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ANÁLISE DE CONTEÚDO E O ATLAS TI: SITUANDO AS RELAÇÕES

Utilizamos a técnica da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2002) para descrever e interpretar o conteúdo dos instrumentos usados para a coleta dos dados: os questionários e os relatos de experiência dos projetos de ensino realizados em sala de aula.

Para análise dos dados coletados, seguimos as etapas da Análise de Conteúdo: pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados, inferência e interpretação (BARDIN, 2002), as quais associadas ao uso do software Atlas TI, consistiram em: (leitura flutuante, preparação dos materiais, identificação codificação

dos documentos, criação das unidades hermenêuticas, associação dos documentos primários, descoberta das passagens relevantes, construção dos códigos e memos, contagem de palavras, seleção de segmentos do texto, etc.).

Conforme discutido anteriormente, na Análise de Conteúdo diferentes unidades de registro podem ser empregadas, tais como: a palavra, o tema, o documento, etc.. Em nosso estudo, as unidades de registro selecionadas foram os elementos estruturantes da atividade com base na Teoria da Atividade (LEONTIEV, 1978). Conforme explica Bardin (2002), a análise temática consiste em encontrar ‘núcleos de sentido’ que sejam significantes para a mensagem analisada.

6.2.1 Preparando as informações (pré-análise e exploração do material)

O primeiro passo foi a preparação dos dados a partir da organização dos instrumentos de coleta de dados, a saber: os questionários, os projetos de ensino e os relatos orais (gravação em áudio). Destes documentos desconsideramos os relatos orais devido a problemas técnicos de gravação de alguns relatos, enquanto outros não acrescentaram dados novos além dos que já haviam sido analisados nos relatos de experiência escritos.

Foi imprescindível a leitura de todo o material de coleta para conhecimento do conteúdo nele inserido, favorecendo a análise das informações. A princípio, fizemos toda leitura dos questionários e destacamos tudo que foi relevante para o nosso objeto de pesquisa. A mesma coisa aconteceu com os projetos de ensino. A exploração dos questionários e dos projetos de ensino permitiu-nos maior apropriação do conteúdo desses documentos.

Então realizamos a inserção no Atlas Ti de todos os materiais originais em pastas separadas, nomeando-as de acordo com a natureza de cada instrumento de coleta de dados. Esses documentos denominados unidades hermenêuticas correspondem aos arquivos que contêm todos os dados de pesquisa, provenientes dos arquivos de origem e foram salvos em pastas no computador com extensão RTF (Rich Text Format).

Após reunirmos os documentos referentes à pesquisa nessas pastas e proceder à leitura para conhecimento do conteúdo desses instrumentos, realizamos o processo de codificação dos materiais, identificando-os com letras e números equivalentes as iniciais do documento e do sujeito investigado, por exemplo, (PDP19

– projeto didático, professor 19). No Atlas Ti existe uma ferramenta que permite o armazenamento desses documentos, são denominados documentos primários. Em todos os instrumentos analisados foram utilizados os mesmos códigos. Esta codificação serviu para além de identificar cada elemento dos materiais analisados, manter coerência nas identificações das informações referentes a cada sujeito.

Figura 5: Ferramenta para armazenamento dos documentos

Fonte: Material de análise – software Atlas Ti (2011)

Continuando o processo, realizamos a transformação do conteúdo em unidade - unidade de registro ou de análise.

Embora essas etapas estejam descritas separadamente, na prática, de acordo com a experiência do pesquisador elas podem acontecer simultaneamente, ou seja, à medida que vai lendo o material pode identificar algumas das categorias e o uso do software permite o procedimento de codificação, simultaneamente. Entretanto, descreveremos cada etapa separadamente por motivo de organização e para sermos fiéis a forma como a autora da AC considera.

6.2.2 Explorando os materiais

A etapa de exploração dos materiais corresponde a diferentes momentos da análise dos dados. Nessa etapa acontece a transformação do conteúdo em unidades de registro, ou seja, a unitarização (MORAES, 1999).

Realizado de maneira primária, sem a utilização de software específico para esta etapa da análise de conteúdo, cada documento foi inserido no Word e com o auxílio da ferramenta de realce de cor, marcamos nos textos referentes aos

questionários e aos projetos de ensino, os aspectos relevantes relacionados às categorias relacionadas a cada instrumento.

Para os questionários, as categorias relacionam-se as perguntas, entre elas: mídias usadas; justificativa de uso; frequência de uso; etc., enquanto que para os projetos de ensino, as categorias denominadas a priori, foram consideradas a partir da Teoria da Atividade (LEONTIEV, 1978): necessidades, motivos, ações e operações. Esses elementos foram tomados como referência para criação dos códigos equivalentes às unidades de registro.

A intenção de realizar esse processo, já nessa fase, foi de facilitar o nosso olhar em relação às categorias de análise definidas previamente, para o momento da codificação.

6.2.3 Tratamento dos resultados, inferência e interpretação

Esta etapa consiste na categorização ou classificação das unidades em categorias. Para isso é necessário tratar “os resultados brutos obtidos a fim de que sejam significativos e válidos e possam proporcionar ao pesquisador propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos [...]” (BARDIN, 2002, p. 101). Podemos dizer que implica agrupar os dados de acordo com as semelhanças e analogias previamente estabelecidas, por meio de critérios determinados, com base no problema, nos objetivos e elementos utilizados na análise de conteúdo.

Figura 6: Categorização do documento - questionário

12.1-AÇÕES PROFESSOR {16-0} [1:30][60] --- o professor discutiu juntamente com a turma questões ligadas à responsabilidade social e à cidadania [1:34][60] --- houve discussão dos principais pontos de cada texto [1:40][55] --- exibiu um vídeo do you tube [1:45][54] --- O professor fez uma retomada das discussões sobre as questões ambientais, tratando sobre o consumismo e o desenvolvimento industrial, que tem se tornados grandes vilões do meio ambiente. [1:50][41] --- discutir com os alunos os conhecimentos deles acerca de questões ligadas ao meio ambiente [1:51][41] --- discutir sobre a importância da preservação ambiental e as transformações ocorridas no meio ambiente. [1:52][42] --- realizamos uma sondagem com os alunos acerca dos conhecimentos dos mesmos sobre questões ligadas ao meio ambiente [2:15][67] --- Apresentação da proposta em sala de aula. [2:16][71] --- Comparação das opiniões dos alunos sobre a situação dos afro-descendentes no passado e na atualidade [2:25][88] --- Haverá uma apresentação e uma exposição com todos os trabalhos produzidos na sala de aula. [2:30][44] --- Problematizar questões relativas ao preconceito racial e a consciência negra. [4:18][44] --- os alunos foram instigados a participar de um reconto oral sobre as histórias que mais gostaram. [4:25][59] --- Os alunos foram estimulados a participar da construção de um texto coletivo [4:55][108] --- os alunos foram estimulados a produzir oralmente a história, orientados pela sequência das cenas

[4:58][115] --- orientados a organizar, em uma cartolina, as histórias que eles produziram. 12.1.1-AÇÃO DO PROFESSOR - CONTEÚDO {7-0} 12.1.2- AÇÃO DO PROFESSOR - MÍDIAS {6-0} 12.1.3-AÇÃO DO PROFESSOR - ORIENTAÇÃO DA ATIVIDADE {2-0}

De acordo com Bardin (2002), a unidade de registro (UR), apesar de dimensão variável, é na ordem semântica, o menor recorte que se extrai do texto, podendo ser uma palavra-chave, um tema, objetos, personagens, etc. O resultado deste processo será diferentes mensagens divididas em elementos menores, devidamente codificados.

A unidade de significação a codificar corresponde ao segmento do texto (conteúdo) a considerar como unidade de base. Sendo assim, a cada unidade de registro do documento analisado no software Atlas Ti equivale a um código.

O resultado desse processo de codificação está exemplificado abaixo na figura 7, pela representação de uma teia construída para representar as relações entre o código ação do professor e as citações a ele correspondentes extraídas do documento. Para melhor visualização esta teia encontra-se em anexos.

Os recortes das teias geradas no Atlas Ti foram utilizadas na análise dos dados dos questionários e nos projetos de ensino, cujos resultados são apresentados nos capítulos 7 e 8.

As diferentes possibilidades de organização dos dados codificados permitem a geração de distintas teias, a partir das quais foram realizadas as inferências e as interpretações.

Figura 7: Teia gerada a partir da codificação das citações.

A análise desse grupo de citações permitiu-nos perceber que existem ações referentes: a) ao professor (sintetizam as ações enfocadas pelos professores ao organizarem as situações de ensino) e b) aos alunos (para o desenvolvimento das tarefas solicitadas pelos professores). Entre as ações do professor, podemos, ainda, distinguir ações do professor para o uso das mídias; outras relacionadas ao conteúdo e, também, à orientação da tarefa. Essa distinção para cada uma das categorias permitiu a geração de códigos, aos quais agrupamos todas as ações correspondentes, estabelecendo, desse modo, uma relação de sentido entre as citações e os códigos, conforme demonstrado na figura 7, gerando, desse modo, uma família ou uma rede. O código ação refere-se a tudo que se relaciona no projeto com as ações planejadas e executadas pelo professor para que os objetivos sejam atingidos.

A análise desses elementos, especificamente das ações realizadas por professores e alunos, permitiu identificar o tipo de mídia utilizada, as ações que prevaleceram na proposta de ação pedagógica elaborada pelos professores, determinantes para a integração das mídias e de que modo foram integradas.