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3.2 Coleta de dados

3.2.3 Análise de conteúdo na mídia internacional

Também foram coletados dados de jornais internacionais para analisar a forma como a mídia internacional “representa” o Brasil. O objetivo foi identificar o tratamento ao país no exterior, que interfere nas negociações tanto comerciais quanto políticas. O método nesse caso foi a análise de conteúdo, uma técnica híbrida que faz a ponte entre o formalismo estatístico na freqüência de códigos e a análise quantitativa de “tipos” e “distinções” do texto, ou seja, uma categoria de procedimentos explícitos de análise textual para fins de pesquisa social (Bauer & Gaskell, 2002). As definições de análise de conteúdo têm mudado através do tempo, à medida que se aperfeiçoa a técnica e se diversifica o campo de aplicação, com formulação de novos problemas e novos materiais. Entre as definições estão “a análise de conteúdo é a análise estatística do discurso político” (Kaplan apud Richardson, 1999:222) e que a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam inferir conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (Bardin, 1979:31).

A análise de conteúdo pode ser utilizada para diferentes estratégias de pesquisa. Pode ser para construir um corpus de sistema aberto, a fim de verificar

tendências e padrões de mudanças, isso porque o corpus do texto nunca está completo. Esta é uma prática de monitoramento da mídia, na qual uma amostragem de produções da mídia é regularmente codificada para detectar mudanças na ênfase e agrupamentos em um conjunto de temas. Outra estratégia corresponde às comparações feitas que revelam diferenças entre as coberturas de diferentes jornais, em falas de políticos a diferentes eleitorados ou para descobrir se há publicidade oculta em algum texto jornalístico, por exemplo. Tais comparações consideram os padrões como parte de um processo de auditoria para identificar e avaliar desempenhos contra normas estabelecidas, por exemplo, sobre obscenidade, discriminação ou informação objetiva. A análise de conteúdo pode ser utilizada também para construir índices, como a quantidade de cobertura sobre ciência nos jornais pode ser uma medida da posição da ciência e tecnologia na sociedade, por exemplo, e para a reconstrução de “mapas do conhecimento”, à medida que eles estão corporificados em textos (Krippendorff apud Bauer & Gaskell, 2002).

Richardson (1999) apresentou algumas características metodológicas da análise de conteúdo, como objetividade, sistematização e inferência.

A objetividade refere-se à explicitação de regras e procedimentos utilizados em cada etapa da análise de conteúdo para evitar a subjetividade do pesquisador. Por exemplo, uma análise por categorias deve seguir requisitos de homogeneidade (não misturar critérios de classificação), exaustividade (classificar a totalidade do texto, utilizando, por exemplo, a categoria “outros” para englobar o que não foi categorizado no restante da análise), exclusão (um mesmo elemento do conteúdo não pode ser classificado em mais de uma categoria) e objetividade (codificadores diferentes devem chegar aos mesmos resultados).

A sistematização refere-se à inclusão ou exclusão do conteúdo ou categorias de um texto de acordo com regras consistentes e sistemáticas. O planejamento, a coleta e a análise devem respeitar as regras da metodologia científica.

A inferência refere-se à operação pela qual se aceita uma proposição em virtude de sua relação com outras proposições já aceitas como verdadeiras. Corresponde à passagem entre a descrição e a interpretação da análise, respondendo às perguntas de quem diz o quê, a quem, como e com qual efeito. Segundo Bardin (1979) a análise de conteúdo não é apenas uma leitura denotativa, “ao pé da letra”, mas um trabalho interpretativo de nível mais aprofundado.

Os elementos da análise de conteúdo devem ser classificados e categorizados. Bardin (1979) sugere que os critérios sejam: (a) semânticos, como categorias temáticas; (b) sintáticos, como verbos, adjetivos e advérbios; (c) léxicos, o ordenamento interno das orações; e (d) expressivos, como as categorias que classificam os problemas de linguagem, por exemplo.

Os tipos de unidade de amostragem e de registros, o material que vai ser analisado, podem ser: (a) unidades físicas, como livros, cartas e jornais; (b) unidades sintáticas, aparentemente blocos sólidos naturais, como capítulos de um livro e títulos, artigos ou frases de um jornal; (c) unidades proposicionais, núcleos lógicos de frases, na forma sujeito/verbo/objeto; e (d) unidades temáticas ou semânticas, definidas como características dos textos que implicam um juízo humano (Krippendorff apud Bauer & Gaskell, 2002).

A análise de conteúdo pressupõe a existência de um esquema de categorias de conteúdo para a classificação do texto. A tarefa de distinguir uma apropriada categoria de um artigo em particular exige que o artigo em questão tenha atributos compatíveis com os atributos de uma determinada categoria de análise de conteúdo (Bingham & Bowen, 1994). A idéia desse método é desenhar inferências a partir da freqüência com que as categorias aparecem em um determinado conjunto de análise. A freqüência de artigos, textos ou conteúdos de análise reflete a ênfase com que determinada categoria é tratada pelo conjunto de análise. Mudanças na freqüência em que determinadas categorias aparecem, reflete a mudança na relevância e na ênfase com que a categoria é tratada pelo mesmo conjunto analisado26.

Com a análise de conteúdo pretendeu-se analisar em que categorias o Brasil se insere nas perspectivas dos órgãos de imprensa internacionais que foram estudados, objetivando identificar atributos do conceito de “poder brando” na representação do Brasil.

Os periódicos pesquisados pela análise de conteúdo foram escolhidos devido ao reflexo que exercem na formação da opinião pública referente aos contextos dos Estados Unidos e Europa, como segue:

The Economist, revista semanal britânica que aborda principalmente aspectos

econômicos e políticos, fundada em 1843 para apoiar a causa do livre comércio

26

Para mais informações sobre análise de conteúdo e análise de discurso ver Vergara (2005) e Duarte e Barros (2005).

mantendo até os dias atuais essa linha editorial liberal. Em algumas edições é possível encontrar referência aos aspectos tecnológicos, culturais e militares dos países.

Le Monde, jornal diário francês, tradicionalmente de esquerda que tem forte

conotação política e cultural. Tem uma seção mensal chamada Le Monde

Diplomathique, editada por Ignácio Ramonet, publicado em diversas línguas, inclusive

o português, com forte cunho social do sistema internacional.

The New York Times, diário americano que aborda questões políticas,

econômicas e culturais nos noticiários internacionais. O NYT tem uma linha editorial mais liberal, identificada com os democratas americanos.

Como realçado anteriormente, a princípio também seriam estudados artigos do periódico britânico Financial Times e do diário americano The Washington Post. Entretanto, o FT só mantém arquivos dos três anos anteriores, o que não seria adequado para esse estudo, que investigou os dois últimos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso e os dois primeiros do presidente Luís Inácio Lula da Silva. O The Washington Post não tem acesso livre aos seus arquivos na rede mundial de computadores.

3.3 Tratamento dos dados

O tratamento dos dados nesta pesquisa foi abordado de duas formas. O primeiro passo da pesquisa foi identificar palavras ou expressões que se refiram ao Brasil e a sua política externa, com o intuito de identificar a representação que a mídia estrangeira tem de nós. O segundo passo foi analisar os documentos do Ministério das Relações Exteriores para identificar a versão oficial da política externa brasileira e se há evidências da aplicação do conceito de “poder brando” nela. Estas categorias de análise foram definidas com o desenvolvimento do referencial teórico.

O cruzamento de informações apontou como o esforço da política externa brasileira tem sido reconhecido no cenário internacional. O conceito de “poder brando” constitui-se nessa pesquisa no elo entre a mensagem desejada pelo emissor (política externa brasileira) e o receptor (periódicos internacionais).

3.4 Desenho de pesquisa