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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 PANORAMA GERAL E PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

2.1.2 O papel do currículo na educação

Pensar em renovação em termos de educação é pensar em renovação em termos de currículo. É impossível promover a construção de sujeitos críticos e autônomos seguindo padrões curriculares ultrapassados. Necessita-se de outra proposta de escola e de currículo, mais aberto, flexível, centrada no aluno, que permitam atividades com mais significado, utilização de metodologias ativas e auxílio da tecnologia digital (MORAN, 2017).

Segundo Torrijo (2015), o debate sobre o currículo pode ser encarado por muitos pesquisadores como superado, porém é visto que os temas curriculares ainda estão no centro dos esforços para melhorar e renovar a educação escolar, tendo como foco principal uma reflexão teórico-prática dos processos de ensino e de aprendizagem.

Desse modo, é importante compreender o que vem a ser o currículo. Para Coll (2002, p.33) currículo pode ser definido como “uma série de princípios de índoles diversas – ideológicos, pedagógicos e psicopedagógicos – que, em conjunto, mostram a orientação geral do sistema educacional”. O currículo, de um modo geral, funciona como um elo entre a teoria educacional e a prática pedagógica (Ibid.).

Silva (2001, p.12) define currículo como “a especificação precisa de objetivos, procedimento e métodos para a obtenção de resultados que possam ser precisamente mensurados”. Contudo para definir e especificar objetivos, métodos e

procedimentos se torna imprescindível que a construção de um currículo se paute na seguinte questão: o que deve ser ensinado? Ferraro (2017, p.06) também coloca uma pergunta muito pertinente para construção de um currículo: “que tipo de cidadão se quer formar?”. A partir de tais perguntas é que o currículo começa a ser construído, visando dessa forma às questões relatadas anteriormente.

O currículo escolar atende a uma necessidade, desse modo dependendo do local, tipo de curso, classe econômica, demanda social e de inúmeras outras condições, ele irá se estruturar e se constituir (FERRARO, 2009). O currículo está organizado para atender aspectos relacionados à educação, à instrução e à socialização dos estudantes, sendo um dispositivo que regula e governa as relações na escola. Além disso, o currículo pode apresentar uma série de dispositivos que auxiliam o professor na sua conduta dentro do ambiente escolar (Idem, 2017).

Para Silva (2001) o currículo é sempre resultado de um processo de seleção, ou seja, de um universo de múltiplos conhecimentos e saberes seleciona-se aqueles que virão a fazer parte de um currículo em particular. A fim de explicar os conhecimentos e saberes escolhidos para compor um currículo, buscam-se as denominadas teorias do currículo.

Ao relatar sobre as teorias do currículo, Silva (2001) promove uma reflexão acerca do uso da palavra “teoria” nessa denominação:

A noção de “teoria”, em geral, está implícita a suposição de que a teoria “descobre” o “real”, de que há uma correspondência entre a “teoria” e a “realidade”. De uma forma ou de outra a noção envolvida é sempre representacional, especular, mimética: a teoria representa, reflete, espelha a realidade. (Ibid., p.119).

Partindo desse ponto de vista é possível perceber que a teoria é uma representação da realidade, mas não a realidade em si. Ao descrever um objeto uma teoria o inventa, sendo então um produto de sua criação. Por isso ao falar em ‘teorias do currículo’ entende-se que supostamente (pois se fala em teoria) exista um objeto, que se denomina de currículo, esperando ser descoberto e explicado (Ibid.). Ferraro (2009) complementa que ao se propor uma teoria se postula sobre ela uma série de verdades, as quais só terão valor dentro de um campo delimitado pelo próprio pesquisador.

Partindo desses pressupostos ao utilizar a “teoria” para explicar um objeto, nesse caso o currículo, cada pesquisador irá ter sobre esse objeto um olhar

diferente, a partir de uma mesma teoria. Essas multiplicidades de olhares geram discursos sobre o objeto de estudo. Desse modo ganha mais sentido o emprego da palavra “discurso” ao invés de “teoria”. Visto que os discursos sobre o currículo não buscam apenas descrevê-lo e explicá-lo (papel da teoria), mas também produzir uma noção particular de currículo, que se aproxima mais da realidade (SILVA, 2001).

Sendo assim, o currículo deve ser um instrumento útil e eficaz na prática pedagógica, por esse motivo se faz necessário um planejamento cuidadoso, que visa responder as diversas questões educacionais não somente em sua fase inicial de criação, mas durante a sua execução (COLL, 2002).

Para Lopes e Macedo (2005) o pensamento curricular brasileiro pauta-se na associação entre uma visão teleológica6 de um futuro de mudanças - fundamentada na filosofia do sujeito e da consciência, bem como na valorização do conhecimento como produtor dos sujeitos críticos e autônomos – e no descentramento do sujeito, ou seja, que o sujeito não assuma uma identidade fixa e imutável, mas sim que construa a sua identidade ao longo do processo educativo.

Dessa forma os currículos escolares devem procurar estar ligados à vida, ao cotidiano, fazer sentido, ter significado, ser contextualizado. Porém o que se observa são os currículos com conteúdos soltos, desligados das realidades dos alunos, de suas expectativas e necessidades. O currículo deve ser repensado constantemente para que se torne importante para o aluno, para que ele se sinta protagonista. De um modo geral, o currículo deve ser provocante (MORAN, 2016).

Ao analisar o papel do currículo como um todo se observa a importância da construção de currículos flexíveis e concentrados na formação de sujeitos críticos e conscientes. Além disso, o currículo deve estar centrado no estudante, seu principal consumidor. Contudo é preciso estar atento aos conteúdos selecionados para a composição curricular, conteúdos que serão de extrema importância para a construção do sujeito de forma integral, visando não somente o seu desenvolvimento intelectual, mas também físico, emocional, social e cultural.

6Capaz de relacionar um acontecimento com seu efeito final. Que diz respeito à teleologia, à ciência que tem a finalidade (causas finais) como essencial na explicação das modificações que ocorrem na realidade (MICHAELIS, 2015, [s.p.]).