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1.4 – Análise de necessidades e caracterização do público-alvo

No documento Arte de educar (páginas 32-38)

O público-alvo que aqui irei caracterizar diz respeito à formação realizada com todos os estagiários, intitulada Cenários em Mudança: eu do Mestrado em Educação de Adultos e Intervenção Comunitária; uma estagiária do quinto ano do Mestrado Integrado em Psicologia pela Universidade do Minho; um estagiário do Instituto Superior da Maia do Mestrado em Psicologia da Justiça e duas estagiárias do terceiro ano de Serviço Social pela Universidade Católica Portuguesa. No que concerne ao trabalho processual, não realizei selecção de público.

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O nosso público-alvo é sempre as famílias. É importante nunca trabalhar somente uma parte, mesmo trabalhando em separado, como aconteceu na nossa formação Cenários em Mudança. Entende-se por família um grupo de pessoas que vivem em comum certos momentos da sua vida e que cumprem, conscientemente ou não, determinadas funções pessoais e sociais. Normalmente, este grupo de pessoas sente-se unido por uma série de vínculos de diversos tipos, os mais correntes, na cultura ocidental, são de tipo físico e social. Entre os primeiros, conta-se a consanguinidade até certo grau, ou seja, ter em comum um antepassado não muito afastado. Neste sentido, as acções e atitudes de cada elemento da família vai influenciar e condicionar o resto do sistema familiar.

Neste sentido, o público-alvo que constituiu a formação Cenários em Mudança foi constituído por algumas famílias acompanhadas pela CPCJ de Braga. A selecção das famílias foi propositada, pois são muitas as que estão ao cuidado desta CPCJ e seria praticamente impossível conseguir trabalhar todas. Por isso, seleccionámos um grupo com problemas similares e com o qual se pudesse trabalhar. Os temas abordados foram escolhidos de acordo com as problemáticas mais comuns existentes nos processos, mas também principalmente por serem aquelas cujo trabalho processual por vezes mais chega, pois este não envolve uma troca de experiencias e história e um acompanhamento semanal como a formação. É mais fácil identificar algum problema existente quando estamos semanalmente a conversar com uma mãe do que quando esta só comparece na Comissão por convocatória. Nesse sentido, chegamos á conclusão que iríamos trabalhar dois temas: violência doméstica e insucesso escolar. Enquadramos o insucesso escolar na problemática de abandono escolar e a violência doméstica na exposição a comportamentos desadequados. Nesta selecção contamos com a colaboração da minha acompanhante e das restantes técnicas da Comissão. Em reunião de Comissão restrita, anunciamos a nossa formação, seus objectivos e as características do público que pretendíamos. É impossível conhecer todos os processos, até pelo seu elevado número; por isso, não tínhamos outra hipótese senão pedir a colaboração de todos os técnicos. Neste sentido, depois de explicado o que pretendíamos com a formação e em que tipo de famílias gostaríamos de intervir, passámos uma tabela para cada técnico preencher com os dados das famílias que de entre aquelas que tinham a seu cargo, seleccionavam para a formação.

A formação Cenários em Mudança era composta por dois grupos: pais e filhos. No grupo dos pais não utilizámos o critério da idade. Já no grupo das crianças, por questões pedagógicas e do seu próprio desenvolvimento (cada etapa tem as suas características e o seu ritmo de aprendizagem, da mesma forma que as actividades realizadas eram adaptadas ás idades escolhidas), as idades das crianças seleccionadas para a nossa formação foram dos dez aos catorze anos. Estes pais vivem em

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situação de violência doméstica (vitimas ou agressores) e os seus filhos têm problemas a nível escolar, como más notas. Todas as crianças escolhidas eram expostas a comportamentos desadequados por parte dos pais, nomeadamente violência doméstica, situações estas que estavam a reflectir-se no seu percurso escolar, traduzindo-se em mau desempenho, o que em alguns casos implica um plano de recuperação implementado pela própria escola.

Neste sentido, podemos apresentar o seguinte gráfico no que diz respeito ao sexo dos participantes da formação:

Gráfico I – Número e género dos participantes da formação Cenários em Mudança

Factos importantes a tomar em consideração na população escolhida para a formação foram as seguintes:

a) Não existia nenhum casal na formação; optámos por seleccionar aquele membro do casal que iria beneficiar mais com esta intervenção em grupo;

b) Somente um menor não tinha nenhum dos progenitores a participar na formação; existia no grupo dos filhos, dois pares de irmãos;

c) O número reduzido de formandos foi propositado, pois com grupos pequenos o alcance de objectivos e transformações desejadas é mais eficaz.

Apesar de não termos nenhum caso destes na nossa formação, por vezes, os responsáveis pela criança não são os pais biológicos desta. Porém, no que diz respeito ao trabalho processual, o público-alvo não é necessariamente os pais, mas sim o responsável pelos menores.

0 1 2 3 4 5 6

Grupo Pais Grupo Filhos

Masculino Feminino

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Em 2008, a caracterização do meio familiar da criança era: Tabela V – Caracterização do agregado familiar

Agregado com quem a criança vive Total Família Biológica 686 Família Relação Parentesco 88 Família Sem Relação Parentesco 12 Criança/Jovem a Cargo de Si Próprio 3

Legal Representante 20 Quem detém Guarda de Facto 0

É também importante - e porque este projecto conta com uma vertente de estimulação da vida profissional - ter em conta o rendimento do agregado familiar da criança, para assim perceber melhor as condições de vida e a situação socioeconómica:

Tabela VI – Rendimento do agregado familiar

Rendimento perante o Trabalho Total Rendimento do Trabalho 477

Pensão 39

Subsídio de Desemprego 24 Rendimento Social de Inserção 120

Bolsa de Formação 10

Subsídios Eventuais 1 Rendimentos (mobiliários e imobiliários) 0 Outros Rendimentos 27

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Sem Rendimentos 79

São famílias disfuncionais em muitos níveis – económicos, sociais, culturais e afectivos. Existem inúmeras problemáticas que estão instaladas no seio destas famílias como o alcoolismo, a toxicodependência, a prostituição, a mendicidade e problemas do foro psicológico. Muitas são beneficiárias de rendimento social de inserção (RSI), o que significa que não se encontram a trabalhar e não têm qualquer outro tipo de rendimento, estando a receber este apoio da Segurança Social com o intuito de dar tempo até a sua situação económica e familiar estabilizar. Na prática, muitas famílias se acomodaram a este tipo de rendimentos e deixaram de procurar trabalho. São famílias com baixo nível de escolaridade e qualificação profissional. Todos estes indicadores influenciam profundamente o desenvolvimento dos menores, pois chegam à Comissão apresentando sintomas e comportamentos como ausência de regras, falta de afectividade e valores, ausência da noção de família e das figuras parentais (existem muitas famílias monoparentais), dificuldades escolares, ausência de motivação, falta de um projecto de vida consistente e, por vezes, comportamentos desviantes. Acrescentam-se a estas situações os maus-tratos físicos e psicológicos, situações de violência conjugal e doméstica, inexistência de retaguarda familiar presente e adequada e uma atitude permissiva e pouco assertiva dos progenitores em relação aos comportamentos dos menores. Dos oito pais participantes adultos na nossa formação, quatro estavam desempregados.

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Capitulo 2 – Enquadramento Teórico da Problemática do Estágio

2.1 – A criança em risco

No documento Arte de educar (páginas 32-38)