• Nenhum resultado encontrado

3.4 Análise e Interpretação dos Dados

3.4.2 Análise de Conteúdo

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas que a partir de procedimentos e comunicações objetivas, visualizam indicadores (que podem ser qualitativos ou quantitativos) possibilitando estudar e medir tais mensagens.

Sua finalidade é deduzir de forma lógica e com justificativa estas mensagens selecionadas pelo pesquisador, podendo ainda utilizar mecanismos variados para complementar e validar os resultados da interpretação (BARDIN, 1977).

A análise de conteúdo trabalha com palavras, procurando interpretar e refletir suas mensagens implícitas. Considerando as características desta análise, pode-se dizer que ela tem duas funções, que caminham juntas ou não, dependendo do contexto prático.

A primeira é a função heurística, em que colabora para um maior aprofundamento de um estudo exploratório, do assunto tendo maiores possibilidades de descobertas.

E, a segunda é a função de administração da prova, composta por questões (hipóteses) que direcionam a pesquisa em busca da confirmação destas hipóteses ou não (BARDIN, 1977).

112 Uma das formas de alcançar a manipulação dos conteúdos estudados pode ser através da análise categorial, ou seja, a análise de significados. A análise categorial leva em consideração o conteúdo de um texto na sua totalidade.

Nesta análise é feita uma seleção detalhada de temas que mais se evidenciam, ou dos que são mais ausentes, obedecendo a uma ordem percentual de forma racional e objetiva. Consiste na classificação dos elementos em diferentes pastas, estabelecendo uma ordem de assuntos, que vai depender da escolha de tais critérios de classificação.

Um desses critérios ou técnica é a análise temática, que consiste na subdivisão de temas que são classificados e refletidos profundamente, sendo que o número de subdivisões é determinado pela dimensão da análise e do objetivo desta (BARDIN, 1977).

A análise temática possui três fases, a saber:

A pré-análise: constituída pela organização da análise, que se baseia em três missões, mas que não seguem necessariamente uma ordem formal. São missões desta fase: escolher documentos a serem analisados para uma leitura superficial a fim de delimitar o universo, formular hipóteses para testes de validação e objetivos que são considerados como resultado geral do trabalho e, elaborar indicadores que fundamentem a interpretação final.

Ao final desta primeira etapa faz-se uma preparação do material já com edições que vão desde conteúdos diretos a conteúdos transcritos pelo pesquisador conforme sua compreensão.

A exploração do material: consiste na codificação, eliminação ou até enumerações que serão estabelecidas mediante as regras adotadas.

Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: aqui o pesquisador faz uma “lapidação” dos resultados brutos, dando sentidos significativos e validade a eles.

113 Após a reunião de todo o conteúdo textual do trabalho, o pesquisador faz uso desta técnica para buscar compreender a mensagem que se deseja transmitir, realizando perguntas que podem ser respondidas pelo conteúdo desta mensagem.

Segundo Bardin (1977, p. 77) a análise temática é a “contagem de um ou vários temas ou itens de significação, numa unidade de codificação previamente determinada”.

Os passos para sua realização iniciam-se com a conscientização do assunto do texto, que revela o tema da unidade. Em seguida, tenta-se identificar o problema do texto, que é considerado a inspiração para toda a redação do conteúdo.

Depois de encontrado a problemática, tenta-se fazer uma ligação com o que o autor levou em consideração sobre o problema, qual o seu posicionamento, sua opinião defendida. Com isso, chega-se à idéia central da unidade e, as outras idéias encontradas ou são complementares ou ligadas a ela (SEVERINO, 2000).

Ao chegar nesta última etapa, pode-se perceber que a idéia central já foi captada, restando as idéias paralelas ou secundárias que, para serem visualizadas, basta questionar se há outros assuntos tratados na unidade. Tal idéia central é que dará base para o processo de categorização.

A categorização é a reunião de um conjunto de elementos em uma mesma classe sobre um título genérico, em que estão elementos classificados com algumas características em comum, podendo esta categorização ser do tipo semântica (temática).

Para categorizar tais elementos, exige-se uma investigação detalhada do que cada um deles pode ter em comum, a fim de possibilitar o seu agrupamento, que só ocorre com a existência de partes semelhantes entre eles.

Tal processo de categorização é considerado estruturalista por Bardin (1977), que o que divide em duas etapas: o inventário, onde os elementos são isolados e; a

114 classificação, momento de divisão dos elementos, procurando ou impondo uma determinada ordem às mensagens.

A categorização tem como objetivo principal expor o conteúdo bruto de uma forma clara e condensada, fazendo com que os dados ocultos possam ser visualizados. Acreditando nesses fatores é que o pesquisador parte para a categorização, após uma análise de conteúdo codificada.

Para a realização da categorização, pode-se optar pelo processo que mais se adapta aos seus estudos, sendo que um deles é denominado de procedimento de milha e o outro procedimento de caixa.

Neste procedimento, o pesquisador já tem em suas mãos as categorias, bastando classificar os elementos em cada uma delas, já na anterior, o pesquisador tem os elementos e a partir dele é que vai determinar a categoria e agrupá-los mais tarde. Um bom conjunto de categorias possui as seguintes qualidades, segundo Bardin (1977):

¾ Exclusão mútua: elemento só pode existir em apenas uma categoria; ¾ Homogeneidade: ter um único princípio de classificação para organizá-la;

¾ Pertinência: quando a categoria está de acordo com o quadro teórico e com o material de análise determinado;

¾ Objetivo e finalidade: as partes do material que corresponder a mesma grade de categorização devem ser seguidas com o mesmo padrão, independente da quantidade de análise;

¾ Produtividade: quando o conjunto categórico produz resultados satisfatórios.

A categorização é realizada após a codificação dos elementos para posterior identificação. A codificação nada mais é do que a exploração máxima do texto bruto, por

115 meio de recortes, agregação, enumeração de forma a obter uma representação de seu conteúdo e poder verificar dentro de suas características, quais podem se tornarem índices.

Sua organização pode ser feita por três escolhas, quando se tratar de análise quantitativa e categorial: “o recorte: escolha das unidades; a enumeração: escolha das regras de contagem; a classificação e a agregação: escolha das categorias” (BARDIN, 1977, p. 104).

Quanto à escolha das unidades existem dois tipos a serem codificadas: a de registro e a de contexto.

A primeira é de significação e pode ser considerada como um segmento de conteúdo, ou seja, uma unidade base que busca a categorização e a contagem frequencial. Suas unidades mais freqüentes são: a palavra24, o tema25, o objeto ou referente26, o personagem27, o acontecimento28 e o documento29.

E a segunda é usada para codificar a unidade de registro e dar sentido a ela, pois é considerada como uma unidade de compreensão em que se transforma os registros em mensagens com significações exatas. Esta unidade apresenta-se como a maneira de fazer a contagem, diferente da unidade de registro, que é a determinação do que contar.

Para a classificação de abordagens, tem-se a análise quantitativa e a análise qualitativa. A abordagem quantitativa prende-se na freqüência de determinados elementos da mensagem. Sua abordagem é mais exata e mais objetiva, por ser mais rigorosa.

24 de validade lingüística (BARDIN, 1977).

25 muito usado na análise temática. O tema tem significação complexa, tendo interpretações das mais variadas e

psicológicas, podendo ser uma afirmação ou desenvolver diversas afirmações, sendo assim, de um tema pode gerar vários outros (BARDIN, 1977).

26 tema central que dirige todo o discurso ao seu redor (BARDIN, 1977).

27 escolhe-se uma pessoa para se considerar unidade de registro (BARDIN, 1977).

28 quando há existência de narrações ou relatos sobre algum fenômeno, o que faz com que a unidade central seja

o acontecimento (BARDIN, 1977).

29 chamado também de unidade do gênero, pode ser um registro no caso de poder ser generalizado e realizada

116 A abordagem qualitativa busca indicadores não frequenciais. Ela se baseia em intuições, sendo mais maleável e enquadrando-se rapidamente a imprevistos, característica mais apropriada no caso de querer lançar hipóteses, de querer elaborar deduções específicas, além de outras possibilidades de sua implantação.

A caracterização da análise qualitativa está na inferência considerada como uma interpretação controlada na análise de conteúdo e que é sempre fundada com índices (temas, palavras, personagens, etc) e, a característica da análise de conteúdo também é a inferência, independente desta estar baseada em indicadores quantitativos ou não (BARDIN, 1977).

Para qualquer tipo de investigação, tem-se a intenção de gerar inferências com validade. A análise de conteúdo tratada nesta abordagem metodológica tem uma boa indução se for considerar as causas a partir dos efeitos, chegando, portanto a tais inferências válidas.

Porém, mesmo podendo estar ao alcance dos efeitos, através de fenômenos conhecidos, percebe-se a existência de indicadores e inferências possuidores das mais diversas origens, sendo específicas ou gerais, em que esta acaba tornando-se uma análise de conteúdo de outra análise de conteúdo já realizada, provavelmente para generalizar o específico, que trata de uma análise em especial que está direcionada a um fenômeno, ou a um recorte do todo.

A análise acompanha o pesquisador em todo o processo do qual, André e Lüdke (1986) lembram que, as reflexões que surgem no decorrer das atividades devem ser registradas para que não se esvaneçam até o final do trabalho, onde tudo será resgatado para uma profunda análise.

Os autores concordam com Rudio, na questão do processo de análise, mas completa afirmando que o primeiro passo, constituído pelas categorias, deve contar com o

117 apoio de referencial teórico, de onde surge a primeira classificação dos dados que podem ser suficientes ou exigir novas categorias.

Para a criação dessas categorias é necessário ainda, reler inúmeras vezes o conteúdo, a fim de promover a identificação dos assuntos no desenvolvimento de todo o trabalho, para posterior adesão dos comentários sobre um mesmo foco e assim codificá-los, mas nunca perder a visão do todo.

No final dessas fases, o pesquisador deve continuar seu trabalho fazendo ainda considerações que vão além das descrições dos fatos. Ele precisa contribuir com um novo pensamento ou novos questionamentos que indiquem a necessidade e estudos futuros, sendo esta a etapa mais difícil de seu trabalho científico.

Para analisar os dados desta dissertação, a pesquisadora adotou a análise categorial, tendo como critério a análise temática, que foi realizada com enfoque nas funções dos gerentes do HU, através da contagem de variados itens dentro de uma “pasta” de codificação, determinada pela categorização.

Portanto, à partir das unidades de registro (afirmações dos sujeitos), selecionadas e codificadas, foi realizado um pré-agrupamento, conforme a semelhança do tema (assunto), formando a categoria temática, que também foram agrupadas em sub- categorias para finalmente formar as categorias.

É importante ressaltar que a organização destes agrupamentos foram baseados nos objetivos, mas sobre a ótica da pesquisadora com relação ao fenômeno. Desta forma, é possível que haja diferentes formas de organização e de reflexão acerca dos mesmos dados, por outros indivíduos, o que não deixa de ser válido também.

Assim, deve-se levar em consideração, quando se questionar uma análise que, o pesquisador pode ter espelhado em seus conhecimentos, valores e cultura somados à

118 metodologia aplicada, de modo a realizar um trabalho que corrobore com os estudos já existentes.

Documentos relacionados