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ANÁLISE DE RESULTADOS DAS DEMANDAS POTENCIAL E EFETIVA

3 A PRAIA DE ITAMAMBUCA: DESTINO TURÍSTICO DE SURF

3.2 DEMANDA TURÍSTICA ATUAL

3.2.3 ANÁLISE DE RESULTADOS DAS DEMANDAS POTENCIAL E EFETIVA

As pesquisas realizadas sobre o perfil das demandas efetivas e potencial da praia de Itamambuca, em São Paulo, tiveram como principal objetivo conhecer as demandas existentes e as que poderiam vir a surgir. O público direcionado para a pesquisa de gabinete via on-line, foi um público em sua maioria de municípios do Rio de Janeiro, e o público presente na pesquisa de campo, realizada na praia, foi majoritariamente da região de São Paulo. No entanto, algumas questões se confirmaram em ambas as pesquisas, o que ajudou a responder algumas hipóteses sobre o objeto de estudo, a praia de Itamambuca.

Ficou evidente que o surfista aumenta fluxos turísticos em regiões que possuem condições ideais para o surf. Como ficou comprovado nas duas amostras recolhidas, o turista que viaja em busca de ondas o faz acompanhado de amigos e/ou namorados (as), tornando a praia mais conhecida e transformando aquela localidade em um atrativo. No entanto, conforme foi exposto pela pesquisa de

demanda potencial e posteriormente comprovado pela pesquisa de demanda efetiva, a principal preocupação do surfista ao optar por um determinado destino é em relação às condições para a prática do surf naquele local. O surfista não sente a necessidade de fazer uso de infraestruturas melhores e mais articuladas, tornando a criação e promoção do destino turístico mais fácil de ser alcançada. É importante observar que, embora a maioria não esteja procurando uma infraestrutura excelente, foi exposto durante as entrevistas pessoais na pesquisa de campo que grande parte dos surfistas deseja uma estrutura melhor, pelo menos para permitir a prática do esporte de uma maneira mais confortável.

Outro fator bastante interessante a ser observado na comparação entre as duas pesquisas realizadas é que o público que frequenta a praia é solteiro, tem em média entre 17 e 34 anos, e faz parte da classe média e classe média alta brasileira, de acordo com suas rendas pessoais e familiares. Esta última variável explica o porquê de a maioria visitar a praia com carro próprio. Além de Itamambuca ser uma região de acesso não tão fácil, é considerada uma área nobre, por conta de sua praia reservada e tranquilidade no loteamento.

No entanto, uma variável que apresentou uma divergência maior nas duas pesquisas é em relação ao local de residência permanente dos visitantes. Como já foi observado na pesquisa de demanda potencial, o publico maior tem como origem o estado do Rio de Janeiro, seguido por São Paulo. Na pesquisa de demanda efetiva, no entanto, os lugares se invertem, onde São Paulo mostra-se como o estado de maio número de surfistas emissivos. Este fato pode ser explicado pelo grande número de praticantes do esporte que reside em municípios vizinhos, principalmente nos outros bairros de Ubatuba. O estado do Rio de Janeiro e o estado de São Paulo são os estados que possuem o maior número de surfistas em todo o país. Também são os estados que, além de terem litorais favoráveis às condições para a prática do surf, possuem também maior poder aquisitivo, facilitando as viagens e explicando assim a presença desses estados na praia de Itamambuca.

Em relação ao perfil do turista que viaja para surfar, as duas amostras recolhidas apresentaram o sexo masculino como sendo o gênero mais presente. O

de uma década atrás era considerado um esporte essencialmente para homens, e ainda era muitas vezes marginalizado. No contexto atual, o esporte cresceu significativamente no universo feminino, mas ainda não o suficiente para provocar mudanças neste cenário tipicamente masculino. Outro fator interessante sobre o perfil do surfista a ser destacado é a faixa etária. Ambas as pesquisas realizadas confirmaram que o surfista de Itamambuca faz parte de um público adulto, porém jovem, sendo a grande maioria entre dezoito e trinta e quatro anos, explicado pelo

surf ser um esporte relativamente recente na vida do brasileiro, além de ser uma

atividade que exige muito preparo físico do praticante.

É possível entender, também pela ótica do esporte, a razão pela qual a maioria dos entrevistados pertence à classe média, e classe média alta brasileira. O

surf, como já apresentado neste trabalho, teve sua explosão no Brasil nas areias da

praia do Arpoador, local nobre da zona sul carioca. Por muito tempo era considerado um esporte de ricos, pois apenas quem tinha acesso às pranchas e materiais eram jovens de famílias com alto poder aquisitivo. Atualmente esse cenário encontra-se alterado, tendo oficinas que produzem pranchas com materiais de fabricação nacional e vendem pranchas usadas por um preço mais acessível, porém o custo de adquirir estes materiais ainda continua sendo um pouco elevado. Ainda, o custo de ter uma casa no litoral ou morar em bairros próximos à praia, costuma ser um custo mais alto, e se o surfista não mora perto das ondas, precisa dispor de um carro para levar o equipamento e de um tempo livre maior para se locomover, requisitos limitantes para jovens de classes mais humildes. Estes pontos discutidos também podem ser entendidos como a razão para outras variáveis das pesquisas, como o modo que o surfista viaja para Itamambuca, a periodicidade com que ele surfa e a frequência com que costuma viajar para a localidade. De todos os entrevistados, nas duas amostras, a maioria estava retornando à praia, já tendo visitado-a outras vezes.

Itamambuca apresentou-se como uma localidade que instiga o universo do

surf. Isso pode ser facilmente notado em uma questão na pesquisa de demanda

potencial, onde foi explicito que aqueles que não conheciam a praia, já sabiam ser famosa pelas condições favoráveis ao esporte. Os surfistas reforçaram a ideia de que o principal atrativo de Itamambuca é o surf, como foi constatado nos resultados de ambas as pesquisas. Este ponto é esclarecido de acordo com a visão de que o

único entretenimento disponível em Itamambuca é o surf, logo a praia não se torna atrativa para jovens que procuram diversão em programas culturais ou vida noturna. Desta maneira, cada vez mais os visitantes de Itamambuca são a maioria surfistas, e surfistas que retornam e levam outros amigos do esporte para a praia.

Outra questão que merece destaque na análise das pesquisas realizadas é a avaliação da infraestrutura. Os surfistas, de uma forma geral, alegam a praia ter uma infraestrutura regular, pois oferece os serviços essenciais ao que procuram naquele momento, como hospedagem, alimentação e artigos de surf, mesmo que em um número menor. No entanto, muitos reclamam da falta de asfalto nas ruas, falta de iluminação pública, poucas opções de serviços de alimentação, infraestrutura para o esporte quase nula e principalmente falta de um meio de acesso melhor, como linhas de ônibus mais frequentes e que entrassem no loteamento, ficando mais próximo da praia. Isto remete a uma discussão antiga não só sobre Itamambuca como também sustentabilidade. Ao mesmo tempo em que os surfistas sentem a necessidade de o meio de acesso ser melhorado, mais opções de serviços e uma estrutura de apoio para o surf como racks para pranchas, chuveiros de água doce, quiosques na praia, entre outros, o próprio surfista sabe que, quanto maior for o desenvolvimento da localidade, maior o número de surfistas que irão visitar a praia, além de outros visitantes, como excursionistas, que costumam ser muito menos conscientizados com a preservação do local que o público do surf.

De uma maneira geral, foi possível identificar vertentes semelhantes nas duas amostras coletadas, trazendo um resultado homogêneo, onde uma amostra foi capaz de confirmar a outra. O público de Itamambuca costuma ser um público bem específico, que já frequenta a praia há bastante tempo, e não busca mais do que a localidade oferece. Nas próximas seções será analisado como as autoridades devem se portar perante a esse público e as ações que devem ser tomadas ou não para que haja um planejamento mais sustentável, para a praia e para a comunidade local.

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