• Nenhum resultado encontrado

Análise de conteúdo: metodologia de pesquisa das postagens

No documento rafaellapratarabello (páginas 57-60)

4 A INTERNET COMO ESPAÇO CONVERGENTE DE MEMÓRIAS

5. FANPAGE “MARIA DO RESGUARDO”: O “LUGAR DA MEMÓRIA” DE JUIZ DE FORA JUIZ DE FORA

5.3 Análise de conteúdo: metodologia de pesquisa das postagens

Utilizamos como metodologia a análise de conteúdo (AC), que, para Laurence Bardin (2011), possui técnicas que implicam um trabalho exaustivo, com divisões, cálculos e aperfeiçoamentos incessantes da matéria prima a ser pesquisada. A mensagem é o ponto de partida da AC, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada.

Teve a consolidação voltada para procedimentos analíticos na área de Comunicação nos Estados Unidos, ligados ao desenvolvimento do jornalismo sensacionalista (muckraking journalism) nas últimas décadas do século XIX. Neste momento, as primeiras escolas de jornalismo dos EUA fizeram a análise quantitativa de periódicos como norma para o alcance da objetividade científica. A análise de conteúdo foi impulsionada como técnica investigativa durante a Segunda Guerra Mundial. Neste período, 25% das pesquisas com esse método eram usadas pelo serviço do governo americano, tanto para descobrir periódicos e agências de notícias suspeitas de propagandas subversivas, quanto para o monitoramento das transmissões de rádio entre nazistas e seus aliados (FONSECA JÚNIOR in BARROS; DUARTE, 2010, p. 283).

A inclusão regular deste método só ocorre no início do século XX, quando foi utilizado em vários campos do conhecimento, como nas ciências políticas, na psicologia, na sociologia, etc. Na América Latina, a difusão da AC é atribuída ao Centro Internacional de Estudos Superiores de Jornalismo para a América Latina (Ciespal)46, através da introdução de estudos de jornalismo comparado iniciados por Jacques Kayser. No Brasil, Luiz Beltrão é um dos primeiros a adotar a proposta do Ciespal, quando criou, em 1961, o Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco e, dois anos após, o Instituto de Ciências da Informação (Icinform), ligado à mesma instituição (MARQUES DE MELO apud FONSECA JÚNIOR in BARROS; DUARTE, 2010, p. 284-285).

46

O Ciespal foi fundado pela Unesco em 1958, no contexto da Guerra Fria. Este centro de estudos estimulou o ensino técnico-profissional em oposição à formação clássico-humanista que dominava o ensino de jornalismo.

O método ―é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens‖ (BARDIN, 2011, p.44), possibilitando assim, a utilização de várias ferramentas metodológicas. A autora compara o analista a um arqueólogo - porque trabalha com vestígios de documentos – e, por isso, o pesquisador deve fazer inferência de conhecimentos (quantitativos ou não) no tratamento do material coletado para encontrar ―significados‖ de natureza psicológica, sociológica, política, história, entre outros. Também faremos nesta pesquisa a categorização temática, que é uma operação de agrupamento de elementos sob títulos genéricos, que farão parte de uma tabela.

A análise de conteúdo, segundo Bardin (2011), pode ser estruturada nas etapas: de organização da análise, codificação, categorização, inferência e tratamento informático. Em relação à primeira etapa, organização da análise, esclarecemos que ela ocorre em três momentos: na pré-análise, quando há o planejamento do trabalho a ser realizado, através da sistematização das ideias iniciais e do desenvolvimento de operações sucessivas; exploração do material, que refere-se à análise propriamente dita, envolvendo processos de codificação de acordo com regras previamente formuladas; e no tratamento dos resultados obtidos e interpretação, quando os resultados brutos são tratados de forma a serem significativos e válidos.

Esclarecemos que, na nossa pesquisa, a organização da análise ocorreu durante todo o desenvolvimento do pré-projeto, nos contatos com nosso objeto e com os temas afins a nosso campo de estudo. O trabalho de codificação, cuja ―principal função é servir de elo entre o material escolhido para a análise e a teoria do pesquisador‖ (FONSECA JÚNIOR in BARROS; DUARTE, 2010, p.294), foi evidenciado nos três capítulos iniciais, quando tratamos de memória, cidade e redes sociais.

A categorização, que é o ―trabalho de classificação e reagrupamento das unidades de registro em número reduzido de categorias, com o objetivo de tornar inteligível a massa de dados e sua diversidade‖ (FONSECA JÚNIOR in BARROS; DUARTE, 2010, p.298), pode ser de diversos tipos. Fonseca Júnior, citando Bardin, esclarece que os critérios de categorização podem ser: semântico (categorias temáticas), sintático (verbos, adjetivos), léxico (classificação das palavras segundo seu sentido) e expressivo (categorias que classificam as diversas perturbações da linguagem, por exemplo).

Estabelecemos dois grupos de análises semânticas: um referente às imagens e outro referente ao texto. Para interpretar as fotografias, separamos as postagens por assuntos, que foram definidos a partir do elemento em destaque nas fotos, por exemplo:

a presença da suástica dentro de uma igreja e foi classificada como nazismo; outra imagem se referia a um bairro; algumas mostravam personagens; registros da Avenida Rio Branco; as obras em algumas regiões; a ampliação da represa João Penido e o funcionamento dos bondes no Centro de Juiz de Fora. Por questões metodológicas, iremos nos restringir a analisar as imagens fotográficas da cidade, desprezando quaisquer outros conteúdos que não se encaixem no perfil delimitado, tais como vídeos. Ao tratarmos dos comentários, encontramos mensagens nas categorias: saudosista, no qual os membros da fanpage exaltam um passado glorioso da cidade ligado ao afeto pelo monumental; informacional, em que são objetivos e oferecem dados como localização, data nomes de personagens, etc.; crítico, que revela o desprezo dos membros pela não preservação do patrimônio arquitetônico.

Criamos categorias para o enquadramento de cada imagem. O plano fotográfico47 é a organização dos elementos no enquadramento. Os planos basicamente podem ser divididos em planos gerais, planos médios e primeiros planos. Esta divisão é baseada no distanciamento entre a câmera e o objeto fotografado. Em uma mesma fotografia, podemos ter elementos em diferentes planos, porém ela será classificada no plano em que está o seu assunto principal. Na pesquisa das imagens postadas na fanpage ―Maria do Resguardo‖, encontramos os seguintes planos:

 Grande plano geral: utilizado para evidenciar o ambiente como elemento principal. Nele a área enquadrada é preenchida em sua maior parte pelo ambiente e o sujeito ou objeto ocupa um pequeno espaço na foto.

 Plano geral: o sujeito ou objeto ocupa a maior parte da imagem, e o ambiente a menor.

 Plano médio: geralmente utilizado para fotografar pessoas. Este enquadramento engloba desde os pés até a cabeça do sujeito, podendo variar até o enquadramento cuja linha inferior da fotografia faz um corte na cintura do sujeito. Neste caso, o sujeito ou objeto ocupa a maior parte da área enquadrada, e os demais elementos são informações adicionais que ajudam no equilíbrio.

Não foi observada nenhuma foto em primeiro plano (do ombro para cima), close ou plano detalhe (por exemplo, o rosto, a mão) ou super close (olho, nariz, dedo). Outras

47

categorias que julgamos necessárias na pesquisa levaram em conta a presença ou ausência de personagens (que poderiam se anônimos ou personalidades da cidade), se a fotografia possuía localização e a data na legenda ou nos comentários e referência a autoria: profissional, amador e não informado.

A respeito da última fase da análise de conteúdo, o tratamento informático, supomos ser esta etapa a análise em si do material selecionado, sendo esta a parte mais importante da pesquisa, em que faremos o trabalho qualitativo responsável por esclarecer o tipo de memória que ficou guardada sobre o passado distante ou próximo e que constrói uma identidade de Juiz de Fora na fanpage ―Maria do Resguardo‖. Sendo assim, o tratamento informático será realizado em um tópico à parte.

5.4 Memórias de Juiz de Fora nas imagens postadas na fanpage “Maria do

No documento rafaellapratarabello (páginas 57-60)