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MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL SÃO PAULO – SP 2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO

PAULO

PUC - SP

Maria Adelina França

Estudo sobre Representações Sociais de Violência e

Tipos de Violência no distrito de Itaquera - São Paulo

por meio de Grupos Focais

MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

SÃO PAULO

SP

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO

PAULO

PUC - SP

Maria Adelina França

Estudo sobre Representações Sociais de Violência e

Tipos de Violência no distrito de Itaquera - São Paulo

por meio de Grupos Focais

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE EM PSICOLOGIA SOCIAL sob orientação do Prof. Dr. Salvador Antônio Meirelles Sandoval.

SÃO PAULO

SP

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iii

Banca Examinadora

__________________________________

__________________________________

(4)

v Aos meus amores,

(5)

vi

Agradecimentos

Agradeço primeiramente à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, por ter me concedido a bolsa que possibilitou a realização desse trabalho.

Ao meu orientador, Salvador Sandoval, por me ajudar a trilhar o caminho acadêmico, pela compreensão e apoio na condução desse trabalho, e pelo impagável bom humor.

Aos professores da Banca de Qualificação, Prof. Odair Sass e Maria Lúcia Carvalho Silva pelas preciosas orientações, e ao Prof. Odair pelo empréstimo do livro esgotado do Moscovici.

Ao Centro de Cidadania de Itaquera, na presença da querida Tia Lena e Cris Caetano, pelo apoio para localização dos contatos, por gentilmente cederem o espaço para realização da pesquisa, e pelo respeito e entusiasmo de sempre.

Á organização não-governamental JUNTOS, por permitir a utilização de sua sede para a realização da pesquisa, e em especial a Daniel Frutuoso pelo acolhimento da proposta e auxílio para formação do grupo de jovens.

Aos queridos membros do Grupo Nuclear Itaquera do Projeto Segurança Humana, que me ensinaram tudo que sei da região e mais um pouco.

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vii À Patrícia de Souza, a “Paty” , amiga e parceira do Projeto Segurança

Humana, por organizar o grupo de moradores da Cohab II e pela atenção carinhosa.

À Fátima Andrijic Marinera, pelo apoio na organização do grupo de empresários.

Ao Pedro Malavolta pelo auxílio na identificação dos dados sócio-demográficos e socorros na formatação.

À Lia Lima da UNESCO por me ceder alguns dos mapas de sua pesquisa.

À Thaís Gava pelas sugestões de metodologia.

À amiga Samira Bevilacqua pela leitura dos textos e sugestões.

À Laude querida, por cuidar tão bem de mim e de minha família, me liberando para os estudos.

À minha filha Isadora, pela paciência e colaboração.

Ao meu companheiro de vida e de brigas Beto, pelo apoio constante na

identificação de leituras, nas revisões e discussões e, sobretudo, pelo estímulo na superação dos desafios intelectuais.

(7)

viii

Conteúdo

Agradecimentos ... vi

Introdução ... 2

A pesquisa... 5

Capítulo 1 - A Violência ... 8

1.1. O conceito ... 8

1.2. Considerações sobre as raízes da violência no Brasil ... 11

1.3. Os números da violência ... 15

1.4. As pesquisas sobre o tema no Brasil ... 18

Capítulo 2 - Referencial teórico da pesquisa ... 22

2.1. Representações Sociais ... 22

2.2 - Segurança Humana: uma alternativa no enfrentamento à violência ... 26

2.2.1 - Desenvolvimento como Liberdade ... 27

2.2.2 - Segurança Humana ... 29

Capítulo 3 - Metodologia ... 32

3.1 - Características da região de Itaquera ... 32

3.1.1. História do distrito ... 32

3.1.2. Dados sócioeconômicos ... 33

3.1.3.Equipamentos públicos ... 36

Saúde ... 36

Cultura ... 36

3.2. Grupos Focais ... 37

3.2.1. Condução dos grupos da presente pesquisa ... 38

Capítulo 4 – Análise dos Dados ... 42

4.1. Análise Descritiva e de Conteúdo dos Grupos Focais... 42

(8)

ix 4.1.2. Análise Descritiva e de Conteúdo - Grupo Focal 2 – Moradores da

Cohab II ... 57

4.1.3. Análise Descritiva e de Conteúdo - Grupo Focal 3 - Jovens ... 67

4.1. Análise Comparativa entre os Grupos Focais ... 84

4.1.1. Fatores de Incidência nos Grupos Focais ... 84

4.1.2. Análise Comparativa entre os Grupos Focais ... 87

Conclusão e Considerações Finais ... 98

Anexos ... 106

Equipamentos públicos de Educação ... 107

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x

Resumo

A pesquisa ora apresentada examina as representações sociais de violência e tipos de violência vivenciados por diferentes segmentos sociais no distrito de Itaquera, no município de São Paulo. A metodologia científica foi baseada nos Grupos Focais, e o suporte teórico buscado na Teoria das Representações Sociais, segundo Serge Moscovici e ainda na conceituação de Segurança Humana, de acordo com Amartya Sen. O estudo objetivou verificar as possíveis diferenças existentes entre as representações sociais de violência e tipos de violência nos diferentes segmentos sociais da região geográfica do estudo e suas relações com o ambiente, contexto sócio-histórico e aspectos intersubjetivos.

Palavras chaves: violência, representações sociais, segurança humana, grupos focais

Abstract

The work herein presented comprises a study on the social representations of violence and the types of violence produced by different social sectors in the district of Itaquera in the city of São Paulo. The study was based on the Theory of Social Representations by Serge Moscovici. The concept of Human Security by Amatya Sen was used as an alternative to face the phenomenon of violence. Focal groups were used to provide the data. The main objective of the study was to identify possible differences in the social representations of violence and types of violence emerging from different social segments in the geographical area of the study and to investigate about possible interelations with the environment, social and historical context, as well as intersubjective aspects.

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2

Introdução

A aproximação com o tema “violência” começou com minha prática clínica (1995), ainda como estagiária1 do último ano da graduação em Psicologia, ao atender pacientes encaminhados pelo Hospital Pérola Byington e Ipiranga com queixas de disfunções sexuais, quando pude constatar como a violência permeava as relações afetivas dos atendidos. Na seqüência, trabalhei como monitora em projeto de sexualidade para a rede escolar municipal de São Paulo2. Novamente mais relatos de abusos; agora dentro do universo escolar. Essa última experiência levou-me a buscar uma especialização no tema “Violência Doméstica”, realizada no Instituto Sedes Sapientiae3 junto ao CNRVV – Centro de Referência às Vítimas de Violência.

Desenvolvi também nessa época (1999 – 2002), um programa radiofônico semanal interativo, em rede nacional, na Rádio Globo AM, promovendo reflexões sobre educação sexual, incluindo as questões ligadas à violência pouco ou nada abordadas, como por exemplo: estupro no casamento. O programa tinha audiência média de 200 mil pessoas.

Após a formação no CNRVV (2003-2007), fui convidada a compor sua equipe como terapeuta. Atendia crianças, adolescentes, casais, famílias e mesmo abusadores. No mesmo período também trabalhava na esfera governamental, no Programa Estadual DST-Aids, monitorando e avaliando projetos financiados pelo Ministério de Saúde e executados por organizações não-governamentais. Dentre as atividades desenvolvidas, constavam visitas a projetos desenvolvidos junto à população carcerária e mais uma vez observei vários casos de violência institucional e violação de direitos.

Especializei-me4 em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco da Universidade de São Paulo (2006). O curso teve

1 Estágio teórico e prático de um ano em Sexualidade Humana pelo Instituto Cecarelo, 1995. 2 Contratada pela ONG Apta, 1996.

3 Também me especializei em Psicossomática pelo Instituto Sedes Sapientiae, 1998,

4Especialização

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3 coordenação do Prof. Dr. Fábio Konder Comparato5, e minha monografia de conclusão foi resultado da tentativa de unir a prática clínica, com suas angústias e frustrações, a uma proposta de ação concreta. Elaborei um trabalho fazendo a interface entre psicologia e direito, sobre a necessidade da criação de Varas Criminais Especializadas em Infância e Juventude no Estado de São Paulo. A proposta reduziria o tempo processual para julgamento dos casos de seis a oito anos (média) para seis meses a dois anos, no máximo.

Executei entre 2007 e 2008, a coordenação técnica da equipe do PPCAAM - Programa de Proteção à Criança e Adolescente Ameaçados de Morte. Trata-se de uma iniciativa da Secretaria Especial de Direitos Humanos, e tem como objetivo proteger crianças e adolescentes em situação de extremo risco. Essa rica experiência ofereceu-me um panorama das limitações e deficiências da rede de enfrentamento à violência; seja em relação às estruturas de apoio, aos marcos legais, e mesmo à cultura da violência existente no Brasil.

Coordenei na seqüência (2008) projeto de pesquisa intitulado “ABC Integrado”, junto à Cátedra das Cidades na Universidade Metodista, que teve por objetivo a construção de banco de dados de crianças e adolescentes em situação de rua e de trabalho infantil nos municípios do grande ABC, por meio de levantamento censitário e georeferenciado. O objetivo final da pesquisa era estabelecer diretrizes para políticas de atendimento. A investigação foi financiada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e pela Fundação Telefônica. Executei a coordenação executiva, fazendo a articulação entre a equipe técnica e a de campo.

Ampliando as possibilidades de atuação política, especializei-me também em Gestão Pública Legislativa6 pela EACH – Escola de Artes e Ciências e Humanidades (USP Leste) -, em 2008. Meu tema de monografia foi

5 O Prof. Comparato fez parte do grupo de juristas que formulou a Constituição de 1988 e é um importante defensor dos Direitos Humanos no Brasil.

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4 “Democracia Cultural e Políticas Culturais no Brasil” - área onde havia desenvolvido trabalho de consultoria.

Na mesma época, atuei como consultora contratada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, solicitada pelo Ministério da Cultura, elaborando proposta de novo marco legal para os Pontos de Cultura. O trabalho demandou coleta das demandas de organizações não-governamentais atuando na área, traduzindo em letra de lei, as possibilidades de desenvolver a democracia cultural no Brasil. A habilidade em conduzir grupos foi essencial para a coleta e interpretação do material que fundamentou o projeto de lei construído. A interface com a cultura foi facilitada pela minha vivência pessoal na área, além de trabalhos de tradução na temática, que me aproximaram das necessidades desse setor.7

Desenvolvi também projetos sociais, destacando-se: “Amigo Legal” - suporte jurídico a crianças violentadas junto à Vara de Infância de Pinheiros (2003); “Projeto Esperança” junto à ONG OSSE – Organização Social Santa Edwiges, coordenando grupo terapêutico com soropositivos (2002/04); Projeto “Mulheres”, financiado pela Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, na Baixada Santista, monitorando módulos de gênero e sexualidade em projeto de geração de renda para mulheres de favelas e cortiços (2005). Esse último projeto foi agraciado com uma premiação das Nações Unidas - ONU.

Executo atualmente a coordenação do Projeto Segurança Humana8 como contratada do Fundo de População das Nações Unidas – UNFPA. O projeto é uma iniciativa conjunta de quatro agências das Nações Unidas: UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura; UNICEF – Fundo para a Infância das Nações Unidas; OPAS –

Organização Pan-americana de Saúde e UNFPA, e tem como objetivo reduzir a violência e promover a cultura de paz9 no distrito de Itaquera.

7 Traduziu “Arts under Pressure” de Joost Smiers para o português. Ed. Iluminuras, 2002. 8 Para maiores informações ver: www.projetosegurancahumana.org

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5 Sou responsável pela coordenação do eixo comunidade. O trabalho, executado por uma ONG, consiste em oferecer formações e promover ações de incidência política, estimulando a participação proativa dos representantes da comunidade, além das demais ações integradas com as outras agências ONU. O projeto como um todo se baseia nos pressupostos teóricos do conceito de segurança humana elaborado por Amartya Sen, que visa potencializar a capacidade de indivíduos e da comunidade na promoção de condições dignas de existência.

A pesquisa dessa dissertação de mestrado foi realizada na mesma área geográfica onde atuo profissionalmente, com o objetivo de buscar uma reflexão teórica sobre temas abordados em minha prática profissional. O tema que originou o presente estudo foi sugerido por um avaliador visitante do Fundo de Segurança Humana das Nações Unidas10, durante ação de monitoramento do Projeto de mesmo nome. Sendo assim, parte desse trabalho acadêmico também comporá a documentação do Projeto Segurança Humana.

A pesquisa

O estudo ora apresentado teve como objetivo identificar as representações sociais de violência e tipos de violência produzidos por quatro segmentos sociais distintos, e analisar as relações existentes entre as representações e os contextos sócio-culturais onde cada grupo está inserido, assim como elaborar uma análise comparativa entre os diferentes segmentos, identificando diferenças e semelhanças entre eles.

Um outro ponto de análise foi identificar a capacidade dos grupos para intervir no fenômeno da violência. Ou seja: investigar o grau de eficácia política da população investigada. Sandoval (SANDOVAL, 1994, p. 68) define eficácia política como “a capacidade de intervir em uma situação política, assim como sentimentos em relação à ação política específica”.

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6 Para coleta de dados, foram realizados quatro grupos focais reunindo pessoas que habitam e trabalham na área geográfica do estudo. A base teórica da pesquisa foi buscada na Teoria das Representações Sociais, de acordo com Serge Moscovici, e também na conceituação de Segurança Humana11 desenvolvida por Amartya Sen.

Também são apresentados dados sociodemográficos da região pesquisada, o distrito de Itaquera, que compreende os subdistritos de Itaquera, Cidade Líder, Parque do Carmo e José Bonifácio.

Conhecer como cada segmento social representa um determinado fenômeno é conhecer as bases socioculturais desse agrupamento. As representações sociais são formadas a partir do compartilhamento de conteúdos intersubjetivos com a estrutura social, no entrelaçamento da história coletiva com a individual em um processo dinâmico, contínuo e nunca linear, que se faz traduzir no senso comum e forjado na realidade cotidiana. Nossa intenção no estudo foi captar o que subjaz por trás de palavras e expressões, que contextualizadas e analisadas à luz dos aspectos sociais e culturais, da comunidade e do País, nos revelam as necessidades, os desejos, valores, os sentimentos, imagens concebidas e preconceitos de cada grupo pesquisado, deslindando assim as várias realidades existentes de um mesmo e único fenômeno que afeta a todos os grupos e indivíduos indistintamente.

Embora o estudo tenha sido desenvolvido em apenas um distrito do município de São Paulo, percebemos por meio da análise dos dados obtidos, que é possível a comparação com outras regiões da cidade, considerando-se que os fatores que incidem sobre a violência nessa região são os mesmos de outras localidades do município, e mesmo do País, guardadas obviamente algumas especificidades locais.

A violência é um tema inesgotável e por conta da multiplicidade de fatores incidentes sobre o fenômeno não teremos uma só resposta, mas

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8

Capítulo 1 - A Violência

1.1. O conceito

A violência sempre esteve presente na história da humanidade; seja considerada de forma positiva ou negativa, condenada ou justificada. Instrumento de poder, a violência cala, submete, subjuga, mas também pode libertar: na luta contra um regime totalitário, por exemplo. Como instrumento, seu uso pode ser feito no sentido progressista ou conservador.

Marx apresentou a violência como definidora da História. “A violência é a parteira de toda velha sociedade que traz uma nova em suas entranhas” (MARX, 1975, p. 869). A análise diz respeito às transformações das estruturas sociais. O fenômeno está presente nos processos de composição e reestruturação das relações sociais e econômicas.

A violência pressupõe condições para ser exercida. Hegel.12 apresentou

a violência como meio, e não como fim, carecendo ainda da existência de certas condições para o seu exercício com o objetivo de obter uma vantagem.

“... para poder servir-se do escravo é necessário possuir os instrumentos e os objetos para o trabalho do escravo e os meios necessários ao seu sustento: logo, a violência é apenas o meio, enquanto o fim é a vantagem econômica.”

Stoppino (STOPPINO, 2004, 1291) define violência como a intervenção física de um indivíduo ou grupo contra outro grupo (ou contra si mesmo), exercida direta ou indiretamente. O autor ressalta ainda o papel da violência como instrumento do exercício do poder político, mais notadamente utilizado pelo Estado13, mas não exclusivamente, para manter as condições externas que salvaguardem uma existência pacífica ou normas de seus interesses.

12 In MORFINO, Vittorio. The syntax of violence between Hegel and Marx. Trans/Form/Ação, (São Paulo), v.31(2), 2008, p. 19.

13“A violência não é, evidentemente, o único instrumento de que e vale o Estado... mas é seu instrumento

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9

Weber (WEBER, 1968, p. 56) referiu o uso da violência como instrumento de poder exercido em todos os tempos notadamente pela família, tendo o Estado, na Era Moderna, reivindicado o monopólio do seu uso legítimo.

E, para tal são formadas as instituições de defesa ou repressão do Estado –

exército e polícia.

Não existe uma definição única de violência, por se tratar de um fenômeno multifatorial e relacionado a fatores sócio-históricos. O conceito pode modificar-se de acordo com o contexto sócio econômico, político e cultural.

A maior parte da literatura relaciona a violência a atos que imputem

danos físicos ou psíquicos a pessoas ou grupos de pessoas. Chauí definiu violência como:

“[...] um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém que caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror [...]”14.

A intenção de ferir, ofender deliberadamente, atingir negativamente o outro são elementos descritivos da violência.

O sentido etimológico da palavra violência é originário do termo latino

violentia, que remete a vis (força, vigor, emprego da força física ou os recursos do corpo em exercer a sua força vital). O uso excessivo, além dos limites, acordos e regras ordenadores estabelecidos cultural e historicamente é considerado violência.

As definições se entrecruzam com diferentes e complementares áreas do saber: direito, política, psicologia, medicina, economia, relações internacionais, dentre outras, o que nos sugere a necessidade de uma análise em rede da violência. As diversas formas do fenômeno relacionam-se entre si, e a hierarquia de valores de importância entre essas formas dependerá do

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10 custo social verificado no momento e contexto verificados. A Organização Mundial da Saúde – OMS (KRUG, 2002, p. 1) define violência como:

“O uso intencional de força física ou de poder, real ou potencial, contra si

próprio, contra outras pessoas ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.

A definição da OMS é abrangente, incluindo as violências cometidas no âmbito público e privado, abarcando assim a complexidade desse fenômeno multifatorial. A OMS também apresenta uma tipologia do fenômeno, dividida da seguinte maneira: (1) violência auto-inflingida (suicídios, abusos); (2) violência inter-pessoal (violência da família e parceiros íntimos e violência comunitária) e (3) violência coletiva (violência social, violência política e violência econômica).

São múltiplos os sentidos e manifestações da violência, e a valoração moral está implícita nos sentidos atribuídos. As sociedades têm formações políticas, sociais, econômicas e culturais próprias que se expressam em valores, ideologias e configurações particulares. Assim, o estudo da violência demanda esses recortes sócio-históricos específicos para uma compreensão adequada. A condição de “normalidade” da violência é rejeitada mesmo sendo ela universal, praticada e legitimada em formas, espaços e tempos diferentes.

Não se trata de um fenômeno linear dentro de uma perspectiva histórica, com uma origem definida tal como se referiu a ela uma das participantes jovens de grupo focal da pesquisa desse trabalho: “Começou tudo lá na Bíblia: Esaú

matou Jacó” (sic). A violência é aprendida como fenômeno sócio-histórico “na

escola, na rua, na família, na internet”(sic), como se referiram os jovens

participantes da pesquisa ao responder sobre a sua natureza.

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11

1.2. Considerações sobre as raízes da violência no Brasil

O País traz no nome a lembrança da devastadora exploração do pau-brasil, e com ela a escravização de índios e índias a serviço da colonização portuguesa. Assim nasceu o Brasil como nação. A estrutura de dominação continuada com a escravidão dos negros teve a coação como seu principal instrumento. A estrutura social brasileira se fundamentou nas relações de dominação colonial, e se refletiu nas outras formas de dominação que se sucederam, estabelecendo um traço marcante nas relações sociais.

Do Quilombo de Palmares às revoltas populares de Canudos, Balaiada, Chibata, dentre outras, o Estado brasileiro em formação exerceu o seu “monopólio da violência”15, mantendo as elites no poder e garantindo as relações de produção. A sucessão de revoltas e levantes localizados recebeu sempre respostas brutais por parte dos estratos dominantes.

Depois da guerra do Paraguai (1864-70)16, o Brasil se tornou o maior produtor mundial de café. Grande quantidade de capital externo entrou no País, especialmente para atividades econômicas vinculadas à economia cafeeira, como bancos, fazendas, ferrovias, depósitos e uma crescente rede de infra-estrutura. Após a guerra, foi constituído o Exército nacional, aparato de segurança estatal centralizado, em lugar das Guardas Nacionais de cada Província, privativas dos grandes proprietários de terras. O objetivo principal das várias fases da formação das forças de segurança era disciplinar a força de trabalho, primeiro a escravaria e depois o operariado, e conter os descontentamentos e rebeliões regionais.

Ao longo do século XIX a dinâmica econômica capitalista foi se irradiando pela base produtiva da sociedade, fazendo com que parte da oligarquia agrária se transformasse numa florescente burguesia. Nas últimas décadas daquele século, começava a surgir uma pequena indústria de manufaturas. Estabelecem-se então novas relações sociais que mudaram as

15 Termo cunhado por Max Weber. Weber, 1991.

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12 características do mercado de trabalho e o funcionamento do Estado. A escravidão tornou-se obsoleta, acarretando mais despesas que lucro para os senhores. Mais barato seria pagar baixos salários a trabalhadores que não representavam uma despesa corrente e que poderiam ser dispensados quando não fossem necessários.

A partir da Abolição (1888), vastos contingentes de ex-escravos de baixa qualificação são lançados às ruas e estradas. A Abolição restringiu-se à libertação, sem medidas complementares, como reforma agrária, ampliação do mercado de trabalho para os libertos, acesso à educação, saúde etc.

No fim do Império, em 1889, existiam 55 mil operários trabalhando em pequenas oficinas e poucas fábricas de grande porte, e cerca de um milhão de escravos recém-libertos. A abundância de mão de obra imigrante levou os ex-cativos a constituírem uma imensa reserva de força de trabalho, descartável e sem força política na jovem República.

Com os imigrantes, vieram as primeiras idéias socialistas e anarquistas. É nesse momento que começava a se formar o que viria a ser a classe operária brasileira. O auge da primeira fase da imigração vai de 1870 a 1914, ano do início da I Guerra Mundial. Entre 1884 e 1903, o Brasil recebeu mais de um milhão de italianos. O Decreto nº 979, de 1903, legalizava a expulsão dos estrangeiros envolvidos em protestos. A maioria dos trabalhadores urbanos com participação política era constituída por imigrantes.

As reivindicações mais comuns, desde o início do movimento operário no Brasil, eram o aumento de salários, a redução de jornada – trabalhava-se de doze a dezesseis horas diárias –, o fim da exploração de menores e mulheres e a melhoria das condições gerais de trabalho, dentre outras. Não havia legislação trabalhista, e o que existia era o regulamento de cada fábrica. O trabalho infantil17 era norma, e os castigos físicos, constantes. No fundo,

17 PENTEADO, JACOB. Belenzinho, 1910. São Paulo: Carrenho Editotal, 2003, p. 35. Uma vidraçaria no Belenzinho, em São Paulo, é descrita por Jacob Penteado, operário: “O ambiente era o pior possível.

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13 apesar da Abolição, as relações entre patrões e trabalhadores eram de quase servidão.

As manifestações coletivas e revoltas populares eram punidas com brutalidade exemplar. Foi esse o tom da repressão ao arraial de Canudos, em 1896–97, como já falado, as greves do início do século 20, à Revolta da Vacina, em 1904, e à Revolta da Chibata, em 191018.

A partir dos anos 1950, com a modernização do parque industrial brasileiro, houve um intenso fluxo migratório da população rural para as cidades, que não contavam com uma infra-estrutura que comportasse esse aumento. Foram sendo criados cinturões ou bolsões ao redor das cidades de migrantes, mas também de habitantes das cidades que não eram absorvidos pelo mercado de trabalho.

A violência como forma de dominação dos “menos favorecidos” contribuiu para a manutenção das relações de desigualdade que se mantiveram durante todo o trajeto histórico do País: da Independência, República Velha, do Estado Novo ao Golpe Militar de 1964, com a truculência dos métodos de manutenção da ordem social da ditadura.

Os dados sobre violência no Brasil na época da ditadura não eram fidedignos por motivos óbvios. Não interessava ao regime chamar atenção para seus próprios métodos. Ressalta-se que a ditadura foi apoiada pelas classes média e alta, que se beneficiaram da estabilidade econômica propiciada com a

saturada de miasmas, de pó, de drogas moídas. Os cacos de vidro espalhados pelo chão representavam um pesadelo para as crianças, porque muitas trabalhavam descalças […]. A água não primava pela higiene. […] Trabalhava-se nove horas por dia, inclusive aos sábados e […] quando havia muitas encomendas, também aos domingos”.

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14 entrada de capital estrangeiro no País, até que alguns de seus próprios filhos começaram a ser vitimizados por ela.

Na década de oitenta surgiram vários movimentos em defesa dos direitos humanos: promoção dos direitos econômicos, sociais e culturais. Também começaram a aparecer movimentos de promoção dos direitos à moradia, saúde, educação e ambiente e direitos das mulheres e crianças. Os ecos da truculência da ditadura brasileira já eram ouvidos internacionalmente com seu flagrante desrespeito aos direitos humanos. Observou-se nessa época a atuação de organizações não-governamentais internacionais no País, em defesa desses direitos.

Alguns avanços democráticos começaram a se fazer sentir a partir de 1985, com o fim da ditadura, e mais adiante, após a Constituição de 1988. O

impeachment do presidente Fernando Collor de Melo (1992) foi exemplo da

nova correlação de forças que se instituía no País. A criação de instituições tais como o Ministério Público e ouvidorias representaram algumas dessas conquistas.

Porém, essas conquistas civis e políticas não foram suficientes para reverter as formas de relação social entre os diferentes estratos sociais, ainda fortemente pautados no patriarcalismo, na dominação e submissão dos desiguais, e considerados por isso inferiores na sociedade. A desigualdade nas relações sociais é uma constante na história social brasileira: do português ao índio, do senhor ao escravo, do patrão ao empregado, do mais rico ao mais pobre.

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pode manda, quem tem juízo obedece” soa como um alerta aos perigos da ruptura das relações de dominação.

1.3. Os números da violência

Segundo Minayo (MINAYO, 2001, p.2), a violência passou na década de 1980 a representar 29% na proporção do obituário geral no Brasil, constituindo-se em um caso de saúde pública. O País hoje possui 81%19 da sua população concentrada nas áreas urbanas, e também nessa área se concentravam as piores estatísticas de violência até o ano de 2003.

Pesquisas realizadas pelo NEV – Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (ADORNO, 2002, p.5), apontam quatro tendências na violência nas cidades: a) o crescimento da delinqüência urbana, em especial dos crimes contra o patrimônio (roubo, extorsão mediante seqüestro) e de homicídios dolosos (voluntários); b) a emergência da criminalidade organizada em torno do tráfico internacional de drogas; c) graves violações de direitos humanos; d) explosão de conflitos nas relações intersubjetivas – conflitos de vizinhança com desfechos fatais.

Entre 1980 a 1998, a taxa de homicídio cresceu 209% no Brasil, e 262,8% nas cidades. Os adolescentes e jovens adultos do sexo masculino, especialmente das camadas populares urbanas representavam o maior número de vítimas por causas violentas.20

Porém, o Mapa da Violência21 dos Municípios Brasileiros 2010 apresentou uma redução entre os anos de 1997 a 2007 nos índices de homicídio do País. Os índices cresceram até 2003 em taxas superiores a 5% ao ano, e a partir de então a tendência foi de declínio. Apresentaremos abaixo alguns pontos que merecem destaque e são pertinentes à pesquisa ora apresentada.

24. Em 2000 a população urbana ultrapassou 2/3 da população total, atingindo a marca de 138 milhões de pessoas. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitca, 2001. Acessível em:

http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html. Consultado em 22 jan 2011. 20 ZALUAR, A. 1994

21 Fonte: Os dados apresentados constam do Mapa da Violência 2010.

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16 Os autores do Mapa atribuem a redução dos índices às políticas públicas de segurança (desarmamento e outras práticas). Outros fatores não são avaliados nesse documento, como por exemplo, possíveis mudanças na estratégia de atuação do crime organizado.

A violência decresceu no Estado de São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, estados que concentravam 41% da população e 55% dos homicídios cometidos no ano de 2000. Aumentos significativos se verificaram no Maranhão, Alagoas e Piauí. De 1997 a 2007 a situação do país permaneceu inalterada com 25,4 homicídios por 100 mil habitantes em 1997 e 25,2 homicídios por 100 mil habitantes em 2007.

As taxas metropolitanas caíram em até 25% nas capitais, aumentando com crescimento vertiginoso em estados como Paraná, Pará e Bahia. Em São Paulo, a taxa decresceu de 29,1 homicídios em 1997 para 17,1. Observou-se um deslocamento do número de homicídios nos estados, provavelmente onde novas rotas do narcotráfico foram estabelecidas, buscando evitar regiões onde existem formas de repressão mais efetiva.

Houve um aumento significativo do número de homicídios entre adolescentes de 12 a 15 anos, que praticamente duplicaram a cada ano, com índices acima de 24% em 2007. Considerados imputáveis, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, essa faixa etária constitui-se na principal “mão -de-obra” do crime organizado. As idades de maior crescimento, segundo os dados do mapa, vão dos 14 aos 16 anos de idade, com incrementos superiores a 30%. Os maiores índices de homicídio do país concentraram-se nas idades entre 20 e 21 anos. Representando apenas 18,6% da população brasileira em 2007, os jovens respondiam por 36,6% dos homicídios do ano (Fontes).

(25)

17 Os dados enunciam mudanças nos pólos de atuação da violência homicida, provavelmente por conta do crescimento e desenvolvimento das cidades do interior dos estados, fazendo com essas regiões se tornassem atraentes para a criminalidade, coincidindo ainda com a ausência de investimento estatais em segurança. As regiões metropolitanas foram consideradas prioritárias no Plano de Segurança Pública, o que fez provavelmente com que a ação da criminalidade migrasse para o interior.

Também a maior cobertura dos sistemas de coleta de dados de mortalidade no interior do País foram referidos pelos autores do Mapa da Violência como fatores incidentes no aumento das estatísticas de mortalidade.

Os municípios de maior índice apresentaram as seguintes características: a) municípios de fronteira; áreas de turismo predatório (principalmente áreas litorâneas); zonas de grilagem e de grandes empreendimentos agrícolas vinculados ao desmatamento amazônico.

O estado de São Paulo apresentou metade do número absoluto de homicídios em 2007 se comparado a 1997.

O Mapa da Violência identificou ainda uma relação direta entre as mortes violentas e pessoas do sexo masculino, que em 2004 representava: • 92,1% das vítimas de homicídio;

• 85,1% das mortes por acidentes de transporte e • 78,7% dos suicidas.

Em relação à população negra, em 2002 foram assassinados 46% mais negros do que brancos. Em 2008, a porcentagem atingiu 103%. As estatísticas permitem afirmar uma proporção de dois homicídios de negros para cada três pessoas mortas no País.

(26)

18 promover estratégias de enfrentamento incluindo a participação de jovens e negros como protagonistas, e articular a inserção de todas as esferas do poder público, iniciativa privada, organizações não governamentais e da sociedade.

Apesar da pertinência das recomendações acima citadas, considerando-se a virulência do tratamento dispensado aos negros e clasconsiderando-ses desfavorecidas historicamente no Brasil, as sugestões propostas trazem em si um toque de ironia.

1.4. As pesquisas sobre o tema no Brasil

Tendo como referência o levantamento das pesquisas sobre violência e crime no Brasil, realizadas até 1999, pela pesquisadora Alba Zaluar (ZALUAR, 1999) serão relatados alguns aspectos relevantes à pesquisa ora apresentada. Apesar de não serem atuais, os dados levantados por Zaluar nos informam sobre o percurso percorrido em pesquisas sobre o tema, e nos dão um painel de como a violência era percebida diferentemente de acordo com o tempo histórico e posicionamento dos pesquisadores.

As principais causas para o aumento da violência no Brasil apresentadas pela pesquisadora no período, identificadas por meio da análise de vários estudos sobre o tema deveram-se a: a) mudanças na sociedade e nos padrões

convencionais de delinqüência e violência – a internacionalização do crime, uso

da tecnologia, maior aporte de recursos e sofisticação das armas; b) crise do sistema de justiça criminal; c) desigualdade social e segregação urbana.

(27)

19

Existia, segundo a autora à época, uma dicotomia entre os que denunciavam a miséria, a perda do poder de compra do salário, a exploração e ausência de investimentos na educação e na saúde como fatores para o

aumento da violência – considerados à esquerda no espectro político -,

enquanto os autores que analisavam a questão institucional, práticas policiais de violência contra os pobres e a eficiência da polícia em proteger a vida e a propriedade do cidadão pensando em termos de políticas públicas, eram

considerados “de direita”.

A pesquisadora refere ainda que os estudos sobre o poder ilegítimo do Estado no exercício da violência, segundo ela, continuaram após o período militar, com inúmeros trabalhos sobre violência policial, a tortura, os esquadrões da morte e seus congêneres e horrores do sistema prisional brasileiro.

As pesquisas, dentro desse contexto e período reproduziam, segundo Zaluar, um modelo marxista dicotômico da sociedade, opondo classe oprimida ao Estado, ou o conflito das classes sociais com base na concepção natural e cristã dos direitos humanos, com propostas de defesa da cidadania como modelo de construção da Nação. Outras pesquisas do mesmo período apontavam para diferentes modelos de organização da sociedade civil, embora o primeiro fosse o pensamento hegemônico.

A autora aponta os ganhos obtidos com a discussão sobre uma ordem pública democrática e problemas para concretização da cidadania no Brasil,

direito à vida e à segurança da população – temas ainda candentes nos anos

2000.

(28)

20

(29)

22

Capítulo 2 - Referencial teórico da pesquisa

2.1. Representações Sociais

O referencial metodológico utilizado para análise dos dados coletados foi a Teoria das Representações Sociais. Para tanto, foi tomado como base o conceito de representação social tal qual concebido e apresentado originalmente por Moscovici, em versão de 1976, traduzida e impressa em 1978 do original em francês22 no Brasil pela Zahar Editores, sob o título A

Representação Social da Psicanálise. Sendo assim, a percepção da violência e

formas de violência identificadas nos grupos focais da pesquisa foram analisadas de acordo com a representação social de grupos.

Serge Moscovici introduziu o conceito em 1961 ao estudar como a psicanálise penetrou o pensamento popular na França em sua obra La Psicanalyse: Son image et son public. Foi a partir do referencial de

Representação Coletiva de Durkheim, que Moscovi forjou sua concepção do termo. Para Durkheim era necessário diferenciar a especificidade do pensamento individual em relação ao social, sendo o individual um fenômeno psíquico e irredutível à atividade cerebral das pessoas, em contraposição à representação coletiva que seria muito mais do que apenas a soma de todas as representações individuais.

A forma da organização das imagens e linguagem advindas do exterior e transformadas individualmente, à medida que pessoas e grupos se relacionam com objetos, atos e situações, comporia a representação social. As idéias são reproduzidas, mas também transformadas no contexto de valores, modelos e regras, em um processo contínuo. Sendo assim, uma representação tanto produz como determina um comportamento.

22 Título original:

La psychanalyse – son image et son public. Presses Universitaires de France: Paris,

(30)

23 “A representação social é uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos”23

Moscovici pontua a ruptura existente entre o conceito teórico científico na passagem para a compreensão pelo senso comum, afirmando ser essa a condição necessária para a entrada e apropriação do conhecimento pela sociedade.

Como elemento constitutivo da sociedade, uma representação social é uma sinalização e ao mesmo tempo uma reprodução do que a sociedade valoriza, servindo como modelo de orientação e organização da realidade. Ao analisar as representações de violência dos grupos pesquisados percebemos, portanto, os aspectos e elementos valorizados por cada grupo, de acordo com suas crenças, opiniões e posições.

“O mapa das relações e dos interesses sociais é legível, a cada instante, através das imagens, informações e linguagem.”24

Representar as experiências ou conhecimento socialmente passa por dois processos: (1) vinculação a um sistema de valores, noções e práticas dos indivíduos25; (2) proposição dessas experiências ou conhecimento para denominar e classificar esses conteúdos26.

Moscovici conclui que:

“[...} a representação social é um corpus organizado de conhecimentos

e uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam intelegível a realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa ligação cotidiana de trocas, e liberam os poderes de sua imaginação”.27

23 MOSCOVICI, 1978, p. 27. 24 Idem apud, p. 27.

25 Nota da pesquisadora: a prática de determinadas formas de violência aceitáveis no meio social seriam uma forma de orientação.

26 Nota da pesquisadora: de forma positiva ou negativa por exemplo, a violência como defesa é aceitável.

(31)

24 Portanto, a representação social é uma forma de entendimento da realidade e orientação para interação social das pessoas.

Sendo a representação social própria da sociedade e da cultura, o autor ressalva ao citar Durkheim, a relação e dependência do valor atribuído à ciência em determinado tempo histórico, ressaltando a possibilidade de uma área de saber ser mais enfocada em determinados momentos, decidindo inclusive sobre os investimentos de ordem financeira e política. As representações sociais, portanto, refletem essas análises e linguagem, que podem estar mais à direita ou à esquerda no campo político, científico e filosófico.

Tanto a opinião quanto a imagem trazem em si uma virtude preditiva do comportamento social do indivíduo. Sendo assim, uma representação social é “uma preparação para a ação, guiando e remodelando os elementos do meio ambiente que influenciam o comportamento, num constante dinamismo e evolução.

Moscovici conceituou as representações sociais como um sistema de valores, noções e práticas, um meio de orientação no contexto social e material; um corpo organizado de conhecimentos, uma atividade psíquica que possibilita a integração em grupo, em constante intercâmbio para liberar o poder imaginativo das pessoas.

As representações sociais são uma forma característica de conhecimento da nossa era e expressam as diferenças na sociedade, na tentativa de produzir um sentido coletivo para representar algo. Portanto, não existe apenas uma, mas várias representações sociais de um mesmo tema.

(32)

25 O autor apontou também dois processos para a formação das representações sociais: a ancoragem e a objetivação. A ancoragem refere-se à integração cognitiva de um objeto previamente representado por um sistema social ou de informações, por meio de um processo de classificação e denominação. Trata-se de um processo de transformar o estranho e perturbador por meio da comparação com um paradigma que consideramos apropriado. O objeto é comparado a um dos protótipos armazenados na memória e então incluído ou não em uma determinada categoria. Refere-se à incorporação de novos elementos do conhecimento. Moscovici cita três indicadores envolvidos na ancoragem: (1) as visões dos indivíduos desenvolvidas por meio de sua inserção social; (2) o posicionamento dos indivíduos na estrutura social ou como membro de determinados grupos; e, (3) a relação entre as representações sociais e os valores sociais.

Especial ênfase é dada por Moscovici aos valores no estudo das representações sociais, por tratarem-se dos elementos básicos de avaliação dos indivíduos e grupos sobre as questões sociais.

Ancorar é classificar e nomear. Segundo o autor, todo sistema de classificação baseia-se em um consenso. Classificar e nomear para possibilitar a interpretação das características e compreender as intenções e motivação das pessoas.

A objetivação é uma operação imaginativa e estruturante para que ocorra a materialização do conhecimento sobre um determinado objeto. Reproduz um conceito em imagem e dá concretude a uma idéia. Três fatores estão envolvidos nesse processo: (1) a descontextualização, a partir de critérios culturais e normativos; (2) a criação de um núcleo figurativo – estrutura imaginante - que busca reproduzir a estrutura conceitual e (3) materialização dos elementos do núcleo figurativo – para transformar as figuras em elementos da realidade.

(33)

26 “Representar não consiste somente em selecionar, completar um ser objetivamente determinado com um suplemento de alma subjetiva. É de fato, ir mais além, edificar uma doutrina que facilite a tarefa de decifrar, predizer ou antecipar seus atos”28.

2.2 - Segurança Humana: uma alternativa no enfrentamento à

violência

O objetivo deste capítulo é estabelecer relações entre o conceito de “segurança humana” e o fenômeno da violência. O conceito apresenta-se como uma alternativa para o enfrentamento da violência por meio da promoção de condições de relações mais igualitárias e dignas na organização das sociedades. Segurança humana seria uma forma de materialização do conceito de desenvolvimento como liberdade de Amartya Sen29.

O conceito aponta possibilidades de se promoverem condições que vão além da segurança pública e de estratégias repressivas. Suas características estão baseadas na garantia e promoção dos direitos humanos como referência à promoção da segurança construída a partir da potencialização de indivíduos e comunidades e da construção de sistemas pelo Estado que permitam a garantia os direitos fundamentais, civis, sociais e políticos.

Segundo Sen, para existir desenvolvimento é necessário remover-se as principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas, destituição social sistemática, negligência de serviços públicos e intolerância dos Estados (SEN, 2001, p.57). Promover a segurança humana seria em última instância, portanto, uma forma de permitir condições para o desenvolvimento do capital humano.

28 Idem apud, p. 35.

(34)

27

2.2.1 - Desenvolvimento como Liberdade

Amartya Sen concebeu o conceito econômico de desenvolvimento diferentemente da concepção tradicional - como crescimento do Produto Interno Bruto - PIB30, fazendo uma aproximação entre a ética e a economia, ao incluir a dimensão humana na base de sua conceituação de desenvolvimento.

Ao considerar o PIB como a medida de desenvolvimento, a meta dos governos teoricamente seria sua elevação e, quando houvesse tal elevação, a riqueza seria então distribuída. Sen desmistifica essa posição, ao afirmar que a pobreza não é condição do não desenvolvimento, e sim a má distribuição de renda que gera situações de desigualdade, que por sua vez restringem as condições de liberdade.

Celso Furtado também distinguia crescimento econômico de desenvolvimento. Para ele, o desenvolvimento só aconteceria com um projeto social subjacente.

O crescimento econômico, tal qual o conhecemos, vem se fundando na preservação dos privilégios das elites que satisfazem seu afã de modernização. Já o desenvolvimento se caracteriza pelo seu projeto social subjacente. Dispor de recursos para investir está longe de ser condição suficiente para preparar um melhor futuro para a massa da população. Mas quando o projeto social prioriza a efetiva melhoria das condições de vida dessa população, o crescimento se metamorfoseia em desenvolvimento.31

Seguindo a mesma lógica, para Amartya Sen o desenvolvimento não se refere apenas ao desenvolvimento econômico, mas consiste na eliminação de privações de liberdade que limitem as escolhas e as oportunidades das pessoas como agentes de seus próprios destinos. Desenvolvimento seria o processo de expansão das liberdades reais desfrutadas pelas pessoas.

30 O PIB é a medida arbitrária do total de riquezas produzida no País em um espaço de tempo determinado.

31 FURTADO,

(35)

28 A liberdade é considerada como o fim primordial e o principal meio de desenvolvimento. Para o autor não existe uma única liberdade, mas várias formas de liberdades, interligadas e interelacionadas. Um tipo de liberdade contribuiria para haver outros tipos de liberdade.

A liberdade econômica e a liberdade política, por exemplo. Ou as oportunidades sociais oferecidas (escolas públicas e/ou ainda escolas públicas para meninas)32 facilitariam a participação econômica e poderiam ajudar a gerar recursos individuais, que por sua vez retornariam sob a forma de recursos públicos e serviços sociais. Ou seja, oportunidades de educação e saúde complementariam as oportunidades econômicas e políticas sendo, portanto, necessário integrar atividades econômicas, sociais e políticas.

A privação da liberdade econômica pode gerar a privação de liberdade social, assim como a privação de liberdade social ou política pode, da mesma forma, gerar a privação de liberdade econômica.33

A capacidade de realização das pessoas, segundo Sen, é influenciada pelas oportunidades econômicas, liberdade política, pelos poder social, por condições de acesso à saúde e educação e estímulo às suas iniciativas.

O autor apresenta cinco tipos de liberdades instrumentais: 1. liberdades políticas;

2. disponibilidades econômicas; 3. oportunidades sociais;

4. garantias de transparência (das instituições governamentais); 5. proteção da segurança (segurança pública).

A ausência das liberdades geraria condições de desigualdade que são fatores propiciadores de manifestações da violência.

Ressalta-se o importante papel dos valores sociais nas questões das oportunidades sociais. Base de preconceitos e injustiças, os valores sociais são

32 Exemplo do próprio autor. In: Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 25.

(36)

29 fortes componentes, e mesmo elemento perpetradores, da ausência de liberdades, e podem gerar algumas formas de violência.

2.2.2 - Segurança Humana

Pela definição apresentada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD34 - garantir a segurança humana significa:

“[...] proteger as pessoas expostas à ameaças ou situações críticas, desenvolvendo os seus pontos fortes para que possam enfrentar as situações por si mesmas, além de criar sistemas (políticos, sociais, ambientais, econômicos, militares e culturais) que dêem a elas os elementos básicos de sobrevivência, dignidade e meios de vida”.

Garantir a segurança humana, segundo Amartya Sen, significa “proteger as liberdades vitais, desenvolvendo a potencialidade dos indivíduos e comunidades, criando sistemas que garantam os elementos básicos de sobrevivência e dignidade humana”35.

O autor refere-se a dois tipos de liberdades: a liberdade de viver sem necessidades nem medo e a liberdade de agir em prol dos seus interesses pessoais. Duas estratégias gerais são propostas: a proteção e a autonomização. A proteção se daria por meio da criação de normas, processos e instituições que se ocupassem sistematicamente das questões de insegurança, e a autonomização permitiria às pessoas realizar suas potencialidades e participar plenamente na tomada de decisões. As duas estratégias são complementares.

A proposta de Sen é a formação de redes compostas de atores públicos, privados e com forte participação da sociedade civil para a criação de sistemas e normas de forma a empreender atividades que integrem as diversas necessidades humanas – saúde, educação, assistência, participação política,

34 O conceito de segurança humana foi apresentado em relatório do PNUD em 1994. Fonte: site da Comissão de Segurança Humana das Nações Unidas. Acessível em:.http://www.humansecurity-chs.org/

(37)

30 dentre outras. O modelo de gestão proposto é horizontal em complementação às estruturas verticais e hierárquicas tradicionais.

O desenvolvimento, ao ser considerado como meio e não como fim, lega ao indivíduo os recursos necessários para realizar suas potencialidades. Uma forte ênfase é dada à promoção dos direitos humanos na conceituação de segurança humana. Podemos dizer que segurança humana representa a tradução prática do conceito de desenvolvimento como liberdade, que por sua vez se trata de um instrumento de promoção da democracia participativa por meio da efetivação dos direitos sociais e políticos.

(38)

32

Capítulo 3 - Metodologia

3.1 - Características da região de Itaquera

3.1.1. História do distrito

O início da ocupação da região onde hoje fica a subprefeitura de Itaquera, data da década de 1820, com a criação de uma estalagem conhecida como Casa Pintada, que servia de local de descanso para os viajantes. Porém, foi com a abertura da estação de trem em 6 de novembro de 1875, na época parte da linha de trem da Estrada de Ferro Norte ou E. F. São Paulo –Rio, que o bairro começou a se desenvolver.36 A região de Itaquera foi por décadas, a fornecedora de pedras para construção civil na cidade de São Paulo, até o fechamento das pedreiras entre as décadas de 1960 e 1970.

Mas a grande expansão do bairro, e que formou boa parte de sua feição atual, aconteceu mesmo na passagem das décadas de 1970 para 1980, com a construção de grandes conjuntos habitacionais dentro de um modelo de “bairro dormitório”. O maior dos conjuntos da região de Itaquera é a Cidade Líder, onde foram construídas mais de 20 mil unidades habitacionais; porém há inúmeros outros conjuntos construídos pela Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação da cidade de São Paulo) na região durante esse mesmo período.

Para justificar a lógica de um bairro dormitório, em 1º de novembro de 1988, o governo estadual inaugurou a estação de Metrô Itaquera, que se juntou a linha de trem da CPTM e as centenas de ônibus, para escoar a população que mora na região e trabalha no centro de São Paulo ou no ABC. A estação de metrô foi construída antes da maioria dos outros serviços públicos.

36 GIESBRECHT, Ralph Mennucci.

(39)

33 A temperatura média do bairro é ligeiramente mais fria do que a região central da cidade. O distrito situa-se entre colinas e mananciais37. É cercado pelos distritos vizinhos38 de Guaianazes, Cidade Tiradentes, São Miguel Paulista e São Mateus – distritos “exportadores” de violência, como indicam os altos índices de vulnerabilidade dessas regiões da cidade.

Itaquera39 já começa a sentir as mudanças ocasionadas pela escolha do local para construção do “Itaquerão”; estádio de futebol que irá acolher os jogos da Copa do Mundo. Observamos uma elevação acentuada dos valores dos imóveis, o movimento de alguns moradores colocando suas casas à venda e migrando para regiões ainda mais distantes do centro da cidade. Aliás, depois da chegada da estação do metrô, o lugar deixou de ser “o fim do mundo” do início da construção dos condomínios residenciais da Companhia de Habitação - Cohab. A região tenta se preparar para receber o evento esportivo e manter parte dos investimentos, que já estão chegando, na própria região. Esperemos que a história do surgimento do bairro não se repita, com o capital empurrando para lugares cada vez mais distantes os que agora poderiam ser beneficiar dele.

3.1.2. Dados sócioeconômicos

Descrição socioeconômica da região

Hoje, a subprefeitura de Itaquera reúne uma população de mais de meio milhão de pessoas, mais exatamente 525,33740 habitantes, segundo dados de 2008. Se fosse um município, seria o 36º mais populoso do Brasil, superando inclusive sete capitais estaduais, como Vitória - ES e Florianópolis - SC. Entre seus moradores, 61,4% dos homens e 63,8% das mulheres se declaram brancos quando questionados sobre sua raça/cor. Há ainda 1,4% dos homens

37Fonte: http://www.mananciais.org.br/site/mananciais_rmsp 38 Vide anexos: Mapa 1

(40)

34 e 1,2% das mulheres que ou não preenchem esse quesito ou declaram-se pertencentes a etnias orientais e indígenas.

Dados agregados para o distrito de Itaquera apontam uma maior proporção de negros que no município de São Paulo, com 37.2% da população masculina assim classificada (em São Paulo: 31.5%) e 35% da população feminina (em São Paulo: 29.2). No distrito 20.5% dos domicílios tem chefia feminina, percentual menor do que o encontrado na cidade de São Paulo (22.4%).

Em termos socioeconômicos41, Itaquera se situa um pouco mais abaixo do que a média do município. As médias salariais das famílias e a escolaridade dos chefes da família, por exemplo, são inferiores às do município como um todo, enquanto as taxas de analfabetismo ou evasão escolar são um pouco mais elevadas. No entanto, no que diz respeito ao óbito materno e à mortalidade infantil, Itaquera exibe indicadores levemente mais baixos que os do município.

Em relação à distribuição de renda, podemos perceber que 43,5% das famílias da região possuem rendimentos menores do que 5 salários mínimos, quase seis pontos percentuais a mais do que a parcela das famílias paulistanas da mesma faixa de rendimento. Na outra ponta da tabela, podemos notar que enquanto 14% das famílias que vivem em São Paulo declaram renda superior a 25 salários mínimos, somente 4,36% das famílias da região da subprefeitura de Itaquera declaram o mesmo. Com base nesses dados, podemos afirmar que a região é um dos bolsões de pobreza existentes na cidade de São Paulo.

Internamente, a distribuição das faixas de renda familiar são relativamente homogêneas, ainda que o distrito de Itaquera concentre uma população maior

(41)

35 de famílias com rendimentos menores que 2 salários mínimos (17,5% em relação à média da subprefeitura de 15,67%.42

O principal tipo de emprego dos moradores da região é no setor de serviços, e em locais distantes do bairro. A região conta com infra-estrutura de saneamento - água, esgoto e coleta de lixo.

Existem 59 favelas no distrito, incluindo as que fazem divisa com os distritos vizinhos. Itaquera tem 4% das favelas do município, mas apenas 1% dos loteamentos urbanizados pela prefeitura.

Os responsáveis pela família tem em média, 6,6 anos de estudo; 44% deles completaram o ensino fundamental e 6,3% são analfabetos. Em relação aos indicadores demográficos, a idade média dos chefes de domicílios é de 44 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 15,8% do total.

A região da subprefeitura de Itaquera concentra 4,3% dos analfabetos funcionais com mais de 15 anos na cidade de São Paulo, um pouco menos do que a sua participação total na população da cidade, de 4,7%. Porém, esse número não se reflete na média de anos de estudo na população com mais de 10 anos. Enquanto a média da cidade de São Paulo é de 7,6 anos, a da subprefeitura de Itaquera é de 7 anos. Em relação à população com nível superior completo ou incompleto, com 12 anos ou mais de estudo, há um verdadeiro abismo entre a média da cidade de São Paulo, em que 14,7% da população está nessa categoria, e a população da subprefeitura, em que apenas 6,6% da população se enquadra nessa categoria43.

42 Nota da pesquisadora|: Embora na região existam locais de concentração de famílias de alta renda. A

população alcunhou uma dessas áreas de “Morumbizinho”, e se situa próxima ao Parque do Carmo – a maior área verde da região.

(42)

36 3.1.3.Equipamentos públicos

Saúde

A rede de atenção à saúde conta com 23 unidades básicas de saúde, que garantem a cobertura universal das ações de atenção básica no bairro, um hospital público (que está em processo de desativação e será demolido), o Waldomiro de Paula. O Hospital Santa Marcelina é conveniado ao SUS.

Educação

A região da sub-prefeitura de Itaquera possuí 139 escolas públicas. A distribuição por distrito acompanha de maneira parecida a distribuição de população, com apenas uma inversão: apesar da população do sub-distrito de Cidade Líder ser um pouco maior do que de José Bonífácio, o último possuí duas escolas a mais. Respectivamente possuem 37 e 39 escolas. Chama a atenção a baixa quantidade de Escolas Técnicas e de Centro de Educação de Jovens Adultos, apenas um de cada.44. Está prevista para 2014, a construção de um pólo da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP na região.

Cultura

Itaquera conta com cinco bibliotecas públicas municipais e uma Casa de Cultura, Raul Seixas, localizada no subdistrito de José Bonifácio, mas nenhum museu, teatro públicos. A unidade do Serviço Social do Comércio (SESC) Itaquera ocupa, em parte, essa lacuna.

44 Nota da pesquisadora: está prevista a construção de uma unidade da Universidade Federal de São Paulo

(43)

37

3.2. Grupos Focais

O Grupo Focal foi escolhido como técnica para coleta de dados por oferecer condições de observar e coletar dados para análise das representações sociais da violência e tipos de violência percebidos pelos grupos.

Definida por Morgan (1997, p. 12) como uma técnica para coleta de dados a partir da observação da interação grupal sobre um determinado tema, apresentou-se como a técnica ideal para o trabalho por permitir colher informações dos vários grupos pesquisados, e compreender as representações sociais da violência a partir da construção das percepções, atitudes e sentidos atribuídos pelo próprio grupo.

O Grupo focal foi caracterizado por Veiga & Gondim (2001, p. 4) como um recurso para compreender o processo de construção das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos.

Os grupos focais estruturados para elaboração da pesquisa em curso, da forma como a técnica foi utilizada e segundo Strauss e Corbin (1994, 6), classificam-se como “grupos exploratórios”, que permitirão identificar os aspectos comuns aos membros dos grupos. São grupos centrados na produção de conteúdos, com a orientação teórica voltada para a geração de hipóteses, o desenvolvimento de modelos e teorias, e a prática para produção de novas idéias, identificação de necessidades e expectativas. Sua ênfase reside no plano intersubjetivo, ou melhor, naquilo que permite identificar aspectos comuns de um grupo alvo.

(44)

38 responder a indagações de pesquisa, investigar perguntas de natureza cultural e avaliar opiniões, atitudes, experiências anteriores e perspectivas futuras.

Uma definição simples seria um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, o objeto da pesquisa, a partir de suas próprias vivências, experiências; ou seja, a partir de sua história e referência particulares.

A composição do grupo é um aspecto bastante sensível na utilização dessa técnica. O grupo deve ser composto por pessoas que tenham características homogêneas, mas ainda assim permitindo algumas diferenças entre eles para que apareçam posições e opiniões divergentes entre eles.

Utiliza-se um roteiro para orientar e estimular as discussões no grupo, auxiliando o pesquisador e o coletivo a manterem a discussão sobre o objeto de estudo. Utiliza-se alguma forma de registro em áudio ou vídeo do trabalho, para permitir a recuperação dos dados na sua completude, assim como liberar o pesquisador para observar outros comportamentos que possam surgir durante a realização do encontro.

O moderador do grupo, preferencialmente o próprio pesquisador, tem o papel de maximizar a interação entre as pessoas, estimulando-as a colocar suas posições, intervindo o mínimo necessário, mas participando também da discussão para elucidar e aprofundar o conteúdo produzido pelo grupo.

3.2.1. Condução dos grupos da presente pesquisa

Roteiro

(45)

39 para cada coletivo nos seguintes termos: “Mas então o que é que a gente poderia dizer que é a violência?”. O restante do roteiro se compunha das

perguntas sobre a(s) causa(s) da violência, sobre o que poderia ser feito em relação ao fenômeno (primeiramente de uma maneira geral e depois individualizando e especificando as questões). Na primeira pergunta surgiam alternativas de enfrentamento do fenômeno, opiniões e críticas. Depois disso, a enquete colocada foi sobre quem seriam os responsáveis por executar as propostas por eles identificadas e finalizando com o que faziam individualmente para lidar com a questão.

Embora cada uma das perguntas tenha sido feita após permitir um tempo de discussão para esgotamento das respostas, os membros retomavam as questões e traziam novos conteúdos à medida que a discussão ia progredindo e novos elementos eram acrescentados.

O roteiro utilizado foi o seguinte:

1) Quais os tipos de violência vocês identificam aqui em Itaquera?

2) O que vocês entendem por violência? Como é que podemos definir a violência? O que é a violência?

3) O que causa a violência?

4) O que se pode fazer em relação à violência? Por quem? 5) O que vocês fazem diante das situações de violência?

Dinâmica

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