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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3. Análise das relações entre os órgãos ambientais e os CETAS/CRAS

Com base nas respostas às questões sobre a aproximação institucional entre os CETAS e CRAS e os órgãos ambientais municipais, que possibilite a realização de parcerias no desenvolvimento dos trabalhos de ambos os órgãos, foi possível compreender como atualmente se caracterizam as relações entre eles. É importante salientar que esta etapa das análises dos resultados será focada naqueles municípios e CETAS/CRAS cujas gestões sejam diferentes da municipal, ou seja, onde esses centros não integrem o sistema da Administração Pública Municipal. As respostas dos responsáveis pelos órgãos ambientais municipais e pelos CETAS/CRAS paulistas foram sintetizadas na tabela 16.

Tabela 16: síntese dos resultados referentes às relações institucionais entre CETAS/CRAS e órgãos ambientais municipais.

CETAS/CRAS Administração Pública Municipal Envolve CETAS/CRAS Tipo de Parceria CETAS/CRAS e Órgãos Ambientais Locais Construção de Políticas Públicas Locais em conjunto

CRAS PRÓ-ARARA SIM - -

APASS

NÃO NÃO HÁ NÃO HÁ

CETAS BARUERI

SIM - -

CENTROFAUNA/Instituto

Floravida NÃO Informal/

Educação Ambiental (E.A.) NÃO HÁ

CEPTAS UNIMONTE

NÃO Formal/Estrutura física

(CETAS em área municipal) NÃO HÁ

CETAS VITAS

SIM - -

*CETAS Instituto GREMAR

NÃO

Formal/Estrutura física (CETAS em área municipal) e Informal (E.A.)

NÃO HÁ**

IBAMA LORENA

NÃO Informal/Estrutura Física e

E.A. NÃO HÁ**

*CRAS AIUKÁ

NÃO Informal/

Educação Ambiental (E.A.) NÃO HÁ

UNIVAP

NÃO Informal/Educação Ambiental NÃO HÁ

CRAS PET

NÃO NÃO HÁ NÃO HÁ**

FUNDAÇÃO ANIMALIA NÃO NÃO HÁ NÃO HÁ

*Instituto Argonauta

NÃO Formal/Estrutura física

(CETAS em área municipal) NÃO HÁ

Fonte: elaborada pela autora. *CETAS/CRAS que recebem animais marinhos. **Destaques.

Dentre os CETAS e CRAS paulistas que não compõem a estrutura administrativa municipal e, assim, podem ocorrer parcerias formais com as respectivas Prefeituras Municipais, estão: APASS, CENTROFAUNA, CEPTAS UNIMONTES, INSTITUO GREMAR, IBAMA LORENA, CRAS AIUKÁ, UNIVAP, CRAS PET, FUNDAÇÃO ANIMÁLIA E INSTITUTO ARGONAUTA (onze, dentre dezesseis).

Aquelas parcerias estabelecidas formalmente entre os municípios e os respectivos CETAS e CRAS ali localizados (sete dentre dezesseis) ocorrem a partir do apoio da Prefeitura Municipal na concessão de recursos financeiros e áreas públicas para a instalação das estruturas físicas dos respectivos CETAS e CRAS. Este tipo de apoio é extremamente

importante, considerando as dificuldades desses centros em termos financeiros, o que não permite muitas vezes que adquiram áreas viáveis para construir suas estruturas físicas necessárias.

Para o ESPECIALISTA 1, “Depois que o [Programa] Município Verde Azul começou a pontuar os municípios que ajudam os Centros de Triagem, então a gente percebeu que alguns desses locais começaram a “viver melhor”. Alguns [CETAS/CRAS] cobram taxas “anuidades/mensalidades” de prefeitura para receber os animais dessas cidades [regionalmente]. Além disso, o Ministério Público de lá também apoia bastante o trabalho deles”. Nesse sentido, se evidencia a importância do incentivo do Estado para esse tipo de parceria, entre prefeituras e centros de triagem, considerando que o Programa Município Verde Azul é proposto pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo.

Com relação ao município de Assis e a APASS, segundo o responsável pelo órgão ambiental da cidade, existe atualmente uma animosidade entre a administração municipal e os responsáveis pelo centro de triagem, pois o valor anteriormente repassado por convênio era de um montante maior. Segundo ele, “Existia um convênio, havia um repasse mensal da prefeitura para a ONG gestora do CETAS. Esse repasse era um valor mensal considerável e aí, na mudança de gestão, o novo prefeito entendeu que esse não era um compromisso que ele tinha assumido, e ele entendeu por bem, por seus próprios princípios, não renovar.”

Deste trecho da sua fala, é interessante destacar a ideia da descontinuidade das ações quando ocorrem as mudanças de equipes política nos municípios, o que pode levar ao fim de trabalhos importantes. Esta realidade confirma a necessidade do estabelecimento de políticas públicas de gestão de fauna que possam consolidar o apoio do Poder Público local aos CETAS e CRAS.

As parcerias informais ocorrem no campo das ações de Educação Ambiental que esses centros oferecem a alunos de escolas públicas das suas cidades, promovendo eventos cujas temáticas envolvam a importância do trabalho na preservação e conservação da vida animal. É importante salientar que tais atividade não envolvem o contato direto dos alunos com os animais em processo de reabilitação, pois não é permitido que os mesmos recebam visitas.

Dentre os CETAS e CRAS que não fazem parte da administração municipal, apenas dois não desenvolvem atividades em parceria, ainda que de maneira informal. Este é um fator positivo que demonstra a existência de relações institucionais entre esses centros e as prefeituras locais, o que pode facilitar a construção de políticas públicas com foco em gestão de fauna silvestre em âmbito municipal.

Este tipo de aproximação se faz ainda mais importante na medida em que os resultados quanto à construção de políticas públicas locais em parceria entre esses órgãos não apontaram para nenhum caso existente. Mas é interessante dar destaque à resposta do responsável pelo CETAS IBAMA LORENA, que afirma participar de um grupo de gestão de fauna com atuação regional. Segundo ele, “Desde 2010 nós trabalhamos assim, a gente sempre participa de fortalecimento, fazemos encontros, projetos de educação ambiental, troca de informações técnicas, apoio técnico à construção de leis”.

Nesse sentido, existe uma iniciativa importante, que poderia ser desenvolvida também em nível municipal, envolvendo o órgão ambiental do município de Lorena, auxiliando na construção de políticas públicas na cidade. Caso parecido ocorre na atuação do responsável pelo CRAS PET, no município de São Paulo, que trabalha na construção de Portarias Estaduais cujos temas se relacionam com a atuação dos CETAS e CRAS. Desta forma, já existe a iniciativa em atuar na construção participativa de políticas públicas que envolvam a gestão da fauna silvestre, a problemática do tráfico de animais, e a atuação dos centros de triagem e reabilitação paulistas.

É preciso trazer essa realidade para o campo local e trabalhar em parceria com os órgãos ambientais locais. Para o ESPECIALISTA 2, “[...] tanto os [CETAS] federais, estaduais, municipais quanto os da iniciativa privada têm suas dificuldades. Eu acho que às vezes falta um pouco de diálogo entre eles, [...]. Então acho que a final de contas, são empreendimentos que têm a mesma descrição e poderiam se ajudar melhor. Às vezes um CETAS ou CRAS que tem um pouco mais de folga poderia ajudar o outro em termos técnicos, de equipamentos. Eu não sei o quanto isso anda entre eles, eu sei que pela distância ser grande entre eles também dificulta.”

Das respostas dos responsáveis pelos CETAS e CRAS à pergunta “Como você acha que poderia se dar essa parceria (caso ela não ocorra)?”, em referência à realização de trabalho em conjunto com a Prefeitura Municipal através do órgão ambiental local, foi possível extrair ideias interessantes, principalmente das respostas dos responsáveis pelos CETAS e CRAS, bem como do representante do órgão ambiental do município K. Este, por exemplo, afirmou ser possível o estabelecimento de parcerias entre o Poder Público municipal e o CRAS a partir do compartilhamento de dados estatísticos existentes nesse centro que possam ser úteis para a construção de políticas públicas locais (“Eu acho que é ter essa percepção mais apurada do que está acontecendo em termos de estatísticas pra que a gente desenvolva novas políticas públicas sobre essa questão.”). E ainda segundo ele, a Prefeitura Municipal poderia atuar na divulgação do trabalho do CRAS (“Acho que a prefeitura também

consegue fazer as divulgações das ações dos CETAS, e também trabalhar com campanhas. A gente pode desenvolver um plano de comunicação bem específico para a fauna, com o CRAS e a polícia ambiental.”).

A partir das respostas dos representantes dos CETAS e CRAS, chama-nos a atenção a possibilidade de estabelecimento de contrato de prestação de serviços entre a organização sem fins lucrativos gestora do CETAS e a prefeitura local, na medida em que o centro desenvolve trabalhos que não são realizados pelo município, como o recebimento e tratamento adequado dos animais silvestres oriundos de apreensões e atividades no campo educativo que abordam especificamente a temática da fauna silvestre.

Outra questão apontada foi a da possibilidade das prefeituras oferecerem recursos humanos, recursos materiais e áreas para os CETAS e CRAS, o que ajudaria a suprir muitas de suas necessidades, como apontado no seguimento acima em que se discutiu as principais fraquezas das instituições em foco. A realização de capacitação por parte dos técnicos desses centros a funcionários municipais, como os integrantes de grupamentos de defesa ambiental (Guarda Civil Ambiental), também se mostra promissora, e já ocorre no município de Praia Grande e no CRAS AIUKÁ.

O estabelecimento de critérios que visem o repasse de recursos financeiros ou materiais aos CETAS e CRAS por qualquer órgão público ou privado que necessite obter licença ambiental, também foi uma ideia interessante sugerida pelo responsável do CRAS PET, como se pode observar no seguinte trecho de sua fala: “Por exemplo, hoje, as empresas pra conseguir o licenciamento ambiental, elas precisam de uma carta de anuência de um CETAS. Quando tem impacto, elas vão precisar fazer monitoramento, regate de fauna, há necessidade disso. Então a gente está tentando valorar essa carta pra que esse empreendimento, já que tem um impacto, haja uma compensação, por exemplo, fazendo doações para um CETAS”. Ainda que este CRAS seja gerido por um órgão estadual, a sugestão de seu responsável poderia ser aplicada à realidade municipal, já que os órgãos ambientais municipais também podem realizar o licenciamento de atividades potencialmente lesivas ao meio ambiente, como estruturas integrantes do SISNAMA.