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CAPÍTULO 2: MARCO TEÓRICO

4.1. ANÁLISE DESCRITIVA

4.1.1. Os sujeitos envolvidos no ato de linguagem

Conforme abordado no Referencial Teórico, utilizamos o esquema proposto por Charaudeau (2014) para determinar os sujeitos envolvidos no Ato de Linguagem. Não temos a pretensão de explorar detalhadamente esse esquema, tendo em vista as inúmeras possibilidades de discussão e interpretação do mesmo. Porém, concluímos ser pertinente trazê-lo já que ele ilustra de forma bem didática o papel dos sujeitos dentro da encenação comunicativa.

Grosso modo, o quadro criado pelo linguista se compõe de dois espaços, o interno e o externo. Dentro do espaço interno temos os protagonistas da enunciação que são os chamados seres de fala internos ao ato, definindo os papéis linguageiros. (Enunciador e Destinatário). Já no espaço externo temos os parceiros que são chamados seres sociais e psicológicos que estariam externos ao ato, mas inscritos nele, definindo os traços identitários (Sujeito comunicante e Sujeito interpretante). Como dito anteriormente, devido ao fato de o nosso corpus ser muito extenso, achamos por bem trazer uma amostra de tudo o que foi analisado nesse tempo de pesquisa. Além disso, optamos por já adaptar o esquema de Charaudeau aos nossos próprios dados, como é possível notar nos quadros a seguir.

De acordo com os quadros representados nessas figuras, é possível notar que no espaço externo, composto pelos chamados seres sociais, temos como EUc (EU

46 comunicante) a instância midiática em um sentido bem amplo. Ou seja, a instância

midiática ‘por trás’ de uma notícia é uma entidade complexa, composta de uma direção,

de uma redação, de revisores, de produtores de conteúdo, etc.

Dessa forma, cada revista traz uma instância midiática diferente. O outro ser social que compõe o espaço externo da encenação do ato de linguagem é chamado de TUi (TU interpretante). O TUi diz respeito ao sujeito que terá contato com as notícias através dos sites das revistas. É interessante pontuar que justamente por seu formato online, as notícias podem ser acessadas por mais pessoas do que se fosse somente restrita a assinantes.

Já no espaço interno do esquema, ou seja, no lugar destinado aos seres de fala e onde acontece realmente a enunciação, temos os jornalistas. Porém, sua identidade vai além: eles são jornalistas/ narradores da notícia. No entanto, é pertinente reforçar que o jornalista/ narrador está a serviço da instância midiática, ou seja, o EUe é uma construção de EUc. Nesse sentido, EUe é, pois, somente uma representação linguageira

parcial de EUc. Nas palavras de Charaudeau, “EUe é apenas uma máscara de discurso

usada por EUc” (p.49). Assim sendo, a opinião de EUe estará sempre a serviço dos interesses de EUc, tendo em vista que EUc está sempre munido de certa intencionalidade. O outro protagonista do momento enunciativo é o chamado TUd (TUdestinatário). O TUd é o sujeito para o qual o EUe (EU enunciador) se direciona. No caso desse estudo, como também é possível verificar nos esquemas abaixo, as próprias revistas irão postular destinatários diferentes para comporem seu público-alvo.

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Quadro 3- Encenação da linguagem- Revista Veja/ Fonte: Dados da pesquisa

Como foi possível notar, estamos diante de situações de comunicação diferenciadas, já que os participantes do ato comunicativo variam de uma revista para outra. Ainda que seja possível aplicar o mesmo raciocínio dentro do esquema, cada revista trará participantes específicos para o ato comunicativo. Isso porque as redações das revistas são diferentes, os profissionais são outros, os leitores não são, a princípio, os mesmos, os posicionamentos políticos são opostos, etc. Vale lembrar também que os sujeitos interpretantes (TUi) não são necessariamente os sujeitos idealizados, afinal, as notícias encontram-se na web o que facilita e diversifica os TUi. Essa diferença na situação de comunicação das revistas fica ainda mais evidente a partir da figura do participante TUd (TU destinatário)2.

Cada revista estabelece um público alvo, ou seja, cada uma delas atribui seus próprios destinatários idealizados. A revista Carta Capital, por exemplo, escreve para

um público crítico e que tenha opiniões diferenciadas da ‘maioria’. Já a revista Veja

escreve para um público mais amplo, que goste de uma linguagem direta e de assuntos variados. Porém, pautados no pensamento do próprio Charaudeau, nosso objetivo aqui não se baseia somente em dar conta de qual é o pensamento do sujeito comunicante ou de ter certeza sobre o ponto de vista do sujeito interpretante, mas antes compreender os

2 As revistas, através de seus sites, já predefinem o perfil de seus leitores-alvo. Ou seja, as próprias revistas já pontuam quem serão seus TUd.

48 processos de produção e interpretação, buscando assim possíveis interpretativos para nossa análise.

4.1.2. A organização enunciativa – Procedimentos enunciativos

Foi possível notar a partir das notícias, veiculadas pela revista Carta Capital, que, como era de se esperar, há uma predominância do comportamento delocutivo (aquele onde o sujeito falante se apaga e não implica um interlocutor direto) em todos os temas. Isso possivelmente se deve às características do gênero notícia que se constitui por uma dita imparcialidade e que evita, de forma geral, expor uma opinião direta para manter essa ilusão de verdade transparente. Porém, essa estrutura não é, de fato, unânime, já que foi possível encontrar também exemplos do comportamento alocutivo (aquele onde o interlocutor se dirige diretamente ao locutor, impondo-lhe alguma ação).

Isso prova e reforça a presença de um espaço de estratégias e manobras que existe dentro do contrato de comunicação. E a ausência, nessa revista, do uso do comportamento elocutivo (onde o sujeito expressa abertamente sua opinião) enfatiza a parte contratual onde, supostamente não é permitido expressar uma opinião particular. Apresentamos abaixo alguns excertos para exemplificar os procedimentos enunciativos presentes no nosso corpus de análise.

4.1.2.1. Procedimentos enunciativos predominantes na revista Carta Capital