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Análise das Regularidades nos papéis sociais, regularidade dos processos

CAPÍTULO II O GÊNERO TEXTUAL CASOS PARA ENSINO: ORIGEM,

2.3 Caso para ensino como um gênero textual

2.3.4 Análise das Regularidades nos papéis sociais, regularidade dos processos

As regularidades nos papéis sociais, podem ser verificadas nos casos para o ensino quando estes apresentam responsabilidades diferentes para cada um dos participantes deste evento comunicativo, a saber, o redator (e o revisor caso tenha), o professor e os alunos. O

acesso à informação para redigir um caso é restrito a profissionais da área em que este sendo escrito dando aos produtores liberdades e limites em sua redação.

O acesso às informações para composição desse gênero é destinada a um especialista da área de conhecimento do caso. Os casos foram criados com uma finalidade específica e sua elaboração e emprego em sala de aula é regulamentada por profissionais de áreas de conhecimento que o utilizam. Fachin, Tanure e Duarte (2007, p.15) afirmam que “o caso como recurso didático para o ensino [...] abordando desde os elementos necessários para sua coleta e redação até o conhecimento disponível para seu emprego em sala de aula”. O redator do caso tem uma função que lhe é própria, coletar os dados, escrever respeitando a estrutura do caso utilizando da liberdade e criatividade para tornar a história interessante e motivadora para a resolução do problema. Ele deve trazer informações suficientes sem dar as respostas dos problemas que é cobrado que o aluno resolva, logo, toda liberdade de escrita não deve fugir ao padrão desse gênero.

Já o professor tem a responsabilidade de escolher o caso e preparar uma aula para utilizá-lo, sabendo conduzir a discussão para levar os alunos a refletirem sobre a prática a luz da teoria. Segundo Fachin, Tanure e Duarte

[...] deve haver, assim, todo um trabalho prévio de preparação de uma disciplina com casos, que envolve a seleção deles, a quantidade a ser utilizada ao longo de um curso, como integrá-los ao contexto de uma disciplina, o tempo que cada caso requer para que resulte em uma aprendizagem efetiva por parte dos alunos e a preparação da aula, com o auxílio de uma nota de ensino (FACHIN; TANURE; DUARTE, 2007, p. 34).

Dos alunos é esperado que emitam opiniões, participem do debate, exponham as soluções propostas e argumentem em favor delas utilizando a teoria (FACHIN; TANURE; DUARTE, 2007). Além da responsabilidade de cada participante do evento comunicativo também existe estabelecido uma obrigação quanto ao conteúdo e a exigência de papeis sociais específicos de cada participante. O que se pode escrever são histórias verídicas do ambiente profissional onde exista um problema a ser resolvido, quem pode escrever é uma pessoa que tenha domínio na área a ser estudada e quem pode utilizar é um profissional que tenha interesse e domínio em possibilitar uma reflexão sobre determinados conteúdos.

Com relação às regularidades do processo composicional é possível ratificarmos que os casos para o ensino apresentam em seu procedimento de escrita idiossincrasias tais como: coleta de informações orientada pelos objetivos educacionais do escritor e com instrumentos usuais; análise e organização das informações coletadas conforme a estrutura e objetivo do

caso e o processo de escrita e reescrita para ajustar os dados ao tempo verbal adequado e criar um texto que desperte a interesse do leitor.

A respeito da coleta de informações para escrever um caso: “os instrumentos usuais de coleta de dados para a preparação de casos para o ensino são entrevistas individuais semiestruturadas, em conjunto com observação direta e pesquisa documental.” (ROESCH; FERNANDES, 2007, p. 57). Ainda segundo a autora:

As informações são selecionadas tendo em vista os objetivos educacionais do escritor [...] Um caso para ensino busca despertar uma discussão bem informada, com base em fatos e depoimentos reais. O escritor de casos possui um propósito específico por trás da história, qual seja o de ensinar certos conteúdos e desenvolver habilidades e atitudes nos futuros gestores. Assim, a coleta de dados é direcionada a cobrir certas facetas do problema. O propósito é reconstruir uma situação problemática para treinar os estudantes a lidar com problemas gerenciais enfrentados nas organizações (ROESCH; FERNANDES, 2007, p. 57).

A coleta de dados para construir um caso envolve diretamente o redator com o ambiente profissional pesquisado, um caso não é construído com dados secundários ou hipóteses, bem como ele tem um propósito educacional que leva o redator a filtrar as informações pertinentes a serem narradas. Destacamos que o escritor tem a responsabilidade de omitir a identidade dos protagonistas e da empresa/escola onde a situação relatada aconteceu. Ainda sobre as regularidades do processo composicional Roesch e Fernandes afirmam que “o mais importante é estar ciente de que sua (a do escritor) missão é apresentar um problema organizacional dentro do seu contexto e oferecer detalhes suficientes aos leitores” (2007, p.70). Após coletar os dados, o redator deve selecionar quais aspectos são importantes para que os alunos compreendam a situação e possam opinar sobre ela, tendo sempre em mente que ele está elaborando um problema profissional no formato de caso para o ensino. Nesse processo, ele precisará escrever e reescrever o caso ajustando o tempo verbal e utilizando criatividade para despertar a participação do leitor/aluno.

Conforme Gil (2004), a leitura do caso para o ensino, destina-se a levar o profissional em formação a ter contato com uma situação real de gestão (no caso da área de Administração). Isso nos mostra que os casos também apresentam regularidades no processo de leitura. Ela é realizada com a finalidade de promover uma aproximação com a realidade profissional. O leitor do caso para o ensino mantém o foco de sua leitura em compreender o problema existente na narrativa, para relacioná-lo com uma teoria adequada e propor uma solução. De acordo com Roesch e Fernandes,

Para um debate frutífero, é importante que cada aluno tenha lido o caso com atenção. Para esse efeito, o professor, ao distribuir o caso, pode incluir uma folha com certas perguntas pertinentes que ajudem o aluno na leitura e passar uma lição de casa em que ele tem de escrever e apresentar um resumo do caso. (ROESCH; FERNANDES, 2007, p.138).

Além da finalidade que a leitura de um caso tem e da exigência de uma leitura que retire informações e desenvolva uma boa compreensão do caso, também temos uma indicação como se dá as etapas de leitura: a primeira leitura é individual para conhecer a história do caso, a segunda leitura é para marcar os pontos relevantes que o ajudarão a identificar os problemas, a terceira leitura é feita pelo professor para iniciar a discussão do caso com a turma, depois segue-se quantas leituras forem necessárias para o aluno solucionar as questões propostas no caso. (GOMES, 2006)

Para Fachin, Tanure e Duarte (2007) os casos são escritos para serem utilizados no ambiente acadêmico, marcando outra regularidade no processo de leitura, pois o texto tem um local e razão para ser lido, em um ambiente de formação profissional e com a finalidade de promover a convergência entre teoria (da academia) e prática (da empresa/escola).

Ao verificamos no caso para o ensino a existência de todas as características de um gênero textual elaboradas por Swales e das regularidades textuais, regularidades nos papeis sociais, regularidade no processo composicional e regularidades do processo de leitura propostas por Paré e Smart, podemos afirmar que o caso não é apenas uma metodologia, um método, mas compreende um gênero textual utilizado em contexto de formação profissional, portanto um gênero acadêmico/profissional.