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3 Incursão literária

3.5 Governo eletrônico

O termo e-gov refere-se ao uso da TIC para prover serviços para os cidadãos, bem como para facilitar a revisão e integração de processos, para melhorar a eficiência e eficácia da administração pública e para criação de mecanismos de relações digitais com o cidadão (GARCIA; POMAR; HOESCHL, 2004; LÖFSTEDT, 2005; LAIA et al., 2011).

No período da reforma do Estado, que aconteceu com a crise do petróleo em 1970 e que se refletiu, principalmente, nas duas décadas subsequentes, foi discutida a necessidade de uma administração pública mais efetiva, baseada em princípios sólidos de governança, focada na sua capacidade operacional e na capacidade de abertura, por meio de canais de participação em que os cidadãos pudessem elaborar, dar seguimento e avaliar as políticas públicas (LAIA et al., 2011).

Nesse processo, o governo eletrônico tornou-se um instrumento eficaz na desconstrução do modelo burocrático de administração pública e, consequentemente, na trilha de fomento à reforma do Estado (RIBEIRO, 2005; LAIA et al., 2011), pois, o desenvolvimento tecnológico aliado às políticas de governo permitiram o crescimento dos

serviços eletrônicos, a abertura de canais de comunicação com a sociedade, bem como a divulgação de iniciativas da administração pública (RIBEIRO, 2005; LAIA et al., 2011). Essa interação aumenta a satisfação das necessidades informacionais do cidadão.

Assim, o e-gov oferece ao cidadão um formato mais flexível na oferta de serviços e, além disso, estimula funções e processos democráticos que podem expandir o papel da esfera pública, como participação, transparência, abertura, busca de dignidade humana, descentralização, transferência e horizontalização do poder, representatividade, controle sobre os agentes públicos e inclusão social (GIDDENS, 1999; LAMBRINOUDAKIS et al., 2003; SANCHEZ, 2003; GARCIA; POMAR; HOESCHL, 2004; LÖFSTEDT, 2005).

A relação entre o governo, servidores e cidadãos e os valores democráticos criados está representada na figura 19.

Figura 19 – Atores do e-gov e suas relações para produção compartilhada de valores democráticos.

Fonte: Adaptado de BRASIL (n.d.).

Corroborando conceitos sobre e-gov dispostos anteriormente, Sanchez (2003) apresenta três dimensões ou grandes campos de atuação desse tipo de governo, quais sejam:

Prestação de serviço ao cidadão (e-administração) – a fim de garantir um conjunto de atividades voltadas para o cidadão, principalmente pela Internet;

Dinamização dos processos internos e de elaboração de políticas públicas (e-

governança) – com o propósito de utilizar a TI para alavancar o aumento da

capacidade da ação governamental na implementação de políticas públicas;

Fomento à extensão dos processos democráticos (e-democracia) – incorporar ações com capacidades que impulsionem a participação cidadã nos processos democráticos.

Na dissertação, assume-se o caminho da reflexão sobre como esse universo criado pela atuação do e-gov atinge de fato a sociedade. Além de seu conceito legitimado, buscar-se-á constatar o modo como o governo eletrônico atua diante da comunidade e quais dos seus papéis são percebidos.

Além das dimensões relacionais que podem ser atribuídas ao e-gov, há também perspectivas sobre aspectos distintos contemplados nessa nova estrutura governamental, entre os quais aqueles destacados no quadro 2 (LENK; TRAUNMÜLLER, 2000).

Quadro 2 – Relações governamentais no âmbito do e-gov.

DIMENSÕES DO GOVERNO ELETRÔNICO - e-gov

Relação – Government to Especificação

Business (G2B) Relação governo para negócios, a qual envolve a relação do governo com

empresas privadas

Government (G2G) Relação governo para governo, a qual envolve serviços entre governos

Citizen (G2C) Relação governo para cidadão, a qual envolve prestação de serviços ao cidadão e

informações

Employee (G2E) Relação governo para funcionários, a qual envolve oferta de serviços para o

servidor público

Perspectiva Adotada Especificação

Cidadão Gerenciamento de acesso integrado e prestação eletrônica de serviços públicos Processos Redesenho das organizações, com alteração em seus sistemas, processos e rotinas Cooperação Sustenta a tomada de decisão colaborativa e forma redes de cooperação entre

diferentes órgãos, como governo, empresas e organizações não governamentais Conhecimento Domínio distribuído, o qual pode estar relacionado também a criação e exibição

do conhecimento construído ou acumulado pelo governo Fonte: Adaptado de Barbosa, Faria e Pinto (2004) e Laia (2009).

Considerando que a consolidação da TIC como instrumento de exercício de cidadania e controle social depende diretamente da difusão de acesso, cria-se, como efeito colateral, um grupo de excluídos digitais, pois simultaneamente ao crescimento da oferta de serviços e informações governamentais por meio da Internet, há, em paralelo, o crescimento daqueles cidadãos que não compartilham de tais benefícios. Este fenômeno aumenta a disparidade entre

cidadãos, na medida em que é um óbice ao exercício pleno da cidadania por aqueles sem infraestrutura ou habilidade para acessar a Internet e outras tecnologias (MORA, 2005). Por fim, a sociedade da informação reflete uma nova maneira de ter a participação pública na gestão governamental, contribuindo para uma nova realidade democrática.

Graças à sua adaptação à evolução da TIC, neste campo, o e-gov é apresentado como uma das soluções mais importantes no novo milênio (GARCIA; POMAR; HOESCHL, 2004) e ao redor de todo o mundo muitos governos têm desenvolvido políticas para implantá-lo (GARCIA; POMAR; HOESCHL, 2004), além de expressarem sua intenção e comprometimento com programas de reforma e modernização da gestão pública (BARBOSA; FARIA; PINTO, 2004).

Esta postura define e orienta os novos padrões de eficiência, eficácia e sustentabilidade da administração pública, para garantir, por meio da gestão de recursos tecnológicos, atingir metas e objetivos estratégicos do governo (BARBOSA; FARIA; PINTO, 2004).

A fim de que tais benefícios alcancem de maneira mais equitativa a todos os cidadãos, e evitem, assim, o crescimento do número dos excluídos digitais, o governo investe em políticas públicas voltadas para inclusão digital.

3.6 Políticas públicas para inclusão digital em um governo