, encontram-se no livro “Património Arqueológico do Concelho de Carrazeda de Ansiães”, editado em 2005 pela câmara desta região (Pereira e Lopes, 2005). Tal como já foi referido, de todo o conjunto de gravuras ao ar livre que aqui se apresenta, a Fraga da Pegada foi a única que conheceu um trabalho de investigação aprofundado. Os trabalhos realizados passaram pela limpeza integral da rocha e pelo levantamento completo das suas gravuras que, ao todo, somaram mais de seis dezenas. O seu disposi- tivo iconográfico conta com cruciformes, ferraduras, podomorfos e covinhas, entre outros motivos de menor ocorrência todos realizados por picotagem e abrasão. Ao todo foram inventariados 12 painéis distintos que se individualizaram de acordo com as descon- tinuidades morfológicas do xisto onde se encontram. Assim, os motivos distribuem-se por suportes que assumem diferentes formas, orientações, dimensões e inclinações (Figueiredo, 2007).

A Fraga apresenta fundamentalmente duas fases de gravação, sendo que a última corresponde a um período de divisão concelhia, em meados do século XIX, separando a freguesia de Santa Combinha do distrito de Bragança. Esta fase está representada so- bretudo pelas cruzes gravadas profundamente no painel 3 da rocha. A fase mais antiga, porém, começou a ser descortinada aquando da limpeza da rocha, distinguindo-se das gravuras mais recentes. Incorporam este grupo os poucos antropomorfos presentes (ver painel 2 e 3), ferraduras com ou sem covinhas interiores (ver painel 8) e, pelo menos uma pegada executada em linha de contorno (ver painel 10) (idem). Outros motivos são de difícil inserção, podendo pertencer a esta inicial fase de gravação ou, a uma posterior, situada entre a primeira e a segunda.

Na nossa primeira análise ao sítio, depois dos dados recolhidos, atribuímos à fase mais antiga uma cronologia Proto-histórica. Tal deve-se sobretudo ao contexto cultural onde se encontra, tendo para Norte, na Serra da Nogueira, uma rede de povoados deste período (Terronha - Bragança, Castelo - Bragança, Bovinho e Morgão/Cunha – Macedo de Cavaleiros). Para sul, encontra-se o Cabeço do Fidalgo de que já falámos. Tendo em conta os estudos mais recentes, esta linha de ideias poderá ser contrariada. Assim, por exemplo, Santos et al. definem para estações com motivos similares aos da fase antiga da Fraga da Pegada uma cronologia contemporânea ou pouco posterior ao fenómeno me- galítico local, neste caso Tondela (2006: 144). Referem ainda a “reapropriação” destes espaços em tempos Proto-históricos (idem). É tentador, à luz deste estudo, trazer a fase mais antiga da Fraga da Pegada para a Pré-história Recente, introduzindo os restantes motivos, entre a primeira e a segunda fase, na Proto-história. Também em El Pedroso se baliza a ocupação do abrigo com gravuras esquemáticas entre os meados e os finais do III mil. AC (Bradley et al., 2005: 125). Voltando à nossa área de estudo, é interessante ve- rificar que no concelho de Carrazeda de Ansiães, trabalhos de prospecção realizados no seu antigo termo permitiram constatar que estas rochas gravadas se encontram de uma forma quase constante nas bermas ou nas proximidades de caminhos que estruturavam a antiga rede viária (Pereira e Lopes, 2005: 10). De facto, a grande vigência que estes motivos têm, tanto no tempo como no espaço, dificultam o seu estudo, que terá necessa- riamente de ser levado a nível local.

Com uma implantação em tudo semelhante à Fraga da Pegada, a Fraga das Ferraduras distingue-se por ter tido apenas uma face gravada — a virada a poente. É-nos no entanto difícil tecer considerações aprofundadas sobre este sítio pelos motivos já acima citados. Das descrições que nos chegaram, sublinha-se o facto de os motivos se apresentarem or- ganizados no espaço, contrariando algumas concepções que relacionam este tipo de arte com algum caos no aproveitamento do espaço operativo (Baptista, 1983-1984; 1986).

As suas gravuras seriam, no geral, análogas às da Fraga da Pegada, sem os podomorfos, e com um número reduzido de cruzes.

A menos de dois quilómetros no sentido Oeste, encontram-se os sítios habitacionais do Alto da Madorra e Urreta das Mós e o abrigo de Fragas da Moura, enquadrados cronolo- gicamente no Calcolítico local. Colocando a hipótese de a Fraga das Ferraduras ter sido começada a gravar numa fase contemporânea destes locais, ganharia mais força a hipó- tese há pouco colocada para a cronologia da fase antiga da Fraga da Pegada.

O último sítio a ser tratado neste grupo é Fornos de Mouros. Apresenta apenas três motivos gravados numa laje solta — duas ferraduras e um círculo. Do local tem-se uma ampla vista sobre a depressão de Macedo e sobre o Castelo de São Marcos, onde actu- almente se encontra uma capela que, de acordo com alguns investigadores, seria um castro na Idade do Ferro. O afloramento onde os motivos se encontram é difícil de distin- guir devido ao grande número de xistos que se erguem no local. As diferentes análises não nos forneceram, no entanto, informações que nos permitam arriscar conjecturas em relação à sua cronologia ou significado. O mais óbvio, ainda que com reservas, será ligar o sítio a algum momento da Idade do Ferro.

Grupo III: S. Gregório

O sítio de S. Gregório corresponde a um santuário cuja construção se situa nos anos qua-