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4 METODOLOGIA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO CAMPO

4.4 ANÁLISE DE DADOS

Além das breves análises realizadas durante o período de coleta de dados que serviram para direcionar a pesquisa no sentido de alcançar o objetivo pretendido (CORBIN; STRAUSS, 1990), foi estabelecida uma estratégia de investigação dos dados coletados para poder desenvolver e relacionar as categorias apresentadas nos resultados. Assim, os dados coletados foram analisados e interpretados por meio da análise de conteúdo (KRIPPENDORFF, 1990; FRANCO, 2005), seguindo o procedimento em espiral estabelecido por Creswell (2012) para codificar os dados e, baseado neles, identificar as categorias da pesquisa (RYAN; BERNARD, 2003). Essa opção por definir as categorias de análise a posteriori visa não limitar nem simplificar os dados durante a coleta (FRANCO, 2005), mas permitir que o campo aponte as principais temáticas a serem discutidas.

Nessa perspectiva, a análise de conteúdo se mostrou apropriada por ser um método de orientação fundamentalmente empírica que se destaca na compreensão dos fenômenos simbólicos (KRIPPENDORFF, 1990). Além disso, é uma alternativa viável para analisar a grande diversidade de mensagem resultante das comunicações produzidas nas interações sociais, "[...] seja ela verbal, gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada" que expressa sempre algum significado e sentido que não podem ser compreendidos como aspectos isolados (FRANCO, 2005, p. 19). Nesse sentido, Franco (2005) salienta que é fundamental considerar a forte articulação existente entre a emissão das mensagens e as condições em que são

produzidas. Para autora, cabe ao pesquisador não apenas descrever as informações, mas também relacioná-las a outros dados, considerando o contexto envolvido em cada caso.

Por sua vez, a sistemática em espiral da análise de conteúdo representa, adequadamente, o processo de coleta, análise e narrativa dos dados qualitativos inter- relacionados e, muitas vezes, simultâneos (CRESWELL, 2012). Pois, a representação em espiral (e não um “passo a passo” linear) condiz com a necessidade do pesquisador qualitativo de se reportar várias vezes ao conteúdo do corpus, engajando-se em uma análise circular (CRESWELL, 2012), indo e vindo de referencial teórico selecionado ao material em análise (FRANCO, 2005).

Isso posto, em novembro de 2017, após finalizar a observação participante e realizar as entrevistas em profundidade, efetivamente foi efetuada a primeira organização e leitura para se definir o corpus da pesquisa. Nessa pré-análise, todas as informações coletadas (diários de campo, vídeos e entrevistas) foram reunidas e revisadas para obter uma visão geral dos dados (BAUER; AARTS, 2002). Para otimizar essa etapa e resguardar a segurança dos dados, as informações coletadas ao longo da pesquisa foram arquivadas de forma sistemática, com fácil identificação por data e assunto, em uma conta privada de um drive virtual que realiza backup diariamente. Além disso, devido à quantidade de dados descritos nos diários de campo e vídeos, elaborou-se um quadro com as informações coletadas dos principais jobs acompanhados na observação, conforme demonstrado no Quadro 2.

Quadro 2 – Sistematização dos diários e vídeos

Etapas Job1 Job2 Job3 Job4 Diversos

Contratação Diários Vídeos Imersão Diários Vídeos Ideação Diários Vídeos Prototipagem Diários Vídeos Produção Diários Vídeos Entrega Diários Vídeos

Vale sublinhar que a análise de conteúdo permite fazer inferências acerca de falas, textos escritos, intensidades e simbologias utilizadas na expressão de ideias, silêncios e entrelinhas de uma comunicação (FRANCO, 2005). Estas últimas, inclusive, são exemplos de conteúdo "oculto" das mensagens que não devem ser descartadas, mas exploradas pelo pesquisador que pretende ir além do que é identificável, quantificável e classificável (FRANCO, 2005). Para tanto, o pesquisador deve se fundamentar em um bom referencial teórico que lhe permita não só descrever, como também inferir as características do texto, as causas ou antecedentes de uma mensagem, e seus efeitos comunicativos. Essa inferência resultante da comparação das informações (discursos ou símbolos) com a teoria conforma a passagem da descrição à interpretação e permite ao pesquisador qualitativo dar significados às mensagens (FRANCO, 2005). Assim, definido o corpus, iniciou-se sua análise detalhada para estabelecer as categorias que seriam utilizadas para diferenciar e reagrupar o conteúdo da pesquisa (FRANCO, 2005). Para isso, foi necessário fazer nova leitura de todo material, destacando trechos e realizando pequenas anotações que pudessem contribuir na reflexão sobre o sentido global das informações. Quanto aos vídeos, nessa etapa, os registros foram assistidos novamente em velocidade acelerada para corte dos trechos que mostraram relevante para a pesquisa. Esses trechos foram arquivados separadamente em uma pasta específica dessa etapa e analisados em velocidade real, possibilitando mais algumas importantes anotações. Além do quadro mencionado, também foi utilizado um flip chat para auxiliar na esquematização dessas “notas de análise” ao longo de toda investigação (CORBIN; STRAUSS, 1990).

A terceira leitura dos dados foi realizada para reavaliar as anotações e destaques das notas de campo. Na sequência foram assistidos os trechos recortados dos vídeos em velocidade reduzida, pausando e retornando sempre que necessário, para descrever os principais detalhes, no intuito de facilitar a triangulação (TORALDO; ISLAM; MANGIA, 2016). Por fim, foi realizada a leitura das transcrições das entrevistas e, ao mesmo tempo, ouvida suas gravações. Terminada essa etapa, foi possível refletir sobre o conteúdo e criar códigos para delinear alguns temas em comum nos diversos materiais coletados (RYAN; BERNARD, 2003), sendo orientado pelo objetivo estabelecido na pesquisa.

Foram reveladas quatro categorias e três subcategorias temáticas da participação dos elementos materiais nas práticas criativas de uma empresa de design de mobiliário. São elas: um “espaço” de convivência; buscando referências; tangibilizando ideias (lápis e papel; trena e “corpo”; e protótipo); e “gatilho” criativo. Saliento, todavia, que o processo de agrupamento dos códigos em categorias e subcategorias foi marcado por um constante refazer. Novas leituras do material e anotações foram necessárias para buscar regularidades e disparidades entre os códigos emergentes com o propósito de fazer comparações, até reduzi-los em uma quantidade de temas que expressassem o suporte das entidades não humanas nas práticas criativas. Assim, identificados os principais temas, as últimas leituras do material tiveram o objetivo de realizar interpretações na perspectiva epistemológica da prática segundo Schatzki, arrolando o referencial teórico com os temas identificados.

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