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Análise Descritiva e de Conteúdo Grupo Focal 3 Jovens

Análise Descritiva do Grupo 3 - Jovens

“Violência para mim é uma forma de expressão... normal”

Formação: o grupo foi formado por onze jovens ingressantes em projeto executado por ONG atuante na região. A primeira reunião do grupo iniciante foi para realização da pesquisa. A maioria não se conhecia, com exceção de dois rapazes que eram amigos. A reunião aconteceu na sede da ONG, no sub- distrito de Cidade Líder, à tarde do dia 15 de janeiro de 2011, com duração de duas horas e vinte minutos.

Perfil: Jovens moradores de Itaquera, estudantes de escolas públicas, em sua maioria com idades entre 13 e 16 anos73, excetuando-se um membro com 26 anos. Suas colocações foram bastante diferentes do restante do grupo, não chegando a influenciá-lo, porém. Foram sete membros do sexo masculino, e três do feminino.

Impressão geral do grupo: Pelo número de casos relatados, observa-se que o grupo de jovens está bastante vulnerável à violência. A percepção sobre o grupo foi que de fato, como observou um dos participantes, a violência parece ser uma forma de expressão dos jovens. O tipo mais freqüente de violência identificado foi a física como afirmação de poder - grupal ou individual. Bastante marcante a posição de individualismo como reação às situações de violência, e forma de defesa. Evitam o envolvimento. A violência era sempre relatada como sendo de outras pessoas – não se viam como violentos. Embora não houvessem conseguido nominar os tipos de violência, denunciaram vários, falando abertamente sobre experiências vistas e sofridas por eles próprios. A violência exercida por eles era justificada como uma necessidade de defesa. Causou forte impressão a truculência policial, segundo os relatos.

73 Consideramos a classificação da Organização Pan-americana de Saúde, que define “jovem” indivíduos

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“Teve um dia que eles chegaram, e botaram um monte de nóia74

na parede e começaram a dar tapa na cara deles”.

Forma de expressão: respondiam rapidamente e com uma variedade de casos. Abertos e sem reservas, trouxeram inclusive casos pessoais em que sofreram alguma forma de violência. Tendência a falarem todos ao mesmo tempo. Altamente mobilizados e envolvidos com o tema.

Representações de violência: agredir os outros fisicamente, verbalmente (xingar); desrespeito; “Violência para mim é uma forma de expressão – normal”; humilhar; ato de agressão, defesa: “ato automático: a partir do momento que a pessoa te agride, você agride também”.

Tipos de Violência Identificados: violência física - ataques de grupos contra mendigos; bullying75 nas escolas por “bonde”76 (várias pessoas se juntam

contra uma): “socando, batendo, dando paulada, o que tiver na frente. Pegam um só.”; violência física contra professores; depredação da estrutura escolar;

violência doméstica – contra crianças e mulheres; violência verbal (xingamentos na rua); racismo; preconceito contra “emos”77, homossexuais e

“punks”; arrogância; demonstrações de poder; assaltos para comprar drogas; violência policial.

“Só porque eu era pequeninha, quietinha, ficava no meu canto, só levava porrada!”

Causas: drogas, desrespeito, querer mandar, auto-afirmação, “ser o bom”, “falta de temor” (a Deus), “Prá mim começou com Adão e Eva. Isso já começou na nossa imperfeição.”

74 Usuários de drogas, corruptela da palavra “paranóia”, por conta do comportamento persecutório típico

dos usuários de crack e cocaína.

75 Bullying é o uso do poder ou da força para intimidar ou perseguir os outros na escola (school place

bullying) ou no trabalho (work place bullying). Fonte:www.observatoriodainfancia.com.br

76 Grupo de jovens que se unem para cometer alguma ação violenta.

77 Emos – grupo de jovens que se caracterizam como sensíveis e emocionais – costumavam vestir negro.

69 Alternativas de intervenção: resposta à violência: “Não faço nada, senão vai sobrar prá mim”; “Eu não faço nada – acho que a pessoa procurou”; “Dependendo de quem for, eu ajudo. Mas se for uma só pessoa, não”; “Se chamar a polícia, você apanha junto”; “Eu finjo que não estou vendo, mas procuro ajuda prá pessoa”; “Acho que de dez pessoas, uma ou duas ajudam, todo mundo quer saber de si”; “Se for mulher, eu até ajudo – se for homem não”; “Quando é meu irmão e meu primo, falo prá minha mãe que tão se matando”; “ Se for amigo eu parto prá cima, se não – vai que é um nóia... eu posso acabar me queimando”; “Quando tem briga, eu nem me intrometo - vou embora”; “Se for meu amigo, eu até ajudo”; “Não faço nada, fico quieta, parada - não posso fazer nada”; “Corro prá não encrencar prá mim”; “Quando a situação é muito crítica, faço alguma coisa”; “Se eu vejo assim, eu não faço nada.”

Dinâmica:

Faziam contraposições e negações freqüentes aos argumentos apresentados entre eles. Pólos destoantes foram representados pelos dois jovens mais velhos. O membro adulto do grupo (vinte e seis anos) tinha posições destoantes dos demais: suas colocações demonstravam um espírito mais solidário em relação às vítimas de violência, quando o restante do grupo trazia respostas de cunho mais individualista.

Iniciaram falando das formas de violência que identificavam, principalmente na escola. Foram identificando os outros tipos de violência percebidos: preconceito, violência verbal, brigas, desrespeito, e relataram seus sentimentos quando vítimas de tais violências.

Relataram histórias de violência doméstica. Falaram da violência nas escolas, contra os professores e estrutura física. Relataram situações de brigas entre os jovens, entre meninos e meninas por motivos fúteis.

70 Um dos membros faz uma crítica ao funk 78, que foi rebatida por uma das garotas que afirmou gostar desse tipo de música. Diziam serem músicas que humilham as mulheres e fomentam comportamentos violentos. Continuaram argumentando sobre pessoas que ouvem funk alto demais, perturbando a vizinhança. Descreveram o fato como falta de respeito.

Começaram então a definir violência. Como agressão física, verbal, como uma forma de expressão. Essa última colocação foi refutada por um dos membros, que afirmou existirem outras formas de expressão. Alguém violento foi definido como alguém que julga ter mais direitos que os outros.

Seguiram-se colocações sobre formas de demonstração de poder e força. A partir das últimas definições sobre violência alguns membros começaram a colocar-se como violentos também, e um deles definiu outra forma de violência, como resistência ou defesa.

A seguir falaram das formas de enfrentamento da violência, e todos eles, com exceção do membro adulto do grupo, evitam o envolvimento como estratégia de defesa. Ao falarem sobre o tema, um dos membros fez uma afirmação de culpabilização da vítima por ter “provocado” a situação.7980

Na seqüência narraram situações de violência policial, descrevendo ações de abuso do poder policial, violência e preconceito contra negros.

Perguntados, todos eles menos um, relataram que já haviam apanhado pelo menos uma vez dos pais. Sobre a natureza da violência responderam ser

78 Tipo de música que traz elementos de crítica social, mas também de forte dominação machista e

elementos de violência.

79 Essa atitude – de culpabilização da vítima – é freqüente nas situações de violência doméstica. A

“culpa” da violência é atribuída à mulher; por exemplo, por ter provocado o marido incitando-o à violência. Também nas situações de abuso infantil o argumento é utilizado pelos abusadores, que relatam terem sido “provocados” pela criança a cometer o abuso, fazendo assim recair sobre a vítima a responsabilização do ato violento.

80 As observações da nota anterior foram baseadas na experiência clínica da própria pesquisadora durante

atividades profissionais desenvolvidas no atendimento de crianças, adolescentes vítimas de abuso e de abusadores, junto ao CNRVV – Centro de Referência e Tratamento à Vítimas da Violência.

71 um comportamento aprendido: na escola, em casa, na rua, no videogame, no

funk.

Fatores de incidência:

Os fatores de incidência da violência no Grupo Focal 3 podem ser distribuídos da seguinte maneira:

 Macro-estruturais: Os próprios jovens não foram capazes de fazer essa identificação. Depreende-se, porém, de suas colocações os seguintes fatores: políticas de segurança inadequadas, políticas educacionais falhas - falta de preparo das escolas para lidar com o

bullying, vulnerabilidade do corpo escolar.

 Conjunturais: ação do narcotráfico – referem-se aos nóias como provocadores de brigas e violência nas ruas, o funk.

 Culturais, interpessoais e privados: delinqüência juvenil (formação de gangues); cultura de violência entre jovens como forma de afirmação de poder; preconceito (contra homosexuais, grupos “emos”); violação de

direitos (violência doméstica – mulheres e crianças); intolerância juvenil à alteridade; brigas entre jovens e entre vizinhos por motivos fúteis.

“Tem gente que fala assim: nossa, ele é gay! Vamo bate nele!”

 Institucionais: violência policial – preconceito contra negros. Observamos que os jovens não citaram casos de violência simbólica nas escolas.

“Os cara chega e desce batendo! Eles batem mais em motoqueiro. Para, e vai descendo o cacete!” “Tem policial que é racista.... começou a chamar meu irmão de preto safado... esse preto safado...”

“não acreditavam que a moto era dele... achavam que a moto era roubada (negro)”. “Levaram ele prá delegacia... quando ele tava saindo: „Espera aí que você esqueceu um negócio!‟ O policial pegou um prego e furou o pneu da moto do meu tio. E ainda ficou rindo!” (depois de haver

mostrado ao policial a documentação comprobatória de propriedade da motocicleta).

72 Análise de Conteúdo – Grupo Focal 3 - Jovens

O Grupo Focal 3, composto por jovens estudantes de escolas públicas, que usam as ruas como espaço de lazer, os coletivos como meio de transporte e tem na escola seu principal espaço de socialização, relataram situações de um universo repleto de violência física principalmente, denotando uma condição de alta vulnerabilidade social. Essa percepção é confirmada pelas estatísticas81 que indicam a maior incidência de homicídios entre jovens,

principalmente do sexo masculino.82

Um dos jovens referiu-se à violência como uma forma de expressão. A mensagem seria o poder expresso pela força física, e o instrumento: a violência. Sposito 83 ao refletir sobre a violência nas instituições escolares, nos apresenta a seguinte definição:

“A violência é todo ato que implica a ruptura de um nexo social pelo uso da força”.

Segundo a autora, estaria assim negada a possibilidade de relação social instalada pela comunicação, pelo uso da palavra, do diálogo com o uso da violência. Mas então o que estariam expressando os jovens por meio da violência? De acordo com os relatos dos participantes do Grupo Focal as brigas “é o que mais tem”. Somam-se aos conflitos entre os próprios jovens por

disputas de namorados(as) e outras fontes de discórdia, a depredação da estrutura escolar84 e a agressão aos próprios professores.

“Jogaram lixo na cabeça da diretora”.

81 “Os números oficiais nacionais existentes sobre violência, bem como pesquisas

quantitativas e qualitativas pontuais, confirmam que são os jovens as maiores vítimas

da violência no Brasil.” IPEA. Juventude e Políticas de Segurança Pública no Brasil. Soares (2004), Ferreira e Araújo (2006) e Fernandes (2004)

82 Mapa da Violência 2010, idem acima. 83 SPOSITO, 1994, p .6.

84 Em 1982, alguns levantamentos mostravam que cerca de 66% dos estabelecimentos mantidos pelo

poder estadual na cidade de São Paulo, haviam sofrido algum tipo de ocorrência: depredações, invasões, roubos . Vide: SPOSITO ,1994, p. 17

73 Os jovens participantes do Grupo Focal apontam como causa, a expressão do poder:

“Um querendo ser mais que o outro”; “Os cara se acham”.

Sposito85 interpreta a violência na escola, como uma recusa aos valores do mundo adulto e a descrença dos jovens na educação como forma de ascensão pessoal.

“a violência seria apenas a conduta mais visível da recusa ao conjunto de valores transmitidos pelo mundo adulto, representados simbólica e materialmente na instituição escolar, que não mais respondem ao seu universo de necessidades.” Compõem ainda o quadro “o esgotamento do modelo de escolaridade voltado para a mobilidade social, com o enfraquecimento da capacidade socializadora da escola enquanto instituição de formação de novas gerações.”

As condutas violentas de grupos pareceram episódios tão rotineiros que não causam estranheza aos jovens; ao contrário, passam a ser consideradas como parte da regra do jogo no convívio escolar. Zaluar86 apresenta o sentimento de adesão ao grupo como um elemento facilitador da violência por diminuir a pressão social para o controle das emoções e da violência física.

„Onde os laços segmentais (familiares, étnicos ou locais) são mais fortes - o que acontece em bairros populares e vizinhanças pobres, mas também na própria organização espacial das cidades que confundem etnia e bairro, o orgulho e o sentimento de adesão ao grupo diminuem a pressão social para o controle das emoções e da violência física, resultando em baixos sentimentos de culpa no uso aberto da violência nos conflitos”.

A resposta de praticamente todos os membros do grupo (menos o membro mais velho – de vinte e seis anos) diante de situações de violência foi de uma reação de individualismo, podemos supor que como estratégia de defesa.

Curiosamente, os jovens não trouxeram no grupo situações de violência simbólica – entendida aqui como formas mais sutis de dominação por parte do

85 SPOSITO, 1994, p.. 16.i 86 ZALUAR, 1994, p. 10.

74 corpo escolar. Podemos supor que talvez não a percebam, ou que em contraste com as formas explícitas de violência física, não lhes pareça violência, e sim apenas a forma “normal” de condução da dinâmica escolar.

A intolerância com o desigual se fez perceber em vários momentos no grupo: quando denunciaram os preconceitos contra grupos de diferentes

(“emos” ou homosexuais), e mesmo na interessante conversa entre eles,

relatada a seguir:

“Todo mundo nasceu pelado. É todo mundo igual”. (jovem negra,

denunciando preconceito sofrido).

“Dizer que é igual, igual, não é não. Cada um tem seu jeito” (jovem branco contrapondo-se, e reafirmando as diferenças).

A insegurança típica da adolescência exacerba o comportamento de resistência ao diferente. Contraditoriamente, embora busquem diferenciar-se nesse momento de desenvolvimento psíquico, encontram conforto e proteção no grupo de iguais.

A presença de grupos diferenciados – as tribos urbanas – “emos”,

“punks”, “funks”, denotam segundo Abramo87, fenômenos culturais típicos das

sociedades pós-modernas e a passagem de uma lógica da identidade para a lógica da identificação. Sendo assim, a imagem reproduzida pela caracterização por meio do vestuário, do comportamento da música teriam uma função performática e visual. Para a autora, a criação de tribos juvenis diante de um contexto social com o qual a juventude não está identificada, desenvolve relações próprias, e imprime um conteúdo à sua transição fora das referências institucionais.

O grupo referiu o funk como incentivador de situações de violência pela temática das músicas, e pelo comportamento agressivo dos funkeiros. Pareceu bastante pertinente e acertada a percepção do grupo. Buscando novos mercados, uma das estratégias do narcotráfico é infiltrar-se entre os funkeiros para disseminar o uso das drogas.

87 ABRAMO, 1994, p. 27.

75 O mundo de imagens produzido pelo consumo de produtos de status social foi denunciado pelo grupo, como uma demonstração de arrogância, sugerindo que à medida que os símbolos de ascensão social são incorporados, cresce a geração de violência pelos novos “poderosos”.

“Só porque tem um tênis de marca no pé, o cara se acha!”

A mídia foi um dos fatores identificados pelos jovens como contribuinte da aprendizagem do comportamento violento. Foram identificados por eles: a própria família, a escola, a rua, a televisão, os jogos eletrônicos e o funk como espaços de aprendizagem da violência, quando perguntados se nascemos violentos ou aprendemos a ser violentos.

A violência, utilizada como elemento de atração para os jovens pela indústria cultural, contribui para formar no imaginário dos indivíduos uma identificação por práticas, costumes e valores. Essa imagem colabora para ocultar desigualdades sociais, econômicas e culturais.

“[...] faz parte da estratégia de manutenção desse sistema, o ocultamento das diferenças sociais. Em função disso, torna-se comum o discurso que tenta criar a ilusão da igualdade, de afirmar: „Todos são iguais‟. Os meios de comunicação de massa ocupam um lugar de destaque nesse processo de homogeneização artificial que se procura difundir”.88

A desigualdade social provoca uma pressão para o consumo dos símbolos de poder social. Para Bordieau89, as classes dominantes, a elite, detém os capitais econômico90, cultural91, simbólico92 e social93: instrumentos

de acumulação e fatores distintivos entre as classes.

88 BARROS, 1992 p. 64.

89 BORDIEU, In: BARROS, 1992 p. 65. 90 Bens materiais e patrimônio financeiro.

91 Pode ser apresentado em três modalidades: objetivado (propriedade de objetos culturais valorizados tais

como livros e obras de arte); incorporado (cultura legítima internalizada pelo indivíduo, como, por exemplo, habilidades lingüísticas, postura corporal, crenças, conhecimentos, preferências, hábitos e comportamentos relacionados à cultura dominante, adquiridos e assumidos pelo sujeito); e institucionalizado (posse de certificados escolares, formação cultural).

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A escola pública seria supostamente um espaço de geração de igualdade de oportunidades, garantida pelo acesso à educação, para que possa suprir a falta dos capitais acima referidos. Porém, a violência simbólica se expressa na conversão de um saber considerado legítimo pelas classes dominantes e imposto a todos. Ainda segundo Bourdieu, o sistema escolar destina-se à reprodução e conservação da cultura considerada legítima. Ou seja, a instituição “escola” teria a função de garantir a harmonia dos espaços sociais a serem ocupados.

Poderíamos supor, guiados pelo senso comum, que o binômio pobreza e violência estivessem diretamente associados Estudos indicam, porém, que a pobreza em termos absolutos não é o fator que mais impacta nos índices de violência, e sim a exacerbação da desigualdade social, a distribuição desigual de renda, criando um espaço onde convivem incluídos e excluídos socialmente.94

A necessidade que identificamos é da criação de espaços escolares públicos que permitam a convivência dos diferentes, dos excluídos, com respeito; de forma que possam aprender a resolver seus conflitos por meio da aquisição de novas formas de expressão que não seja a violência, e propiciem a diminuição das desigualdades. E, que o espaço escolar público não seja apenas como o representou o grupo de jovens, um espaço da reprodução de uma cultura da violência.

Foram abundantes no grupo os relatos de violência policial contra jovens, e principalmente contra rapazes negros. O preconceito contra os negros parece ser uma realidade dentro das academias de polícia, respondendo a uma visão estereotipada de criminalidade associada à negritude e a pobreza.

92 Diz respeito ao prestígio ou à boa reputação que um indivíduo possui em um campo específico ou na

sociedade em geral. Esse conceito se refere, em outras palavras, ao modo como um indivíduo é percebido pelos outros.

93 É o conjunto das relações sociais (amizades, laços de parentesco, contatos profissionais, etc.) mantidas

por um indivíduo.

77 Luiz Gonzaga Dantas, ouvidor da polícia, em entrevista à revista Carta

Capital95 sobre a atuação da polícia nos casos de discriminação racial dentro

das academias de polícia, nos relata o seguinte:

“Infelizmente, muitos policiais ainda se portam como verdadeiros capitães do mato dos tempos da escravidão. O negro, pobre e marginalizado, é sempre visto como suspeito e rotineiramente é vítima de abordagens truculentas”

E ainda sobre o levantamento do número de mortes em 2010 por policiais na cidade de São Paulo:

“Não concluímos o levantamento, mas posso garantir que a grande maioria tem o mesmo perfil: homem, jovem, negro e pobre”.

Conclusão – Grupo Focal 3 - Jovens

A violência física e verbal foram os tipos de violência mais relatados pelo grupo de jovens. As manifestações se fazem por conta de preconceitos, lutas por poder e motivos fúteis.

Pela exposição às situações de violência os jovens estão mais vulneráveis a ela. Esse fato evidencia-se pelo grande número de relatos de casos levantados no grupo em um curto espaço de tempo. As ocorrências se passam principalmente na escola e nas ruas. A freqüência dos casos nos faz pensar no fenômeno, de fato, como uma forma de expressão, citando uma das falas dos jovens.

Em relação à violência nas escolas, chama atenção a formação de grupos que praticam o bullying contra indivíduos isolados. Também digno de nota, a depredação do espaço escolar e agressão contra professores. O grupo não trouxe conteúdo em referência à violência simbólica na escola. Podemos supor que talvez não identifiquem esse tipo de violência e tendam a naturalizá-

95 MENEZES, 2001, p. 28.

78 la. As reações e atitudes diante de situações de violência do grupo foram de auto-defesa, denotando comportamentos individualistas.

A violência policial parece ser corrente, e principalmente exercida contra jovens negros.

Análise de Conteúdo – Grupo Focal 4 - Empresários

Uma característica forte na composição do Grupo Focal 4 foi ter sido formado em sua maioria por pessoas que haviam realizado o sonho da ascensão social. Haviam “vencido na vida” por seu próprio esforço, e

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