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4 Procedimento metodológico

4.5 Análise de dados

O processo de análise de dados coletados envolve extrair sentido destes, a fim de fornecer respostas ao problema proposto (GIL, 1989; CRESWELL, 2010). Este processo envolve o tratamento e a compreensão em profundidade dos dados, além da condução de diferentes análises e a realização de uma interpretação do significado mais amplo dos elementos coletados (CRESWELL, 2010).

O processo de análise dos dados do estudo tem como objetivo sistematizar o procedimento de análise (FLICK, 2009) e assim como apresentado no desenho de pesquisa, aconteceu logo após a finalização do ciclo de entrevistas, tendo sido inspirado na proposta de análise da grounded theory, consolidada por Strauss e Corbin (1998).

Esse processo de análise de dados baseia-se no conceito de codificação, em que são identificados conceitos (ou códigos) e categorias. O conceito atribuirá um nome a um fenômeno, o qual abstrai um evento, objeto, ação, ou interação que tem um significado para o pesquisador. As categorias, por sua vez, são agrupamentos em um maior nível de abstração, reduzindo e agrupando ainda mais esses conceitos (STRAUSS; CORBIN, 1998; CONTE; CABRAL; TRAVASSOS, 2009).

O processo de codificação contempla três fases (STRAUSS; CORBIN, 1998):

 Codificação aberta – refere-se à quebra, análise, comparação, conceituação e categorização dos dados, por meio da leitura dos textos transcritos. Além disso, há a criação de categorias que agrupam os códigos;

 Codificação axial – examina as relações entre as categorias conceituais obtidas na fase anterior. Para estabelecer essas relações são evidenciadas, pelo próprio pesquisador, causas, consequências, condições intervenientes, contexto e estratégias de ação, as quais são apresentadas em proposições que são confrontadas com os dados;

 Codificação seletiva – define categorias centrais com as quais as outras categorias estão relacionadas, refinando os resultados obtidos nas fases anteriores. Esta categoria central pode ser uma categoria já encontrada anteriormente ou uma nova. Na pesquisa em discussão, a operacionalização da proposta de análise, de maneira a aplicar as codificações sistemáticas descritas anteriormente, foi inspirada no modelo para análise de dados de Flick (2009), apresentado na figura 26.

Neste modelo, o fenômeno é apresentado como uma categoria central influenciada pelas causas, contextos, condições intervenientes e estratégias envolvidos. Já as consequências obtidas são discutidas como as constatações extraídas desse fenômeno.

Figura 26 - Modelo geral para análise de dados.

Fonte: Adaptado de Flick (2009).

A codificação sistemática buscou reduzir as falas a códigos associáveis buscando descrever os aspectos apresentado no modelo geral para análise de dados (figura 26). Essa redução, que aconteceu durante as várias fases de codificação, foi baseada na seguinte estrutura:

 Unidade de registro – recorte do texto selecionado que pretende ser analisado, palavras, frases etc;

 Unidade de contexto – trecho do texto que contém a unidade de registro e que contextualiza seu sentido e permite que seja compreendido;

 Subcategoria – subdivisão das categorias, as quais agrupam semanticamente os aspectos resgatados nas unidades anteriores e criam grupos que as caracterizem. Ao longo desses procedimentos, considerando o viés qualitativo adotado na pesquisa, esteve, como técnica operacional empregada em todas as fases da codificação, a análise de conteúdo (BARDIN, 1977). Esta técnica tem como propósito descrever objetiva, sistemática e quantitativamente o grande volume de material produzido ao longo de uma pesquisa e desenvolve-se em três fases (GIL, 1989), que são expostas na figura 27 e comentadas a seguir:

 Fase de pré-análise – refere-se à organização do material. São feitos os primeiros contatos com os documentos, em seguida a seleção destes e por fim a preparação do material para análise;

 Fase de exploração do material – caracteriza-se por ser mais extensa e ter como objetivo administrar sistematicamente o resultado da pré-análise, essencialmente através das atividades de codificação, que podem ser distribuídas em recorte (escolha das unidades); enumeração (escolha da regra de contagem); e classificação (escolha de categoria);

 Fase de tratamento de dados, inferência e interpretação – objetiva tornar os dados válidos e significativos, frequentemente através de procedimentos estatísticos que possibilitam evidenciar os resultados em quadros, diagramas e figuras.

Figura 27 – Fases da análise de dados.

A análise de conteúdo, segundo Miles e Huberman (1994), também compreende três fases:

 Fase de redução de dados – os dados coletados no campo e transcritos são selecionados, simplificados e transformados de forma a serem passíveis de análise;

 Fase de exibição de dados – os dados são estruturados, através de textos, matrizes, gráficos, dentre outros, tornando-se uma coleção organizada de informação;

 Fase de compreensão dos dados – os dados são interpretados e então obtidos resultados e conclusões.

Tais fases correspondem, de fato, aos fluxos de atividades, encadeados como mostra a figura 28.

Figura 28 – Componentes da análise de dados.

Fonte: Adaptado de Miles e Huberman (1994).

Apesar dos procedimentos sistemáticos descritos anteriormente, Stake (2009) destaca que a tarefa de análise de dados qualitativos não é linear: por vezes encontra-se algo de novo que leva a reflexão e possivelmente a criação de uma nova classe. Além disso, essa não linearidade pode ser ratificada pelas características da compreensão levantadas por Minayo (2012), que diz que a compreensão não será completa e imparcial, uma vez que tanto o entrevistado como o entrevistador, possuem um entendimento limitado e incompleto do mundo.

Para contribuir na análise dos dados das entrevistas, foi feita também a análise documental, por meio do fichamento dos documentos levantados, a fim de registrar a essência de cada documento catalogado (Apêndice D).

Desses documentos foi possível conhecer as ações do telecentro comunitário em estudo, tais como: os cursos voltados para inclusão digital e capacitação e as diretrizes legais em vigência para o atual programa de inclusão digital voltado para os telecentros, o telecentro.BR. Além disso, foi possível obter os dados atualizados referentes aos telecentros em funcionamento na cidade do Recife. Com esta proposição, fez-se a análise de dados da pesquisa, como descrito a seguir:

 Às falas dos ouvidos – foi aplicada a análise de conteúdo para se obter a codificação aberta, valendo-se de unidades de contexto e de registro, a fim de criar as subcategorias;

 Às subcategorias – procedeu-se o enquadramento axial para que se gerasse a categorização, a qual foi associada seletivamente ao modelo de análise pela incorporação dos fenômenos e a separação das categorias equiparadas ao nível das consequências do modelo;

 Aos elementos contextuais e documentais – foram pinçadas as menções para as perspectivas de causa, estratégias e contexto interveniente, a fim de delinear os fenômenos;

Aos fenômenos delineados e articulados – gerou-se a perspectiva geral sobre e-gov suscitada da análise de campo da pesquisa.

Como resultado final da análise de dados, foram feitas as inferências, que geraram interpretações que possibilitaram que a pergunta de pesquisa, estabelecida na contextualização do estudo, fosse respondida. Ou seja, evidenciou-se o resgate da percepção real dos usuários quanto à apropriação dos serviços de e-gov nos telecentros comunitários, dada a implementação de ações em acordo com o delineamento previsto nas políticas públicas da TIC do governo, em um espaço municipal de universalização de acesso e de uso.