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2.7 – Educação e formação de adultos 2.7.1 – Educação de adultos

No documento Arte de educar (páginas 58-61)

A finalidade da educação de adultos, de forma simplista, é o desenvolvimento de todas as capacidades do Homem, o seu desenvolvimento integral. Sendo assim, o adulto é um sujeito aprendente. A palavra romana “adultum” significa aquilo/aquele que já cresceu, em que a acção de crescer terminou. O adulto deve ter noção das suas capacidades e utiliza-as para um bem maior; deve estar integrado comunitária e socialmente (pensa no Bem Social); é dotado de capacidade de decisão (tem percepção do acto que vai realizar) e por ultimo mas não menos importante, o adulto tem consciência de que a idade adulta é também de desenvolvimento pessoal – há sempre outro crescimento a fazer. O adulto é responsável por si e tem um capital de experiencia de vida – recurso muito importante em educação de adultos. O adulto não é como uma criança; logo também não pode ser educado como tal. Temos de ter em atenção a sua condição física e psicológica, portanto, as

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técnicas de educação têm de ser diferentes das das crianças. Da mesma forma, as suas motivações são diferentes: os adultos têm motivações a nível profissional (para subir na carreira), pessoal (auto- realização) e social (integração em certos grupos ou sociedades), diferente das motivações das crianças e jovens.

Quando se fala em educação de adultos, há a tendência para pensar em alfabetização. Não é errado dizer que esta é um método de educação de adultos mas não é o único e, por vezes, a alfabetização literária não é a mais importante. Neste sentido, a educação de adultos retoma o mesmo problema que a educação em si: esta não é somente formal. O adulto, para se tornar mais adulto, precisa de muito mais do que saber escrever e ler. Sobre este assunto, é inevitável não falar em Paulo Freire, que defende que a alfabetização não é somente aprender a escrever mas sim também ter consciência do mundo. Para além disso, não podemos caracterizar ao adulto segundo a sua faixa etária, pois a pessoa vai-se tornando adulta ao longo do percurso de vida. Neste sentido, a EA liga-se intrinsecamente com a Educação Permanente, que, segundo António Nóvoa (1998:113) “vem, portanto, pugnar por um investimento educativo dos diferentes espaços sociais, pondo em causa o encerramento da educação em instituições especializadas, e defender uma visão do adulto como “um ser em mudança”, retirando à infância e à juventude o privilégio das preocupações educativas”. O adulto é mais do que um ser que vive para trabalhar. A educação de adultos deve ter em conta as experiências do adulto, pois este, para chegar a qualquer lado, passa por situações que o modificam. E se há mudança e experiencias, há educação.

De um modo geral pode dizer-se que nos anos cinquenta do século passado, a educação era dirigida exclusivamente às crianças e jovens e realizada dentro de uma instituição formalizada; era a educação escolar, caracterizada por “um processo de preparação para a vida a decorrer durante a infância e a juventude, período em que se procurava apetrechar os mais novos com os conhecimentos e técnicas necessárias para o exercício de uma futura profissão” (Antunes, 2001:32). Como o adulto era visto como alguém já preparado para todas as fases da vida, a visão da educação desta época não lhe atribuída nenhuma necessidade de aprender.

Porém, esta visão começou a mudar no fim da II Guerra Mundial: a Europa estava de rastos e destruída. Este continente precisava de agentes de (re)construção e actualização, tanto a nível social, económico e cultural. A educação de adultos era a chave para todo este processo, porque, como é lógico, esta reconstrução não estava nas mãos das crianças e jovens, mas essencialmente na dos adultos:

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“a Europa dos pós-guerra exigia a (re)construção dos adultos, não apenas no sentido escolar e de formação continua (actualização e reciclagem profissional), mas na linha de uma concepção de educação e de cultura que tem a ver com as necessidades reais e concretas de cada homem e com o seu possível contributo para a (re)construção das nações e o desenvolvimento das comunidades” (idem, p.32).

No que diz respeito à construção do conceito de educação de adultos, ficamo-la a dever, em muito, às conferências da UNESCO: em 1949, na Dinamarca; em 1960, no Canada; em 1972, em Tóquio; em 1985, na França; em 1997, na Alemanha; em 2009 no Brasil Ao longo destas conferências, a definição de EA foi-se modificando e, principalmente, foi-se actualizando às necessidades de cada época: a primeira, na Dinamarca, preocupava-se em realçar a inserção do adulto em todas as áreas da vida, tanto social, económico e político. A segunda conferência realçava o papel do Estado na educação geral, sem esquecer a educação de adultos, considerada uma parte indispensável das políticas educativas de cada país. Em Tóquio reafirmam-se a educação de adultos como um contributo indispensável e importante para a Educação em geral. Em França, na continuação da conferência anterior, relembra-se que a educação de adultos não deve ser somente a nível profissional, mas deve acompanhar as necessidades até a nível cultural dos indivíduos, não esquecendo a cultura onde eles se inserem. Foi-se mais longe ao propor que a educação de adultos deixasse de ser entendida como alfabetização para se focar também na formação profissional. Na Alemanha, foram relembrados os vários tipos de educação e sua inter-ligação: educação formal, não formal e informal e educação permanente. Mais recentemente, no Brasil, a CONFINTEA VI foi responsável pela construção do Quadro de Acção de Belém, que reforça a ligação da aprendizagem ao longo da vida com a educação de adultos e cujo documento compromete os estados membros a uma serie de medidas e desenvolvimento, acção e supervisão sobre a literacia de adultos, politicas para a educação de adultos, investimentos financeiros e dotar todos os sistemas de educação de adultos de participação, inclusão, equidade e qualidade.

Entretanto, já a conferência de Nairobi (1976) deixava bastante claro este aspecto: “o homem é agente da sua própria educação” e que a educação de adultos deveria ser vista como “a totalidade dos processos organizados de educação, seja qual for o conteúdo, o nível ou o método, sejam formais ou não formais”. Porém, podemos ver exemplos de actividades da educação de adultos desde a Antiguidade, embora o termo ainda não existisse. A formação de políticos passava pela preparação dos

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jovens pelos sofistas para que em adultos estivessem preparadas para a vida políticas e assim defender as suas ideias na protecção da sua cidade. Na medievalidade, encontramos nos Jogos Olímpicos (na altura só para homens) uma acção de animação para adultos. Já na modernidade, a divulgação da Imprensa foi o ponto alto da alfabetização de adultos.

Para além da preocupação de inserção social, a educação de adultos, segundo a declaração de Nairobi, devia “contribuir para o desenvolvimento da capacidade para aproveitar de forma criativa o tempo livre”.

O adulto tem de aprender a aprender, pois com tantas lacunas na educação, o adulto é visto como alguém que já aprendeu tudo e esta mentalidade faz com que eles pensem que já são velhos de mais para aprender e que já não sabem como tal se faz. O adulto não é somente aquele que trabalha e que assim dá o seu contributo para economia. O adulto é também aquele que se reforma e que precisa de algo que lhe diga que ainda é preciso na sociedade, mesmo não estando a trabalhar para ela. A educação de adultos deve responder a todas as necessidades do adulto, seja qual for a sua idade ou cultura. Também, portanto, é necessidade de aprender, ou re-aprender a ser pai ou mãe.

No documento Arte de educar (páginas 58-61)