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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.4 ANÁLISE DE DADOS

Os dados obtidos por meio das entrevistas e das observações foram organizados, transcritos e, posteriormente, analisados. Para a análise dos dados foi utilizado o método de Análise Textual Discursiva (ATD) proposto por Moraes e Galiazzi (2007). Essa metodologia permite uma análise qualitativa com a finalidade de produzir novas compreensões sobre os fenômenos e discursos, representado um movimento interpretativo de caráter hermenêutico.

Além disso, a ATD assim como a pesquisa qualitativa “Não pretende testar hipóteses para comprová-las ou refutá-las ao final da pesquisa; a intenção é a compreensão, reconstruir conhecimentos existentes sobre o tema investigado” (Ibid., p.11).

A ATD organiza-se por meio de quatro focos principais (figura 10), sendo que os três primeiros compõem um ciclo. São eles: desmontagem dos textos (unitarização); estabelecimento de relações (categorização); captando um novo emergente (metatextos), o último foco não se caracteriza como um passo da análise em si, mas uma caracterização de todo o processo, trata-se de compreender a ATD como um processo auto-organizado (auto-organização), como afirmam Moraes e Galiazi (2007, p.12)

O ciclo de análise, ainda que composto de elementos racionalizados e em certa medida planejados, em seu todo pode ser compreendido como um processo auto-organizado do qual emergem novas compreensões. Os resultados finais, criativos e originais, não podem ser previstos. Mesmo assim é essencial o esforço de preparação e impregnação para que a emergência do novo se concretize.

Figura 10 - Síntese da Análise Textual Discursiva

Fonte: elaborado pelo autor de acordo com as informações de Moraes e Galiazi (2007).

A ATD inicia-se a partir da fragmentação do corpus, ou seja, dos dados coletados durante as entrevistas e observações (no caso da presente pesquisa), sendo organizados em forma de textos. Esse movimento de desmontagem do

corpus é denominado de unitarização (grifo nosso) e centra-se na busca profunda

dos significados e sentidos diversos de cada fragmento de um mesmo corpus. Dessa forma, esse processo caracteriza-se como um momento de caos, os quais emergem diversos significados. No entanto, a fragmentação dos textos deve sempre estar alinhada com o todo, visto que:

Mesmo que se recortem os textos, a visão do fenômeno em sua globalidade precisa estar sempre presente como plano de fundo. O limite da desmontagem coincide com o limite de sentidos que podem ser construídos a partir dos textos de análise (MORAES; GALIAZI, 2007, p.49).

O processo de unitarização resulta nas unidades de sentidos, as quais serão reescritas - a partir das concepções teóricas do pesquisador - e atribuída um título ou rótulo, que representará o significado central do fragmento analisado por meio de uma palavra-chave. Além disso, durante a unitarização foi atribuído a cada unidade de sentido um código que a identifica. A codificação tem a finalidade de permitir que os fragmentos possam ser localizados no corpus sempre que necessário (MORAES; GALIAZI, 2007).

Para a presente investigação foi elaborado um código seguindo o exemplo: E01P01Q01F01, em que “E” refere-se à escola onde ocorreu a entrevista e observação, “P” ao participante da pesquisa, “Q” ao número da questão da entrevista semiestruturada e “F” ao fragmento analisado ou unidade de sentido. Nos fragmentos retirados das observações, a partir do diário de campo, no local do “Q” atribuía-se “OB” referente à observação a qual a unidade de sentido foi oriunda.

A partir do processo de unitarização foi possível estabelecer relações entre as unidades de sentido semelhantes, num processo denominado categorização (grifo

nosso). Desse modo, a partir da reescrita e análise profunda das unidades de

sentido, foi possível agrupá-las em categorias seguindo os significados de cada unidade de sentido. Por essa razão:

a categorização é um processo de comparação constante entre as unidades definidas no momento inicial da análise, levando a agrupamentos de elementos semelhantes. Conjunto de elementos de significação próximos constituem as categorias (MORAES; GALIAZI, 2007, p.22).

Sendo assim, o processo de categorização não se resume em apenas agrupar unidades de sentido semelhantes, mas também nomear e definir as categorias, aumentando o grau de precisão de acordo com o aprofundamento na análise. As categorias resultantes de uma primeira análise constituem-se como iniciais. No entanto, ao longo do processo tais categorias são refinadas, gerando categorias intermediárias e, por último, categorias finais. Cada categoria pode conter ainda subcategorias, porém a finalidade é atingir categorias finais abrangentes e pouco numerosas (Ibid.).

A partir da análise dos dados emergiriam três categorias finais e seis subcategorias que possibilitam a compreensão acerca dos conteúdos negligenciados no ensino de ciências. Tais categorias e subcategorias foram resultados dos processos de unitarização e categorização da ATD. Cada categoria conta com duas subcategorias. A síntese do processo de unitarização e categorização, bem como, as categorias finais e subcategorias encontram-se no quadro 6, que segue.

Quadro 6 - Síntese dos dados obtidos nos processos de unitarização e categorização da ATD UNIDADES DE SENTIDO CATEGORIAS INICIAIS CATEGORIAS INTERMEDIÁRIAS SUBCATEGORIAS CATEGORIAS FINAIS 271 106 4 Aspectos relacionados à prática

docente A prática docente e os processos de ensino e de aprendizagem Sala de aula como

espaço para ensinar e aprender 476 148 6 Planejamento, execução e avaliação das atividades em aula Conteúdos e os processos de ensino e de aprendizagem Os conteúdos no componente curricular de ciências 161 86 4 Dificuldades e demais fatores envolvidos com a aprendizagem dos estudantes; Os conteúdos e seus impactos para a formação integral do sujeito As relações de sala de aula 908 340 14 6 3

Fonte: Elaborado pelo autor.

Das categorias finais e subcategorias foi possível captar o novo emergente por meio da produção de metatextos (grifo nosso). A produção de um metatexto somente é possível com a impregnação intensa do pesquisador no corpus, visto que esse passo da análise tem por objetivo a construção e comunicação do novo emergente, ou seja, uma nova compreensão do fenômeno em questão (MORAES; GALIAZI, 2007).

Sendo assim, os metatextos serão constituídos de descrições e interpretações a partir dos diversos sentidos extraídos do corpus. É no metatexto em que o pesquisador irá expressar a compreensão que atingiu sobre o fenômeno pesquisado por meio do corpus de análise (Ibid.).

Desse modo, buscando compreender os fatores envolvidos com o trabalho de conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais pelos professores de ciências, por meio dos dados obtidos por entrevistas semiestruturadas e observações diretas das aulas, optou-se pelo presente método de análise. Visto que a ATD é um

importante processo auto-organizado que possibilita ao pesquisador a emergência de novas compreensões sobre o fenômeno que investiga.