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3. MATERIAIS E MÉTODOS

4.2 ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS

Tomando como base a metodologia indicada no tópico 3.1.2 das séries temporais, no cálculo da componente Tendência (𝑇𝑡) foram utilizadas as equações de tendência contidas na Tabela 3 para se calcular as tendências em cada tipo de sinistro, tanto no período de observação dos dados, que foi de 2006 a 2014 (linhas contínuas no Gráfico 5), quanto no período futuro de 2015 a 2019 (linhas tracejadas).

Tabela 4 – Valores da tendência de sinistros nas atividades de E&P calculados por meio das equações de tendência na forma polinomial de grau 2, apresentadas na Tabela 3, de 2006 a 2019, Brasil.

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANP, 2017

Observação: Onde há valores negativos, considerar que o número de sinistros será zero, visto que todos foram calculados com base nas equações de tendência apresentadas na Tabela 3.

Para uma visualização imediata das tendências, criou-se o Gráfico 5 abaixo:

Gráfico 5 – Tendência da ocorrência de sinistros nas atividades de E&P, 2006 a 2019, no Brasil

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANP, 2017

SINISTRO 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Derrame ou vazamento de petróleo ou derivados 71,61 68,77 69,36 73,37 80,81 91,68 105,97 123,69 144,83 169,40 197,40 228,82 263,67 301,95

Derrame ou vazamento de água oleosa -15,47 3,28 18,07 28,90 35,77 38,67 37,60 32,58 23,59 10,64 -6,27 -27,15 -51,99 -80,80 Derrame ou vazamento de Outras Substâncias -2,72 6,05 12,45 16,48 18,13 17,41 14,32 8,86 1,02 -9,19 -21,77 -36,72 -54,04 -73,74 Derrame ou vazamento de fluido de perfuração -3,67 2,55 8,64 14,61 20,45 26,18 31,79 37,27 42,64 47,88 53,00 58,00 62,88 67,64 Explosão e/ou incêndio -0,47 1,62 6,57 14,40 25,10 38,67 55,11 74,42 96,60 121,65 149,57 180,36 214,02 250,55 Parada não programada 1,02 13,19 23,94 33,27 41,18 47,67 52,74 56,39 58,62 59,43 58,82 56,79 53,34 48,47 Blowout 2,06 1,68 1,34 1,03 0,77 0,53 0,34 0,18 0,06 -0,02 -0,07 -0,08 -0,06 0,01 Abalroamento 0,46 0,32 0,30 0,42 0,67 1,05 1,57 2,21 2,99 3,90 4,95 6,12 7,43 8,87 Adernamento 0,10 0,39 0,62 0,78 0,88 0,92 0,88 0,79 0,63 0,40 0,11 -0,25 -0,67 -1,15 Número de óbitos em incidentes operacionais 4,47 4,72 4,78 4,67 4,38 3,90 3,25 2,42 1,41 0,22 -1,15 -2,70 -4,43 -6,34 Número de feridos em incidentes operacionais 11,39 6,85 5,86 8,44 14,58 24,27 37,53 54,35 74,73 98,67 126,17 157,23 191,85 230,03

-100,00 -50,00 0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 300,00 350,00 Derrame ou vazamento de petróleo ou derivados

Derrame ou vazamento de água oleosa

Derrame ou vazamento de Outras Substâncias

Derrame ou vazamento de fluido de perfuração

Explosão e/ou incêndio Parada não programada Blowout

Abalroamento Adernamento

Pode-se perceber analisando o Gráfico 5 e com base na Tabela 4 que há uma grande tendência de crescimento em vários sinistros, sendo alguns com uma maior e outros com uma tendência menor. Os sinistros que possuem uma maior tendência de crescimento são os derrames ou vazamentos de petróleo e seus derivados, os casos de explosão e/ou incêndios nas instalações, bem como o número de feridos em incidentes operacionais. Em contrapartida, os sinistros que possuem uma maior tendência de decrescimento são os derrames ou vazamentos de outras substâncias, derrames ou vazamentos de água oleosa e o número de óbitos em incidentes operacionais, com todos eles chegando a uma tendência 𝑇𝑡 < 0, conforme pode ser

visto no Gráfico 5.

Sabe-se que o ideal seria que houvesse uma tendência de decrescimento em todos os sinistros, mas infelizmente não é a situação vivenciada nessas atividades, devido sobretudo à grande exposição aos riscos a que são submetidas.

Sendo assim, fazendo uso da equação (3) com a decomposição do modelo aditivo para esta série temporal, foi gerada a Tabela 6 abaixo com as previsões de ocorrência dos sinistros para o período futuro de 2015 a 2019, para os quais não se tinham dados de observação.

Tabela 6 – Previsão da ocorrência de sinistros nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil.

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANP, 2017

Com as previsões calculadas, observe agora os gráficos contendo os resultados mencionados acima, com os reais observados e as projeções de ocorrências futuras para os sinistros, bem como as discussões realizadas.

SINISTRO 2015 2016 2017 2018 2019

Derrame ou vazamento de petróleo ou derivados 169,40 197,40 228,82 263,67 301,95

Derrame ou vazamento de água oleosa 10,64 -6,27 -27,15 -51,99 -80,80

Derrame ou vazamento de Outras Substâncias -9,19 -21,77 -36,72 -54,04 -73,74

Derrame ou vazamento de fluido de perfuração 47,88 53,00 58,00 62,88 67,64

Explosão e/ou incêndio 121,65 149,57 180,36 214,02 250,55

Parada não programada 59,43 58,82 56,79 53,34 48,47

Blowout -0,02 -0,07 -0,08 -0,06 0,01

Abalroamento 3,90 4,95 6,12 7,43 8,87

Adernamento 0,40 0,11 -0,25 -0,67 -1,15

Número de óbitos em incidentes operacionais 0,22 -1,15 -2,70 -4,43 -6,34

Gráfico 6 – Previsão da ocorrência de Derrame ou vazamento de petróleo ou derivados nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANP, 2017

No caso do sinistro “Derrame ou vazamento de petróleo ou derivados”, percebe-se que a tendência foi de crescimento, tendo sido as suas ocorrências em grandes quantidades no longo prazo, comparando-se sobretudo o ano inicial com o ano final das ocorrências.

Partindo do Gráfico 6, pode-se notar que a previsão sobre o número de ocorrência de derrame ou vazamento de petróleo ou derivados, a partir do ano de 2015 até 2019 para os quais ainda não se tem relatórios, se distribuirá conforme segue: 2015 – 169 derrames ou vazamentos de petróleo ou derivados, 2016 – 197, 2017 – 229, 2018 – 264 e 2019 – 302.

Da mesma maneira como feito para o primeiro sinistro (apresentado anteriormente), será feito para todos os outros na sequência, apresentando um gráfico para cada contendo suas observações reais, as projeções realizadas bem como a linha de tendência para o período supracitado (2015 a 2019).

Gráfico 7 – Previsão da ocorrência de Derrame ou vazamento de água oleosa nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANP, 2017

Nota-se que para o sinistro em questão, a previsão do número de ocorrências será negativa para os anos seguintes, chegando a um valor de -81 ocorrências; isso leva a crer que será reduzido a zero os derrames ou vazamentos de água oleosa nas atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil. Tal dado é relevante para as análises, pois indica que é um sinistro a menos que poderá ocorrer nessas indústrias, o que reflete sobretudo na salvaguarda do meio ambiente, que é frequentemente exposto à esse tipo de risco nessas atividades.

Gráfico 8 – Previsão da ocorrência de Derrame ou vazamento de Outras Substâncias nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

O mesmo ocorrido com o sinistro de derrame ou vazamento de água oleosa, mostrado no Gráfico 7, ocorre com os derrames ou vazamentos de outras substâncias, visto que pode-se observar no Gráfico 8 que a previsão realizada indica que este sinistro também possui valores negativos (ou seja, abaixo de zero) nas suas previsões, o que indica que suas ocorrências de 2015 a 2019 serão zero, refletindo num indicador positivo para a segurança dessas atividades, no tocante a esse tipo de sinistro.

Ao contrário do demonstrado para os sinistros anteriores, o sinistro Derrame ou vazamento de fluido de perfuração possui uma previsão de crescimento relativamente grande, uma vez que iniciou em 2006 com zero ocorrências e chegou a 2014 com 58 ocorrências; os valores observados por si só já demonstram uma tendência de crescimento superior aos demais sinistros já apresentados, logo, conforme a Tabela 6 com as predições realizadas, foi gerado o Gráfico 9 a seguir, refletindo o comparativo com as ocorrências observadas desse sinistro, bem como com as predições realizadas.

Gráfico 9 - Previsão da ocorrência de Derrame ou vazamento de fluido de perfuração nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

Por sua vez, o Gráfico 10 reflete também um crescimento considerável para o sinistro de explosão e/ou incêndio nas atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil. Vale mencionar que essas indústrias possuem grande maquinário atuando em suas atividades, instalações elétricas de alta, média e baixa tensão, motores, bombas, entre outros, que precisam de manutenções preventivas constantes, além de outras características inerentes à toda e qualquer indústria de grande porte. Todavia, muitas vezes não são realizadas manutenções preventivas com a frequência adequada, em suma pela necessidade do uso ininterrupto dos equipamentos e instalações, que se houver uma pausa pode refletir em grandes perdas de produção e, consequentemente, financeiras; isso faz com que operadores tentem aumentar o tempo de utilização dos equipamentos, deixando para realizar apenas manutenções corretivas, cujas já decorrem de algum problema que acaba tornando inutilizado o equipamento, até que a manutenção seja, de fato, realizada.

Vale ressaltar que este pensamento trata-se de uma hipótese através da qual seriam explicadas as ocorrências de explosões e incêndios na exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil, podendo esses sinistros serem resultado de outros agentes não mencionados.

Gráfico 10 – Previsão da ocorrência de Explosão e/ou incêndio nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

O pensamento indicado acima serve para inferir sobre algumas das possíveis causas do aumento da ocorrência de explosões e incêndios nas instalações de indústrias que trabalham com a exploração e produção de petróleo e gás no Brasil, mas pode também ser aplicada à toda e qualquer indústria de modo geral.

Gráfico 11 - Previsão da ocorrência de Parada não programada nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANP, 2017

Pecebe-se com base no Gráfico 11 que as paradas não programadas têm aumentado no decorrer do tempo, principalmente se comparadas as ocorrências do ano inicial de observação (2006, com 12 ocorrências) com as do ano final observado (2014, com 49). Com essa tendência de crescimento, é possível notar que a tendência de previsão também se manteria nesses intervalos, tendo as predições permanecidas quase inalteradas de 2015 a 2019.

Gráfico 12 - Previsão da ocorrência de Blowout nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANP, 2017

O sinistro Blowout, cujo consiste em perdas desordenadas de hidrocarbonetos, gás ou água de poços de petróleo por alguma falha nos mecanismos do sistema de pressão, começou com um número de ocorrências muito baixo, sendo, em média, o segundo sinistro com menos ocorrências nessas atividades, perdendo apenas para os adernamentos. Sendo assim, devido a já ter poucas ocorrências, as previsões indicam que este sinistro chegará a zero no quinquênio analisado, não apresentando variações significativas de 2015 a 2019, conforme pode ser visto no Gráfico 12 acima.

Gráfico 13 - Previsão da ocorrência de Abalroamento nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

As previsões de abalroamento também denotam um crescimento considerável deste sinistro nas atividades analisadas, o que indica que ele está indo ao encontro das previsões de crescimento tal qual nos sinistros de derrames ou vazamento de petróleo e derivados e os sinistros de explosões ou incêndios, por exemplo.

Gráfico 14 - Previsão da ocorrência de Adernamento nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANP, 2017

No que diz respeito ao sinistro Adernamento, percebe-se com base no Gráfico 14 que suas previsões indicam um decrescimento, com o total de ocorrências chegando a zero; isso indica de maneira positiva que mais um tipo de sinistro está com previsões de decréscimo na área de exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil.

Gráfico 15 - Previsão da ocorrência de óbitos nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

A previsão de ocorrer óbitos nas atividades de E&P também teve seu declínio, conforme é possível ver no Gráfico 15 acima. Tal sinistro ter apresentado resultados de queda é, de certa forma, um indicador mais importante do que os demais apresentados até então, visto que ele relata diretamente a questão da sobrevivência no ramo vida, pois envolve as mortes ocorridas com os trabalhadores nessas atividades. Ter apresentado sinais de queda e uma projeção negativa para a ocorrência significa mais vidas sendo poupadas, mesmo as atividades sendo constantemente expostas à riscos como é nesse ambiente de trabalho.

Em contrapartida, as projeções para o número de feridos nas atividades de E&P demonstram que esse tipo de sinistro tende a crescer consideravelmente no decorrer dos anos, visto que apresenta um número de ocorrências crescente desde 2006 (com 8 ocorrências), passando a 2014 com 75 sinistros, o que indica que o crescimento neste segmento de sinistros é grande, caso não sejam tomadas as medidas cabíveis.

Gráfico 16 - Previsão da ocorrência de feridos nas atividades de E&P, de 2015 a 2019, Brasil

Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANP, 2017

É possível observar com a distribuição de sinistros nas atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural apresentada para o período de 2006 a 2014 que o número de ocorrências diminuiu para alguns e aumentou para outros sinistros no decorrer dos anos, porém é importante mencionar que dos 11 tipos de sinistros as predições indicam que haverá diminuição com decrescimento chegando

a zero dos derrames ou vazamentos de água oleosa e de outras substâncias, de blowout e adernamento no ramo não-vida e queda no número de óbitos em incidentes operacionais, no ramo vida; porém, ainda que esses tenham apresentado decrescimento, há ainda sinistros com predições de crescimento no quinquênio analisado, sendo eles: derrame ou vazamento de petróleo ou derivados e de fluido de perfuração, explosões ou incêndios, paradas não programadas e abalroamento no ramo não-vida, além da previsão de crescimento no número de feridos em incidentes operacionais, no ramo vida. Tal fator pode ser oriundo de algumas hipóteses, sendo uma delas uma possível falta de repasse à ANP de todos os sinistros que deveriam ser comunicados, fazendo com que haja subregistros em alguns tipos, ou também pode ser resultado de uma não tão efetiva aplicação de gerenciamento de riscos nas atividades, já que demonstra não estar surtindo efeitos positivos de decrescimento em todos os tipos de sinistros.

Segundo a própria ANP através do que foi possível perceber em suas auditorias de fiscalização, mesmo que as empresas de petróleo e gás natural avaliem os riscos a que estão submetidas as suas instalações, elas não têm mantido o controle das recomendações dos estudos desses riscos para que assim eles permaneçam controlados durante as operações, evitando exposições aos riscos da vida humana, meio ambiente e das próprias instalações.

Além disso, a ANP ressalta também que tem observado desvios na metodologia aplicada no tocante às análises de risco, sobretudo quando as empresas não têm consideradas análises de riscos feitas anteriormente, bem como não realizam um acompanhamento do histórico de sinistros já ocorridos, para evitar que estes venham novamente a acontecer.

Outra possível causa apontada pela agência reguladora é a escassa metodologia para fundamentação da identificação e análise de riscos, uma vez que, segundo resultados de suas auditorias, há um pequeno número de estudos de risco sendo feito, além da aplicação restrita e limitada de metodologias para este fim.

Sendo assim, é passível de sugestão que sejam verificados todos os sinistros que já ocorreram nas instalações de empresas e indústrias, não somente as voltadas para a área do petróleo e gás natural, mas em todas as companhias de um modo geral, visto que esta prática permitirá observar melhor o histórico de ocorrências, contribuindo para que as empresas preparem suas instalações de modo a evitá-las;

além disso, deve-se seguir todas as recomendações oriundas dos estudos de riscos, pois isso acarretará menos exposição e mais segurança às atividades, assegurando a integridade do meio ambiente, o patrimônio das empresas e, sobretudo, a vida humana dos que trabalham e estão envolvidos direta e/ou indiretamente nas operações.

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