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RESULTADOS E DISCUSSÃO

2 Análise de fatores de risco na população humana total estudada

Observamos, como um resultado principal deste trabalho, que não houve associação entre a soropositividade e a presença do gato em ambiente domiciliar [p=0,091, OR (IC 95%) = 1,451 (0,940–2,241)], demonstrado na Tabela 4. E tal

CHANDRASENA et al., 2016; FAKHFAKH et al., 2013; FLATT & SHETTY, 2012; FU et al., 2014; GELAYE et al., 2015; JUNG et al., 2017; KAMANI et al., 2009; KOLBEKOVA et al., 2007; QUADROS et al., 2015; YOBI et al., 2012). Mas também há relatos científicos nos quais essa correlação foi evidenciada (ABAMECHA &

AWEL, 2016; ALVARADO-ESQUIVEL et al., 2010; DATTOLI et al., 2011;

HOFHUIS et al.,2011; SPALDING et al., 2005; SROKA et al., 2010; UTTAH et al., 2013; WILKING et al., 2016; ZHANG et al., 2016). No entanto, quando analisamos o fato de que os gatos deste estudo que eram criados por pessoas que responderam aos questionários foram soronegativos para IgG anti-T. gondii em ambos os testes utilizados neste estudo, podemos aferir que estes gatos não representavam fontes de transmissão para a infecção da população humana. Também deve ser mencionado que o presente estudo considerou proprietários que levavam seus gatos em clínicas veterinárias, o que demonstra preocupação e cuidado com seus animais, e por isso essas pessoas podem possuir cuidados maiores com seus animais que evitam a exposição a fatores de risco para a infecção por T. gondii em felinos.

Tabela 4 - Frequência de soropositividade da população total de pessoas incluídas nesse estudo, independentemente de terem ou não gatos, e correlação com variáveis relativas a hábitos alimentares, sexo e idade.

(Continua) IgG positivo n (%) OR (IC 95%) p Cria gatos Não† (n=52) 28 (53,8) Sim (n=52) 20 (38,4) 1,451 (0,940 - 2,241) 0,091

Consumo de carne crua1

Não (n=91) 38 (41,7)

Sim (n=13) 10 (76,9) 0,778 (0,465 – 1,302) 0,379

Consumo de carne mal passada1

Não (n=44) 17 (38,6)

Sim (n=60) 31 (51,6) 0,743 (0,464 – 1,189) 0,200

Consumo de leite in natura1

Não (n=54) 26 (48,1)

Sim (n=50) 22 (44,0) 0,951 (0,616 – 1,467) 0,821

Consumo de verduras cruas sem lavar1

Não (n=39) 12 (30,7)

Sim (n=65) 36 (55,3) 1,764 (1,226 – 2,537) 0,002*

Consumo de frutas sem lavar1

Não (n=52) 19 (36,5)

Tabela 4 - Frequência de soropositividade da população total de pessoas incluídas nesse estudo, independentemente de terem ou não gatos, e correlação com variáveis relativas a hábitos alimentares, criação ou não de gatos, sexo e idade.

(Continuação) IgG positivo n (%) OR (IC 95%) p Consumo de água1 Água filtrada (n=79) 28 (35,4)

Água não filtrada (n=25) 20 (80,0) 0,881 (0,570 – 1,362) 0,574 Preparo alimentar 1,2

Água tratada (n=70) 17 (24,2)

Água não tratada (n=34) 31 (91,1) 1,823 (1,231 – 2,697) 0,009* Idade (anos) 0 – 20 (n=11) 0 (0) . 21 – 40 (n=43) 17 (39,5) 1,625 (1,268 – 2,083) 0,014* 41 a 60 (n=39) 22 (56,4) 2,615 (1,706 – 4,009) 0,001* 61 a 80 (n=11) 9 (81,8) 3,677 (1,397 – 9,624) 0,001* Gênero Masculino (n=13) 8 (61,5) Feminino (n=91) 40 (43,9) 1,097 (0,636 – 1,894) 0,746 Legenda: 1 Alguma vez durante toda a vida. 2 Água tratada - com sanitizantes ou filtrada; água não

tratada - água diretamente da torneira. † Nunca criou gato na vida. *Associação estatisticamente significativa no teste de Qui-quadrado de Pearson (p < 0,05).

O desconhecimento da toxoplasmose em si pode ser um fator de risco para ter contato com o protozoário (ROSSI et al., 2014), no entanto, menos da metade dos humanos soropositivos (41,67%) conheciam pelo menos um tópico sobre a doença (risco, transmissão ou prevenção), como simplificado na Tabela 5. Dentre os proprietários, apenas 15,38% (8/52) não tinha conhecimento de algum tópico, e destes 20,00% (4/20) eram soropositivos, contra não proprietários com ausência de conhecimento eram 82,69% (43/52) e destes 85,71% (24/28) soropositivos, sendo, portanto o conhecimento mais presente na população proprietária de gatos e que leva seu animal ao centro de atendimento especializado.

Tabela 5 – Frequência de soropositividade e desconhecimento sobre a infecção por

Toxoplasma gondii. Proprietários n/total (%) Não proprietários n/total (%) Total n/total (%) Desconhecimento 8/52 (15,38%) 43/52 (82,69%) 51/104 (59,34%) Soropositivos com desconhecimento 4/20 (20,00%) 24/28 (85,71%) 28/48 (58,33%)

adquirir a infecção (ENGROFF et al., 2014), há uma maior exposição ao agente ao longo da vida, com maior risco temporal de adquirir a infecção.

Da população total, mesmo tendo maioria do sexo feminino atendido no laboratório conveniado e participando do estudo, 40 (83,33%) mulheres e 08 (16,66%) homens soropositivos, não houve associação entre soropositividade e sexo das pessoas incluídas e testadas nesse ensaio [p=0,746; OR (IC 95%) = 1,097 (0,636–1,894)], o mesmo foi encontrado por Engroff e colaboradores (2014).

Os hábitos alimentares da população total demonstraram maior importância na infecção por T. gondii, tais como consumir verduras cruas sem lavar [p=0,002; OR (IC 95%) = 1,764 (1,226 – 2,537)], consumir frutas sem lavar [p=0,003; OR (IC 95%) = 1,809 (1,174 – 2,786)], e o preparo de alimentos com água não tratada [p=0,009; OR (IC 95%) = 1,823 (1,231 – 2,697)], como pode ser visto na Tabela 5. Esses fatores de risco também já foram descritos por Alvarado-Esquivel et al. (2010) no México, Fakhfakh et al. (2013) na Tunísia, Flegr (2017) na República Tcheca, Hofhuis et al. (2011) na Holanda, Kamani et al. (2009) na Nigéria e Zhang et al. (2016) na China.

É reconhecido que a água é um veículo de diversos patógenos, portanto bons hábitos de higiene evitam a infecção também por T. gondii. Wilking et al. (2016) descrevem que o hábito vegetariano reduziu o risco de adquirir a infecção por T. gondii, no entanto ainda existe este risco. O fato de não ser perguntado neste estudo sobre a água utilizada para o preparo do alimento pode ter interferido diferenciando dos resultados dos demais trabalhos e do nosso trabalho especificamente, já que o nosso demonstra fatores de risco relacionados ao preparo inadequado de produtos não cárneos. O consumo de carne crua ou mal passada é um fator de risco comum que já visto por Abamecha & Awel (2016) na Etiópia, Flatt & Shetty na Inglaterra (2012) e Hofhuis et al. (2010) na Holanda. No entanto, no presente estudo, não houve associação estatística em relação ao consumo de carne crua ou mal passada com a soropositividade, assim como revelaram estudos por Flegr (2016) e Uttah et al. (2013). Talvez esse fato se deva à pouca tradição de consumo de carne suína e de pequenos ruminantes na capital baiana, o que é mais comum no interior (ARAÚJO et al., 2011; BITTENCOURT et al., 2012; ENGROFF et al., 2014), e também pelo fato de que o acesso à carne comercial é maior para carnes fiscalizadas pelo SIF (Sistema de Inspeção Federal), o que já não acontece em um meio rural, onde pode-se ter acesso a carnes não fiscalizadas. Também

existe maior tradição de consumo de carnes bovinas, que não estão tão relacionadas à transmissão do parasito segundo Said e colaboradores (2017).

Muito embora seja relatado que o consumo de leite in natura, ou seja, ingestão do leite cru sem processamento, seja um fator de risco para adquirir a infecção por T.

gondii (FLATT & SHETTY, 2012), nem o presente estudo nem outros autores

encontraram associação com o consumo de leite cru como fator de risco (ABAMECHA

& AWEL, 2016; ALVARADO-ESQUIVEL et al., 2010; SAID et al., 2016), ou mesmo

outros estudos nem incluíram essa pergunta específica (DATTOLI et al., 2011; KAMANI et al., 2009; WILKING et al., 2016; ZHANG et al., 2016). Talvez também nesse momento deve-se considerar o fato de que a população urbana da cidade de Salvador tem acesso a leite comercial já pasteurizado, o que já não aconteceria em um ambiente rural, onde o acesso a leite sem pasteurização é mais fácil, e por isso esse leite sem tratamento pode servir de fonte de infecção.

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