II- ESTUDO EMPÍRICO
7. ANÁLISE DE NECESSIDADES
Para prosseguir o estudo torna-se importante estabelecer as linhas de ação. Para
tal é necessário confrontar os dados recolhidos pela revisão da literatura e apresentados
na primeira parte deste trabalho, os quais permitem-nos delinear o enquadramento ideal
para a problemática em estudo, com os dados apresentados até ao momento na parte
empírica, que testemunham a situação real que encontrámos e a qual queremos
modificar.
Para mais facilmente sinalizar as necessidades achou-se por bem apresentar o
quadro seguinte.
Quadro XI- Apresentação da Análise de Necessidades
Situação Real Situação Ideal Necessidades
-Há pouca participação em
contextos sociais de
literacia;
-Grande interesse por
histórias;
-Contacto com histórias
pouco frequente quer em
casa quer proporcionado
pela escola;
- O DVD e o computador
são apontados como
recurso principal;
- O conto tradicional é o
tipo de narrativa mais
utilizada com o objetivo de
promover a estimulação
dos participantes;
-A inclusão educativa deve
de acompanhar a inclusão
social;
-Devemos valorizar a
importância da pessoa em
sociedade, como fator
impulsionador de uma
educação mais justa para
todos, independentemente
do seu grau de inteligência
e da sua destreza física;
-As atividades de leitura,
dirigidas a crianças/jovens
com NEE, deverão ser
programadas tendo em
conta a diferenciação e a
flexibilidade;
-A chave para o sucesso em
literacia reside na criação
de oportunidades plurais de
interação com os materiais
-Incluir alunos com NEE
severas em contextos
sociais de literacia,
nomeadamente no
programa de mediação
leitora da Biblioteca
Municipal de Beja – José
Saramago;
-Programar atividades de
leitura dirigidas a crianças
e jovens com NEE, de
acordo com as suas
competências;
-Seleccionar o materiais de
leitura do núcleo
documental da Biblioteca
Municipal de Beja, mais
apropriados para as
atividades de leitura com
crianças e jovens com NEE
severas;
quer visionadas, são pouco
exploradas e pouco
relacionadas com as
vivências dos alunos e com
os saberes funcionais;
- Não há a valorização da
mediação leitora.
literários;
-A Literacia Especial
presume a capacidade de
comunicar e interpretar
significados usando a
linguagem dos gestos, dos
sinais e dos símbolos, dos
sons, das imagens, distintos
em cada criança/jovem,
para percecionar e
converter mensagens em
significados;
- Os materiais visuais
podem ser usados
pedagogicamente para
alterar comportamentos e
explorar as construções
sociais e culturais dos
alunos;
- Para a programação de
atividades de leitura é
necessário estabelecer
objetivos, determinar
necessidades, planificar
situações de aprendizagem
e concomitantes
componentes, bem como
sequencializá-las por
mudanças sucessivas e
decidir sobre as
prioridades.
capacidade de compreensão
e expressão da população
alvo;
-Integrar na narrativa
objetos, imagens e música,
para tornar mais fácil e
atraente a mensagem;
-Relacionar práticas
pedagógicas com a
potencialidade dos
materiais de leitura no
desenvolvimento de
competências
comunicativas, cognitivas e
sociais destas crianças e
jovens;
-Criar oportunidades
efetivas de participação nas
atividades de leitura;
- Promover atividades de
leitura na Biblioteca
Municipal de Beja que
garantam a socialização.
Para responder às necessidades apresentadas e tendo em conta os objetivos a
que nos propomos começámos por estabelecer duas grandes linhas de ação:
- Incluir crianças e jovens no programa de mediação leitora da Biblioteca Municipal de
Beja- José Saramago.
- Adaptar e selecionar os materiais de leitura que melhor servem esta população.
Para levar a cabo estas ações começámos por delinear uma primeira sessão,
abaixo descrita, que serviu como pré-teste para avaliar a participação; comunicação;
mobilidade e relacionamentos interpessoais dos alunos participantes.
Escolheu-se a história Quando eu nasci porque se podia adaptar a história aos diferentes
grupos etários e se podia explorar as vivências de cada um. Além disso, simbolicamente
correspondia ao nascimento do projeto.
Quadro XII- Atividade: Quando eu nasci
Quando eu nasci…
Participantes -Grupo 1- alunos da Escola de Ensino Especial do CPCB
-Grupo 2- alunos da Unidade de Multideficiência do 1º Ciclo do
Agrupamento de Escolas n.º 2- Mário Beirão
-Grupo 3- alunos da Unidade de Multideficiência do 2º Ciclo do
Agrupamento de Escolas n.º 2- Mário Beirão
(será realizada uma sessão por grupo)
Palavras – Chave Literacia Visual/ Comunicação/ Interação
Material Exemplar de O meu pai - Anthony Browne
Exemplar de A minha mãe - Anthony Browne
Exemplar de Quando eu nasci - Planeta Tangerina
Matrioskas
Objetivos -Avaliar as crianças e jovens participantes ao nível da participação;
comunicação; mobilidade e relacionamentos interpessoais;
- Identificar quais os materiais de leitura que melhor servem a
mediação leitora com esta população;
-Averiguar o tempo de escuta dos alunos participantes.
Guião da actividade 1-Bom dia! Chamo-me…e venho da Biblioteca Municipal de Beja.
-Sabem o que há nas bibliotecas?
Nas Bibliotecas há muitos… dar tempo para que os participantes
cheguem à resposta: “Livro”.
-Hoje venho aqui contar-vos uma história muito especial - a história do
meu nascimento.
Alguém sabe onde é que nós estávamos antes de nascer?
Espera-se que respondam nomeando ou apontando: na barriga da mãe.
No lugar de apresentar o livro Quando Eu Nasci, uma vez que a sua
ilustração, apesar de apelativa, se torna de difícil leitura para estes
grupos pela quantidade de informação que apresenta em cada página,
proceder à projeção de imagens simples que têm a ver com o conteúdo
do livro.
2- Para nascer é preciso existir o pai e a mãe.
-Eu gosto muito do meu pai, por isso ando sempre com o seu álbum de
fotografias. Querem conhecer o meu pai? Prometem que não se riem?
Apresentar o livro O Meu Pai.
Já agora querem conhecer a minha mãe? É que eu também gosto muito
dela. Apresentar o livro A Minha Mãe.
- Para além de serem muito especiais, os pais costumam dar-nos
presentes ou outras coisas das quais gostamos muito.
-O presente que os meus pais me ofereceram, do qual, eu mais gostei
foi esta boneca:
3- Apresentar a Matrioska e cantar a história.
Havia uma boneca
Que mãe queria ser
Chorou tanto, tanto
Que outra fez nascer…
Canta-se esta canção à medida que de dentro das bonecas vão surgindo
outras bonecas, terminando com o nascer de um boneco:
Nasceu um boneco
Muito pequenino
Deixou de chorar
Porque era um menino.
Crianças e Jovens -Devem escutar, dirigir e concentrar a atenção de forma a estabelecer
relação entre o texto e a imagem e responder quando solicitados a
participar.
Espera-se ainda que a criança ou jovem transporte as suas vivências
para as histórias apresentadas, revendo ou identificando o seu pai e a
sua mãe nalgumas situações representadas.
Fecho Perguntar às crianças/jovens se têm algum objeto que lhe tenha sido
oferecido e do qual gostam muito.
Tempo 40 minutos
Trabalho para
realizar com a
docente até à
próxima sessão
- Explorar um objeto de que gosto muito, para apresentar ao grupo na
próxima sessão.
A dinamização desta atividade de leitura facultou-nos informações relevantes
quanto ao grau de funcionalidade dos participantes, que deverão ser tidas em conta na
seleção do material e programação das atividades de leitura.
Verificou-se que os materiais de leitura selecionados se adequam aos três grupos
participantes, constituídos por crianças e jovens de faixas etárias diferentes, com
problemáticas próximas. A diferenciação reside na adequação da linguagem em
consonância com a faixa etária e nível de compreensão.
Dos materiais apresentados, a projeção de imagens alusivas ao conteúdo do livro
Quando eu nasci, foi apelativa e inteligível para os participantes, que conseguiram
identificar nas imagens elementos concretos e ações.
Por sua vez, os álbuns de imagem O meu pai e A minha mãe levaram os
participantes A., J.; A.S.; M. e Ce. a transportar as suas vivências para os referidos
álbuns. É de salientar que o grupo I identificou situações do ridículo, manifestando riso
e gargalhadas perante as mesmas.
A apresentação das Matrioskas acompanhada da melodia suscitou o interesse e
captou a atenção de todos os participantes, principalmente dos grupos II e III, revelando
que quer o objeto, quer a melodia têm impacto positivo nestas atividades, na medida em
que prendem ou trazem de volta, os participantes à atividade.
Apesar da seleção de materiais se ter revelado adequada, percecionámos que o
tempo de programação foi superior ao tempo de escuta dos participantes, verificando-se
que esta população necessita de ações repetidas e de mais tempo para responder às
questões para participar nas inferências levantadas durante e após a leitura. É de
salientar que em determinados momentos da atividade, as possibilidades de resposta
facultadas aos participantes foram insuficientes, na medida em que A. manifestou por
várias vezes agitação motora, causada pela impossibilidade de se fazer compreender e
de responder no tempo certo.
As ilações retiradas desta sessão levaram-nos a repensar a adequação das
atividades e dos materiais de leitura a dirigir a esta população e serviram o desenho das
atividades que se seguiriam, por forma a colmatar as necessidades encontradas e
viabilizar a participação destas crianças e jovens.
A partir desta atividade acrescentámos uma terceira ação que se interliga com as
duas traçadas: – Adequação da forma de comunicação do mediador à capacidade de
compreensão e de mobilização da atenção do “leitor”.
No documento
INSTITUTO POLITÉCNICO DE
(páginas 69-75)