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CAPÍTULO 1 - ABORDAGEM METODOLÓGICA E CATEGORIAS

1.3 MÉTODOS DE ANÁLISES

1.3.1 Análise de conteúdo

e privado, estudantes e pesquisadores dos Núcleos de Inovação das Universidades. O evento serviu para ampliar os conhecimentos que permitam vislumbrar alternativas para o desenvolvimento sustentável do Paraná. Alguns debates foram realizados, entre os quais podemos citar: A Política de Resíduos Sólidos e as Demandas para a sua Implantação, Fontes de Fomento e Financiamento para a área de Resíduos, Plano de Gestão Integrada e Associada de Resíduos Sólidos Urbanos no Estado do Paraná.

1.3 MÉTODOS DE ANÁLISES

Este item contem os dois métodos de análises que buscamos para trabalhar nesta pesquisa interdisciplinar na perspectiva construcionista: a análise de conteúdo e a análise argumentativa. As duas análises foram escolhidas para tentar resolver as questões e objetivos propostos, e na tentativa de representar mais fielmente a "realidade".

1.3.1 Análise de conteúdo

Para a efetivação da análise quali-quantitativo sobre a cobertura do jornal Gazeta do Povo, no período de 1.o de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2012, sob o recorte da desativação do aterro sanitário da Caximba e da implantação do aterro sanitário em Fazenda Rio Grande na RMC, foram seguidas orientações teóricas do método análise de conteúdo (AC), de acordo com técnicas propostas por Bardin (2006) e Bauer (2002).

Conforme Bardin (2006, p.33), o campo da análise de conteúdo "é um conjunto de técnicas de análise das comunicações", que visa obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens, ou

seja, inferência refere-se à extração de estruturas traduzíveis em modelos, uma hermenêutica controlada, baseada na dedução.

Dessa forma, pode-se considerar que a AC é apenas um método de análise de texto desenvolvido dentro das ciências sociais empíricas. Se, por um lado, a maioria das análises de conteúdo clássicas culmine em descrições numéricas de algumas características do corpus do texto, considerável atenção está sendo dada aos "tipos", "qualidades" e "distinções" no texto, antes que qualquer quantificação seja feita. Por conta disso, Bauer (2002, p.190) considera que essa análise faz uma

"ponte entre um formalismo estatístico e a análise qualitativa dos materiais", e na divisão quantidade-qualidade, a AC é uma "técnica híbrida que pode mediar esta improdutiva discussão sobre virtudes e métodos".

Além disso, a análise de conteúdo é uma "construção social", pois leva em consideração alguma realidade, neste caso o corpus do texto, e ela deve ser julgada pelo seu resultado. Todavia, esse resultado não é o único fundamento para se fazer uma avaliação. Na pesquisa, o resultado vai dizer se a análise apresenta produções de interesse e que resistam a um minucioso exame. Para isso é preciso utilizar quatro critérios: coerência, fidedignidade, transparência e validade (BAUER, 2002, p.203).

A adoção regular da AC só veio a acontecer no início do século XX em vários campos do conhecimento. Nas ciências políticas propiciou a descoberta de armas secretas alemãs pela Inglaterra, a partir do estudo da propaganda nazista; na psicologia, contribuiu para o diagnóstico de pacientes por meio da análise da gravação de entrevistas terapêuticas; na crítica literária, permitiu destacar os traços característicos do estilo de um autor; na sociologia, a entender a diversidade das mentalidades nacionais; na comunicação de massa, a comparar as atitudes adotadas por diferentes jornais em épocas de eleição (BAUER, 2002).

Assim como as análises de discurso e semiótica, a AC ocupa-se basicamente com a análise de mensagens, no entanto, somente esta última cumpre com os requisitos de sistematicidade e objetividade:

A análise de conteúdo é sistemática porque se baseia num conjunto de procedimentos que se aplicam da mesma forma a todo o conteúdo analisável.

É também confiável – ou objetiva – porque permite que diferentes pessoas, aplicando em separado as mesmas categorias à mesma amostra de mensagens, possam chegar às mesmas conclusões (LOSANO, 1994, p.141-142).

Na perspectiva de Bauer (2002), a AC possui atualmente três qualificantes:

1) orientação fundamentalmente empírica, exploratória, vinculada a fenômenos reais e que afirma antecipadamente; 2) perspicácia das noções normais de conteúdo, envolvendo as ideias de mensagem, canal, comunicação e sistema; 3) metodologia própria, que permite ao investigador programar, comunicar e avaliar criticamente um projeto de pesquisa com independência de resultados.

Nesse sentido,

Enquanto esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre os dois polos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Absolve e cauciona o investigador por essa atração pelo escondido, o latente, o não aparente, o potencial do inédito (do não dito), retido por qualquer mensagem (BARDIN, 2006, p.11).

Dentre as possibilidades técnicas ofertadas pelo método, optou-se, para a aplicação neste estudo, da chamada 'análise categorial'. O objetivo foi o de diagnosticar como a imprensa local cobriu a temática da poluição do solo, água e ar por disposição inadequada de resíduos a partir da análise quali-quantitativa de 249 textos (Editorial, Entrevista, Nota e Reportagem) publicados sobre o tema no período de doze anos no jornal Gazeta do Povo. Além disso, foram publicados mais 254 textos considerados como de opinião do leitor divulgados na Coluna do Leitor, totalizando 503 textos (ver abordagem adiante).

A análise categorial

pretende tomar em consideração a totalidade de um 'texto', passando-o pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a frequência de presença (ou de ausência) de itens de sentido. [...] É o método das categorias, espécie de gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem (BARDIN, 2006, p.38-39).

Basicamente, essa categorização consiste no trabalho de classificar e reagrupar as unidades de registro em número reduzido de categorias, com o intuito de tornar legível a massa de dados e a sua diversidade.

Para explicitar, a autora usa o seguinte o exemplo:

Imagine-se [...] certo número de caixas, tipo caixas de sapatos, dentro das quais estão distribuídos objetos, como por exemplo, aqueles, aparentemente heteróclitos, que seriam obtidos se se pedisse aos passageiros de um vagão no metrô que esvaziassem as malas de mão. A técnica consiste em classificar os diferentes elementos nas diversas gavetas segundo critérios suscetíveis de fazer surgir um sentido capaz de introduzir uma certa ordem na confusão inicial. É evidente que tudo depende, no momento da escolha dos critérios de classificação, daquilo que se procura ou que se espera encontrar (BARDIN, 2006, p.39).

Na metáfora das caixas de sapatos citada acima, o interesse não está na descrição dos objetos que estavam nas malas de mão e foram depositados nas caixas pelos passageiros do vagão, "mas sim no que estes nos poderão ensinar após serem tratados (por classificação, por exemplo) relativamente 'a outras coisas'. Estes saberes deduzidos dos conteúdos podem ser de natureza psicológica, sociológica, histórica, econômica" (BARDIN, 2006, p.40), mas sempre buscando se estabelecer, a partir da análise, uma correspondência entre o dito e o não dito, entre as estruturas semânticas ou linguísticas e as estruturas psicológicas ou sociológicas.

Na visão da AC, a inferência, seja ela baseada ou não em indicadores quantitativos, é considerada uma "operação lógica" destinada a extrair conhecimentos sobre os aspectos latentes da mensagem analisada conforme o exemplo das caixas de sapatos. É pela inferência que se pode pôr em evidência as avaliações – opiniões, juízos, tomadas de posição, conscientes ou não – de um indivíduo, a partir de seus enunciados (BARDIN, 2006, p.42). Dessa forma, a AC é uma técnica de investigação destinada a formular, a partir de certos dados, inferências reproduzíveis e válidas que podem se aplicar a seu contexto.

A preferência pela análise de conteúdo atendeu perfeitamente às etapas de escolha dos documentos, à aplicação das técnicas de ruptura, ao tratamento dos textos, contribuindo para assegurar, por meio da vigilância crítica, o rigor científico almejado para os processos de classificação e agregação dos dados nas categorias previamente criadas.

Por outro lado, consideramos que esse tipo de análise não é a última palavra sobre nenhum texto, mas um encontro objetivado pela sistematização e pela referenciação para além de si, em direção a outros textos e atividades de pesquisa.

No final das contas, a AC foi apenas uma contribuição à interpretação aberta de um corpus de texto.

No entanto, um dos focos da comunicação ambiental, sobretudo no que se refere aos riscos socioambientais, e as diversas "vozes" dos atores sociais, estimulam as instituições a responder ao novo clima de ação ambiental.24 Além disso, as questões de risco e do ambiente implicam problemas públicos e de natureza privada. Nesse sentido, optou-se pela triangulação, durante o processo de análise e discussão dos dados e resultados obtidos, com a visão crítica proposta por Beck (1998a), Hannigan (2009) e Cox (2009) para a análise dos argumentos (ou análise argumentativa) dos atores envolvidos na desativação e implantação dos aterros sanitários.

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