I- ENQUADRAMENTO TEÓRICO
6. COMUNICAÇÃO: A CHAVE PARA O SUCESSO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Para que o ser humano se desenvolva e evolua com dignidade, necessita de
comunicar com o mundo que o rodeia. As características da sua personalidade serão
fruto das trocas que tem com a sociedade à qual pertence, porém a sua condição de
saúde influenciará o modo como irá desenvolver a sua comunicação.
Segundo Vayer e Destrooper (1976:20) “é através da ação, primeiramente
funcional depois intencional e refletida, que a criança aprende a realidade do mundo
envolvente e se apropria dele. Do mesmo modo, é através da ação lúdica e funcional,
aquela ação em que a criança age pelo prazer de agir e pelo prazer de ser, que exerce e
desenvolve as suas aptidões neurofisiológicas”.
A falta de experiências que as crianças com NEE apresentam, devido às suas
condições físicas e intelectuais ditará as carências, que inevitavelmente se refletem no
seu desenvolvimento, na sua forma de comunicar.
A fala é a forma de comunicação humana, mais comum, preferida pelos
indivíduos com audição normal, no entanto, nem todos têm as mesmas capacidades para
falar. Para muitas crianças, a necessidade de uma forma alternativa de comunicação é
transitória e desaparecerá com o desenvolvimento da fala, enquanto outras necessitam
de um sistema alternativo de comunicação durante toda a vida, devido a problemas
motores que as impedem de falar, dificultando a sua participação nalgumas atividades e
ditando a dependência das tecnologias de apoio, bem como do auxílio de outras pessoas.
Segundo Tetzchner e Martinsen (2000) os indivíduos que necessitam de um
meio de expressão apresentam uma diferença significativa entre a capacidade de
compreensão da linguagem e a capacidade de se expressarem através da fala. Neste
órgãos da fala de modo a conseguirem articular sons inteligíveis. Porém, podem ter um
bom nível de compreensão da linguagem. Pessoas com deficiência mental ou
perturbações da linguagem podem apresentar também uma diferença significativa entre
a compreensão e a expressão da linguagem e poderão enquadrar-se neste grupo.
Estas pessoas necessitam de recorrer à comunicação aumentativa e alternativa
(CAA) para poderem comunicar. A CAA implica o uso de formas não faladas como
complemento ou substituto da linguagem falada e é definida como:
“qualquer forma de comunicação diferente da fala e usada por uma pessoa em
contextos de comunicação frente a frente. Os signos gestuais, os signos gráficos, o
código Morse, a escrita, entre outros, são formas alternativas de comunicação (…)”
Tetzchner e Martinsen (2000:22).
Na perspetiva dos mesmos autores a comunicação aumentativa ou comunicação
complementar/de apoio tem como objetivo melhorar e promover a capacidade de
expressão e compreensão dos indivíduos com dificuldades a este nível. A palavra
“aumentativa” sublinha o facto de o ensino das formas alternativas de comunicação
terem o duplo objetivo: promover e apoiar a fala e garantir uma forma de comunicação
alternativa a indivíduos que carecem da capacidade de falar.
Os indivíduos que pertencem ao grupo que manifesta necessidade de uma
linguagem de apoio podem dividir-se em dois subgrupos. Para o primeiro, a
aprendizagem de uma forma de comunicação alternativa constitui essencialmente, um
passo no caminho do desenvolvimento da fala. O uso mais frequente da comunicação
alternativa como linguagem de apoio está relacionado com crianças das quais se espera
que venham a falar no futuro, mas que apresentam um atraso grave no desenvolvimento
da linguagem. As crianças com perturbações específicas da linguagem pertencem a este
grupo, tal como muitas crianças com deficiência mental (cf. Von Tetzchner, 1984a;
Launonen, 1996; Romsky e Sevick, 1996; citados por Tetzchner e Martinsen, 2000).
O segundo subgrupo inclui crianças e adultos que aprenderam a falar mas que
têm dificuldades em fazer entender-se em diferentes situações. Este subgrupo é similar
ao grupo que necessita de um meio de expressão, mas distingue-se do mesmo por não
utilizar um sistema alternativo de comunicação como meio principal de comunicação. A
inteligibilidade da fala difere em função do conhecimento que as pessoas têm desse
indivíduo, do tema de conversa e dos ruídos. Assim, estes indivíduos podem precisar de
usar sinos gestuais, apontar signos gráficos, palavras escritas ou letras para completar o
que o interlocutor não compreendeu (Tetzchner e Martinsen, 2000).
Os elementos que constituem os sistemas alternativos de comunicação são
signos gestuais, gráficos e tangíveis.
Os Signos gestuais incluem a língua gestual dos surdos e outros signos
realizados com as mãos. A língua gestual só se refere aos signos gestuais usados por
surdos.
Por sua vez os signos gráficos incluem todos os signos produzidos graficamente
(Bliss, SPC, PIC, Rebus, etc.).
No que respeita aos signos tangíveis, estes são geralmente feitos de madeira ou
plástico apresentando formas e texturas diferentes (exemplo: fichas Premack), usados
no ensino de pessoas com deficiência mental ou autismo. Os signos tangíveis
elaborados para cegos ou pessoas com deficiência visual são designados como signos
tácteis.
As tecnologias de apoio para a comunicação mais recentes baseiam-se em
dispositivos que utilizam tecnologia dos computadores. Após a difusão de
computadores portáteis, com baterias com uma autonomia significativa, tornou-se
comum o uso de programas especiais no computador pessoal.
Segundo Smith-Lewis (1994) citado por Tetzchner e Martinsen (2000:59)
“As tecnologias de apoio para a comunicação devem proporcionar ao indivíduo
possibilidades de desenvolvimento (…) é importante que existam outros modos de
comunicação caso a tecnologia de apoio para a comunicação não se mostre eficaz”.
Deste modo facultar uma forma de comunicação alternativa a indivíduos que não
podem expressar-se através da fala, deve fazer-se com base na avaliação da sua situação
global e tem como consequência melhorar a sua qualidade de vida, proporcionando-lhes
um maior controlo sobre a sua vida e melhorar a autoestima, enaltecendo os direitos de
igualdade e de participação na sociedade.
7. A AÇÃO MEDIADORA NA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA/JOVEM
No documento
INSTITUTO POLITÉCNICO DE
(páginas 35-39)