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5. RESULTADOS

5.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS HOSPITAIS

O setor hospitalar brasileiro é amplo, com mais de 7.400 unidades e cerca de meio milhão de leitos, e também complexo, compreendendo uma multiplicidade de mecanismos de financiamento, tipos de propriedade e estruturas organizacionais (LOBO, 2010). Para o presente trabalho, foram coletadas informações de 251 organizações hospitalares (cf. TAB. 9, Apêndice A), classificadas pelo CNES como hospitais gerais e/ou especializados, que ofertam conjuntamente 6.170 leitos de UTI. Desses, 234 (93%) são hospitais gerais e 17 (7%) são especializados, sendo a maioria desses últimos hospitais maternidades (cerca de 60%). Quanto ao tipo de gestão, 27% das organizações são estaduais (67 hospitais), 57% são municipais (144 hospitais) e o restante (16%, 40 hospitais) é de gestão do tipo dupla.

Como se observa, a amostra é composta em sua maioria por hospitais gerais e municipais, o que é reflexo do critério de seleção utilizado para amostragem. Em outras palavras, a maioria dos hospitais que oferta leitos de UTI adulto tipo II e neonatal tipo II para o SUS (que, somados resultam em quase 70% do total de leitos de UTI SUS) corresponde a organizações gerais (hospitais não especializados) e de gestão municipal, em consonância com a NOAS-SUS-2001 (BRASIL. Ministério da Saúde, 2001), que alterou a oferta tanto de serviços de atenção básica quanto dos serviços de maior complexidade, os quais ficaram sob a responsabilidade e a gestão municipal.

Além disso, de forma geral, o setor hospitalar brasileiro é composto por três subsetores principais: hospitais públicos administrados diretamente pelo governo (federal, estadual e municipal) e financiados pelo poder público; hospitais privados conveniados ou contratados pelo SUS e que recebem financiamento público (normalmente instituições sem fins lucrativos – filantrópicas e beneficentes); e hospitais privados com e sem fins lucrativos que não recebem financiamento do SUS e que são administrados e financiados de forma privada (LA FORGIA; COUTTOLENC, 2009).

A maior parte dos hospitais do país é privada (normalmente instituições sem fins lucrativos – filantrópicas e beneficentes) (LA FORGIA; COUTTOLENC, 2009), sendo boa parte conveniada ao SUS. Uma vez que esse sistema público financia tanto as organizações públicas quanto as privadas, os gastos com saúde no Brasil são altos, comparativamente aos de outros países de renda média, e as despesas com hospitais representam uma parcela expressiva do gasto total com saúde no Brasil (LA FORGIA; COUTTOLENC, 2009).

Na amostra analisada, no que diz respeito à natureza das organizações, 54% das organizações são hospitais privados. Especificamente, a amostra é compreendida por 46% (115 hospitais) de entidades beneficentes sem fins lucrativos e 26% (65 hospitais) de organizações da administração direta da saúde (MS, SES e SMS). Há apenas uma empresa pública de administração indireta (Hospital Universitário Julio Muller, Cuiabá/MT) e cinco fundações privadas (Hospital dos Plantadores de Cana, Campo dos Goytacazes/RJ; Hospital Universitário Sul Fluminense, Vassouras/RJ; Hospital Augusto se Oliveira Camargo, Indaiatuba/SP; Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein, Santo André/SP; e Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo, Novo Hamburgo/RS). As demais organizações são: da administração direta de outros órgãos (cerca de 3%, 8 hospitais); da administração indireta – organização social pública (cerca de 4%, 10 hospitais); empresa privada (cerca de 6%, 16 hospitais); da administração indireta – autarquias (cerca de 6%, 16 hospitais); e da administração indireta – fundação pública (cerca de 6%, 15 hospitais). Não há cooperativas na amostra analisada.

Contrariando o padrão do setor hospitalar brasileiro, em que a maioria das unidades possui poucos leitos (i.e., no máximo 50) (LA FORGIA; COUTTOLENC, 2009, p. 76), dos 251 hospitais, 245 (98%) possuem mais de 50 leitos SUS, chegando a 1.075 leitos SUS no caso da Santa Casa de Belo Horizonte (Belo Horizonte/MG). As exceções (i.e., hospitais com menos de 50 leitos SUS) são: a Policlínica Cascavel (Cascavel/PR), com 13; o Hospital Nossa Senhora das Graças (Curitiba/PR), com 23; o Hospital Santa Catarina (Uberlândia/MG), com 28; e o Incor Natal (Natal/RN) e o Hospital Vera Cruz (Patos de Minas/MG), ambos com 32 leitos SUS cada. A média do número de leitos SUS dos hospitais pesquisados é de aproximadamente 185.

Os hospitais da amostra apresentam, entretanto, um volume de produção baixo e realizam, em média, cerca de 7.907 internações/ano. Em outras palavras, em se tratando dos hospitais da amostra, foram internados cerca de 7.907 pacientes SUS, em média, para realização de procedimentos hospitalares de alta complexidade, havendo excesso de oferta de leitos. Esses valores representam: (i) uma TOCUP média de cerca de 45% (ou seja, menos da metade de ocupação/ano); (ii) um valor médio, por internação, de cerca de R$ 1.544,00 (dado pelo custo médio por internação ou custo médio da AIH); e (iii) um valor médio, por leito, de R$ 8,32 (i.e., custo médio por leito). Esse valor médio por internação compreende todos os gastos incorridos na prestação do serviço (e.g., diárias, exames, taxas de utilização de equipamentos, custo com órtese e prótese), exceto mão de obra, sendo 30% referentes apenas aos custos com a diária de UTI.

Outra ressalva sobre a produtividade (i.e., TOCUP) refere-se às médias dos estados. Havia expectativa de que as organizações de São Paulo apresentassem altas TOCUP, dada a representatividade do estado no cenário nacional, no que diz respeito tanto à economia quanto à prestação de serviços – inclusive os de saúde, citando-se, por exemplo, organizações de referência como o Hospital Albert Einstein e o Sírio Libanês. Entretanto, a média desse estado foi de 50%, o que representa excesso de oferta, segundo Vecina Neto e Malik (2011). Tocantins (com apenas uma organização na amostra – Hospital Dom Orione, Araguaina/TO) e Mato Grosso (com seis organizações na amostra) são os estados com a maior produtividade, respectivamente 59% e 53%. Esses percentuais, por estado e por município, são relevantes para proposição de um possível CIS entre unidades da federação e para a redistribuição da demanda por serviços de alta complexidade. Ressalta-se que, para a amostra analisada, todas as organizações apresentam excesso de leitos, uma vez que a TOCUP máxima foi de 59% – do estado de Tocantins (i.e., Hospital Dom Orione, Araguaina/TO).

No que tange à demanda, para a maioria dos hospitais da amostra (52%, 133 hospitais) 32% dos pacientes internados residiam em municípios que não o da localidade da organização. Isto é, do total de pacientes internados, em média, 32% não residem no município em que foram prestados os serviços de saúde de alta complexidade; ou ainda, há uma demanda ‘externa’ de 32%. Destacam-se, nesse quesito, a Maternidade Balbina Mestrinho (Manaus/AM), que prestou serviços apenas para pacientes residentes no município, e o Hospital Angelina Caron (Campina Grande do Sul/PR), para o qual se constatou que 88% dos pacientes atendidos residiam em municípios que não aquele onde está localizada a organização.

Outra ressalva sobre o fluxo de pacientes refere-se às médias dos estados. Novamente, havia expectativa de que São Paulo recebesse um percentual representativo de pacientes residentes em outros estados. Entretanto, a média desse estado foi de apenas 19%, inferior à média de toda a amostra analisada (32%). Pernambuco, Espírito Santo e Rio de Janeiro são os que mais recebem pacientes residentes em outros estados, respectivamente 65%, 55% e 53%. Esses estados são representados por 5, 6 e 5 organizações na amostra analisada. Esses percentuais, bem como para os demais estados e por município, são relevantes para proposição de um possível CIS entre unidades da federação e para a redistribuição da demanda por serviços de alta complexidade (cf. Seção 5.2).